Grande Prova: Trás-os-Montes – A última fronteira

Grande Prova

Trás-os-Montes é um território vitivinícola bem determinado no nordeste do nosso país, delimitado pelas cadeias montanhosas do Gerês, Cabreira, Alvão e Marão. Com Espanha a fazer fronteira a este e a norte, a região estende-se a noroeste até Montalegre e a sul até às cercanias de Alijó e Vila Real, ou seja, mesmo junto à […]

Trás-os-Montes é um território vitivinícola bem determinado no nordeste do nosso país, delimitado pelas cadeias montanhosas do Gerês, Cabreira, Alvão e Marão. Com Espanha a fazer fronteira a este e a norte, a região estende-se a noroeste até Montalegre e a sul até às cercanias de Alijó e Vila Real, ou seja, mesmo junto à Região Demarcada do Douro. Para lá de Miranda do Douro, ou seja, já do outro lado da fronteira, a região de Arribas (del Duero) está muito próxima, e a mais badalada Toro também não se dista muito.

Ainda em Espanha, mas agora a norte, encontramos as regiões de Monterrei, Valdeorras e a crescentemente cobiçada Bierzo. Não se estranha, portanto, que a tradição ibérica da viticultura e vinificação esteja bem implementada em Trás-os-Montes, lugar remoto e apaixonante, onde a natureza felizmente ainda impera. Prova disso são os magníficos lagares rupestres espalhados pela região, testemunhas dos tempos romanos e pré-romanos. Aliás, a este respeito, cumpre elogiar a recente certificação da produção de vinhos em Lagares Rupestres, sendo esta designação exclusiva para a região, existindo actualmente no mercado 5 vinhos produzidos por esta metodologia, devidamente certificados como tal. Contudo, apesar deste legado, a demarcação de Trás-os-Montes como DO de vinhos é recente.

 

Primeiro, em 1989, Valpaços, Planalto Mirandês e Chaves, foram reconhecidos como indicação de proveniência regulamentada. Depois, em 1997, foi criada a Comissão Vitivinícola Regional. Já no novo milénio, mais propriamente em 2006, surgiu o reconhecimento como DO, precisamente com os referidos 3 territórios como sub-regiões DOC (ou seja, Valpaços, Planalto Mirandês e Chaves) com ligeiros ajustes de áreas e circunscrições. Actualmente, são 10.000 hectares de vinha, num espaço onde, como nos confirmou Rui Cunha — enólogo na região há 25 anos, sempre no produtor Valle Pradinhos — o minifúndio ainda impera e as tradições na vinificação, com maior ou menor conservadorismo e até amadorismo, são a regra. Com efeito, falamos de apenas 1.100 hectares de vinha cadastrada e certificada para a produção da DO (inclui IG Transmontano), representando a actividade de nada menos que 3.000 viticultores e 4 adegas cooperativas, o que dá, naturalmente, uma média de vinha muito pequena por produtor.

A região produz maioritariamente vinhos tintos, sendo os brancos apenas 1/3 de todo o vinho produzido, e os rosés, tal como os espumantes e licorosos, practicamente residuais. As principais castas usadas para a sua produção, são, no caso das tintas que nos interessam mais para este texto, Tinta-Amarela, Bastardo, Touriga-Nacional, Tinta-Roriz e, com menor expressão, Tinta-Barroca e Tinta-Carvalha. Ainda para Rui Cunha, que conhece bem as sub-regiões de Valpaços e Planalto Mirandês, o desafio da região de Trás-os-Montes é esse mesmo: conseguir aproveitar o fantástico património vitícola de que dispõe, o que implica maior formação de todos os intervenientes e maior divulgação das suas particularidades. “O resto, ou seja, a excelência da matéria-prima, está lá” diz-nos orgulhosamente. Outro enólogo há muitos anos na região é Francisco Gonçalves, técnico que começou no Douro, mas que assessora agora diversos produtores em Trás-os-Montes, tendo inclusivamente escolhido a região, e Montalegre em particular, para fundar o seu projecto pessoal. Tal como Rui Cunha, concorda que a região tem um potencial impressionante, e que bastaria alguma modernização, na viticultura e enologia, para que rapidamente fosse mais reconhecida. Diz-nos mesmo que os vinhos brancos dos terroirs graníticos transmontanos mais frescos podem vir a ser dos melhores do país, mas isso ficará para outro texto, pois aqui falamos de tintos.

Grande ProvaComecemos, então, pela distinção mais tradicional da região de Trás-os-Montes, que é entre a ‘Terra Fria’ e a ‘Terra Quente’. Da primeira, em maior altitude (a vinha mais alta está plantada a uma cota de 1070m em Montalegre) e com verões mais temperados e frescos, fazem parte os concelhos situados ao longo da fronteira nordeste com Espanha (de Vinhais, Bragança, Vimioso, Miranda e Mogadouro), sendo Vidago um dos principais centros vinhateiros, excelente para vinhos frescos e com bastante acidez natural. A fama dos vinhos da sub-região de Chaves (inserida na ‘Terra Fria’), capazes de corrigir naturalmente (entenda-se: contribuir com acidez) vinhos de outras regiões é antiga, sobretudo em brancos e bases para espumantes. Na transição para a ‘Terra Quente’ encontramos Macedo de Cavaleiros, outro polo vinícola, que alberga o produtor Valle Pradinhos já referido. Com solos de natureza mais xistosa, altitudes que raramente ultrapassam os 500m, e com maior influência do vale do rio Douro, a ‘Terra Quente’ é caracterizada pelos verões escaldantes. Alguns dos mais relevantes concelhos que englobam a sub-região são Mirandela, Murça (parte), Vinhais, e o próprio Valpaços.

Mas outra distinção da região, diríamos menos tradicional, mas mais formal, é, precisamente, a divisão oficial em 3 sub-regiões: Valpaços, Planalto Mirandês e Chaves. Comecemos pela última. A noroeste, Chaves é a sub-região mais fresca, com um clima mais chuvoso e vinhas (verdadeiramente) em altitude, cujos solos tendencialmente graníticos propiciam perfis com mais acidez e elegância. Por sua vez, a sub-região de Valpaços é, como já referimos, marcada por elevadas temperaturas durante o verão, e um clima seco durante grande parte do ano, sobretudo nas terras com menor altitude, entre os 350-400 metros, terroirs marcadamente favoráveis a tintos com maturação elevada, com solos xistosos e afloramentos graníticos. Valpaços é, claramente, a sub-região que apresenta maior produtividade, reflexo das condições naturais e da área plantada, mas também da constante evolução da vitivinicultura da zona (renovação/restruturação de vinhas à cabeça), em grande parte por efeito das práticas das adegas modernas do Douro ‘ali ao lado’, aspecto ao qual voltaremos ainda neste texto. Por fim, temos o Planalto Mirandês, a sub-região com a continentalidade mais pronunciada, marcada a este pela geografia selvagem típica do rio Douro internacional, com solos maioritariamente xistosos. Com pouca chuva, quase nada nas terras quase desérticas na fronteira, predominam cotas altas entre os 750m e os 800m, sendo Miranda do Douro e Mogadouro os centros vínicos por excelência. O enólogo Paulo Nunes, que para o projecto Costa Boal faz um vinho neste território, confirma o calor diário nos meses estivais, mas salienta a frescura das noites mesmo no Verão, algo que não encontra, por exemplo, no vale do Douro. Por isso, diz-nos, a vindima nessa sub-região é sempre tardia, por vezes em Outubro, e os teores alcoólicos raramente ultrapassam os 13,5%.

Provados mais de 2 dezenas de vinhos, das 3 sub-regiões descritas, conseguimos retirar várias conclusões. Em primeiro lugar, que o modelo de tinto encorpado e com teor alcoólico acima dos 14% ainda predomina na região, sobretudo nos topos de gama. Muito deles provém da sub-região de Valpaços, o que se justifica pelas próprias condições naturais de maior calor e solos xistosos, mas também pela proximidade ao Douro. Essa proximidade trouxe, com efeito, um fenómeno de mimetização, bem presente no próprio encepamento (com as duas Tourigas à cabeça, mais Tinta Roriz e Tinta Barroca) e nas práticas enológicas iniciadas no final dos anos ’90 com os modernos tintos durienses. São vinhos ambiciosos, bem feitos e generosos no perfil intenso, mas que não se distinguem significativamente dos produzidos na região vizinha (e o consumidor que procura Douro vai certamente comprar Douro).

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Por outro lado, encontrámos um perfil mais tradicional, com várias matizes rústicas, centradas em castas muito habituadas ao local — exemplo maior para a Tinta Amarela —, ainda que vindimadas, porventura, tardiamente, comprometendo a acidez natural que a região pode proporcionar. Em ambos os perfis, a longevidade dos vinhos é notável, sendo que os néctares mais antigos em prova — um da colheita de 2012, e dois de 2014 — se apresentam em grande forma, dificilmente reconhecidos como vinhos com “idade”… Por fim, provámos alguns vinhos cujo perfil mais facilmente a região pode produzir — assim nos confirmaram vários enólogos e produtores — e garantir sucesso para o futuro. Falamos de vinhos mais frescos, feitos a partir de uvas de vinhas velhas e a partir de castas pouco difundidas no restante país vitícola, mais a mais plantadas a uma altitude pouco comum. No modelo de vinho mais aberto e vivo, Vidago (na sub-região de Chaves) pode mesmo vir a ser, entre outros, um lugar-chave, sendo que dois dos vencedores da prova advém precisamente desse terroir fresco e único. O vinho Lés-a-Lés emerge de uma vinha velha, rodeada de pinheiros, “que cheira a caruma, e lembra o Dão”, diz-nos o enólogo Rui Lopes que assina o vinho juntamente com Jorge Rosa Santos. Não por acaso, parte das uvas do lote são Tinta-Pinheira e Baga… Outro vencedor é o Grande Reserva da Quinta de Arcossó, um vinho que sai da pena de Amílcar Salgado e Francisco Montenegro, e que é originado a partir de uma das vinhas mais bonitas e bem cuidadas da região, para não dizer do país.

À laia de conclusão, com uma dimensão significativa de vinhas velhas, e uma altitude pouco habitual no nosso país, solos de granito e xisto, a região tem tudo para se afirmar e liderar em mais do que um perfil, sem perder a noção de frescura com a qual pode triunfar sobre outras regiões. Acresce, que as suas condições naturais permitem uma expressiva agricultura integrada e até biológica, dado a média anual muito baixa de tratamentos. Com mais enólogos jovens a chegar à região, tudo aponta para um “futuro risonho”, como espera a enóloga Joana Pinhão (na Quinta Valle Madruga desde 2021). Joana não tem dúvidas que a grande heterogeneidade entre as 3 sub-regiões de Trás-os-Montes é uma virtude, dependendo do tipo de vinho que se pretende produzir, sendo que nesse mesmo sentido milita a opinião de Paulo Nunes. Também nós, pelos vinhos provados, não temos dúvidas da qualidade e originalidade da região, dois vectores que, como em todas as regiões, têm de ser permanentemente estimulados e trabalhados. Com condições excepcionais para a produção de vinhos, Trás-os-Montes tem tudo para vir a ser uma estrela entre os vinhos de Portugal.

 

(Artigo publicado na edição de Junho de 2023)

 

 

 

 

 

Costa Boal é nome de Porto Vintage 2020

Costa Boal Vintage 2020

O produtor familiar português Costa Boal Family Estates — conhecido sobretudo pelos seus vinhos do Douro com o mesmo nome, e pelos de Trás-os-Montes chamados Palácio dos Távoras — acaba de declarar o seu Costa Boal Vintage 2020.  Recentemente nomeado Produtor do Ano 2021 nos Prémios Grandes Escolhas, António Boal, director-geral da empresa, assume este […]

O produtor familiar português Costa Boal Family Estates — conhecido sobretudo pelos seus vinhos do Douro com o mesmo nome, e pelos de Trás-os-Montes chamados Palácio dos Távoras — acaba de declarar o seu Costa Boal Vintage 2020. 

Costa Boal Vintage 2020Recentemente nomeado Produtor do Ano 2021 nos Prémios Grandes Escolhas, António Boal, director-geral da empresa, assume este momento como “uma afirmação gradual e natural do caminho de excelência que temos vindo a desenvolver. Declarar um Vintage é um marco importante e de grande responsabilidade, pois temos a consciência que a disputa na categoria dos vinhos do Porto é de qualidade”.

O Costa Boal Porto Vintage 2020, que originou 1200 garrafas, provém de diversas parcelas durienses do produtor, e tem no seu lote várias castas tradicionais da região, com predominância de Touriga Nacional. Paulo Nunes, enólogo da Costa Boal, sublinha que este é um Vintage com “robustez e estrutura absolutamente excepcionais, taninos bem vincados e perfeitos para evoluir em garrafa durante muitos anos”.

Joana Pinhão assume enologia da Quinta Valle Madruga

Valle Madruga Joana Pinhão

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]O produtor Quinta Valle Madruga, sediado em Valpaços, na região vitivinícola de Trás-os-Montes, tem agora uma nova enóloga, Joana Pinhão. Joana assume agora a enologia de marcas como Quinta Valle Madruga, Javardo e Madruga by Valle Madruga.  […]

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]O produtor Quinta Valle Madruga, sediado em Valpaços, na região vitivinícola de Trás-os-Montes, tem agora uma nova enóloga, Joana Pinhão. Joana assume agora a enologia de marcas como Quinta Valle Madruga, Javardo e Madruga by Valle Madruga. 

Tiago Martins Ribeiro, diretor-geral da empresa, comenta: “Queríamos inovar, sem nunca perder de vista a qualidade dos nossos vinhos, e nesse sentido entendemos que a Joana seria a melhor aposta para concretizar os nossos objetivos.”. Por sua vez Fernando Nicolau de Almeida, diretor comercial da Quinta Valle Madruga, acrescenta que “com a entrada da Joana Pinhão na equipa, acreditamos que será mais fácil a internacionalização da marca, não só pelo seu conhecimento, mas também pela sua reputação além-fronteiras”.

Joana Pinhão nasceu em Alpiarça, região do Tejo, e desde muito cedo começou a sua paixão pela enologia, com muitas férias de Verão passadas nas vindimas. Engenheira Agrónoma de formação, conta já com uma vasta experiência, não só em Portugal (Alentejo, Tejo, Douro, Vinhos Verdes), mas também em Espanha e África do Sul, em projectos de renome.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”Full Width Line” line_thickness=”1″ divider_color=”default”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/3″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

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Terras de Mogadouro distribuída pela Vinalda

Terras de Mogadouro Vinalda

A Vinalda acaba de ampliar o seu portefólio com os vinhos Terras de Mogadouro, do produtor Wine Indigenus, de Trás-os-Montes. Com origem na sub-região do Planalto Mirandês, este projecto com 50 hectares de vinha (a 800 metros de altitude) teve Cristiano Pires como pioneiro, incentivado pelo seu pai, Manuel Pires. A enologia está a cargo […]

A Vinalda acaba de ampliar o seu portefólio com os vinhos Terras de Mogadouro, do produtor Wine Indigenus, de Trás-os-Montes.

Com origem na sub-região do Planalto Mirandês, este projecto com 50 hectares de vinha (a 800 metros de altitude) teve Cristiano Pires como pioneiro, incentivado pelo seu pai, Manuel Pires. A enologia está a cargo de Rute Gonçalves, uma lisboeta com raízes familiares em Trás-os-Montes, e de Francisco Gonçalves, enólogo consultor.

“As castas têm demonstrado perfeita adaptação aos 800 metros de altitude, aos solos graníticos com manchas de xisto e ao mesoclima único, típico da sub-região, que tem grandes amplitudes térmicas, com pluviosidade quase nula durante a fase activa do ciclo vegetativo da videira, que inibe o aparecimento de doenças criptogâmicas”, explica o produtor.

Terras de Mogadouro Vinalda
Vinha do projecto Wine Indigenus.

Rute Gonçalves comenta esta nova parceria com a Vinalda: “É um ponto de viragem. É o fio condutor que faltava para estarmos ligados aos atuais e modernos consumidores, que procuram vinhos únicos e diferenciados. Tudo o que temos é a nossa autenticidade engarrafada, e está pronta a ser descoberta!”.

Já José Espírito Santo, director-geral da Vinalda, afirma que “Terras de Mogadouro é mais um projecto de vinhos autênticos que se junta à Vinalda. Vinhos de altitude, com carácter, moldados pelas condições austeras desta região, que cada vez mais demonstra o seu enorme potencial”.

Valle Pradinhos: Um branco muito especial

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Poucos produtores poderão gabar-se de vender os vinhos brancos mais caros que os tintos. Mas é mesmo isso que acontece aqui, em Macedo de Cavaleiros, na histórica casa do Valle Pradinhos, fundada há mais de um século […]

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Poucos produtores poderão gabar-se de vender os vinhos brancos mais caros que os tintos. Mas é mesmo isso que acontece aqui, em Macedo de Cavaleiros, na histórica casa do Valle Pradinhos, fundada há mais de um século em Trás-os-Montes.

TEXTO João Paulo Martins
FOTOS Valle Pradinhos

A casa, solarenga e imponente, será bem antiga, muito provavelmente do séc. XVIII mas foi em 1913 que a família Pinto de Azevedo a adquiriu e tomou conta dos mais de 500 hectares da propriedade. Hoje são 450 porque “o meu avô doou algumas parcelas a trabalhadores da casa” como nos lembra Maria Antónia Pinto de Azevedo, a actual proprietária e neta do fundador, aos comandos dos negócios da casa desde os inícios dos anos 90. Na zona vulgarizou-se o nome de Casal em vez de quinta ou herdade e é esse o nome que se conservou, Casal de Valle Pradinhos.
Estamos em zona de planalto, a uma altitude entre os 550 e 650 metros e na propriedade, além da vinha também há muitas oliveiras e sobreiros, as outras fontes de rendimento da empresa familiar. Valle Pradinhos foi durante décadas a única marca de referência de toda a região de Trás-os-Montes e, a partir dos anos 70 ganhou notoriedade com a chegada de João Nicolau de Almeida, então um jovem enólogo que estava a chegar dos estudos em Bordéus e que então dividia o seu trabalho entre a Ramos Pinto e esta propriedade que ele tanto admirava. Recordo as suas palavras quando dizia que “esta terra parece abençoada, tudo o que se planta produz bem e muito”. Na linguagem popular poderia traduzir-se assim: é como o cebolo, é preciso é pô-lo!

Curiosamente pouco se sabe exactamente sobre o que se plantava aqui em termos de castas quando se começou a produzir vinho. Na casa existe a mais antiga garrafa de branco, datada de 1940, mas a composição do vinho é incerta. Com os tintos passa-se um pouco a mesma coisa. Seguramente haveria Tinta Amarela e Tinta Roriz nos tintos, eventualmente, Bastardo. Rui Cunha, o actual enólogo que há 20 anos é responsável da enologia (hoje coadjuvado por Rui Pinto, enólogo residente) recorda-nos que numa velha parcela, muito anterior à época de João Nicolau de Almeida, havia Alicante Bouschet e Petit Bouschet “quem sabe para vender para o Douro para substituir a baga de sabugueiro como aumentador de cor…!”. Nos brancos o mais seguro seria haver Malvasia Fina mas quanto ao resto há lacunas nas fontes.
João Nicolau de Almeida chegou ainda nos anos 70 e resolveu plantar novas vinhas e esse plantio marcou indelevelmente os vinhos da casa. Fez campos experimentais das castas que pretendia e só ao fim de 4 ou 5 anos é que se tomou a decisão sobre o que plantar e em que quantidade. Assim, em terrenos marcados pelo xisto misturado com quartzo, juntou Cabernet Sauvignon à Tinta Amarela e à Tinta Roriz e, nos brancos, adicionou Gewürztraminer e Riesling à Malvasia Fina. O conceito, defendido por Nicolau de Almeida durante muito tempo era conseguir “castas melhoradoras” (o termo é dele) para equilibrar as nossas castas, então mal estudadas e pouco conhecidas. Naturalmente os conhecimentos actuais já dispensam as “melhorias” das castas de fora, mas a verdade é que os vinhos ganharam um perfil que agora há que manter. Há novos plantios, introduziu-se a Touriga Nacional, o Syrah em pequena parcela (gosto pessoal da proprietária) mas também Gouveio e Códega, correspondendo também a algum alargamento do portefólio: além das marcas-âncora (Valle Pradinhos Reserva em branco e tinto) existe o Grande Reserva, Lost Corner e Porta Velha (tintos). O branco é Reserva mas não existe um não Reserva, algo que é difícil de compreender. E, dizem-nos, fazer aprovar na Câmara de Provadores do IVDP (entidade certificadora da DOC Trás-os-Montes) um branco como Reserva e sem madeira não é nada fácil (Rui Cunha). Quanto a este tema, Maria Antónia defende que a diferença será mais evidente quando tiverem um branco Grande Reserva, algo que está na calha mas para isso há que alargar a área de vinha do branco e ir além dos actuais 12 ha. Todos se recordam também que a marca Planalto (Sogrape) também ostenta o nome Reserva e nunca houve outro e não tem qualquer madeira. Argumento a favor, portanto.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_gallery type=”nectarslider_style” images=”45690,45689,45691,45688,45687,45686″ bullet_navigation_style=”scale” onclick=”link_no”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

Castas de fora a mostrarem o seu valor

Das opções então feitas por João Nicolau de Almeida ficou um legado e Rui Cunha aplaude: “as duas castas brancas estrangeiras revelaram-se muito regulares na produção, muito consistentes, apesar de não produzirem muito e por isso dão-nos uma grande margem de segurança. A área de vinha não permite variações: não se faz um varietal de Riesling ou Gewürztraminer porque não há uvas que permitam, depois, manter consistentemente a marca. E, apesar da tradição alsaciana de fazer Colheita Tardia com Gewürztraminer, aqui não há planos: “nem pensar, isso de fazer uma pequena quantidade é demasiado arriscado para quem tem poucas uvas à disposição”, lembra Rui. A casta Riesling aqui mostra um lado mais tropical e por isso não se enquadra na versão Mosela/Reno, sendo mais próxima da Alsácia. A levedura que usam para esta casta também ajuda a um lado um pouco mais terpénico; são usadas levaduras diferentes e há uns 10 anos chegaram a ter de usar leveduras de final de fermentação para compensar alguma falta de azoto no solo, algo que está já resolvido.

As produções são baixas. Na Riesling estamos com 4 a 5 toneladas por hectare, na Gewürztraminer entre 2 e 3 ton/ha e na Malvasia Fina entre 5 e 6 ton/ha. Globalmente falamos de 15 000 garrafas/ano, rapidamente absorvidas pelo mercado. É essa apetência voraz que leva a que apenas sejam deixadas para arquivo 40 por ano. Caixas? Indagámos. Não, garrafas! Claramente insuficiente ou “um desrespeito pelo património”, diriam vozes mais radicais…
A composição final do branco resulta assim de 65% de Malvasia Fina, 35% de Riesling e 5% de Gewürztraminer, praticamente todo ele absorvido no mercado interno. O alargamento da área de vinha com mais castas portuguesas aponta exactamente para uma aposta mais forte nos mercados externos onde, dizem, jogar com castas portuguesas é mais original e gera mais interesse.

Uma prova de brancos com carácter

A prova que fizemos contemplou quase 20 vinhos e três décadas da história da marca. Nos arquivos já não há de todos os anos, pela razão atrás exposta. Foram provados os vinhos das colheitas de 1987, 93, 94, 95, 97, 98, 2001 e 03. A partir da colheita de 2007 provámos todas as colheitas, incluindo uma pré-prova do 2019, ainda em cuba e longe de estar finalizado. Todos os brancos provados contemplam as três castas atrás referidas, com muito pequenas variações das percentagens de cada uma.
Primeira constatação após a vertical: todos os vinhos deram prova, com mais ou menos prazer mas nenhum estava impróprio. Cores carregadas a sugerirem muita oxidação mas acidez muito viva a permitir e autorizar a prova. Notas de frutos secos e chá a sobreporem-se à fruta mas sempre com alguma finura de conjunto. Classificações a balancearem entre 15,5 e 16. Foi assim até ao 1997 (16,5) que, surpreendentemente, nos fez lembrar um Alsácia de Colheita Tardia, terpénico, com fruta madura, avelãs e nozes no aroma que se revelou complexo e até mais interessante do que na prova de boca. De 1998 a 2003, surgiram-nos de novo vinhos com clara oxidação, carregados na cor, com notas evoluídas mas, de novo, com boa acidez que segurou o conjunto. No 2003 (16,5), no meio das notas dos frutos secos, alguma reminiscência de lichias e o vinho mostrou-se ainda muito gastronómico.

O 2007, com rolha sintética, mostrou-se simples, com boa acidez mas com pouco corpo, açúcar residual evidente, mas depois recupera no final com algum prolongamento (15,5); o 2008 mostrou muita harmonia aroma/sabor, com um estilo maduro mas salvo por acidez ainda muito viva e que lhe mantém o carácter gastronómico (16). As colheitas de 2009 e 2010 revelaram traços comuns, aqui com aromas excelentes a mostrar o carácter das castas estrangeiras que lhe dão personalidade. Ambos com acidez perfeita, o 2009 também mais açucarado, tudo ainda com muita vida, o que surpreende (ambos com 17). Um pouco menos estruturado, mais citrino e leve, o 2011 deu boa prova (16,5) e o 2012 mostrou ainda juventude, muito boa definição do carácter terpénico das castas estrangeiras (17). O ponto alto da prova foi o 2013, com muito ligeira redução o que lhe acentuou o lado mais mineral e maior carácter de pedra raspada que associamos ao Riesling; encorpado (mais açúcar residual do que a maioria) mas fresco, boa estrutura de boca (17,5). O 2014 (16,5) acabou por funcionar como resposta ao 13, com carácter mais fechado, mais austero, menos aberto e falador, todo ele mais discreto mas a mostrar que evoluiu bem em cave e que ainda nos poderá vir a surpreender no futuro. Muito bem o 2015 (17) e 2016 (16,5), o primeiro mais terpénico a mostrar bem o carácter do Riesling e o segundo mais citrino, fino e elegante, muito macio e delicado na boca. Das colheitas mais recentes damos conta a seguir.
Nota final: não há que ter pressa em beber estes brancos porque alguns anos de cave fazem-lhes muito bem e trazem para primeiro plano o carácter das castas que aqui lhes dão a originalidade que João Nicolau de Almeida pensou e realizou, com Rui Cunha a manter agora o perfil que tanto sucesso tem junto do consumidor.
Ainda que não seja o objecto desta prova, não deixámos de notar e verbalizar que, até para dar valor às tradições regionais, falta neste portefólio um varietal de Tinta Amarela, a casta emblemática da região. E, quem sabe, de Malvasia Fina. Assunto a seguir com atenção.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

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Edição nº 35, Março de 2020

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Trás-os-Montes: O carácter das montanhas, vales e planaltos

Paradoxalmente, a denominação de origem mais recente em Portugal, tem uma história vitivinícola milenar impressa nas rochas em forma de lagares rupestres espalhados pela região, testemunhas dos tempos romanos e pré-romanos. Uma região maravilhosa, isolada do mundo pelas cadeias montanhosas, escondida nos vales, estendida nos planaltos, está à espera de ser descoberta. TEXTO Valéria Zeferino […]

Paradoxalmente, a denominação de origem mais recente em Portugal, tem uma história vitivinícola milenar impressa nas rochas em forma de lagares rupestres espalhados pela região, testemunhas dos tempos romanos e pré-romanos. Uma região maravilhosa, isolada do mundo pelas cadeias montanhosas, escondida nos vales, estendida nos planaltos, está à espera de ser descoberta.

TEXTO Valéria Zeferino
FOTOS Mário Cerdeira

Se “é mais difícil ir ao Meão do que a Luanda”, como dizia Fernando Nicolau de Almeida, Trás-os-Montes deve-se comparar ao fim do mundo, pelo menos, português. É uma região selvagem e apaixonante com características ímpares e algumas surpresas no futuro mais próximo.
O seu nome é autoexplicativo. É a única região com verdadeira viticultura de montanha em termos edafoclimáticas, sendo toda formada por estruturas montanhosas de 350 a 650 metros de altitude. Tem um clima de fortes contrastes. Regista amplitudes térmicas das mais pronunciadas no país, que permitem um amadurecimento mais lento, com tempo suficiente para desenvolvimento de precursores aromáticos e menor degradação dos ácidos.

Atrás dos Montes

A distância do mar reforçada pela barreira montanhosa do Gerês, Cabreira, Alvão e Marão (todas com altitude de mais de mil metros) que criam uma protecção das influências atlânticas, aumentando continentalidade de Oeste para Este. Com base nos dados recolhidos nas estações climatológicas de Chaves e Miranda do Douro, o clima transmontano classifica-se como temperado, com noites muito frias e seca moderada.

Os concelhos situados ao longo da fronteira nordeste com Espanha – de Vinhais, Bragança, Vimioso, Miranda do Douro e Mogadouro fazem parte da “Terra Fria” com verões menos quentes, ao contrário da “Terra Quente” com temperaturas de verão superiores. A região é constituída por três sub-regiões com condições bem distintas: Chaves, Valpaços e Planalto Mirandês.

A sub-região de Chaves é delimitada pela fronteira com Espanha a norte e rodeada pelas serras montanhosas: do Larouco (com altitude máxima de 1525 metros) e do Barroso a noroeste (1279 metros), da Cabreira (1261 metros) a Oeste, do Alvão (que é um prolongamento para norte da Serra do Marão) a Norte e da Padrela a Sudeste. É atravessada pelo rio Tâmega e as vinhas situam-se nas encostas de pequenos vales, correndo em direcção ao rio.

O mesoclima é o mais chuvoso das três sub-regiões, dada a menor continentalidade, moldado sobretudo pelas montanhas, e caracteriza-se pelos invernos longos e rigorosos e verões curtos e quentes. Bastante humidade no Inverno e Primavera é propícia a geadas primaveris, pelo que alguns produtores vêem-se obrigados a investir em soluções anti-geada. Os solos, maioritariamente graníticos (com algumas manchas xistosas) com baixa fertilidade e uma boa drenagem promovem o stress hídrico necessário para maturações equilibradas. A vegetação abundante de castanheiros, carvalhos e pinheiros, com elevada transpiração, aumenta a humidade relativa face à restante região.

A sub-região de Valpaços fica na diagonal entre Bragança e Vila Real. É circundada pela serra da Coroa a Norte, da Padrela a Oeste, de Bornes a Sudeste e Nogueira a Este. Nas encostas dos rios Tua, Rabaçal e Tuela que atravessam a região, proporcionam-se microclimas favoráveis a boas maturações. De um modo geral, nesta sub-região as temperaturas durante o verão são mais elevadas e os valores de humidade relativa e de precipitação inferiores. Esta sub-região ainda “apanha” três sub-zonas diferentes. A Terra Fria, mais a Norte, nas cotas mais altas de 600 metros de altitude com pluviosidade elevada e solos mais graníticos. Adapta-se bem à produção de vinhos brancos. Mais a Sul, menor altitude, de 350-400 metros, declives pouco acentuados e predominância de solos xistosos que aquecem mais diminuindo as amplitudes térmicas. Tem pouca vegetação e regista precipitação mais moderada com fortes incursões de calor. É o domínio da Terra Quente. Entre estas duas fica uma zona de transição, de altitude intermédia. Estas duas zonas são conhecidas pelas condições para produzir grandes vinhos tintos.

O Planalto Mirandês é a sub-região que fica no Nordeste do país, com a continentalidade mais pronunciada. A Norte é limitado pela fronteira com Espanha, a Este pelo rio Douro intenacional e a Oeste pelo rio Sabor. Como o próprio nome indica, abrange uma boa parte planáltica da Terra Fria nas altitudes de 350 a 600 metros e solos maioritariamente xistosos. As zonas mais quentes situam-se mais a Sul nas arribas do Douro internacional. Os planaltos caracterizam-se pelos ventos bastante fortes, o que, conjugando com a baixa pluviosidade (precipitações praticamente nulas durante a fase activa do ciclo vegetativo) faz com que as doenças criptogâmicas da videira não se instalam. Naturalmente baixa necessidade em tratamentos, promove condições para agricultura biológica.

Para além da muita vinha velha plantada tradicionalmente em taça, aqui é praticada uma forma própria de condução chamada cabeça de salgueiro. Segundo, Luís Sampaio Arnaldo, da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Norte, profundo conhecedor da região, é uma condução baixa a 30 cm com 4-5 talões pequenos. O cacho fica “resguardado no interior da videira”, evitando escaldões, sendo protegido do “vento que levanta por volta das 11 da manhã”, e curiosamente, também da humidade. O orvalho de manhã fica fora da planta e por dentro os cachos mantêm-se secos.

Um bom estado sanitário das vinhas, exige poucos ou nenhum tratamento. Por isto não é de estranhar que de acordo com os dados mais recentes da Direcção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural “a vinha em agricultura biológica tem a sua maior expressão em Trás-os-Montes, correspondendo a sua superfície a 1.246ha, cerca de 36% da área total”. Depois seguem-se a região do Alentejo com 28% e da Beira Interior com 21%.

Multiplicidade de microclimas

Falando de Trás-os-Montes, não podemos esquecer que os factores de altitude, declive, exposição, proximidades dos rios, distância e maior ou menor protecção da influência atlântica, diferenças em composição de solos, criam uma multiplicidade de meso e microclimas que vão muito para além das três sub-regiões. Sabemos que a altitude é o factor que mais condiciona o clima das montanhas uma vez que a temperatura desce com a altitude, em média, cerca de 0,65˚C por cada 100 metros. Para além disto, as cadeias de montanhas interferem com a circulação atmosférica, determinando também circulações próprias entre os vales e as elevações adjacentes através dos ventos catabáticos (descendentes) e anabáticos (ascendentes) que acabam por modificar o mesoclima.

Os valores de precipitação podem variar significativamente em função de continentalidade e topografia. Aumenta à medida que vamos subindo do nível do mar para as zonas montanhosas do litoral, a partir das quais desce drasticamente nos vales encaixados do interior. Sobe novamente à medida que a altitude vai aumentando na montanha seguinte para depois descer no próximo vale, dependento, no entanto, das respectivas altitudes. No que respeita à distribuição das médias das temperaturas máximas e mínimas, nas cadeias montanhosas muitas vezes acontece o fenómeno das inversões térmicas, quando se registam temperaturas mais altas numa zona de maior altitude e mais baixas numa zona adjacente de menor altitude.

Castas

De acordo com os dados do Instituto da vinha e do Vinho (IVV) de 2018 a vinha ocupa em Trás-os-Montes 13.539 hectares. Para a DO Trás-os-Montes são permitidas 15 castas brancas e 17 tintas, mais o Moscatel Galego Roxo na sub-região de Chaves. Para o vinho regional (IG) Transmontano são também autorizadas as castas internacionais como Chardonnay, Chasselas, Gewürztraminer, Riesling, Sauvignon Blanc, Pinot Noir e Syrah, por exemplo.

A casta mais plantada na região é a omnipresente Tinta Roriz (2.189 ha), dispersa em todas as três sub-regiões. Prefere climas quentes e secos e solos bem drenados. Precisa de grandes amplitudes térmicas como em Espanha na Ribeira del Duero, e em Portugal nem sempre as tem, o que explica a sua variabilidade qualitativa. A segunda casta mais plantada é a Tinta Amarela (1.343 ha). É bastante produtiva, de maturação média, acumula bem os açúcares, mantendo bom nível de acidez e de cor. É necessário controlar o seu vigor e rendimento. Com os cachos muito compactos é especialmente sensível ao oídio e precisa de um sítio bem arejado. Apresenta um bom e regular potencial qualitativo e, segundo Luís Sampaio Arnaldo, é das castas que mais resiste ao aquecimento. É plantada nas três sub-regiões, com mais incidência em Valpaços, onde é conhecida como “Negreda”, provavelmente por causa da intensidade cromática, comparativamente com as castas como Bastardo, Marufo, Cornifesto e Tinta Carvalha.

A terceira casta mais plantada é exclusiva da sub-região do Planalto Mirandês onde ocupa 1.296 ha. Chama-se Tinta Gorda (ou só Gorda), devido ao bago bastante grande. É medianamente produtiva e o seu potencial qualitativo é regular. Possui baixo potencial alcoólico (dificilmente chega as 11%) e acidez média. Não dá muita cor e apresenta aroma simples de frutos vermelhos. É muito provável que tenha vindo do Noroeste de Espanha, onde é conhecida como Juan García. Entretanto, Luís Sampaio Arnaldo diz que há dois tipos desta casta, sendo um deles com bagos mais pequenos. Touriga Nacional (1.169 ha) e Touriga Franca (973 ha) são bastante populares em Trás-os-Montes e encontram-se em todas as três sub-regiões. Bastardo, de ciclo curto e muito precoce, sendo vindimado cedo, acaba a fermentação alcoólica e maloláctica na adega antes do inverno. Também é plantado em todas as três sub-regiões. Nas vinhas velhas há muita Baga com a alcunha local “Bastardo de Leiria”. Esta dá-se melhor na mais fresca e menos seca sub-região de Chaves.

As castas brancas mais representativas da região são Viosinho, Gouveio, Códega do Larinho, Rabigato, Malvasia Fina e Fernão Pires. Os vinhos brancos são maioritariamente de lote. Viosinho é de génese transmontana, encontra-se dispersa pelas vinhas velhas. O facto de ser pouco produtiva e com rendimentos muito baixos explica a sua popularidade reduzida. Ultimamente tem vindo a ser mais valorizada pelo excelente equilíbrio entre açúcar e acidez, proporcionando vinhos estruturados e encorpados. É regularmente lotada com outras castas, para acrescentar acidez e riqueza aromática. Gouveio foi durante anos foi catalogada erradamente como Verdelho, o que conduziu a algum desacerto entre as duas nomenclaturas.

É uma casta produtiva e relativamente temporã, medianamente generosa nos rendimentos. Sendo naturalmente rica em ácidos, proporciona vinhos frescos e vivos com bom equilíbrio entre acidez e açúcar e aromas citrinos com notas de pêssego e anis. Códega do Larinho é bastante aromática a expressar-se com sugestões intensas de fruta tropical e flores e, desde que seja vindimada no tempo certo (com 11-11,5% de álcool provável), é capaz de dar bom resultado. Síria, de polpa rija e suculenta, produz vinhos com intensidade de aroma média e com um bom equilíbrio entre álcool e acidez. Rabigato, de origem duriense, resulta em vinhos aromaticamente complexos, sugerindo notas de acácia e flor de laranjeira com apontamentos vegetais. Confere uma acidez penetrante e óptima estrutura. Enriquece vinhos de lote e pode ser vinificada em extreme. Recentemente, a Comissão Vitivinícola Regional de Trás-os-Montes (CVRTM) propôs alterações à lista das castas autorizadas, proposta que se encontra em apreciação no IVV.

Abrir para o mundo

Para além das condições climatéricas, o isolamento da região transmontana do resto do país e a dificuldade de comunicações (basta lembrar a existência da segunda língua oficial em Portugal – Mirandês) também contribuíram para a difusão da vinha nas suas terras – para beber vinho, o agricultor teve que o produzir. Praticamente todo o vinho produzido consumia-se dentro da região. Era bastante rústico, não correspondia aos gostos refinados de hoje e dificilmente competia com os vinhos mais sofisticados produzidos noutras regiões.
O reconhecimento da Denominação de Origem (DO Trás-os-Montes) e IG Transmontano, em 2006, deu um novo impulso à região. Segundo Ana Chaves, da CVRTM, “a aposta na promoção e comunicação tem resultado num aumento significativo do volume de exportação, sendo que aproximadamente 15% do vinho produzido na região é exportado para 17 diferentes países, sendo Brasil, França, Suíça, Alemanha e EUA os principais”. Segundo aos dados da CVRTM o vinho certificado corresponde a cerca de 3 milhões de garrafas por ano, sendo aproximadamente 70% de vinho tinto e 30% de vinho branco.

Estão presentes 120 marcas transmontanas no mercado e já existem produtores de vinhos com qualidade impressionante (e a nossa Grande Prova confirma isso mesmo), como a Costa Boal Family Estates, a Quinta de Arcossó, a Valle Pradinhos, a Valle de Passos, a Quinta Serra d’Oura, ou Quinta do Sobreiró, só para nomear alguns. São competentes e dinâmicos, capazes de projectar a imagem da região noutra dimensão, criando valor e notoriedade. Não faltam, pois, as condições para produzir vinhos autênticos e com carácter diferenciador. Agora é preciso ganhar o reconhecimento por parte dos enófilos e consumidores. Depois da nossa prova, estou certa de que a região de Trás-os-Montes ainda vai dar que falar.


 

Lagares Rupestres: regresso ao futuro

No concelho de Valpaços encontra-se a maior concentração (mais de uma centena) de lagares rupestres em Portugal. São de diferentes formas – rectangulares, quadrados e até circulares – escavados em maciços graníticos, mais predominantes em freguesias onde houve uma maior ocupação romana, como Santa Valha. Segundo o professor geólogo Adérito Medeiros Freitas, autor do livro “Lagares Cavados na Rocha”, os lagares “na generalidade, são romanos” e os mais antigos poderão reportar há dois mil anos ou mesmo a mil antes de Cristo”.
Sem dúvida é um grande legado histórico, um património que uma vez identificado não pode retornar ao esquecimento. Por isso já há 2 anos fazem-se os ensaios de produção de vinhos desta forma ancestral – confidenciou Ana Chaves, da CVRTM. Em 2016 realizou-se a primeira colheita de 600 garrafas e em 2018 foi repetida a experiência. Já foi preparada a documentação para certificação dos vinhos feitos em lagares rupestres e, brevemente, a história da região poderá conhecer o seu futuro.

“Do Reino a Coimbra” traz cozinha transmontana ao restaurante Cordel Maneirista

Idealizado pel’A LEI DO VINHO, a magazine digital dedicada ao vinho e gastronomia, iniciar-se-á no próximo Sábado, dia 23 de Novembro, o primeiro de um ciclo de almoços tertúlia, intitulado “Do Reino a Coimbra”. Tendo por base a Universidade de Coimbra como pólo de formação das elites portuguesas ao longo de mais de mais de […]

Idealizado pel’A LEI DO VINHO, a magazine digital dedicada ao vinho e gastronomia, iniciar-se-á no próximo Sábado, dia 23 de Novembro, o primeiro de um ciclo de almoços tertúlia, intitulado “Do Reino a Coimbra”.

Tendo por base a Universidade de Coimbra como pólo de formação das elites portuguesas ao longo de mais de mais de 700 anos, o ciclo visa mostrar como a cozinha das várias regiões do país aportaram à cidade dos estudantes, trazidas pelos séquitos nobres e burgueses, influenciando ao longo dos séculos toda a gastronomia local, trazendo-lhe a dimensão de todo o território nacional.

A primeira edição deste ciclo que terá por anfitrião o restaurante Cordel Maneirista, em Santa Clara, e será dedicada à gastronomia de Trás-os-Montes, que harmonizará com uma selecção de nove vinhos tintos de outros tantos produtores oriundos da Bairrada e Sub-Região Terras de Sicó. As inscrições para o almoço-tertúlia, com o valor de 37,50 euros por pessoa, podem ser feitas através do e-mail geral@aleidovinho.com.

De Valpaços a Vidago

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[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Para além das serras do Marão e do Alvão, a Norte do rio Douro, no extremo Nordeste de Portugal, encontra-se a região de Trás-os-Montes. É lá que encontramos dois produtores, Valle de Passos e Quinta de Arcossó, autênticos “must-drink” à espera de ser descobertos.

TEXTO Mariana Lopes
FOTOS Anabela Trindade
NOTAS DE PROVA Mariana Lopes e Luís Lopes

Apesar do relativo “low profile” dos vinhos transmontanos, aqui a tradição vitivinícola é secular. Esta região sempre produziu vinho para consumo local, acima de tudo pela dificuldade de acessos, tendo sido um pouco esquecida quando da industrialização de outras zonas do país. Hoje, com as melhorias consideráveis em todos esses parâmetros, Trás-os-Montes é a origem de vinhos de grande qualidade, que percorrem Portugal e são exportados para todo o Mundo. Segundo os últimos dados (2017) do Instituto da Vinha e do Vinho, actualmente, a área total de vinha ronda os 14.500 hectares, e a produção de vinho, do ano 2017/2018, foi de 85.430 hectolitros. Deste número, 14.082hl foram D.O. Trás-os-Montes e 6.218hl Regional Transmontano.
De solos maioritariamente graníticos, com manchas ocasionais de xisto, esta região é dividida em três sub-regiões: Chaves, Valpaços e Planalto Mirandês. A sua área é de grande extensão mas, não obstante o cultivo da vinha ser muito antigo, esta não era, nem é, a principal actividade agrícola, o que faz com que a predominância nos campos seja de outro tipo de cultivos, como os cereais, a oliveira ou o castanheiro, também com grande peso da criação de gado. O clima é continental, ou seja, seco, com Verões muito quentes e Invernos rigorosos, dotado de grandes amplitudes térmicas. Embora estas características se apliquem em todas as sub-regiões, cada uma delas tem a sua própria especificidade e os microclimas são evidentes. A sub-região de Chaves toca em Espanha no limite Norte de Portugal. É a mais húmida das três e também a mais chuvosa, conhecida pelas águas termais, indo dos 350 aos 400 metros de altitude. Ali, as vinhas desfilam pelas encostas de vales de pequena dimensão, que culminam no rio Tâmega. Já Valpaços localiza-se no coração da comummente chamada Terra Quente. Aqui, os solos apresentam bastantes manchas de xisto, com várias zonas de transição, e a altitude vai desde os 450 aos 650 metros. É onde faz mais calor, no Verão, e onde os valores de humidade, assim como de pluviosidade, são relativamente baixos. No Planalto Mirandês, a conversa é outra: o rio Douro tem grande influência na vinha. Os solos são mais xistosos, localizados dos 350 aos 600 metros, e as suas vinhas sentem amplitudes térmicas muito grandes e valores de humidade muito baixos, com a particularidade de existir grande incidência de vento. Estas características são, inquestionavelmente, favoráveis à inibição de certas doenças e à prática de agricultura biológica.
As castas mais presentes em Trás-os-Montes, apesar serem quase todas comuns à vizinha região do Douro, têm as suas próprias idiossincrasias, sobretudo por estas particularidades edafoclimáticas. Assim, os vinhos são eles próprios únicos e raçudos, frescos, os tintos vegetais e frutados, com taninos marcados nos primeiros anos, sublimes quando se espera por eles, e os brancos gulosos, florais e elegantes. São essas castas Tinta Amarela, Bastardo, Tinta Gorda, Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca, falando de tintas, e Viosinho, Gouveio, Códega do Larinho, Rabigato, Malvasia Fina, Fernão Pires e Síria, nas brancas.
A casa vitivinícola transmontana mais clássica e com maior notoriedade junto do consumidor é, certamente Valle Pradinhos, em Macedo de Cavaleiros. Mas Trás-os-Montes tem vindo na última década a dar muito boas novas aos apreciadores, com um conjunto de produtores de apreciável qualidade. No Planalto Mirandês, fomos conhecer, há pouco mais de um ano, a casa Costa Boal – Palácio dos Távoras. Agora, nos primeiros dias do ano 2019, foi tempo de visitar mais dois produtores, Valle de Passos, em Valpaços, e Quinta do Arcossó, em Vidago, Chaves.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”Quinta Valle de Passos” color=”black” style=”shadow”][image_with_animation image_url=”34260″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][vc_column_text]À entrada de Valpaços, a rotunda anuncia, em jeito de boas-vindas, as castas bandeira: Tinta Amarela, Bastardo e Códega do Larinho. Estão zero graus de temperatura nesse dia, fáceis de ignorar quando o assunto é a descoberta de projectos vínicos. Lurdes Brás e Carla Correia são mãe e filha, mas também são sócias e líderes do projecto Quinta Valle de Passos, um negócio com ambição e que já se anuncia como o maior produtor individual de uvas da região de Trás-os-Montes.
Tudo começou quando Carla, licenciada em Psicologia, mestre em Gestão de Marketing e detentora de um MBA, se viu no ponto em que nada a entusiasmava a nível profissional. Viveu no Porto durante alguns anos e passou por vários ofícios, mas “queria sempre mais qualquer coisa”, afirmou. De facto, a ligação ao vinho já existia, pois o pai detinha algumas vinhas no Douro, e Carla passou os Verões da sua infância e juventude em vindimas. No final de 2013, a jovem, agora com 37 anos, e a mãe Lurdes lançaram-se à compra de vinhas em Valpaços o que, juntamente com outros terrenos herdados, perfez um total de 80 hectares, 50 dos quais de vinha e três de vinha velha, em solos de xisto, divididos entre três quintas, onde por perto se encontra o Rio Torto. Primeiro, adquiriram 21 hectares de vinhedos que tinham sido atingidos, nesse mesmo ano, por incêndios, e que aproveitaram para restruturar. “Eram quase só Syrah, e replantámos com, por exemplo, Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Amarela, Tinta Roriz e Bastardo”, disse Carla. Em 2018 já reconverteram outra área que tinha só Touriga Nacional, que apresentava muitas falhas, onde puseram Tinta Amarela e Bastardo, num rácio 50/50. Na vinha de tintos de maior extensão, com 30 hectares, há um lago onde vão buscar água para a rega gota a gota, tudo alimentado por painéis solares, não fosse Lurdes Brás proprietária de um negócio de energias renováveis. Em produção integrada, estas uvas tintas estão todas entre os 250 e os 300 metros de altitude. As uvas brancas, por sua vez, encontram-se entre os 600 e os 650 metros, sendo elas Viosinho, Códega do Larinho, Malvasia Fina, Verdelho, Gouveio, Arinto e Rabigato. Desde 2018 que o enólogo consultor é Luís Seabra, sucedendo-se à dupla Carlos Magalhães e Manuel Vieira. Com ambição de se envolver cada vez mais no processo de produção dos seus vinhos, Carla concluiu, recentemente, uma pós-graduação em enologia.
O primeiro vinho surgiu em 2014 e o portfólio inicial era constituído por dois brancos e dois tintos, um colheita e um Reserva para cada um, e um rosé. Agora, juntam-se a estes um Grande Reserva tinto e um monocasta de Tinta Amarela, numa produção total de quase 60 mil garrafas. A exportação é de 40%, essencialmente para países como os Estados Unidos, o Canadá e o Brasil. O próximo passo é a construção de adega própria e de um espaço de enoturismo, bem como o aumento da produção de vinho. Carla Correia mostra maturidade a nível de negócio, mesmo sendo nova no sector do vinho. Talvez seja o background de Gestão, mas a verdade é que a aposta tem sido, e continuará a ser, num crescimento lento e sustentado.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column centered_text=”true” column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][nectar_animated_title heading_tag=”h6″ style=”color-strip-reveal” color=”Accent-Color” text=”Em prova”][vc_column_text]

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_text_separator title=”Quinta de Arcossó” color=”black” style=”shadow”][image_with_animation image_url=”34263″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][vc_column_text]Apesar de Chaves ser a sub-região mais húmida e mais chuvosa de Trás-os-Montes, o sítio onde chegamos é bem soalheiro. A Quinta de Arcossó localiza-se na micro-região da Ribeira de Oura, entre Vidago e Chaves. São 20 hectares, 12 de vinha, numa encosta exposta a sul, com uma altitude de 400 metros e um declive de 20% que, tendo uma configuração convexa muito aberta a Este e a Oeste, se torna bastante arejada e solarenga. Aqui é mais granito, com muitas camadas profundas de saibro (um tipo de alteração arenosa destes minerais, o mesmo usado no corte de ténis conhecido como sendo de terra batida). Perto do rio Tâmega, a Quinta de Arcossó está rodeada por montanhas de 1200 metros de altitude, a Este pela serra da Padrela, que separa o rio Tua do rio Tâmega, a Sudoeste pelo Monte Minhéu, a Oeste e Noroeste pelas serras do Barroso, Larouco (o segundo ponto mais alto do país), Cabreira e Gerês. Num raio de 15km, podem encontrar-se cinco águas minerais diferentes: Vidago, Campilho, Pedras Salgadas, Carvalhelhos e Chaves. A humidade sente-se bem, naquela zona, e Amílcar Salgado, proprietário do projecto, revelou uma das principais razões: “Toda a vegetação que está aqui à volta, os castanheiros, os carvalhos e os pinheiros, apresenta níveis de transpiração muito elevados, o que faz com que a humidade aumente muito aqui”. Amílcar é de Arcossó e cresceu com o vinho. “Todas as casas tinham a sua adega e os seus lagares, as suas pipas”, contou. É inspector de finanças de profissão, mas o sonho de criança está ali, no vinho. Em 2001, decidiu recuperar a propriedade que era de uma família muito antiga da região, abandonada desde 1985. Reconverteu toda a área de vinha e plantou, em 2016 e 2017, mais oito hectares numa nova área que adquiriu, e ainda reabilitou um hectare de vinha velha em 2018. Em 2005 saiu o primeiro vinho, sempre num estilo de produção mais artesanal, com pisa a pé e uma enologia de baixa intervenção e elevada vigilância, por parte do enólogo Francisco Montenegro. Na vinha inicial, plantada em 2003, estão plantadas as castas tintas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Amarela, Bastardo, Tinta Roriz e Syrah, e as brancas Fernão Pires, Arinto, Moscatel Galego, Alvarinho, Cerceal e Encruzado. Na vinha plantada em 2016 e 2017, introduziram-se Chardonnay, Riesling, Arinto, Boal, Viosinho, Alvarinho, Encruzado e Gouveio, e Pinot Noir, Bastardo, Jaen e Baga.
As referências são nove: cinco tintos, três brancos e um rosé, que representam uma produção de 60 mil garrafas, das quais 30% é exportado para os Estados Unidos, Brasil, França, Suíça, Bélgica, entre outros. Como complemento, Amílcar Salgado produz cerca de 600 garrafas de azeite, de olival seu e mistura de variedades. “Este ano tive mais 25% de produção”, declarou, com ânimo, o homem que, no seu discurso empolgante, transparece conhecimento em várias áreas, sobretudo a geográfica e histórica, mas também vitivinícola. E advertiu: “Cuidar bem da parede vegetativa é fundamental e pode evitar desastres, como os que aconteceram em muitas vinhas em 2018”.
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Edição Nº22, Fevereiro 2019

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