Rota dos Vinhos do Alentejo celebra vinho de talha
A Rota dos Vinhos do Alentejo está a celebrar o vinho de talha, com uma iniciativa que pretende dar a conhecer ao público a suas características, o método de produção e a tradição milenar que lhe deu origem. Nesse sentido, já estão a decorrer, em Novembro, e irão prolongar-se por Dezembro, provas realizadas na Rota […]
A Rota dos Vinhos do Alentejo está a celebrar o vinho de talha, com uma iniciativa que pretende dar a conhecer ao público a suas características, o método de produção e a tradição milenar que lhe deu origem. Nesse sentido, já estão a decorrer, em Novembro, e irão prolongar-se por Dezembro, provas realizadas na Rota que incluem, em exclusivo, vinhos produzidos através do método ancestral de fermentação em talhas de barro. O processo confere-lhes sabores e aromas distintos, que são hoje ligados ao Alentejo e ao seu terroir.
A iniciativa tem a participação de produtores como a Adega Cananó, Adega Cartuxa, Adega Cooperativa da Vidigueira, Cuba e Alvito, Adega das Flores, Adega de Borba, Adega Marel, Abegoaria Wines, Espaço Rural, Esporão, Gerações da Talha, Herdade dos Outeiros Altos, Hillvalley Limited, PL Wines e Talha de Frades.
A vinificação em talha foi introduzida há mais de dois mil anos no Alentejo pelas mãos dos romanos, mantendo-se até hoje. É um dos símbolos da cultura e tradições da região.
Caves São João: Serena é a mudança
A inovação e criatividade sempre foram uma forma de estar das Caves São João. As influências do melhor que se fazia lá fora eram trazidas pelos seus fundadores, homens viajados e cosmopolitas. Na segunda metade do século XX, todo o país conhecia e reconhecia as referências “Frei João” e “Porta dos Cavaleiros”, rótulos que encimavam […]
A inovação e criatividade sempre foram uma forma de estar das Caves São João. As influências do melhor que se fazia lá fora eram trazidas pelos seus fundadores, homens viajados e cosmopolitas. Na segunda metade do século XX, todo o país conhecia e reconhecia as referências “Frei João” e “Porta dos Cavaleiros”, rótulos que encimavam todas as mesas da restauração portuguesa. Em 1971, antevendo as mudanças do paradigma de consumo de vinhos e espumantes e o surgimento de consumidores que procuravam maior identidade nos vinhos, é adquirida a Quinta do Poço do Lobo, no concelho de Cantanhede e, a partir dali, nasce a marca homónima, passando as caves a possuir vinhos de Quinta.
Como empresa familiar, a Sociedade dos Irmãos Unidos, designação social da mesma, sofreu os reveses das querelas internas. No final da segunda década deste século entrou num período mais conturbado, acabando, por vicissitudes várias, a ser alienada a quase totalidade do capital social a um conjunto de investidores em 2022. A partir daí, aguardavam-se as mudanças que os novos sócios, da área imobiliária e financeira, iriam imprimir à empresa centenária e que é a mais antiga em atividade na Bairrada. Fernando Sapinho, Enrique Castiblanques, Mário Vigário, Nuno Ramos, Paulo Morgado e Mário Mateus, são empresários em diversos ramos de atividade. O vinho surge-lhes como uma paixão racional de quem olha para as Caves São João como um diamante a lapidar.
No centro destas mudanças, ficou Célia Alves, ela que em tempo de marés violentas e tormentas várias, não largou o leme de uma marca secular e histórica, não permitindo que, em momento algum, ficasse à deriva.
Serenamente, os últimos anos foram de restruturação, dando uma nova luz à empresa que, com os seus fundadores, esteve no passado ligada à criação da região demarcada da Bairrada e à Confraria dos Enófilos da Bairrada, que, curiosamente, teve na sua liderança nos últimos anos Célia Alves, que mantém a gerência das Caves conjuntamente com os ativos sócios Fernando Sapinho e Enrique Castiblanques
No passado dia 24 de Junho, Dia de São João, as Caves São João destaparam o véu da revolução tranquila que têm operado, celebrando o seu 104º aniversário com várias novidades. A maior, e porque o palco escolhido para os festejos foi a Quinta do Poço do Lobo, revelou-se na expansão que aquela propriedade teve com esta nova estrutura societária. Ao longo dos últimos dois anos, entre reconversão de área de floresta em vinha e aquisição de parcelas contíguas, houve um aumento da área de vinha em 10 hectares, que se somam aos 30 já existentes. Com o aumento da produção de espumante no horizonte, nascem ali novas plantações das castas brancas Bical, Arinto e Maria Gomes (Fernão Pires).
Do Poço do Lobo ao Porta dos Cavaleiros
A casa, que mantém o classicismo que sempre a caracterizou, não descura o arrojo e ousadia e, na apresentação dos novos vinhos, mostrou que segue de perto as tendências e, para isso, não deixou de surpreender. O Baga Novo Natcool, um tinto da colheita de 2022, mostra toda a irreverência da casta, num vinho disruptivo mas totalmente assertivo. Nascido de uma parceria com a Niepoort, empresa familiar que possui relações comerciais com a empresa bairradina que remontam a meados do século XX, rompe com estigmas e mostra o quanto a Baga em jovem é capaz de criar vinhos absolutamente emocionantes. Nos espumantes, deu-se a conhecer a nova edição do Quinta do Poço do Lobo, na sua versão rosé, da colheita de 2021 e já com mais de 24 meses de estágio. Aqui reinam, num blend que casa com sucesso, a Baga e o Pinot Noir.
Os Porta dos Cavaleiros, marca criada nos anos 60 do século passado, consagrando a investida da empresa bairradina na região do Dão, surgem agora totalmente renovados, impondo, na rotulagem, um maior sentido histórico e arquitetónico, onde o monumento representativo – Porta dos Cavaleiros, como uma das medievais portas da cidade de Viseu – ganha um maior rigor e sentido iconográfico. Nos vinhos, a tradição mantém-se. As Caves adquirem os melhores lotes de tintos e brancos produzidos no Dão e, à maneira antiga, procedem à sua “afinação”, lançando-os no mercado. As duas propostas apresentadas foram o Porta dos Cavaleiros tinto 2022, e o Porta dos Cavaleiros Reserva Especial branco, este uma categoria rara no Dão, apenas ao alcance dos vinhos que se destacam em enorme qualidade na câmara de provadores.
Crescer, solidificar mercados, impor-se como marca de prestígio, aumentar área de vinha e ser um verdadeiro referencial da Bairrada do futuro. Este é o caminho que as Caves São João tão bem está a trilhar para este segundo século de vida que se segue.
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico.
(Artigo publicado na edição de Setembro de 2024)
QUANTA TERRA VOLTA A SER DESTINO TURÍSTICO DE VINHO A NÃO PERDER EM 2025
Verona, em Itália, aplaudiu a atribuição do prémio “Best of Wine Tourism 2025” ao espaço Quanta Terra, dos enólogos Celso Pereira e Jorge Alves, situada na região do Douro Vinhateiro, que, pela segunda vez (a primeira foi 2023), voltou a ser reconhecida pelo seu potencial na categoria de “Arte e Cultura”, entre mais de 640 […]
Verona, em Itália, aplaudiu a atribuição do prémio “Best of Wine Tourism 2025” ao espaço Quanta Terra, dos enólogos Celso Pereira e Jorge Alves, situada na região do Douro Vinhateiro, que, pela segunda vez (a primeira foi 2023), voltou a ser reconhecida pelo seu potencial na categoria de “Arte e Cultura”, entre mais de 640 candidaturas. “Esta distinção, atribuída por especialistas internacionais, enaltece, naturalmente, o impacto da nossa marca no desenvolvimento do enoturismo e da região. Se, por um lado, nos envaidece, por outro também aumenta o nosso sentido de responsabilidade e a vontade incessante de continuar a fazer mais, e cada vez melhor”, destacam os fundadores, que em 2022, com uma exposição de Joana Vasconcelos e a presença da artista, inauguraram o Espaço Quanta Terra, “num formato fora da caixa”, que mistura a arte com as barricas, onde estagiam os vinhos e as antigas cubas de armazenamento de aguardente.
A marca que celebra 25 anos este ano, tem feito deste local, um projecto de recuperação da antiga destilaria da Casa do Douro assinado pelo arquitecto Carlos Santelmo, um espaço de arte e cultura, em comunhão com os vinhos Quanta Terra. Este ano a Quanta Terra surpreendeu com a inauguração de uma exposição com curadoria da plataforma cultural Underdogs, que inclui uma conceituada obra de Vhils.
A mostra pode ser visitada no espaço da marca, em Alijó, de quarta-feira a domingo, entre as 10h00 e as 17h30, até ao próximo dia 15 de Dezembro. A visita inclui uma prova de vinhos.
Importa referir que os prémios “Best of Wine Tourism” são promovidos pela plataforma Great Wine Capitals em onze das mais prestigiadas regiões vitivinícolas do mundo. Portugal é representado pelo Porto, com candidatos de um cluster das regiões Douro/Porto e Vinhos Verdes.
A categoria arte e cultura deste galardão distingue as adegas enquanto espaços culturais e artísticos de relevo, na forma de exposições temporárias ou permanentes, coleções de arte, museus ou eventos específicos.
Vale da Mata: O vinho da minha terra
Começo pelo óbvio. Eu sou das Cortes. Nasci ali há 56 anos e dali saí com 17 para estudar em Lisboa, onde passei a viver. A casa dos meus pais era em frente à Adega Cooperativa, onde na minha meninice passava horas a ver os tractores com atrelados carregados de uvas à espera de vez […]
Começo pelo óbvio. Eu sou das Cortes. Nasci ali há 56 anos e dali saí com 17 para estudar em Lisboa, onde passei a viver. A casa dos meus pais era em frente à Adega Cooperativa, onde na minha meninice passava horas a ver os tractores com atrelados carregados de uvas à espera de vez para as entregar. A fila ocupava a rua toda, e o processo prolongava-se noite adentro. Já maiorzito, tinha autorização para ir lá ver o que acontecia. Tudo muito industrial, um guindaste que pegava nas tinas de ferro e as despejava para um tegão onde um sem-fim as transportava para um buraco obscuro. Dali se fazia um vinho tinto que chegou a ter algum destaque, principalmente quando a colheita de 1980 conquistou um prémio nacional. Ainda tive a sorte de provar essa colheita, que era realmente bem boa.
As Cortes é uma aldeia (antes freguesia) pequena perto de Leiria. Demasiado perto talvez, uns 5km subindo o rio Lis, ficando assim entre Leiria e Fátima. A proximidade de certa forma impediu a aldeia de crescer, porque os filhos e netos dos habitantes facilmente saíam para Leiria ou outras cidades, mantendo a população estável, mas reduzida. Há alguma pequena indústria, alguma agricultura, muito baseada na fertilidade da várzea do Lis. Hortas e pomares, principalmente. As vinhas, de subsistência, ficavam situadas nas encostas, e originavam tradicionalmente vinhos pouco interessantes, acídulos e ligeiros. Mesmo assim, entre as freguesias locais, os vinhos tinham alguma fama, e não raras vezes no estrangeiro, falando com algum conterrâneo, logo me perguntavam se não tinha “vinho das Cortes.” Não, não tinha. Com terrenos férteis, castas predominantes Tinta Roriz, Baga e Castelão, e uma bem disseminada ignorância sobre enologia, o resultado era fraquito. Apesar disso, foram-se instalando empresas de vinhos ali perto, sendo a mais famosa as Caves Vidigal, que tem vinhos de várias origens, mas suponho que poucas uvas serão locais. Muito perto também fica a Quinta da Serradinha, pioneira de vinhos biológicos e agora estrela cintilante no universo alternativo dos vinhos alternativos. Um dia ainda tentarei escrever essa outra história.
A Adega Cooperativa reclamou várias vidas nos seus processos de elaboração de vinhos, com inúmeros acidentes fatais que muito incomodam a memória de uma aldeia pequena. Foi fazendo o seu negócio de vinho engarrafado em garrafa e muito em garrafão “palhinhas”, até que um dia tomou a decisão de fechar, e parece-me que não se perdeu muito. As instalações, muito centrais na aldeia, ao pé da famosa nora que é o seu ex-libris, foram até demolidas.
Uma nova vida
Este era o panorama do vinho das Cortes. Era, porque um dia chegou a Catarina Vieira com o seu pai, o saudoso Eng. José Ribeiro Vieira, e tudo mudou. As Cortes passaram a ter um novo vinho, chamado Vale da Mata. Foi lançada em 2010 a primeira colheita, de 2007. Podem imaginar a minha surpresa. O Eng. Vieira era um homem especial, um cidadão extremamente influente nas Cortes. Lembro-me dele desde a minha infância. Homem com uma presença incrível, irradiava segurança e humanidade. Empreendedor, criou negócios em vários sectores, incluindo o cultural, com uma livraria muito activa em eventos, e um jornal diário, o Jornal de Leiria. Para o mundo dos vinhos, interessa a compra da Herdade do Rocim, em 2000, 100ha na Vidigueira, desenhada para ser gerida pela filha, a enóloga Catarina Vieira.
Para a nossa história de hoje, temos de voltar atrás, e procurar os caminhos dos afectos. Catarina desde muito tenra idade passava muitos dias com os avós. O seu avô, Manuel Alves Vieira, levava as netas a passear nos campos, e explicava que das suas vinhas do Vale da Mata vinha o melhor vinho que fazia. Catarina teve aí o primeiro contacto com o que haveria de ser a sua vocação.
Estudou enologia no ISA, onde foi aluna de Amândio Cruz, mais tarde, desde 2003, consultor nos seus projectos de viticultura. Estagiou ainda em Itália, o que foi importante para estimular a sua veia experimentadora e de descoberta.
A sensibilidade e humanidade do pai Eng. Vieira levou-o a comprar para Manuel uma série de pequenos talhões de onde vem hoje o vinho Vale da Mata. Não é exactamente o talhão original. Quando neste princípio do Verão aceitei o convite para visitar os 4 hectares de vinhas nas encostas do Lis entre as Fontes e o Pé da Serra, a minha mãe ficou a espreitar da janela, nos Lourais, tentando sem sucesso mostrar aos meus filhos onde eu estava. A minha mãe, portanto, lembra-se do Vale da Mata original, mais chegado à Senhora do Monte, ao Pé da Serra. Hoje a vinha está mais abaixo, foi plantada em 2006 e o avô Manuel ainda se pôde orgulhar muito dos seus frutos, até ao seu falecimento em 2014. O avô Manuel é que deu nome ao vinho, em memória das suas velhas vinhas ali perto.
O vinho das Cortes, portanto, ressuscitou, e esta influência espalhou-se pelo resto da aldeia. Catarina conta que as pessoas das Cortes lhe telefonam, pedem conselhos e ajuda, vão plantando vinhas e elas vêem-se ali em volta, bonitas e bem cuidadas. As Cortes são conhecidas na região por serem um bom destino gastronómico, com vários restaurantes e tasquinhas tradicionais. O Vale da Mata começou a espalhar-se também por esta via, tornando-se o vinho local que se ligava à cultura gastronómica local. Um prazer sempre, encontrar vinhos do sítio onde se está, uma coisa rara poucas vezes apreciada em Portugal, onde apesar de tudo é frequente. Nas Cortes não é, e os locais orgulham-se hoje de terem o seu vinho, e os visitantes valorizam esse prazer.
Vinho e arte
Como cortesense, logo me enchi de orgulho do Vale da Mata, e passei a consumi-lo com regularidade. Acompanhei o seu progresso, e foi todo impante que visitei a vinha com Catarina Vieira e Pedro Ribeiro, o casal de enólogos do Rocim, e Amândio Cruz, consultor do projecto. Explicaram-nos as circunstâncias da vinha e seu terroir, e como lidar com as suas especificidades. Virada a Sul, protegida por serras e bem drenada para evitar excesso de humidade, está plantada com 3ha de Aragonez e Touriga Nacional e 1ha de Arinto, Vital e Viosinho. Decorre neste momento uma experiência de poda radical no princípio do Verão, deitando tudo abaixo incluindo cachos. Chama-se “crop-forcing”. Na Vidigueira são 1,5ha, aqui apenas uma linha com cerca de 100 cepas. Esta poda mega-precoce faz com que a vinha faça um “reset”, recomeçando tardiamente o ciclo e fazendo amadurecer as uvas nos meses onde o maior calor já passou. A expectativa é obter vinhos menos alcóolicos e com maior acidez natural, fintando assim os efeitos do aquecimento global. Vamos esperar para ver!
Entretanto, visitámos o Espaço Serra, mais uma criação de mecenato cultural do Eng. Vieira. Uma casa que ganhou o seu nome, onde são recebidos artistas de várias artes para em comum e com liberdade explorarem os seus vários misteres e mistérios. Para se ver a dimensão ambiciosa do projecto, bastaria dizer que os Silence4 começaram aqui os seus ensaios, há cerca de 30 anos. A casa e espaços circundantes ficam no lugar de Reixida (os cortesenses pronunciam “Arraxida”), onde era antes uma muito poluente fábrica de curtumes. Melhor assim, que foi numa curva do Lis que aprendi a nadar. Sabe-se lá o que aqueles químicos me fizeram… Hoje há espaço para residências artísticas, ateliers, estúdios, pequenos stands de valências diversas, como artes plásticas, cerâmica (cf. Cartolina Limão), construção de guitarras (fascinante trabalho do luthier Miguel Bernardo, um poeta das madeiras), música. Dão apoio a novas bandas, escolas, etc. Há ainda parcerias com outras entidades, como a Casota Collective, presidida por Miguel Ferrás, e ligada à música, por exemplo o festival Nascentes, nas Fontes (lugar onde nasce o Lis). Interessados, basta procurar o site na internet e enviar candidatura.
Já vai longo este desabafo, vão-me perdoar. O almoço servido por Alexandre Silva mostrou mais uma vez a sua sensibilidade para uma cozinha elegante e rigorosa, e a ligação com os vinhos estava perfeita. Provámos colheitas antigas e recentes, mostrando que o vinho suporta bem a prova do tempo. É coisa rara provar vinho das Cortes, e eu não tinha a noção do bem que estes vinhos se mostram passados 15 ou mais anos. Para mim, sempre vinho das Cortes, e não o Regional Lisboa que ostenta no rótulo e sempre me causou estranheza, sendo eu das Cortes, tão longe de Lisboa, e vivendo em Lisboa há quase 40 anos. Até porque a região tem a sua Denominação de Origem, Encostas de Aire. Lisboa para mim é outro sítio, as Cortes é a minha terra.
(Artigo publicado na edição de Setembro de 2024)
Van Zellers & Co: Os velhos Porto de Cristiano
Uma apresentação feita por Cristiano tem sempre um carácter especial. É que o apresentador – que parece ter nascido com a qualidade rara de saber prender a atenção da plateia – pertence àquele grupo de pessoas que tem a árvore genealógica da família na cabeça e debita nomes de primos que casaram com trisavós e […]
Uma apresentação feita por Cristiano tem sempre um carácter especial. É que o apresentador – que parece ter nascido com a qualidade rara de saber prender a atenção da plateia – pertence àquele grupo de pessoas que tem a árvore genealógica da família na cabeça e debita nomes de primos que casaram com trisavós e tetravós que já eram Cristianos e que deram origem a Guedes, a Roquettes e várias outras famílias que ainda hoje identificamos como estando associadas ao vinho e, em especial, ao vinho do Porto. É difícil seguir o raciocínio, mas a coisa resulta curiosa, desde que não se acredite que, não fora os van Zeller, e o vinho do Porto não existiria!!!
Especiais e raras
O motivo da apresentação prendeu-se com colocação no mercado de vinhos do Porto muito velhos. Esta é uma tendência que vem ocorrendo no sector de desde há mais de uma década: valorizar os vinhos muito velhos, vendê-los caros como merecem e, no caso das edições realmente especiais e raras, criar uma embalagem que dignifique o produto. Foi tudo isso que a família van Zeller fez e, no caso dos três vinhos do Porto do século XIX, com o apoio dos artesãos que tão bem trabalham a prata, como a Leitão & Irmão, cuja oficina e trabalho extraordinário tivemos a rara felicidade de poder conhecer in loco. Ali ficámos a conhecer maquinaria que deve ter muitas décadas e que continua em uso, e artesãos que precisam de 10 anos de trabalho para ascenderem à categoria de Mestre. Uma trabalheira! Foi ali que foram feitas as gargantilhas das garrafas.
Por sua vez, estas foram feitas à mão, um trabalho já raro dos vidreiros da Atlantis. O resultado são embalagens magníficas que enobrecem os vinhos que contêm, melhorados pelo trabalho de design criado por Rita Rivotti. Provámos todos e, claro, não há escala para os classificar porque a escala que usamos na Grandes Escolhas termina em 20. Mas se terminasse em 100 ou 200, a dificuldade era a mesma. Os três vinhos são vendidos em conjunto, numa caixa extremamente cuidada e são disponibilizados pelo valor de €22000. Para já são 75 conjuntos, sendo que uma já foi leiloada no ano passado, em Londres, e o valor foi destinado para a fundação Gerard Basset. São vinhos difíceis de datar por não haver registos, ainda que se pense que correspondem a Porto de 1860, 1870 e 1888. Aqui começaram as dúvidas da família: o que é que lhes vamos chamar, como é que os vamos vender, o que se pode fazer para reforçar a qualidade e fama dos portos velhos?
Para encontrar um momento comemorativo, Cristiano e Francisca procuraram, quer na história de Portugal quer na mundial, factos que pudessem ser associados àquelas datas. Chegaram assim a três momentos que identificam os vinhos: 1860 – Crafted by Liberty – ano da eleição de Abraham Lincoln; 1870 – Crafted by Family – ano do casamento dos trisavós de Cristiano e 1888 – Crafted by Poetry – ano do nascimento de Fernando Pessoa. Os outros vinhos – Colheitas em branco e tinto – vêm todos com a indicação Crafted by Time. Quando são lançados Vintages e LBV (que já estão no mercado e foram objecto de anterior apresentação) trazem a indicação Crafted by Nature.
Stock mínimo
A Van Zeller & Co. é, agora, depois da reorganização de 2017, um negociante, com stock mínimo. No caso dos vinhos do Porto antigos, cujas notas de prova apresentamos de seguida, a empresa dispõe de um stock de 35000 litros, adquiridos quer à Casa do Douro, onde continua a existir um enorme stock de vinhos, quer a lavradores, sobretudo do Baixo Corgo, a sub-região onde continua a ser possível encontrar vinhos velhos. Estes vinhos estão conservados em inox, recipiente óptimo para estes néctares antigos, porque não há evaporação e os vinhos não perdem álcool.
Em termos de modelo de negócio, os vinhos DOC Douro representam metade da facturação da empresa. Como nos disse Cristiano, “o vinho do Porto ganha protagonismo com os vinhos velhos.
Numa época de diminuição de consumo, o sector tem de apontar para as gamas altas e não apenas para os vinhos de entrada.” A empresa vai lançar agora os Reservas – White, Ruby e Tawny e um Crusted – um Porto que resulta de um lote de vários anos de Vintage, por norma dois ou três. Cristiano afirma que o sector apenas produz 4000 caixas de 12 garrafas deste tipo de Porto. A apresentação decorreu nas instalações dos Joalheiros em Lisboa, no Chiado. Local mais do que apropriado.
(Artigo publicado na edição de Setembro 2024)
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Van Zellers & Co
Fortificado/ Licoroso - 1934 -
Van Zellers & Co
Fortificado/ Licoroso - 1935 -
Van Zellers & Co
Fortificado/ Licoroso - 1940 -
Van Zellers & Co
Fortificado/ Licoroso - 1950 -
Van Zellers & Co
Fortificado/ Licoroso - 1968 -
Van Zellers & Co
Fortificado/ Licoroso - 1976 -
Van Zellers & Co
Fortificado/ Licoroso - 1989
A Sucessão de António Saramago
A vida de António Saramago, enquanto enólogo, – as regiões por onde passou, as experiências que adquiriu, as técnicas que desenvolveu – dava para escrever um livro. Mas não teve tempo para isto, pois estava sempre ocupado a produzir vinho, com grande entrega e paixão. Começou a trabalhar em 1962, quando foi admitido na José […]
A vida de António Saramago, enquanto enólogo, – as regiões por onde passou, as experiências que adquiriu, as técnicas que desenvolveu – dava para escrever um livro. Mas não teve tempo para isto, pois estava sempre ocupado a produzir vinho, com grande entrega e paixão.
Começou a trabalhar em 1962, quando foi admitido na José Maria da Fonseca. Na altura tinha apenas 14 anos. Mais tarde estudou enologia em Bordéus e é num dos enólogos mais antigos de Portugal. A partir dos anos 80 fazia consultadoria enológica em várias regiões do nosso país e foi responsável por alguns dos vinhos bem aclamados, como o Terras do Suão ou Tapada de Coelheiros, já sem falar no seu trabalho diário integrado na equipa de enologia de José Maria da Fonseca.
“Há um vinho que todos bem conhecem, mas o meu nome não está lá. Estava sempre escondido” – explica António Saramago. Sempre discreto, procurando rigor no seu trabalho, nunca perseguiu a fama. “A visibilidade, para mim, existe quando as pessoas provam os meus vinhos e dizem que são bons”, diz o enólogo com um ar calmo, mas convicto.
Outra convicção profissional consiste na dedicação. Estar presente, para António Saramago, é imprescindível, mesmo que isso implique viagens e deslocações. “Não faço vinhos por telefone. E, na vindima, estou sempre na adega, sejam sábados, domingos ou feriados.”
A discrição na postura não impediu que a ambição, vinda da alma, levasse à criação do seu próprio projecto. Com 40 anos de experiência, fundou, em 2002, a empresa familiar, com a sua esposa e filhos, a António Saramago Vinhos. “Queria fazer vinhos que tivessem o meu cunho e o meu nome no rótulo.” E sempre se manteve fiel ao seu estilo, assente na concentração, estrutura, estágios prolongados e uso de boas barricas.
Reconhece que os tempos podem mudar, mas nunca deixou que modas e tendências lhe desvirtuassem o caminho. “As regiões não podem ser estanques, nem os produtores, mas têm de ter uma identidade. Eu sou conhecido pelo quê?”, pergunta, deixando uma pausa no ar porque a resposta é óbvia, o estilo e o carácter dos vinhos de António Saramago são evidentes.
Por muitos vinhos que tenha feito em Portugal e no sul de Brasil, onde também tem trabalhado desde há 14 anos, o seu nome estará sempre ligado à casta Castelão. E nesta prova tivemos o privilégio de reviver alguns dos seus vinhos emblemáticos.
O enólogo, fundou, em 2002, já com 40 anos de experiência, a empresa familiar com a sua esposa e filhos, a António Saramago Vinhos.
Castelão e não só
O António Saramago Superior 2016 é proveniente de uma vinha muito antiga, não regada. Cada cepa traz dois a três cachos muito concentrados. Passou 18 meses em barrica nova e dois anos em garrafa. Hoje em dia é raro um produtor esperar pelo vinho. Tem fruta macerada e ervas aromáticas esmagadas, especiaria abundante, leve farmácia e notas balsâmicas e compotadas, para além de vegetal seco. Boca compacta, tanino apertado e bem presente, projectando, no palato, pó de mostarda, pimenta preta, louro, café e notas de soja.
A seguir foi o 2013, em magnum, da mesma vinha, mas de um ano mais quente. Ambiente de fruta escura, muito concentração no nariz, vegetal quase a lembrar pimenta verde. Bonito nesta sua austeridade, com muito estilo e carácter a revelar cerejas, amoras, mentolado e balsâmico, sous bois e musgo. Envolvente, logo no início agarra bem com tanino. Certa rusticidade não escondida dá-lhe carácter.
O AS 2015 é a segunda edição (depois do 2009). Provém de uma vinha jovem com muita potência. Lote com Touriga Nacional, Alicante Bouschet e um pouco de Cabernet Sauvignon. Muita especiaria no nariz, chocolate negro, balsâmico, eucalipto e alfarroba. Mastigável, tanino potente e muito aveludado na textura. Boca ampla, menos rugoso do que os Castelão puros. Final especiado e longo.
Estes vinhos já foram provados pela Grandes Escolhas em alturas diferentes e as respectivas notas de prova podem ser consultadas no site ou na aplicação. O momento alto da prova foi claramente o Sucessão Reserva Especial 2014.
“Tenho 76 anos. Não me considero velho, mas quando caminhamos para uma certa idade, pensamos noutras coisas da vida. A minha mãe morreu sem conhecer os netos. Eu tenho a felicidade de ter quatro: António, Maria, Filipe e Guilherme”, disse com ternura na voz.
É aos netos que quer dedicar o seu tempo a partir de agora e a eles dedicou o seu grande vinho, que foi pensado já há muito tempo e lançado só agora. “Para mim este é um dos melhores vinhos que bebi na minha vida” – resume sem falsas modéstias.
Feito de Castelão e Alicante Bouschet dos solos arenosos da Península de Setúbal, teve estágio prolongado, de 72 meses, em barricas de carvalho francês e mais 24 meses em garrafa. Foram produzidas apenas 900 unidades.
A seguir foi também apresentado o Moscatel Roxo de Setúbal 10 Anos que estagiou em barricas recuperadas do vinho tinto. Foi tudo raspado, mas não queimado para não conferir tosta ao vinho. Foram produzidas apenas 1000 garrafas. E, por fim, apetece citar António Saramago a declarar que “vinho é das melhores coisas que a natureza nos deu”. Quem dirá o contrário, depois de uma prova destas?
(Artigo publicado na edição de Setembro de 2024)
Rosés heróicos do Douro
“Era uma vez uma improvável e quase casuística história de sucesso”. Bem que podia iniciar-se assim a história que levou a Provença francesa a tornar-se, nas duas últimas décadas, a região produtora dos rosés que todos admiram e tantos pretendem imitar o sucesso. Um mimetismo tão massivo, que são os próprios produtores da região a […]
“Era uma vez uma improvável e quase casuística história de sucesso”. Bem que podia iniciar-se assim a história que levou a Provença francesa a tornar-se, nas duas últimas décadas, a região produtora dos rosés que todos admiram e tantos pretendem imitar o sucesso. Um mimetismo tão massivo, que são os próprios produtores da região a recear que a inovação tecnológica permita a um mundo cada vez mais global produzir, em qualquer território vínico, rosés de cor rosa suave, secos, com nuances de fruta vermelha madura e afeiçoados a uma pungente mineralidade, tornando-se vítimas do seu próprio sucesso.
Historicamente, os rosés são produzidos desde a antiguidade. No século VI A.C., por iniciativa dos fenícios, foram trazidas as uvas para Massalia, actual Marselha, tornando-se os vinhos de cor rosada pálida uma escolha por toda a bacia do Mediterrâneo. A Provença, como primeira província do Império Romano, era o espelho de uma policultura fértil em quintas nas proximidades dos rios e do mar, para facilitar o transporte e comercialização, e onde a vinha tinha já uma importância fundamental.
A cultura da vinha manteve-se até aos dias de hoje, conhecendo épocas bem-sucedidas, sobretudo a partir do nascimento do conceito de turismo, já no século XIX, impulsionado pelo Grand Tour. No início dos anos 80 do século passado, os rosés provençais eram elaborados maioritariamente a partir das castas Grenache, Cinsault e Carignan, com adição de uma parte, usualmente 10%, de Cabernet Sauvignon, que dava origem a vinhos de um vermelho translúcido, secos, ligeiramente terrosos, herbáceos, suculentos e com acidez acentuada. Em 1985, dá-se a inusitada revolução rosa.
Um acaso de sucesso
Régine Summeire, do Château La Tour de l`Éveque e Château Barbeyrolles, ambas da Côte de Provence, visita, em 1985, o seu amigo Jean-Bernard Delmas, do Château Haut Brion, em Pessac, nas cercanias de Bordéus. Na adega, viu que Delmas usava uma velha prensa hidráulica para esmagar suavemente os cachos inteiros de uvas brancas, aconselhando-o este a usar o mesmo processo. Regressado à Provence, Summeire fez a experiência com as primeiras uvas de Grenache e o resultado foi um mosto mais fresco, com elevada acidez, muito menos carácter vegetal e uma cor rosa pálido. Após esta casuística descoberta e vencido o controlo das temperaturas de fermentação, um mundo abria-se, inicialmente tímido, aos rosés delicados, então denominados pétale de rose.
O resto da história é de todos conhecida, e é o sucesso deste conceito, que gera receitas de centenas de milhões de euros em vendas, que nos traz à questão de um milhão de dólares: pode o Douro tornar-se uma relevante região produtora de rosés, competindo em notoriedade com outras grandes regiões do mundo?
E se a resposta à derradeira pergunta é positiva, muitos de nós irão fazer muitas outras perguntas, designadamente sobre o caminho a trilhar para alcançar o êxito global. Os primeiros passos serão necessariamente a partir da identidade duriense.
De portas abertas aos rosés
A resposta começou a ser desenhada há três anos, numa iniciativa desenhada num pequeno município duriense, Mesão Frio, que teve o arrojo de querer ser o centro do debate dos vinhos rosados da região do Douro, criando o evento “Douro em Tons de Rosé”, o qual trouxe para a mesa produtores, enólogos, jornalistas, opinion makers, bloggers e a mais reputada especialista mundial de rosés, Elizabeth Gabay, a Master of Wine britânica, ela própria residente na Provença.
Na mais recente edição deste evento, entre outras matérias, discutiu-se a viticultura tradicional na mais imponente região vitivinícola de montanha do Mundo, com mais de 40 mil hectares, e os seus benefícios para apurar a qualidade da matéria-prima para vinhos rosados, valorizando-se a singularidade humana num território onde a mecanização é uma miragem. Rui Soares, produtor e responsável de viticultura da Real Companhia Velha, alertou para a necessidade de protecção de um património único, de vinhas em patamares que selam indelevelmente a imagem de marca da região, constituindo, a par das vinhas velhas onde pontificam, tantas vezes, mais de 50 castas autóctones durienses, uma imagem que ajuda na projecção dos vinhos rosados como uma das maiores riquezas da identidade do Douro.
Para além da abordagem do terroir, características de viticultura duriense e prova de mais de três dezenas de rosés, houve lugar a uma palestra conduzida por Paulo Russel Pinto, wine educator e responsável de marketing e promoção do IVDP, cuja temática era, até há muito pouco tempo, uma matéria desconhecida e inusitada, o envelhecimento de rosés.
Para a afirmação dos rosés do Douro, há um facto incontornável: a paisagem duriense é de uma beleza inigualável
O lugar ao sol do Douro
Do mais verdejante e fresco Baixo Corgo, até ao inóspito e vasto Alto Douro, há uma imensidão de perspectivas a considerar para produzir, não apenas rosés leves, frescos e frutados, mas igualmente vinhos de elevada complexidade e capacidade de guarda. Para lhes dar um cunho de identidade regional, escolhem-se algumas das castas que melhor identificam o Douro, com a Touriga Nacional ainda a colher a primazia, seguida da Touriga Francesa, Tinta Roriz, Tinta Barroca, Tinta Francisca e o cada vez mais entusiasmante Tinto Cão. Não perdendo a noção de contemporaneidade e universalidade, surgem também exemplos de grandes rosés elaborados a partir da Pinot Noir ou mesmo Cabernet Sauvignon, sobretudo nas cotas mais altas do Alto Douro vinhateiro. Não esquecendo o valor inimitável e não replicável das vinhas velhas, algumas centenárias, também aptas a criar, se assim se entender, rosés únicos desenhados para mercados super premium, habituados a pagar a exclusividade.
Os perfis podem e devem ser marcadamente varietais e, sobretudo, absorver as características do terroir, preocupação a não descurar no momento da sua vinificação. As tendências emergentes não descuram as práticas orgânicas e sustentáveis na produção de rosés, matéria que, actualmente, fará necessariamente parte da estratégia de comunicação dos vinhos direcionados para um consumidor com forte consciência ambiental. Estas práticas não apenas se tornam mais protetoras do ambiente, mas valorizam a qualidade do vinho. A agricultura de base orgânica que elimina o uso de pesticidas e fertilizantes sintéticos, protege não apenas os solos, mas todo o ecossistema circundante às vinhas, criando uma vida mais saudável. É hoje uma tendência em franco crescimento. Associados a estas práticas incluem-se a redução do uso dos recursos hídricos, o recurso a fontes de energia renováveis, reciclagem e diminuição do desperdício. Formas de encarar a produção de vinho que, comunicadas a um consumidor moderno, aumentam as vendas pela associação ao estar a cuidar do ambiente.
Para uma afirmação dos rosés do Douro há um facto incontornável, que será fundamental na forma como o transmitiremos ao Mundo: a paisagem duriense é de uma beleza inigualável e, dentro dela, nascem unidades de enoturismo que valorizam a região, oferecendo comodidades cheias de glamour, piscinas panorâmicas sobre o rio, gastronomia autêntica polvilhada de contemporaneidade, estradas que serpenteiam as margens e, claro, uma história antiquíssima, associada à mais antiga região demarcada do Mundo, profundamente rica em tradição e elegância clássica.
Mais que um vinho consumido no Verão, o rosé tornou-se parte da vida quotidiana e da cultura iminentemente visual e cénica. Hoje é símbolo de sofisticação e modernidade. O social media tomou conta dos rosés, sendo factor preponderante na sua ascensão e exponencial aumento do seu consumo. Actualmente, no Instagram, o rosé surge não apenas como um vinho, tornando-se um elemento identificador de um modo de vida. As marcas mais reputadas e aquela rede social impulsionaram as vendas e o seu consumo. Esta categoria que, ainda não há muitos anos, era considerada inferior, surge hoje no topo das preferências dos consumidores, sendo olhada, cada vez mais, como um produto vínico exclusivo e exigente, com potencial de envelhecimento.
Hoje, segundo dados da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), e pela primeira vez, o somatório do consumo de vinhos brancos e rosés representa mais de metade do consumo de vinhos no mundo, retirando a supremacia aos vinhos tintos, até agora hegemónicos. Julgando pela qualidade da amostra de vinhos rosados durienses provados, diremos que o Douro terá, para si, guardada uma parte relevante de afirmação neste mundo cada vez mais cor-de-rosa.
(Artigo publicado na edição de Setembro de 2024)
Os vinhos apresentados não estão por ordem de pontuação
Symington lança Library Release
Este ano foi apresentado o conceito “Library Release” no lançamento dos novos Vinhos do Porto Vintage de 2022 da Symington Family Estates, e agora os quatro Vintage de guarda chegaram ao mercado. O conceito não foi inventado hoje. Já existiu a prática de reservar uma pequena quantidade de cada lançamento Vintage para envelhecer nas caves […]
Este ano foi apresentado o conceito “Library Release” no lançamento dos novos Vinhos do Porto Vintage de 2022 da Symington Family Estates, e agora os quatro Vintage de guarda chegaram ao mercado.
O conceito não foi inventado hoje. Já existiu a prática de reservar uma pequena quantidade de cada lançamento Vintage para envelhecer nas caves da empresa e colocar no mercado passadas algumas décadas. Mas foi introduzida uma nova abordagem.
Depois do primeiro lançamento en primeur, algumas quantidades são guardadas nas caves (“bibliotecas de vinhos”) em perfeitas condições, para serem libertadas passados 20-30 anos, fase designada como “Library Release”, e passados 40-60 anos, em quantidades muito restritas de garrafas numeradas, com a designação de “Private Cellar”. Para além da informação obrigatória para os vinhos do Porto Vintage, do ano de vindima e de engarrafamento, a rotulagem contém, como informação adicional, o número de anos em que o vinho envelheceu em garrafa e o ano de relançamento. As garrafas foram rearrolhadas para garantir a qualidade.
Para o primeiro Library Release da Symington foram escolhidos quatro vinhos do Porto Vintage: Dow’s, Warre’s e Graham’s do ano clássico de 2003 e o belíssimo Quinta do Vesúvio de 1995, que assinala o ano em que Charles Symington, o actual enólogo principal, entrou na empresa familiar.