Vinhos do Alentejo estreiam-se no Museu do Tesouro Real

Vinhos do Alentejo

A Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) vai revolucionar os eventos vínicos em Portugal, com a estreia do “Tesouros do Alentejo”. A 25 de Outubro, pelas 20h00, o Museu do Tesouro Real (Calçada da Ajuda, 1300-012 Lisboa) vai ser palco de uma noite sem igual, durante a qual 15 grandes vinhos do Alentejo serão harmonizados com […]

A Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) vai revolucionar os eventos vínicos em Portugal, com a estreia do “Tesouros do Alentejo”.

A 25 de Outubro, pelas 20h00, o Museu do Tesouro Real (Calçada da Ajuda, 1300-012 Lisboa) vai ser palco de uma noite sem igual, durante a qual 15 grandes vinhos do Alentejo serão harmonizados com gastronomia de inspiração alentejana, durante quatro horas de muitas surpresas.

O evento, que se pretende posicionar como disruptivo no sector, vai contar com projecção vídeo e um concerto de Global Club Music com a assinatura de João Barbosa, Branko, DJ, produtor de música e um dos fundadores do Buraka Som Sistema. Vai mostrar como a sua música se funde com a natureza e os vinhos do Alentejo.

No “Tesouros do Alentejo” haverá ainda lugar a uma performance improvável de Cante Alentejano com um evento Fever Original, os emblemáticos concertos Candlelight. Tudo isto acontece num local inusitado, à volta de uma caixa forte dourada, um dos maiores cofres fortes do mundo.

O evento “Tesouros do Alentejo” marca ainda o lançamento de uma nova campanha da CVRA, que pretende destacar a excelência dos vinhos do Alentejo e de toda a região, cruzando a sustentabilidade com a autenticidade e a singularidade. A campanha será conhecida na semana de 21 de Outubro.

Vendas da Região Demarcada de Lisboa batem recorde

As vendas totais dos Vinhos de Lisboa registaram, até ao passado mês de agosto, um novo recorde absoluto, com a comercialização de cerca de 50 milhões de garrafas durante os primeiros oito meses de 2024

As vendas totais dos Vinhos de Lisboa registaram, até ao passado mês de agosto, um novo recorde absoluto, com a comercialização de cerca de 50 milhões de garrafas durante os primeiros oito meses de 2024, mais dois milhões do que no período homólogo, o que representa um crescimento de 4% face a 2023, alavancado pelo […]

As vendas totais dos Vinhos de Lisboa registaram, até ao passado mês de agosto, um novo recorde absoluto, com a comercialização de cerca de 50 milhões de garrafas durante os primeiros oito meses de 2024, mais dois milhões do que no período homólogo, o que representa um crescimento de 4% face a 2023, alavancado pelo aumento nas vendas dos vinhos brancos, rosés e dos Leve Lisboa.

Portugal é um dos principais mercados de consumo dos Vinhos de Lisboa, representando já quase 20% do total de vendas. A exportação está próxima dos 80%, repartida por cerca de 100 países, liderados pelos Estados Unidos da América, seguidos do Reino Unido, Brasil, Canadá, países escandinavos, Alemanha e Polónia.

Nesta vindima espera-se um aumento significativo da produção do vinho Leve Lisboa, característico por apresentar uma menor graduação alcoólica e boa acidez, que confere frescura. “Este aumento está em linha com as novas tendências de consumo, bem patente no crescimento extraordinário, de cerca de 80%, das vendas do vinho Leve Lisboa nos primeiros oito meses deste ano”, revela Francisco Toscano Rico, presidente da CVR Lisboa.

20 anos de Santa Cristina

Santa Cristina

Ao completar 60 anos de idade, o empresário António Pinto entendeu que era tempo de encontrar um espaço agrícola de lazer onde pudesse reunir a família e os amigos. A sua esposa, Rosa Maria Pinto, foi decisiva na escolha de Celorico de Basto e da vertente vitivinícola, herdando de seu pai, viticultor, algumas parcelas de […]

Ao completar 60 anos de idade, o empresário António Pinto entendeu que era tempo de encontrar um espaço agrícola de lazer onde pudesse reunir a família e os amigos. A sua esposa, Rosa Maria Pinto, foi decisiva na escolha de Celorico de Basto e da vertente vitivinícola, herdando de seu pai, viticultor, algumas parcelas de vinha e a paixão pelo vinho.
António Pinto não queria, no entanto, mais um Vinho Verde comum. Pretendia um produto de qualidade elevada e de que se pudesse orgulhar. Com o objectivo de fazer bem feito e mente, recorreu ao enólogo Jorge Sousa Pinto, profissional de primeira linha, com provas dadas na região. A história é contada por este último em poucas palavras: “Quando conversei com o senhor António Pinto, em plena vindima de 2004, gostei muito do projecto e do seu empenho e disse-lhe que ia ajudar no que fosse preciso. Pensava eu que era para começar no ano seguinte. Afinal era para começar a trabalhar no dia seguinte, às sete da manhã já lá estava, na cave da sua residência, a receber uvas…”
A coisa, entretanto, foi ganhando outra escala e condições. Em 2008 começaram a fazer espumante, em 2013 construiu-se uma adega moderna, com tudo o que é preciso. A “brincadeira” de António Pinto transformou-se em 50 hectares de vinha, com mais de 400 mil litros produzidos em cada ano. “Nunca pensei que isto tomasse a dimensão que tomou”, confessa António Pinto. Entretanto, a sua filha Mónica Pinto tomou a direcção do projecto, assumindo a gestão e coordenação de toda uma equipa profissional dedicada ao negócio vitivinícola. Negócio que tem vindo a crescer de ano para ano.
A Quinta de Santa Cristina situa-se no coração de Basto, sub-região dos Vinhos Verdes. Entre vinha e floresta são cerca de 60 hectares, na margem direita do rio Tâmega, um espaço rodeado pelas serras de Fafe, Marão, Alvão e Cabreira, convidando ao sossego e harmonia entre vinhos e natureza. Na verdade, e como é habitual no modelo de minifúndio minhoto, o nome Santa Cristina serve de chapéu a diferentes propriedades, dispersas por três concelhos: Celorico de Basto, Cabeceiras de Basto e Ribeira de Pena. Assim, a Quinta de Santa Cristina propriamente dita, dispõe de 8 hectares de vinha, plantada com castas brancas e tintas: Alvarinho, Fernão Pires, Sauvignon Blanc, Espadeiro, Trajadura e Padeiro de Basto. A quinta da Capela são 5 hectares, com Trajadura, Avesso e Batoca. Na Tecla estão 3,5 hectares, com Alvarinho e Chardonnay, enquanto Fermil representa 2,3 hectares exclusivamente plantados com Arinto. Juntam-se, a estas, mais três quintas (as de maior dimensão) num total de sete: quinta de Salgueiros são 11 hectares, plantados com Trajadura, Loureiro, Azal e Padeiro de Basto; quinta de Agúnchos tem 10 hectares de Arinto, Alvarinho, Vinhão e Fernão Pires; e quinta de Parada, outros 10 hectares, com Arinto, Alvarinho, Azal e Loureiro. Todas estas vinhas encontram-se assentes no típico solo granítico da região, variando as altitudes (dos 200 metros de Fermil aos 500 metros de Salgueiros, com a média a rondar os 350 metros) e a exposição solar, ainda que esta seja maioritariamente Nascente/Sul. A cintura de serras de que acima falámos protege dos ventos marítimos mais agrestes, dando a esta região atlântica alguma influência continental.

Mónica Pinto, com os pais António e Rosa Maria, gere o dia da dia da empresa. 

Batoca faz diferença
De entre a multitude de castas plantadas é de destacar a Batoca, uma casta autóctone e praticamente limitada à sub-região de Basto. Casta muito produtiva, encontrava-se sobretudo nas antigas ramadas, mas tem a vantagem, segundo Jorge Sousa Pinto, de oxidar lentamente e crescer na garrafa. Para o enólogo, a Batoca representa uma parte importante da herança vitivinícola local. “Ao longo do tempo, esta casta foi sendo esquecida e tornando-se quase extinta”, refere. “A Quinta de Santa Cristina dedicou-se à sua recuperação e preservação, e orgulhamo-nos de ser o único produtor a engarrafar esta variedade em separado.” De qualquer forma, do total plantado, 30% é Alvarinho, seguindo-se, por ordem de grandeza, Arinto, Trajadura e Loureiro. Tendo em vista os resultados alcançados por cada casta e os objectivos pretendidos, a enologia identificou já um excesso de Trajadura, que vai substituída, sobretudo, por Avesso e Arinto.
Em termos de modelo vitivinícola, foi adoptado o Sistema de Produção Integrada e Global, implicando seguir determinadas regras e boas práticas agrícolas, priorizando a preservação ambiental, a segurança e o bem-estar dos trabalhadores, a gestão de resíduos e a segurança alimentar. A título de exemplo, Jorge Sousa Pinto aponta a recuperação dos resíduos da poda, triturados e deixados no campo como matéria orgânica, reforçando o compromisso da quinta com práticas sustentáveis. A adega, construída de raiz em 2013, tem uma capacidade instalada para um milhão de litros, vinificando actualmente menos de metade, entre brancos, tintos, rosés e espumantes. Para além das incontornáveis cubas inox e sistemas de frio, Jorge Sousa Pinto e o enólogo residente, Bernardino Magalhães, contam com dois lagares de granito (com controle de temperatura) para a pisa e fermentação dos tintos mais clássicos, uma área de fermentação e estágio em barrica e ainda uma outra dedicada aos espumantes, que começaram a ser produzidos em 2008. A ideia é a marca Quinta de Santa Cristina aparecer unicamente em referências que signifiquem valor acrescentado. Diz António Pinto: “Queremos experimentar, testar, perceber o consumidor e só depois lançar no mercado um vinho que faça a diferença. Fazer bom e barato não é objectivo.” Corroborando a afirmação, é significativo que, desde 2023, todos os vinhos da Quinta de Santa Cristina, mesmo os considerados “entrada de gama”, sejam engarrafados sem qualquer adição de gás ou açúcar.

Verdes de garrafeira
Mais significativo ainda, o lançamento da linha Cave, que tem, como propósito, introduzir valor e mostrar, a quem ainda duvida, que os Vinhos Verdes podem ser grandes brancos, vinhos que ultrapassam a prova do tempo. Ao contrário de outros produtores da região que relançam agora vinhos que já estiveram no mercado há alguns anos, os vinhos da linha Cave assentam num conceito distinto. “São especificamente feitos para crescer em garrafa e lançar com dois ou três anos de idade. Não são vinhos que ficaram para trás”, acentua Jorge Sousa Pinto. Assim, todos os anos chegarão ao mercado vinhos varietais ou de lote baseados neste modelo. E há vinhos que vão esperar dois anos e outros esperam três, quatro, cinco ou mesmo seis anos, o que diz bem da confiança do enólogo e da capacidade de António e Mónica Pinto esperar pelo retorno do investimento.
Os vinhos da Quinta de Santa Cristina estão, sobretudo, no canal Horeca. A exportação representa já 40% do negócio, com mercados como Alemanha, Inglaterra, Polónia, Holanda, Suíça, Suécia e, mais recentemente, EUA e Japão, na linha da frente.
Desde 2015 que um dos focos da empresa tem sido o enoturismo, cujo espaço foi alvo de grande reformulação em 2020, com novas infra-estruturas (incluindo cozinha industrial) e um renovado programa dos espaços arquitectónicos, criando três ambientes que interligam vinhas e adega, um espaço multiusos com capacidade para 150 pessoas, um wine-bar e uma ampla loja. Para além das provas e da experiência gastronómica, os visitantes podem desfrutar de um vasto programa de actividades, incluindo visitas às vinhas (a pé, bicicleta ou TT), adega e cave, criação de lotes, e piqueniques na vinha ou nos jardins, aproveitando a paisagem natural.
Duas décadas transformaram a Quinta de Santa Cristina de espaço privado de lazer a ambicioso produtor de Vinho Verde, uma casa que conjuga como poucos três factores fundamentais: escala, qualidade e diferença. Uma importante mais-valia para uma região que tem cada vez mais coisas boas para nos mostrar.

Santa Cristina

(Artigo publicado na edição de Agosto de 2024)

 

Quinta da Lagoalva com selo Sustainable Winegrowing Portugal

A Quinta da Lagoalva foi certificada recentemente com o selo Sustainable Winegrowing Portugal, no âmbito do Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do Sector Vitivinícola, criado pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) e promovido pela ViniPortugal.

A Quinta da Lagoalva foi certificada recentemente com o selo Sustainable Winegrowing Portugal, no âmbito do Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do Sector Vitivinícola, criado pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) e promovido pela ViniPortugal. “Atualmente, é necessário ter uma certificação de sustentabilidade para aceder e permanecer em determinados mercados do norte […]

A Quinta da Lagoalva foi certificada recentemente com o selo Sustainable Winegrowing Portugal, no âmbito do Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do Sector Vitivinícola, criado pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) e promovido pela ViniPortugal.

“Atualmente, é necessário ter uma certificação de sustentabilidade para aceder e permanecer em determinados mercados do norte da Europa, Canadá e Estados Unidos, onde a Quinta da Lagoalva quer estar presente e continuar a crescer”, explica Pedro Pinhão, administrador e diretor de enologia da empresa.

Segundo Inês Campilho Chaves, responsável pela área de sustentabilidade do Grupo Lagoalva, “o processo de certificação foi desafiante”, porque exige um novo foco na contabilização, a definição dos parâmetros verdadeiramente materiais na área de negócio da empresa e capacidade para reformular processos, “para que se tornem mais eficazes e controlados”. “Mas fazemos isto certos de que é o caminho para, durante os próximos anos, afinarmos o nosso processo de sustentabilidade e melhorar sempre”, afirma.

A Quinta da Lagoalva está a entrar numa nova fase de inovação tecnológica, descarbonização e agricultura de precisão, auxiliada e sistematizada pelo investimento feito na sustentabilidade. A sua frota está a ser renovada para carros híbridos e há um reforço do investimento em energias renováveis para autoconsumo e alimentação dos sistemas de rega. Para além disso, a empresa tem também em desenvolvimento uma série de compromissos para o futuro, como a circularidade da água, a digitalização de processos e promoção da biodiversidade.

“O que fazemos tem, como objetivo, deixar algo melhor para gerações futuras”, afirma Inês Campilho Chaves. Através da melhoria contínua do que já foi implementado e da evolução das boas práticas, pretende que o planeamento seja feito, na sua empresa, com a sustentabilidade incorporada nas ações diárias. “Esperamos, assim, conseguir uma maior longevidade da fertilidade dos terrenos, postos de trabalho mais seguros, gastos mais controlados e menos emissões de carbono”, acrescenta a responsável.

Titan: Os vinhos de altitude de Luís Leocádio

titan

Luis Leocádio, 35 anos, enólogo e proprietário do projecto Titan, é natural da aldeia de Trevões, concelho de S. João da Pesqueira. Noutros tempos era conhecida como Trovões por ser uma zona de altitude sujeita a tempestades, com muita queda de granizo. “Mas essas condições climáticas alteraram-se para um clima mais ameno, e hoje a […]

Luis Leocádio, 35 anos, enólogo e proprietário do projecto Titan, é natural da aldeia de Trevões, concelho de S. João da Pesqueira. Noutros tempos era conhecida como Trovões por ser uma zona de altitude sujeita a tempestades, com muita queda de granizo. “Mas essas condições climáticas alteraram-se para um clima mais ameno, e hoje a terra é conhecida como Vila do Trevo devido a haver, por lá, muitos trevos”, conta o proprietário do projecto Titan. Saiu cedo de casa, com 12 anos, para estudar na Régua e terminar o ensino básico. Os pais, agricultores, trabalhavam na Quinta dos Lagares, em Favaios, Alijó, onde também viviam, tal como o enólogo fora do período escolar. “Foi aí que comecei a trabalhar durante as férias de verão, a partir dos 14/15 anos e a assumir alguns trabalhos de vinha e adega, porque o proprietário da quinta mos imputava”, conta.

A atracção pelo mundo rural

Quando chegou à altura de entrar na faculdade, ainda tentou escapar ao destino entrando, na primeira fase de candidaturas, em Gerontologia para fugir do mundo rural. Mas, 15 dias depois, decidiu deixar de resistir e foi para aquilo “que já sentia que era o que gostava”. Foi então que entrou no curso de Engenharia Agronómica em Viseu, onde fez a especialidade de Viticultura e Enologia. Conta que as coisas correram de tal forma bem que, ao final do primeiro ano, foi logo convidado por João Paulo Gouveia, docente da Escola Superior Agrária de Viseu e hoje também vereador do Município, para trabalhar no sector de enologia da empresa de consultoria em viticultura e enologia que detinha com outros sócios, a Vines & Wines.
Isso foi-lhe muito vantajoso e deu-lhe “um grande arcaboiço”, dado que a empresa tinha mais de 30 clientes. Eram sobretudo projectos da Beira Interior e do Dão, mas também da Bairrada e Douro, e o trabalho que foi desenvolvendo constituiu uma boa experiência. “Aprendi muito e cresci como enólogo”, conta Luís Leocádio.
Após terminar o curso decidiu voltar para o Douro, porque é lá que se sente bem. Trabalhou primeiro com João Cabral de Almeida em projectos dos Vinhos Verdes e do Douro a que este enólogo dava apoio, como a Casa da Calçada, no primeiro caso, e a Quinta do Estanho, no segundo, “que ele depois passou para mim, cerca de 2015, por não ter tempo”, revela.
Com o passar dos anos também passou a trabalhar na Quinta do Cardo, quando esta pertencia à Companhia das Quintas e noutros projectos mais pequenos. Entretanto já tinha iniciado o projecto pessoal, de forma ainda muito pequena e experimental. Foi a partir de 2018 que o Titan começou a crescer e a Luis Leocádio a dispensar-lhe cada vez mais tempo até que, em meados de 2019, passou a focar-se quase a tempo inteiro nele, apesar de ainda manter algumas consultorias.

titan

As terras altas do Douro, onde a vinha rareia e se cruza com o olival tradicional, é o lugar onde se situam as parcelas que dão origem ao Vale dos Mil branco, tinto e rosé.

 

A aposta nas origens

Quando criou o projecto Titan, Luis Leocádio queria essencialmente “defender a honra das suas origens”, uma zona do Douro que está em crise há muito. “É um território de altitude, que já não tem quase direito a benefício em termos de licenças de produção de Vinho do Porto”, conta o enólogo, explicando que Trevões tinha uma adega cooperativa com uma capacidade de 15 milhões de litros de vinho e uma área de vinha significativa até que, à volta de 2010, “com as quebras constantes do benefício e libertação das licenças, as pessoas foram sendo convidadas a vender as suas e toda a gente arrancou a vinha, que passou a ser mais rara”.
Luis Leocádio, que via, ali, uma zona com muitos anos de provas dadas, acreditou que investir nela podia ser uma aposta com futuro. “Tem as capacidades certas para produzir vinhos frescos e mais gastronómicos, aqueles que o mercado procura cada vez mais”, conta. Explica, também, que se apaixonou, desde muito cedo, por aquela paisagem de montanha e de vinhas velhas, e decidiu investir. Começou por produzir a partir de dois talhões, poucas quantidades de vinho, cerca de mil litros de branco e dois mil de tinto no primeiro ano, parte com estágio em barrica e parte com estágio em barro. “Como os resultados foram muito bons, decidi que era ali que iria desenvolver o meu projecto, não só porque era diferenciador e tinha muita ligação à terra, mas também porque me permitia apresentar, ao mercado, vinhos distintos”, explica.

Tradições das aldeias

Depois de comprar ou alugar vinhas velhas que foi procurando e seleccionando, começou a produzir vinhos baseando-se nas tradições das aldeias da sua zona. É um conhecimento que foi adquirindo com a leitura de alguns documentos que contam a história do dia a dia das pessoas da região, incluindo a forma como faziam agricultura e trabalhavam os seus vinhos. E estes foram sendo feitos em função do que foi aprendendo, para serem a interpretação de cada terroir em todos os sentidos, pois são de vinhas velhas e resultam de uma viticultura e de uma forma tradicional de fazer vinho.
“Aquele que estagia em barro não é mais nem menos que o reflexo de uma realidade de outros tempos, que encontrei escrita num pequeno excerto de um livro de um escritor da zona, onde contava o dia-a-dia da vitivinicultura da região”, conta o enólogo, revelando que, por ali, os vitivinicultores vindimavam na mesma altura das outras zonas do Douro. Só que, a cerca de 500 metros de altitude, as uvas eram mais verdes e originavam vinhos mais difíceis de beber. Como também não havia grande tradição de valorização, nem dinheiro, nem grandes caves com capacidade para armazenar os seus vinhos, os locais construíam os seus próprios vasilhames, em barro, ou cimento, “e os vinhos melhoravam muito com aquele tipo de estágio, mas mingavam com o passar do tempo, devido à evaporação”, conta Luis Leocádio. “A fermentação era feita em lagar, e os vinhos ganhavam uma ligeira oxidação, porque têm um envelhecimento mais forçado, mais rápido e perdiam água nos depósitos tradicionais usados na zona”, explica o enólogo, acrescentando que, “para além disso, este tipo de recipientes propiciam a precipitação mais rápida dos cristais dos vinhos, contribuindo para que fiquem mais bebíveis, com menos acidez”.

Luís Leucádio com Diogo Martins, o outro enólogo da empresa e o 666, um branco de Távora Varosa produzido com uvas da casta cerceal de uma vinha muito velha.

Um Douro distinto

Os vinhos que Luís Leocádio produz expressam um Douro diferente e o enólogo acredita que trouxeram uma lufada de ar fresco ao mercado, o que contribuiu para o sucesso da sua empresa.
O despertar resultou de uma prova cega de vinhos feita pelo blogger Paulo Pimenta, que já tinha provado alguns. “Estava a cerca de meio ano de os lançar, e ele telefonou-me a dizer que gostava de os ter na prova em primeira mão”, conta, acrescentando que enviou as duas referências que tinha, Vale dos Mil e Estágio em Barro, que acabaram por ser os primeiros classificados dos dois painéis em prova. O resultado originou burburinho e alguma pressão de mercado, “já que muita gente os queria comprar e provar e isso deu-me um pouco mais de confiança para avançar”, explica.
Os primeiros vinhos foram lançados em junho de 2018, em embalagens atractivas e diferenciadas e três meses depois tinham sido todos vendidos. Em Outubro, foram lançados os vinhos de 2017 da gama Titan, que também esgotaram em pouco o tempo, “o que nos criou uma pressão suplementar para aumentar quantidades”. “A partir daí que comprámos mais vinha, e começámos a solidificar e aumentar as parcerias com os agricultores, para produzirmos mais quantidade, mantendo sempre o perfil, já que ainda hoje há margem para crescimento da produção na zona onde colhemos as uvas”, diz Luis Leocádio.
No início, os seus vinhos chegavam sobretudo aos curiosos, aqueles que gostam de provar marcas novas. Mas hoje, com o crescimento do projecto, já o público em geral prova os vinhos, apesar de ainda não estar muito familiarizado com o seu estilo. Têm muita acidez e são sobretudo vinhos gastronómicos, para mesa, que Luis Leocádio gosta de trabalhar com restaurantes e garrafeiras, que “são o melhor veículo” para passar a sua mensagem. “Nós fazemos vinhos para a comida”, afirma.

O custo da diferença

Os vinhos da casa Titan têm preços de mercado muito diferenciados uns dos outros, já que começam próximos dos 12 euros, para os INDIEgente, e vão até aos cerca de 666 euros (preço recomendado) para o Titan Daemon 666, um vinho branco raro de vinhas muito velhas da casta Cerceal. Luis Leocádio diz que procura que o PVP seja o mais justo possível e reflicta o seu custo de produção. No caso das suas vinhas próprias, cerca de seis hectares distribuídos em várias parcelas do Douro Superior, o custo por quilo de uva anda pelos 10-12 euros, dependendo da forma como corre cada ano.
Se houver mais surtos de doenças, que obrigam a mais intervenções na vinha, os custos naturalmente sobem. “São vinhas tradicionais, não mecanizadas e de difícil acesso, que exigem muita mão de obra, num tempo em que ela praticamente não existe”, lamenta o enólogo. Explica, também, que em cada vinha há muitas castas brancas e tintas que são vindimadas em separado, o que contribui, também, para o crescimento de custos. O preço por quilo de uva nos viticultores parceiros é, apesar de elevado, mais baixo do que o das vinhas próprias. “É essa uma das grandes diferenças que influenciam os preços das diferentes referências de vinhos que colocamos no mercado”, diz Luis Leocádio, dando o exemplo dos vinhos Vale dos Mil, de vinhas velhas, que têm o PVP de 35 euros, enquanto os INDIEgentes, de vinhas de parceiros, custam cerca de 12 euros. “São os valores justos, que têm em conta todos os custos, embora, em termos de qualidade, os vinhos possam, ou não, valer mais”, defende o enólogo, salientando que nunca foi criticado pelos preços praticados, “porque as pessoas acham-nos justos pela qualidade que os nossos vinhos têm”.

(Artigo publicado na edição de Agosto de 2024)

Trafaria (com) Prova está de volta de 27 a 29 de Setembro

trafaria

O Trafaria (com) Prova está de regresso para três dias de festa com degustação de vinhos e petiscos, provas de vinho comentadas, visitas guiadas ao centro histórico e animação de rua no passeio ribeirinho da Trafaria com entrada livre. De 27 a 29 de Setembro, conheça os vinte produtores presentes, os restaurantes e pastelarias que irão […]

Trafaria (com) Prova está de regresso para três dias de festa com degustação de vinhos e petiscos, provas de vinho comentadas, visitas guiadas ao centro histórico e animação de rua no passeio ribeirinho da Trafaria com entrada livre.

De 27 a 29 de Setembro, conheça os vinte produtores presentes, os restaurantes e pastelarias que irão propor iguarias de sabor local. Além dos vinhos e petiscos, há ainda visitas guiadas ao centro histórico da Trafaria, e animação para toda a família ao longo do fim de semana.

 

Grande Prova: Alvarinho, Loureiro, Avesso e muito mais!

vinhos verdes

Quando nos referimos a região dos Vinhos Verdes, incluindo vinhos com IG Minho (a área de produção destes coincide com a DO Vinho Verde), falamos de uma região grande, com quase cinco dezenas de concelhos do noroeste do nosso país. O limite sul é próximo de Arouca (ainda que pouca gente o saiba). Transita depois […]

Quando nos referimos a região dos Vinhos Verdes, incluindo vinhos com IG Minho (a área de produção destes coincide com a DO Vinho Verde), falamos de uma região grande, com quase cinco dezenas de concelhos do noroeste do nosso país. O limite sul é próximo de Arouca (ainda que pouca gente o saiba). Transita depois por parte do Rio Douro e todo o Minho até à fronteira norte com Espanha, sempre com muita diversidade de territórios e de castas. Percorrendo as letras do abecedário, na região dos Vinhos Verdes podemos perder-nos entre Amarante ou Amares até Vizela ou Vila Verde, passando por Baião, Braga, Melgaço, Penafiel e Santo Tirso. Entre cada um destes territórios muda a latitude e a longitude, a proximidade ao oceano, e a altitude e os declives dos vários vales por onde os rios serpenteiam (Minho, Lima e Douro, entre outros, pois a região é abundante em água). No que a solos diz respeito, a matriz é claramente granítica. Mas podem existir faixas xistosas, quase sempre com propensão para solos ácidos e por vezes com textura franca. Já quanto a castas brancas, a nossa prova mostra-nos que Alvarinho, Avesso e Loureiro são apostas seguras para os vinhos com mais ambição. Mas a região tem mais, muito mais! É o caso do Arinto (Perdernã) presente em muitos lotes, Azal e Fernão Pires (ou Maria Gomes) que começam a renascer, Folgasão, Gouveio, Malvasia-Fina e Trajadura, entre mais meia dúzia apta a DO. Naturalmente, cada sub-região – e a região dos Vinhos Verdes tem muitas, quase uma dezena – tem as respetivas castas mais aptas e adaptados, como seja o Avesso em Baião, o Loureiro em Lima, e o Arinto espalhado por algumas sub-regiões como seja Amarante, Ave e Basto. Ainda no que a castas brancas respeita, as estrangeiras Chardonnay, Chenin, Riesling, e Sauvignon Blanc são permitidas com IG Minho, ainda que claramente minoritárias.

Ainda quanto à região, referimo-nos a uns impressionantes 17.300 hectares de vinha plantada, praticamente 9% da área de vinha portuguesa, espalhados por mais de 13000 produtores e três centenas de engarrafadores. Trata-se, sem dúvida, de uma região de sucesso crescente, com produções por hectare que conseguem beneficiar o produtor (facilmente rondando as 10 toneladas, e mais ainda para vinhos com menos ambição), e vinhos de perfil fresco e com boa acidez, em muitos casos com álcool mais baixo do que noutras regiões do país. Em 2022 comercializou-se 66.893.041 litros de vinho branco, metade para exportação, com as vendas numa tendência positiva (a exportação triplicou em menos de década e meia), ainda que mais estabilizada quanto aos últimos anos. Referindo-nos a 2022 em especial, o valor para a exportação cifrou-se nuns valorosos 81 milhões de euros. Com tantos números a seu favor, a região só pode crescer agora em valor, valorizando o seu produto e procurando, nem que seja moderadamente, aumentar o preço médio por garrafa que anda pelos 2,63€ na distribuição nacional.

 

Requalificação de vinhas, adegas e conceitos
Os bons resultados da região justificam-se também pela requalificação de muita vinha nos últimos 20 anos, reconversão de práticas agrícolas ultrapassadas e uma adaptação quase perfeita à tendência de termos anos mais quentes, decorrente do aquecimento global. Com efeito, mesmo em anos quentes, como foram 2019 e sobretudo 2022, com problemas em quase todas as regiões do nosso país, a região dos Vinhos Verdes consegue passar relativamente incólume mantendo frescura nos mostos. Os enólogos que contatámos confidenciaram-nos que, salvo uma ou outra exceção (foi o caso da primeira semana de agosto em 2018), as vinhas não têm sofrido na região com o escaldão e que, com o aumento da temperatura anual, existe atualmente mesmo mais consistência na produção e qualidade. É certo que a região é, por vezes, ainda fustigada com pragas e doenças, seja míldio, ódio ou flavescência dourada (tornando mais difícil a disseminação das práticas biológicas), que podem provocar quebras de 25% na produção (neste ano de 2024 já foram muitos os tratamentos para a maioria dos produtores) mas, mesmo assim, a produção anual consistente, o aumento da qualidade geral e a procura em alta mantém a atividade da vitivinicultura nos Vinhos Verdes como atrativa.

vinhos verdes

O nosso painel focou-se em vinhos brancos, pois estes representam quase 90% do que produz a região. Destes, abordámos os vinhos de categoria superior e de todas as sub-regiões, à exceção de Monção e Melgaço, por esta ser aquela a que mais nos temos dedicado, e quase sempre em exclusivo, em provas anteriores. Ora, as mais de duas dezenas de brancos que provámos podem ser divididas por grupos mais delimitados: por um lado, os monocasta de Alvarinho (de Gondomar a Lousada, passando por Felgueiras), por outro os Loureiro (quase todos do Vale do Rio Lima), e os Avesso (essencialmente de Baião do Vale do Douro), e ainda os restantes, muitos deles vinhos de lote com as castas anteriores e alguns outros monocastas de Azal, Gouveio e um até de Chardonnay. No final da prova, os Alvarinho mostraram o potencial da casta, mesmo fora do seu local de eleição, com vinhos com sabor, corpo e de bom recorte, vários deles com fermentação e estágio em barrica. Os Loureiro revelaram-se a alto nível – esplendorosos os de Anselmo Mendes e Ameal, dois dos três primeiros classificados –, com subtilezas florais e cítricas sem igual. Os vários Avesso em prova revelaram que são cada vez mais uma aposta segura do Vale do Douro, num perfil próprio, com mais cor e mais fruta madura do que os restantes, ainda que, num ou outro caso, não estejamos totalmente convencidos da vantagem da fermentação e estágio em barrica. Também os vinhos de lote mais tradicionais, com Alvarinho e Loureiro em mistura, e/ou com um pouco de Arinto, estiveram a muito bom nível, confirmando um perfil da região jovem e leve, de baixo álcool e perfeito para os dias mais quentes e para a gastronomia estival. E houve ainda lugar para algumas surpresas, caso do Azal de Márcio Lopes, do projeto Sem Igual (aqui com Arinto também) e do topo de gama do produtor Cazas Novas, três vinhos que têm tanto de tradicional, no que toca à viticultura, como de sofisticação na enologia!

Nota: o autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

(Artigo publicado na edição de Agosto de 2024)

2ª edição de Entre Pratos e Vinhos com novidades

A iniciativa tem, como objetivo, valorizar e divulgar a restauração da região demarcada, através da promoção da gastronomia local, aliada ao consumo do vinho da região, numa época do ano em que há menos turistas no Algarve.

A segunda edição da iniciativa Entre Pratos e Vinhos, promovida pela Comissão Vitivinícola  do Algarve (CVA), irá decorrer entre os dias 17 de outubro e 30 de novembro de 2024 e traz novidades, já que desafiou, para além dos restaurantes, os hotéis a participarem na iniciativa. Sob o mote Eat, Drink and Stay, a CVA […]

A segunda edição da iniciativa Entre Pratos e Vinhos, promovida pela Comissão Vitivinícola  do Algarve (CVA), irá decorrer entre os dias 17 de outubro e 30 de novembro de 2024 e traz novidades, já que desafiou, para além dos restaurantes, os hotéis a participarem na iniciativa. Sob o mote Eat, Drink and Stay, a CVA convida, assim, todos os visitantes a descobrir a região de forma diferente.

A iniciativa tem, como objetivo, valorizar e divulgar a restauração da região demarcada, através da promoção da gastronomia local, aliada ao consumo do vinho da região, numa época do ano em que há menos turistas no Algarve.

Serão mais de 20 restaurantes e hotéis, dispersos por toda a região. Cada estabelecimento aderente deverá apresentar uma sugestão de menu, constituída por um prato e um vinho certificado IG Algarve e/ou DO Lagoa, Lagos, Portimão ou Tavira. Os hotéis poderão ainda indicar uma sugestão de estadia.

A informação sobre o evento estará disponível no site e nas redes sociais da Comissão Vitivinícola do Algarve a partir do início de Outubro, incluindo os restaurantes e hotéis aderentes e todos os pratos e vinhos sugeridos.