A ilha da Madeira, com 66% da superfície classificada como Parque Natural, tem no seu vinho generoso um dos seus ex-libris. Esta é uma espécie de verdade de La Palice, uma vez que o reconhecimento das virtudes e qualidades daquele vinho é já secular. Mas uma história tão antiga está sujeita a flutuações, períodos de euforia e de retracção.
Estamos actualmente a enfrentar tempos difíceis, como nos foi dado a conhecer na recente apresentação dos novos vinhos da Madeira Wine Company. Ali fomos informados que a área de vinha da ilha continua paulatinamente a diminuir e que a superfície que, até há pouco, era sempre anunciada – 450 ha de vitis vinífera – já está agora (dados de 2023) reduzida a 400 ha, correspondendo a 1680 produtores. Lamentavelmente, diz Francisco Albuquerque, enólogo da empresa, “continuamos a ver serem construídas casas em terrenos que até há pouco tempo eram vinhas”, tendência que só piorará se nada for feito.
O processo de candidatura da produção do Vinho da Madeira a Património da Unesco está em marcha e poderá haver novidades em 2025.
Uma luz ao fundo do túnel poderá advir da candidatura da Produção de Vinho da Madeira a Património da Unesco. O processo está em marcha e, dizem-nos, poderá haver novidades em 2025. Não será o vinho que será objecto de classificação, mas sim o processo, das vinhas em latada aos canteiros. Pode ser que assim se proíba, por exemplo, o arranque de vinhas e, até por comparação com o que aconteceu nos Açores – actualmente com mais de 1000 ha de vinhas – a própria área seja substancialmente alargada.
A casta Tinta Negra – que em Colares tinha o nome de Molar – foi dali levada para o Porto Santo porque por lá também havia terrenos de areia. Como se revelou muito produtiva, foi também introduzida na Madeira, onde ganhou o estatuto de casta mais plantada, ocupando actualmente uma considerável área de 240 ha (contra quatro de Terrantez, 14 de Bual, 25 de Sercial, 60 de Verdelho e 35 de Malvasia), tudo áreas de vinha que, pela sua escassez, não podem deixar os apreciadores satisfeitos.
Para alegrar um pouco a preocupação que grassa, quer do lado dos consumidores quer do lado da empresa, com as exportações em queda “numa época em que os vinhos com mais álcool tendem a perder apreciadores”, com salientou Cris Blandy, para alegrar, dizia, foram dados à prova os novos Colheita, agora da edição de 2011 e, no mesmo evento, foram também apresentados dois vinhos DOP Madeirense de 2023. Trata-se de um rosé, cuja 1ªedição remonta a 1991 e um Verdelho, produzido a partir da colheita de 1996.
Os vinhos de Frasqueira – indubitavelmente os mais famosos generosos da ilha – estão obrigados a um mínimo de 20 anos de casco e dois anos de garrafa antes de serem comercializados, indicando, no rótulo, o nome da casta. Estes vinhos têm, com frequência, muito mais de 20 anos, porque é norma da empresa não engarrafar tudo de uma vez e, assim, há alguns que são vendidos com muito mais idade. Por norma apresentam-se como Blandy’s ou Cossart Gordon. A Cossart, cuja fundação remonta a 1745, o que faz dela a empresa de vinho Madeira mais antiga ainda em actividade, apresenta tradicionalmente vinhos mais secos e tem mesmo um armazém próprio para o envelhecimento dos vinhos. A empresa juntou-se à Madeira Wine em 1958.
Os vinhos da Madeira têm vindo a ser presença assídua em leilões, onde atingem valores consideráveis com alguma frequência. No entanto, por vezes sem selo da entidade certificadora, nem sempre é fácil saber exactamente o que se está a comprar. É uma jogada de risco, mas que muitas vezes é amplamente compensadora.
(Artigo publicado na edição de Outubro de 2023)
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Cossart Gordon
Fortificado/ Licoroso - 1988 -
Blandy’s
Fortificado/ Licoroso - 1987 -
Blandy’s
Fortificado/ Licoroso - 1989 -
Cossart Gordon
Fortificado/ Licoroso - 2013 -
Blandy’s
Fortificado/ Licoroso - 2011 -
Blandy’s
Fortificado/ Licoroso - 2011 -
Blandy’s
Fortificado/ Licoroso - 2011 -
Blandy’s
Fortificado/ Licoroso - 2011