Grande Prova: Beira Interior 2.0

Beira Interior desafiante

Brancos e tintos desafiantes A Beira Interior está em constante mudança, com o solidificar e desenvolver de projectos clássicos e bem-sucedidos e o surgir de outros que vêm trazer ainda mais dinamismo e competitividade. Nesta prova, percorremos os brancos e tintos bem diferenciadores de uma região com antigas tradições de vinha e de vinho, onde […]

Brancos e tintos desafiantes

A Beira Interior está em constante mudança, com o solidificar e desenvolver de projectos clássicos e bem-sucedidos e o surgir de outros que vêm trazer ainda mais dinamismo e competitividade. Nesta prova, percorremos os brancos e tintos bem diferenciadores de uma região com antigas tradições de vinha e de vinho, onde o carácter, a frescura e a elegância são denominador comum.

Texto: Valéria Zeferino
Fotos: Ricardo Palma Veiga

A tradição vitivinícola antiga na Beira Interior remonta à época romana, sendo oficialmente demarcada em 1999. Há alguns anos falámos no despertar da Beira Interior, quando surgiram projectos novos a inspirados pelos entusiastas, alguns com raízes na região, outros vindos de fora dela. Enólogos conhecidos, como Virgílio Loureiro, Anselmo Mendes, Rui Madeira, Rui Reguinga ou Patrícia Santos, trouxeram o seu conhecimento, elevaram a qualidade dos vinhos e deram credibilidade à região. O consumidor também despertou, (re)descobrindo uma região antiga na sua versão 2.0 com identidade própria que privilegia frescura e elegância.

Hoje, a região produz mais de 3 milhões de garrafas, apostando cada vez mais na exportação. Nos últimos dois anos a exportação duplicou chegando a 40% de produção. Os principais mercados neste momento são Brasil, Letónia, USA, Canadá, Dinamarca, Bélgica e Holanda, de acordo com os dados da CVRBI. Esta entidade certificadora também assume um papel de promotora da região, apostando fortemente no enoturismo e na internacionalização dos seus vinhos, trazendo potenciais importadores à região através das missões inversas. Nos últimos dois anos foi criada a Rota dos Vinhos da Beira Interior que pretende atrair cada vez mais pessoas ao interior. Até porque a oferta enogastronómica e cultural dentro da região é grande. E não podemos esquecer que das 12 aldeias históricas de Portugal, 11 ficam na Beira Interior.

Identidade geográfica

A altitude, a continentalidade e os solos pobres moldam as condições edafo-climáticas da Beira Interior.  A região estende-se do vale do Douro e Trás-os-Montes no norte ao rio Tejo no sul. Faz fronteira com a Espanha e é separada da Beira Litoral pelas várias formações montanhosas:  Serra da Estrela, do Açor, Gardunha e Lousã, que cortam a influência atlântica, deixando o clima mais seco, com maior amplitude térmica diária e anual.

A continentalidade manifesta-se pelos invernos rigorosos e frios, temperaturas negativas e neve frequente e pelos verões curtos, mas quentes e secos, com muitas horas de sol. A amplitude também ameniza os extremos de temperatura no pico de Verão. As noites frescas criam condições importantes para maturações mais homogéneas e retenção da acidez que mais tarde se traduz na frescura dos vinhos produzidos.

As montanhas e planaltos elevam as vinhas à altitude de 300 a 700 metros, amenizando as temperaturas médias, pois a temperatura baixa 0,6˚C por cada 100 metros.

Os solos são pobres em matéria orgânica e bem drenados, de origem maioritariamente granítica, mas também xistosa em zonas de transição para o Douro, com filões de quartzo e alguma ascendência arenosa.

Existem três sub-regiões, que antes da criação de denominação de origem em 1999, eram três regiões separadas: Pinhel, Castelo Rodrigo e Cova da Beira.

A sub-região de Pinhel com altitude média de 650 metros fica a norte da Guarda e estende-se até Mêda e à serra da Marofa.  A sub-região do Castelo Rodrigo está praticamente colada à de Pinhel, tendo como a linha de separação o rio Côa e uma estrutura montanhosa. Caracteriza-se pelos planaltos a 600 e 750 m de altitude. Ambas as sub-regiões são secas, com precipitação anual raramente a ultrapassar os 500 mm e com grandes amplitudes térmicas.

A Cova da Beira situa-se na zona sul da região, sendo limitada, a Norte, pelas serras da Estrela, Gardunha e Malcata e a sul, pela bacia hidrográfica do Tejo, onde o clima já tem alguma influência mediterrânica. É a sub-região mais extensa da Beira Interior, onde dá para distinguir duas zonas com características um pouco diferentes. Uma mais a Norte, entre as Serras da Gardunha e da Serra, à volta do Fundão e da Covilhã, com a precipitação a variar muito (de 600 a 1.800 mm por ano) em função do relevo. Outra, a Sul da Serra da Gardunha, com temperaturas mais elevadas e de precipitação a rondar os 500-700 mm. Aqui o clima apresenta semelhanças com o Alentejo.

A vindima entre a Cova da Beira e Pinhel pode começar com três semanas de diferença. As geadas de primavera são problemáticas na maior parte da região. Como diz Pedro Carvalho, da Quinta dos Termos, “geada há sempre, a dúvida é se será muita ou pouca”. Por isto as podas são mais tardias, às vezes são feitas em Abril para os abrolhamentos serem mais tarde, não prejudicando a produção em caso de geada.

Castas com carácter

De acordo com os dados do IVV, houve uma diminuição em termos de área plantada nos últimos anos (de 15110 ha para 13874 ha), provavelmente devido  ao abandono da vinha e a algum arranque para plantação de outras culturas. Mesmo que 75% da vinha não tenha DOP/IGP, a área de vinha para vinhos certificados como DOP e IGP aumentou bastante, o que é uma dinâmica muito positiva.

As castas mais plantadas na Beira Interior, segundo o IVV, são Rufete e Siria representando 16,2% e 15,6% da área plantada, respectivamente. O Aragonez também tem uma grande presença na região ocupando 14,5% da vinha.

As primeiras duas castas existiam antes da filoxera, variando um pouco entre as zonas, e expressam mais a região, mas na maior parte dos vinhos entram em lotes. Outras castas antigas são Fonte Cal, Malvasia, Gouveio, Rabigato e Folgasão, nas brancas e Marufo, Bastardo, Tinta Francisca, Donzelinho, entre castas tintas. Com o passar do tempo e novas tendências o encepamento mudou e hoje encontramos na região as castas nacionais de outras regiões (Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca, por exemplo) e estrangeiras como a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Syrah e Merlot. Até Sangiovese e Nebbiolo foram plantadas pela Quinta dos Termos a título de experiência.

A casta Rufete, também é conhecida como Tinta Pinheira no Dão e encontra-se em pouca quantidade noutras regiões, ocupando 2% de encepamento do país. Produz imenso, diz o produtor José Afonso, das Casas Altas. Tirando isto, na sua opinião, é bem amiga do viticultor. Antigamente, quando chovia mais no Outono, verificavam-se problemas de podridão a que a casta é sensível, ultimamente nem isto. Na adega tem tendência para aromas um pouco reduzidos, pelo que convém transfegar logo quando acaba a fermentação.

Pela sua grande produtividade, o Rufete ganhou alcunha de “pai dos pobres”. Nas adegas cooperativas chegava a produzir até 20 tn/ha, perdendo completamente a sua identidade e imagem, e nos anos 80-90 acabou por ser renegada na sua terra natal. O proprietário da Quinta dos Termos, João Carvalho, contou uma vez que em algumas adegas cooperativas até nem se aceitavam novos sócios com muito Rufete, dando preferência a outras castas.

O Rufete origina vinhos de grau alcoólico contido, com pouco tanino, cor aberta e acidez média. Plantada nos sítios certos, em solos pobres, com produções controladas a não ultrapassar 6-7 tn/ha, produz vinhos sérios, mas delicados, com frescura e carácter próprio.

A enóloga e produtora Patrícia Santos (Rosa da Mata), refere que, em termos aromáticos, Rufete tem bastante fruta, mas é delicada, nada de excessos. Tem bastante acidez e evolui bem em barrica.

É sempre uma óptima alternativa a vinhos mais extraídos, carnudos e tánicos que são cada vez mais apreciados pelos enófilos, mas nem sempre a cor mais aberta do Rufete é entendida pelo consumidor geral. José Afonso explica que vende os vinhos de Rufete mais aos conhecedores e hotelaria de luxo do que ao consumidor menos informado, embora as pessoas mais antigas da região, que entendiam o vinho como parte da alimentação, aceitassem bem a cor menos intensa.

A casta Síria no nosso país responde por muitos nomes: Roupeiro no Alentejo e Códega no Douro, são os sinónimos oficiais. Para além disto é conhecida como Alvadourão ou Alvadurão no Dão, Malvasia Grossa e Dona Branca em Bucelas e Crato Branco no Algarve. Até na Beira Interior, na zona de Belmonte, e em Portalegre, usava o sinónimo de Alva. Como vemos é bastante comum em várias regiões e ocupa 3% do encepamento nacional. Mas é na Beira Interior que a casta se destaca pela maior frescura e aromas menos terpênicos, mais delicados e focados, mas que duram mais tempo no envelhecimento em garrafa. Segundo Patrícia Santos, a Síria é uma casta muito versátil e expressa de forma identificativa não só a região da Beira Interior, como também cada sub-região. Na zona de Castelo Branco demonstra mais perfume, mas consegue manter a frescura; na zona de Pinhel é mais discreta, mais selecta; na zona de Figueira é um compromisso entre as outras duas.

A Fonte Cal é uma casta originária da zona de Pinhel e praticamente só existe na Beira Interior, sobretudo nos encepamentos antigos. Representa menos de 1% do encepamento da região, mas encontra-se principalmente em vinhas velhas onde existe uma mistura de muitas castas e por isto não se encontra identificada pelo IVV como Fonte Cal. É uma casta vigorosa, mas não muito produtiva. Precisa de mais tempo para amadurecer do que a Síria, mas perde rapidamente a acidez, pelo que a janela de vindima é muito pequena. Por esta razão entrava sempre nos lotes com Síria ou Arinto com mais nervo.

Patrícia Santos refere que na adega a Fonte Cal também não é fácil. Tem tendência para oxidar e perde aromas rapidamente. Como se não bastasse, apresenta instabilidade em termos de tartaratos de cálcio e tem tendência para o pinking (um fenómeno oxidativo do vinho branco, dando origem a uma evolução da cor para um tom cinzento-rosado). A verdade é que continuam a existir muito poucos vinhos monovarietais de Fonte Cal.

Algumas castas antigas da região são pouco conhecidas hoje em dia e trazem alguma polémica quanto à sua origem. E o caso da Callum, vinificada em extreme pela Quinta dos Termos. As opiniões dividem-se e nem os especialistas chegam a um consenso: uns dizem que é uma das castas antigas na zona que era chamada Pinhal Interior, enquanto existe possibilidade de ser a mesma casta chamada Batoca na região de Vinhos Verdes. Também foi referenciada nos distritos de Aveiro, Leiria, Vila Real e Bragança, com os nomes de Sedouro ou Alvaraça. Mas independentemente da sua origem, não há dúvidas que a casta teve sempre presença naquela zona da Beira Interior. Antes da filoxera entrava nos encepamentos de Sertã, Covilhã e Belmonte. O produtor e enólogo Pedro Carvalho conta que Callum já era autorizada para produção de vinhos na antiga Cova da Beira ainda antes de criação da denominação de origem.

Tudo começou quando a Quinta dos Termos adquiriu em 2015 outra propriedade – Herdade de Lousial, onde plantou nos cerca de 2 hectares 92 clones de Callum, provenientes de zonas distintas do pais, incluindo o Minho. Fizeram-se cerca de 1200 garrafas de um vinho único desta casta em 2020 e a experiência foi repetida em 2021, com mais de 3 mil garrafas.

A casta Fernão Pires não é muito associada à Beira Interior, ocupando cerca de 1% de vinha, mas tem na zona de Pinhel uma expressão bem interessante. Patrícia Santos ficou fascinada pela performance da casta que em Pinhel mostra uma quase salinidade inexplicável. Compara com vinhos de Sancerre, que, feitos de uma casta aromática, naquela região revelam uma personalidade diferente. No final de fermentação o vinho passa para as pipas de 500 litros, onde permanece pelo menos um ano. A produtora gosta de vinhos com madeira para dar outra dimensão ao vinho, desde que não seja exagerada. Deste vinho produz  apenas 1500 litros, mas faz um vinho de que gosta e que reflecte o terroir.

Na zona de transição para a região do Douro, os solos são xistosos e nota-se grande presença das castas durienses. As vinhas da Casas do Côro, na aldeia histórica de Marialva a poucos quilometros de Mêda, são velhas com quase 100 anos, com produções baixíssimas de 1500 kg/ha e ficam numa altitude de 600 metros. Entre as castas tintas predominam Mourisco e Touriga Franca e nas brancas Rabigato e Códega, aos quais se juntam uvas de Rabigato, Verdelho da Madeira e Donzelinho, provenientes da primeira vinha plantada em 2009.

Projectos novos e antigos

Na Beira Interior nota-se um movimento em direcção à qualidade e valorização da região. Já há produtores de renome, marcas associadas aos vinhos de autor, com personalidade vincada, que começam a ficar emblemáticas para a região, como a Casas de Côro, Biaia, Quinta dos Termos (também é uma das mais antigas) e Rui Madeira, entre outros.

E quase todos os anos aparecem projectos novos de grande dedicação e com propósito. Podem não ter ainda dimensão, mas contribuem para o nível qualitativo da região. Um dos mais interessantes é o de Miss Vitis Wines com marca Bal da Madre. Gil Taveira conta que o projecto começou no Douro pelo seu avó e com ele teve continuação. Há poucos anos resolveu apostar na Beira Interior para fazer vinhos de agricultura biológica, já que a região reúne as condições para isso. Em conjunto com produtores de azeite e mel, entre outros produtos, exportam para o Reino Unido, transportando a mercadoria em veleiros (para reduzir a pegada ecológica). O nome Bal da Madre significa “Vale da Mãe” em língua mirandesa e presta homenagem à mulher e à videira, onde tudo começa. A primeira colheita foi de 2017. O perfil dos vinhos é muito limpo, delicado, com uma simplicidade cativante.

A notoriedade constrói-se com resiliência e dedicação e pequenos projectos por vezes seguem conceitos bem sucedidos, são rapidamente captados pelos radares dos enófilos e propagados, valorizando a imagem global da região.

(Artigo publicado na edição de Junho de 2022)

 

Rosés ambiciosos, a não perder

rosés ambiciosos

Depois de dois anos de pandemia, o verão de 2022 poderá ser o mais redentor e prazeroso dos últimos tempos com um rosé ambicioso no copo.  A qualidade, traduzida em expressão de fruta, equilíbrio, frescura e, em vários casos, carácter regional, está toda lá. Portanto, deixe de lado os preconceitos e agarre um (ou vários) […]

Depois de dois anos de pandemia, o verão de 2022 poderá ser o mais redentor e prazeroso dos últimos tempos com um rosé ambicioso no copo.  A qualidade, traduzida em expressão de fruta, equilíbrio, frescura e, em vários casos, carácter regional, está toda lá. Portanto, deixe de lado os preconceitos e agarre um (ou vários) destes rosés. Verá que vai valer a pena.

 Texto: Nuno de Oliveira Garcia

Fotos: Ricardo Palma Veiga

Após anos a afirmar a qualidade crescente dos rosés nacionais, bem como o seu evidente e natural lugar à mesa lusitana e internacional, é tempo de atacar o tema por onde, porventura, é mais difícil: por si, o consumidor! Com efeito, já dissemos quase tudo noutros trabalhos sobre o tema. Falámos, então, dos clássicos lançados nos mercados mundiais a partir dos anos 40 do século passado, como Mateus Rosé (Sogrape), Gatão (Borges), Lancers (José Maria da Fonseca) ou Casal Mendes (Aliança), e das novas referências, com outro perfil qualitativo, como sejam Redoma (Niepoort) com mais de vinte anos no mercado, Colecção DSF (José Maria da Fonseca), MR Premium (Ravasqueira), Vinha Grande (Sogrape), Dona Maria (Júlio Bastos) e mais recentemente Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo (da propriedade duriense com o mesmo nome). Em todos eles destacámos a qualidade e coragem dos produtores em lançarem produtos com ambição, mesmo que num país onde o imaginário do que era um rosé se assemelhava a uma sangria de vinho tinto, com doçura evidente e gás carbónico adicionado. A verdade é, pois, esta: os rosés actuais em nada ficam a dever aos brancos e tintos, e vamos comprovar isso mesmo de seguida, desmistificando cada um dos dogmas que ainda subsistem.

rosés ambiciososDogma 1: o rosé é feito com menos cuidado

É importante dizer com veemência que, na adega, a vinificação de um vinho rosé não perde em complexidade, técnica e rigor, para os restantes tipos de vinho, bem pelo contrário. E na vinha, todos os cuidados também são poucos: na eleição da parcela em termos de exposição solar e altitude, por exemplo, das castas, do momento da vindima e controlo da maturação, sobretudo nos níveis de acidez e do álcool, pois ninguém quer um rosé mole e pesado. Este cuidado especial é tanto mais relevante quando justifica, muitas vezes, uma vindima mais precoce para rosés (o mesmo sucede para espumantes) do que para tintos e alguns brancos, o que, obviamente, torna o processo mais complexo e exigente. Voltando à adega, o rosé requer atenção e cuidado enológico particulares, sendo, inclusivamente, um dos tipos de vinho no qual as opções enológicas determinam de forma mais significativa o produto final, o que não significa, de todo em todo, que o seu processo de vinificação seja menos natural. Com efeito, atenção na adega é permanente: da definição do nível óptimo de extracção e prensa (de preferência apenas lágrima) que se pode perder com a mais pequena desatenção, até à temperatura de fermentação escolhida. O mesmo se diga para opção pela ‘bâtonnage’ (agitação das borras), podendo-se eleger uma menor influência de oxigénio ou, como sucede com alguns produtores, permitir até alguma oxidação que venha a ajudar a proteger o vinho para uma maior longevidade. Entre as várias outras opções, pode-se proceder à utilização de borras de vinho branco (com ou sem bâtonnage, contribuindo tanto com cremosidade como com acidez crocante para o produto final), existindo até casos em que se utiliza parte de mosto de tinto sangrado que se mistura com outra parte constituída por um rosé de bica aberta (levíssimo contato pelicular e fermentação realizada com uvas sem pele), ou então mosto de tinto sangrado que é prensado com as películas de vinho branco e depois fermentado (por exemplo numa barrica, com ou sem tampo). Por fim, é hoje muito comum que nos rosés de topo de gama se proceda à fermentação, em parte ou totalmente, em barrica (Quinta do Monte d’ Oiro, MR Premium, Redoma, Vallado Tinto Cão, Nélita, Olho de Mocho, Quinta da Biaia, entre tantos outros), e mais ainda habitual que, pelo menos, os vinhos passem por estágio em madeira. Como se vê, a diversidade de estilos é grande e em todos eles o resultado pode ser excelente, o que, tudo somado, desmistifica o preconceito da simplificação da elaboração de rosés.

Dogma 2: o rosé vem de castas menos nobres

Outra ideia muito presente é a de que o rosé é feito da mistura de vinho branco e tinto, o que não é o caso, e que são utilizados vinhos de lotes e/ou castas menos nobres ou com menor concentração. Nada podia, pelo menos nos rosés de ambição que provámos, estar mais errado! Em primeiro lugar, em quase todos os vinhos deste painel, a colheita da uva foi feita propositadamente para rosé, sendo apenas utilizadas as melhores uvas que cada produtor entendeu que seriam as indispensáveis para o tipo de rosé de excelência que pretendiam. Por outro lado, não existe qualquer discriminação de castas no que respeita ao seu valor de mercado ou qualidade, sendo disso bom exemplo o facto de parte significativa dos vinhos em prova serem exclusiva, ou parcialmente, produzidos a partir de Touriga Nacional (MR Premium, Vinha Grande, Monte da Raposinha, Síbio, Quinta da Pacheca, Manoella, Caminhos Cruzados, Casa Santa Eulália, entre outros) uma das mais afamadas e caras uvas do nosso país vitícola. O mesmo se passa com a casta Baga nos rosés da Bairrada, Moscatel Roxo na Península de Setúbal e Palmela, Alvarinho e Sousão nos Vinhos Verdes, e Tinto Cão no Douro (uma casta igualmente com procura e preço crescentes). Existem até castas estrangeiras, e algumas pouco habituais, que estão presentes em lotes ambiciosos, sendo o caso mais expressivo a uva borgonhesa Pinot Noir (Phenomena, Vicentino, Adega Mãe, Casa Ermelinda Freitas neste caso com loteado com Merlot), mas também Syrah (Quinta do Monte d’ Oiro, Herdade do Sobroso; Quinta do Paral), Cabernet Sauvignon (Quinta do Sobreiró) e até Sangiovese, a casta-rainha da Toscana (Herdade das Servas e Monte das Bagas). Destes todos, o fenómeno do Pinor Noir é, efectivamente, o mais paradigmático e exemplar pela enorme qualidade dos vinhos rosés apresentados, ainda que a sua utilização para tintos nacionais não tenha ainda conseguido trazer os resultados esperados. Quanto à escolha maioritária por castas como Touriga Nacional, Syrah ou Moscatel Roxo, essa explica-se pelos seus registos aromáticos mais evidentes, algo muito relevante quando a uva (como sucede com os rosés) é vindimada muito cedo, ou seja, ainda com pouca maturação fenólica. A opção pela uva Mourisco (Quinta da Biaia) revela a vontade de mostrar o lado delicado desta casta bem presente na Beira Interior, e o uso da variedade Tinto Cão (Quinta do Vallado) leva em consideração o facto da mesma, quando vindimada abaixo dos 13% álcool provável, proporcionar vinhos abertos de cor (acima dos 14% a cor é precisamente o inverso) e uma capacidade de proporcionar néctares com uma elegância e exotismo únicos. Na verdade, produzem-se excelentes rosés com recurso a várias castas, e praticamente em todo o território nacional, apesar de o terroir resultar menos marcado nos rosés precisamente pelo facto de as uvas serem colhidas muito cedo, muitas vezes sem a referida maturação fenólica estar completa (por isso também, as temperaturas altas e a perda de acidez típicas de parte do Douro e Alentejo não são um problema nos rosés).

Dogma 3: o rosé evolui mal e é inferior a um branco ou tinto

Outras duas ideias a abater… A primeira diz respeito à evolução em garrafa dos rosés, e nesse capítulo dúvidas não existem que, nos vinhos com qualidade e ambição, essa evolução ocorre sem grandes perturbações. Efectivamente, em prova tivemos alguns vinhos com 4 e 5 anos em garrafa (MR Premium e Nélita, respectivamente), e vários com 3 anos (Quinta do Monte de Ouro, Vicentino, Quinta das Cerejeiras, Adega de Borba) sem que em nenhum deles a evolução fosse outra que não positiva. Aliás, nenhum dos vinhos em prova (mais de 4 dezenas…) se revelou cansado, nem, de resto, apresentou defeito evidente. Acresce, que várias foram as garrafas que, uma vez abertas, permaneceram no frio e sem bomba de vácuo, sendo que a sua prova 24 horas depois se revelou igualmente prazerosa. O facto de estes vinhos serem vinificados em ambientes redutores (com pouco contacto de oxigénio) pode explicar essa circunstância, o mesmo se podendo dizer dos níveis elevados de acidez totais (quase sempre acima das registadas em tintos). A segunda ideia a reverter é que um rosé nunca pode ter o mesmo nível de um branco e tinto da mesma gama, no que respeita a complexidade. Pois bem, não vemos como um Redoma rosé ou um Vinha Grande rosé, e o mesmo poderíamos dizer do Olho de Mocho rosé ou Casa Santar rosé, seja menos interessante do que as correspondentes versões tintas, ou brancas. Mesmo ao nível da complexidade, reconhecendo que num rosé essa característica é mais difícil de alcançar para o produtor e para o consumidor, temos dificuldades em perfilhar a posição de que encontramos, necessariamente, mais sofisticação num tinto, ou num branco, do que num rosé. De resto, o recurso a fermentação e estágio em barrica permite mesmo uma aproximação dos estilos e de perfil qualitativo dos rosés aos seus irmãos brancos e tintos.

Dogma 4: os rosés são baratos e para beber no Verão

A visão do rosé como sendo um produto vínico fresco e acessível tem, obviamente, justificação. Foi esse o modelo dos rosés nacionais durante muitos anos, e a adopção de um perfil fácil a preço cordato explica também o seu enorme sucesso na exportação. Em muitos casos, sobretudo os nascidos na última década e meia, são rosés feitos de sangrias de vinhos tintos, afinados e engarrafados à medida das encomendas com altíssimas produções. Naturalmente, os vinhos que participaram nesta Grande Prova nada têm que ver com rosés massificados, sendo, ao invés, alguns deles verdadeiras preciosidades líquidas dos quais apenas estão disponíveis algumas centenas garrafas, ou pouco mais (Fogueira, Quinta do Monte d’Oiro, Paulo Coutinho Fusion, entre outros). Aliás, quanto a qualidade e preços, note-se que foram 14 (cerca de 1/3 dos vinhos em prova) os vinhos classificados com as notas 18 e 17,5, sendo que a média de preços destes vinhos anda acima de €25! Tal justifica-se, obviamente, pelos custos com os cuidados modernos na viticultura e na vinificação que atrás descrevemos. Mas também se justifica pelo actual posicionamento dos vinhos rosés no mercado, ou seja, pela existência de uma gama de rosés premium que há uma década nem se imaginava ser possível de vir a existir. Esta oferta e diversificação de rosés com ambição só é possível por existirem consumidores que os procuram, seja na restauração, seja nas garrafeiras mais selectas. A circunstância de Portugal ser um destino turístico, sobretudo nos meses mais quentes, em conjunto com uma crescente população estrangeira residente no nosso país, é outro factor relevante, tal como nos confidenciaram alguns proprietários de garrafeiras no Algarve e em Lisboa. Com efeito, muitos estrangeiros residentes em Portugal trouxeram dos seus países de origem o hábito de começarem uma refeição com vinhos que, sendo leves e frescos, têm grande qualidade, ao mesmo tempo que se revelam eficazes na hora de casarem com pratos condimentados (como são tradicionalmente os lusitanos), o que fez aumentar a procura de rosés elegantes e com personalidade. Naturalmente, um PVP mais elevado permite que os produtores invistam mais na hora de elaborarem um rosé, tanto mais quanto não faltam em Portugal enólogos talentosos e cada vez mais cientes das modas e exigências internacionais.

Conclusão

Aqui chegados a conclusão é óbvia. Portugal tem hoje dezenas de rosés a um nível muito alto que em nada ficam atrás do que melhor se faz nos restantes países produtores. Cabe ao consumidor eleger o(s) seu(s) estilo(s) preferido, saber se o prefere beber novo ou passados alguns anos, e se vai juntá-lo a uma refeição ou apenas servi-lo como aperitivo sofisticado. Quer isto dizer que o ónus está agora em si – o consumidor. Até porque o actual elevado nível de qualidade e diversidade de rosés nacionais só se poderá manter se os mesmos forem procurados e bebidos, e se forem consumidos com alguma regularidade. Estamos convencidos que haverá sempre lugar para alguns rosés de topo que serão procurados por este ou aquele nicho de consumidores. Mas para manter as dezenas de rosés com a ambição ao nível que os agora provados revelam é preciso mais; é necessário deixar para trás preconceitos sobre os vinhos rosés, embarcar na aventura de provar o que de melhor se faz em Portugal, e partir para a descoberta das múltiplas harmonizações possíveis com esta maravilhosa bebida rosada. Venha daí!

ROSÉS AMBICIOSOS

 

 

Grande Prova Douro tinto – Por menos de €15, melhor é difícil

São acessíveis, mas não para todos os dias. Dão um prazer imediato, mas a maior parte deles irá evoluir muito bem em garrafa nos próximos 5 ou 10 anos. Muitos destes vinhos portam-se melhor à mesa do que numa prova técnica. Alguns são mesmo tintos surpreendentes, de enorme gabarito, autênticas grandes escolhas que não arruínam […]

São acessíveis, mas não para todos os dias. Dão um prazer imediato, mas a maior parte deles irá evoluir muito bem em garrafa nos próximos 5 ou 10 anos. Muitos destes vinhos portam-se melhor à mesa do que numa prova técnica. Alguns são mesmo tintos surpreendentes, de enorme gabarito, autênticas grandes escolhas que não arruínam a carteira.

Texto: Valéria Zeferino

Fotos: Ricardo Palma Veiga

Nesta gama de preços encontra-se toda a variedade da região, do mais chuvoso Baixo Corgo ao árido Douro Superior; de edições limitadas de 5.000 garrafas, como o Letra F do António Maçanita até quase meio-milhão de garrafas do Vinha Grande da Sogrape. Podemos falar de vinhos que já se tornaram clássicos, contando com duas-três décadas da existência, ou ainda mais, como o Vinha Grande, cuja primeira colheita é de 1960; é há vinhos dos projectos mais recentes, lançados nos últimos anos pela Magnum Carlos Lucas, António Maçanita ou Santos&Seixo.

Muitos vinhos trazem no rótulo as menções tradicionais para expressar os níveis de qualidade como o Reserva ou, em alguns casos, o Grande Reserva ou Reserva Especial. Estas menções (tirando a “Garrafeira” pouco utilizada no Douro) não estão conotadas com duração e tipo de estágio. Em termos qualitativos obrigam à obtenção de uma determinada pontuação na Câmara dos Provadores do IVDP, compatível com vinhos de “muito boa qualidade” e “elevada qualidade”. Dão melhor ideia da hierarquia de qualidade dentro do portfólio de cada produtor, do que de uma forma transversal. Nem tudo o que se designa como “Reserva Especial” é quase Barca Velha.

E já agora, nem todos os produtores querem utilizar as designações como Reserva ou Grande Reserva. Alguns optam pelo modelo bordalês, onde o vinho de maior renome, o grand vin, ostenta o nome da propriedade, e o segundo vinho, que custa menos e normalmente é feito para ser consumido mais cedo, tem no seu nome alguma semelhança com a casa produtora. A enóloga e produtora Sandra Tavares explica que no início do projecto com o seu marido Jorge Borges optaram por este modelo, porque queriam evitar a banalização das designações como “reserva” e outras deste género. Há mais exemplos: o Meandro da Quinta do Vale Meão ou o Pombal do Vesúvio da Quinta do Vesúvio.

Pedro Correia, responsável de enologia na Prats&Symington explica que o Post Scriptum é o irmão da Chryseia, a filosofia é a mesma. A distinção Chryseia vs. Post Scriptum começa na classificação da uva com critérios qualitativos e históricos das parcelas. A vinificação é quase igual. Trabalha-se muito com sub-lotes, sendo que 80% das fermentações nascem como Chryseia a acabam Chryseia e o mesmo acontece com Post Scriptum. Tudo é provado 2 vezes por dia durante a fermentação e maceração para avaliar o potencial que ainda não está cá fora e definir se, no final de contas, vai para Chryseia ou para Post Scriptum.

Douro blend hoje – como é?

As castas tintas mais plantadas no Douro são Touriga Franca com 10.121 ha, Tinta Roriz com 5.960 ha, Touriga Nacional com 4.228 ha e Tinta Barroca com 3.019 ha.

As primeiras três, basicamente, integram o famoso trio duriense responsável pela maior parte dos vinhos da região. Em alguns casos no lote entra Sousão, Alicante Bouschet, Tinta Barroca, Tinto Cão, Tinta Amarela ou alguma outra casta, mas na qualidade de “sal e pimenta”.

De um modo geral, os produtores e enólogos concordam que Touriga Nacional e Touriga Franca são as peças-chave.

Pedro Correia explica que “a Touriga Nacional é uma casta versátil e se pode confiar nela independentemente das condições. A Franca é mais sensível a condições menos favoráveis (tendo em conta já de si baixas produções)”.

Para o enólogo da Quinta do Crasto, Manuel Lobo, Touriga Franca é a espinha dorsal de um lote, dá dimenção e volume, enquanto Touriga Nacional confere frescura, elegância e também alguma estrutura. No entanto, “exige algum cuidado com exposição solar para evitar que as folhas de base sequem e que fique com aromas sobremaduros”. “A Touriga Franca é a casta que se melhor adapta no Douro Superior, suporta exposição solar directa com mais conforto. Em contrapartida pode apresentar falta de acidez e pH alto e às vezes peca por falta de elegância”.

A Tinta Roriz nunca é consensual. Pedro Correia acha que não tem potencial equiparável a Touriga Franca e Touriga Nacional. Tem um teor de tanino muito alto e quando produz em demasia, não amadurece suficiente. No Quinta de Ataíde não tem protagonismo e no Post Scriptum entra apenas com 7%, sendo de um clone favorável de uma vinha mais velha.

Para Manuel Lobo a Tinta Roriz é “tanino e persistência”. “Precisa de solos mais fracos e algum stress hídrico. Assim, os bagos são de diâmetro menor e mais separados.”

Já o enólogo Paulo Coutinho defende Tinta Roriz no sítio certo. Para o Quinta do Portal Reserva utiliza a Touriga Nacional e a Tinta Roriz quase em partes iguais, deixando para a Touriga Franca um papel secundário com 15% no lote. Explica isto pelo facto de Tinta Roriz no vale do rio Pinhão ser mais expressiva, desenvolvendo melhor a parte aromática.

A Tinta Barroca é uma casta precoce, ganha açúcar elevado e perde acidez, ainda por cima, tem pouca cor. Importante para Vinho do Porto, tem pouco interesse enológico para DOC Douro na opinião de Pedro Correia.

O Tinto Cão é o oposto da Tinta Barroca – casta muito tardia de ciclo longo; tem tanino bem presente, produz vinhos com frescura e algum potencial de envelhecimento.

O Alicante Bouschet representa interesse, mas “é preciso controlar o rendimento, porque tem a tendência para subir muito a produção o que impacta com a maturação” – lembra Pedro Correia.

Manuel Lobo defende que o Sousão tem um papel importante, conferindo frescura e acidez natural ao vinho e assegurando a sua longevidade, mas é muito dominante e tem de ser utilizada no lote em quantidades mínimas.

Alguns vinhos neste patamar de preços, são de vinhas velhas, como é o caso do Lua Cheia, da Saven, ou o Quinta dos Aciprestes, da Real Companhia Velha, onde predomina Tinta Barroca para além da Tinta Roriz, Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinto Cão e Tinta Amarela; e Manoella da Wine&Soul, com vinhas plantadas em patamares ainda pelo pai de Jorge com as castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz and Tinta Francisca.

Os monovarietais não são muito comuns neste segmento de preço, porque as quantidades disponíveis são reduzidas e o preço normalmente ultrapassa os 15 euros. Nesta prova esteve presente apenas um monocasta de Touriga Nacional, da Quinta de Ventozelo.

O facto de se usar um reduzido número de castas nos lotes não significa que a riqueza ampelográfica da região se perdeu. Na Quinta do Ataíde, conhecida pelo início da recuperação da Touriga Nacional, desde 2014 existe uma colecção de 53 variedades autóctones com algumas estrangeiras para efeitos de comparação. Todos os anos são feitas vinificações em extreme para avaliar o potencial dos vinhos e a adaptabilidade das diferentes castas às condições específicas do Douro, conta Pedro Correia.

Douro tinto melhorMultiplicidade de abordagens

 A filosofia de cada produtor por detrás dos seus vinhos nesta gama pode ser diferente, mas de certa forma, todos concordam que reflectem o Douro fielmente, quer através do lugar onde nascem, quer através do estilo da propriedade. Normalmente recorre-se ao estágio em barrica, mas com muito menor expressão de madeira nova do que para os topos de gama.

Paulo Coutinho considera o Quinta do Portal Reserva como um vinho mais tradicional do Douro. O Colheita é o mais fácil e o Grande Reserva é mais trabalhado, um Douro moderno, mais polido. Na sua opinião é o Reserva que deverá manter a tradição, sendo um vinho mais austero e gastronómico. Assim, o estilo começa na vinha: para o Grande Reserva as uvas são provenientes das vinhas mais velhas e com mais exposição; para o Colheita, mais altitude; e o Reserva é um vinho de cotas intermédias, da meia-encosta, onde as uvas amadurecem bem, mas ficam sempre com algum nervo. “Só à mesa conseguimos apreciá-lo na plenitude”, defende Paulo Coutinho.

Jorge Moreira, cuja experiência enológica, para além do projecto próprio de Poeira, se estende para três casas – Real Companhia Velha, Quinta de La Rosa e Quinta das Bandeiras – explica que os vinhos Quinta dos Aciprestes, La Rosa e Passagem, respectivamente, são todos “vinhos de quinta”. Ou seja, o objectivo é mostrar inequivocamente o carácter de cada propriedade. Como também são vinhos de maior volume de cada uma das quintas, partilham um factor comum muito importante: têm de ser equilibrados e ter potencial de envelhecimento de pelo menos 5 a 10 anos.

A idade e condições diferentes das vinhas ditam a abordagem na adega. Por exemplo, na Quinta dos Aciprestes as vinhas velhas (com predominância da Tinta Barroca que não tem muito volume e cor mas é aromática e suave) originam vinhos com estrutura menos potente. Neste caso, o mais adequado é o estágio em balseiros de 20.000 litros para reduzir o contacto com oxigênio. Na Quinta de La Rosa, as uvas provêm de vinhas com Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz de diferentes altitudes, geralmente de cotas médias, e com exposição a sul. São cheios de pujança, aguentam bem pisa em lagares antes de fermentação e as barricas de 225 litros, parcialmente novas.

O produtor António Maçanita queria mostrar um Douro diferente. O nome do vinho é de certa forma autoexplicativo – Letra F, o que tem a ver com a classificação das parcelas do Douro em função da sua aptidão para produzir Vinho do Porto. Esta é a última letra que dá direito ao benefício, pois as restantes letras G, H e I já não.

São parcelas de vinha situadas em Carlão perto de Alijó, numa zona de transição de xisto para granito entre os 500 e 720 metros de altitudes. Tratam-se vinhas bastante velhas, entre 50 e 100 anos, com castas tintas e brancas misturadas (estas são fenólicas, de película grossa que também dão estrutura ao vinho).

Pode não ser muito típico, mas o “Douro também é isto” – defende António Maçanita. Ao fazer o vinho, recorre a extrações longas, mas suaves. Forma uma “sanduíche” com cachos inteiros no meio dos cachos estalados, o que permite conduzir fermentações em dois tempos. Os cachos estalados em cima ao fermentar protegem os do meio, que libertam o açúcar mais tarde, prolongando a fermentação. A logística da adega é mais difícil assim, porque os recipientes ficam ocupados mais tempo, exige mais controlo durante a vinificação, mas ganha-se na estrutura e tanino do vinho final.

Viticultura cirúrgica e fine-tuning

 O Douro, sem dúvida, é uma região com muita tradição. Resistiu à proliferação de castas estrangeiras, a vindima, salvo raras excepções, é manual (única possível em socalcos e patamares) e ainda se utilizam lagares e pisa a pé, mesmo para os vinhos DOC.

Isto não significa que a região cristalizou no tempo. Há cada vez mais conhecimento empregue na “viticultura cirúrgica”, como lhe chama Manuel Lobo. E é particularmente importante numa região tão promissora, mas desafiante como o Douro Superior. É muito seca, com precipitação escassa e para obter uvas equilibradas é fundamental trabalhar a exposição correcta em função da casta. A Quinta do Crasto tem a vinha plantada na Quinta da Cabreira desde 2004. As videiras já atingiram uma maturidade interessante, mas não se tratando de uma vinha velha, precisam de muita atenção. A rega tem de estar afinada com variações de solo e videiras e é preciso garantir o equilíbrio entre quantidade de uva e área foliar.

A mesma visão tem Pedro Correia quando se refere ao Vale de Vilariça, onde estão plantadas as vinhas da Quinta de Ataíde em viticultura biológica. É um terroir quente, onde o controlo do estado hídrico da planta é gerido de perto para garantir que o stress hídrico não impeça a fotossíntese. Uma rega qualitativa é indispensável. Começam a ser utilizadas certas espécies de leveduras capazes de proteger a planta contra o stress hidrico e abiótico. É uma alternativa sustentável a uso de substâncias químicas.

Como naquela zona a mecanização é possível, a vindima é feita à máquina e os resultados não são inferiores a uma vindima manual. Entre a colheita e o processamento das uvas, recorrem à bio proteção através de utilização de uma cultura de leveduras que domina o meio sem afectar e protege do arranque de fermentação antes do tempo.

Para as uvas tintas, não adicionam sulfuroso antes da fermentação e o objectivo é no futuro evoluir, diminuindo o sulfuroso sem prejudicar a qualidade.

Antes e durante a fermentação recorrem ao uso de diferentes leveduras com vários propósitos de fine-tuning. As leveduras não fermentativas funcionam durante a maceração pré-fermentativa, permitindo extração mais lenta. É como cold-soaking, mas sem uso de energia para arrefecer o mosto, explica Pedro Correia. As leveduras não-saccharomyces permitem criação de compostos aromáticos mais interessantes no início de fermentação.

Estatísticas e mercados

 Mesmo com o crescimento em popularidade e prestígio dos vinhos tranquilos do Douro, o grosso da produção na região continua a ser o Vinho do Porto. Segundo o IVDP, em 2020 produziu-se 47.884.768 litros de vinhos DOC Douro e 70.540.505 litros de vinhos do Porto.

Em termos de comercialização, nos últimos 10 anos, os vinhos DOC Douro foram ganhando o terreno aos Vinhos do Porto que diminuiram em vendas de 85.292.747 litros em 2010 para 68.353.804 litros em 2020, enquanto os vinhos DOC Douro cresceram de 21.415.054 para 38.899.224 litros. Mesmo assim, produz-se mais vinho do que se consegue vender.

Os preços médios por litro subiram de 3,95 para 4,15 euros nos vinhos DOC e de 1,23 para 3,1 euros nos IGP, provavelmente, devido a produção de vinhos de alta qualidade de castas não abrangidas pela DOC. Mas sabemos que estes preços não reflectem a realidade do Douro, onde o custo de produção se mantém alto.

Os maiores mercados para vinhos DOC Douro, tirando o mercado nacional com mais de 60%, são o Canadá com mais de 3 milhões de litros, Reino Unido com 1,9 milhões de litros, Brasil com quase 1,5 milhões de litros, Alemanha com 1,2 e Suíça com 1,1 milhões de litros. Em valor a distribuição é um pouco diferente, sendo o mesmo Top 5: Canadá, Reino Unido, Suíça, Brasil e Alemanha.

A presença de vinhos DOC Douro no mercado do Canadá quase triplicou nos últimos 10 anos (a comparar 2010 e 2020) e o preço médio também cresceu de 3,88 para 4,05 euros. No Reino Unido cresceu 7 vezes, mas o preço registou um descréscimo de 4,6 para 3,17 euros. Na Alemanha quase duplicou a venda e o preço subiu ligeiramente de 4,47 a 4,65 euros. No Brasil o crescimento é de cerca de 60%, sem grande alteração no preço. Na Suíça cresceu mais do dobro e em preço também um pouco de 5,13 a 5,29.

Uma dinâmica positiva também foi registada nos mercados como os Estados Unidos (que cresceu bastante e sobretudo a nível do preço, de maneira que as vendas em valor quase duplicaram), a Bélgica, França, Polónia, a Rússia (a presença dos DOC Douro aumentou de 7 mil para 263 mil litros mas com uma substancial diminuição do preço médio de 7,28 para 3,12 euros). A título de curiosidade, os preços médios mais altos para os vinhos do Douro foram registados em 2020: no Uruguai 17,91 euros e na Georgia 15,59 euros. É pena que a presença de vinhos durienses nestes países seja residual.

(Artigo publicado na edição de Abril 2022)

Alfrocheiro, a casta mistério

Alfrocheiro casta mistério

Não se conhece o pai, mas filhos não lhe faltam A casta que alegra os vinhos do Dão e dá brilho aos do Alentejo é hoje uma referência dos vinhos portugueses. E com muito futuro pela frente.  Texto: João Paulo Martins Fotos: DR Ao lermos hoje os contra-rótulos das garrafas de tintos da região do […]

Não se conhece o pai, mas filhos não lhe faltam A casta que alegra os vinhos do Dão e dá brilho aos do Alentejo é hoje uma referência dos vinhos portugueses. E com muito futuro pela frente.

 Texto: João Paulo Martins

Fotos: DR

Ao lermos hoje os contra-rótulos das garrafas de tintos da região do Dão deparamo-nos com a quase omnipresença de quatro castas tintas: a Jaen, a Touriga Nacional, a Tinta Roriz e a Alfrocheiro. Deste quarteto, há três que são muito tradicionais na região e depois há a Tinta Roriz, introduzida, sobretudo, a partir dos anos 90 do século passado. Sobre a Roriz não é agora o momento de falar dela, mas registe-se que gera tantos ódios como aplausos. Este quarteto acabou por vir a destronar algumas castas que tinham tradição na região mas que os novos ventos levaram da boca do palco para o segundo balcão. É o caso da Tinta Pinheira, também conhecida por Rufete na Beira Interior e que foi em tempos casta muito importante no Dão. Bento Carvalho, no seu Guia dos Vinhos Portugueses, 1982, Ed. Presença, nem sequer elenca a Alfrocheiro nas castas da região. Ali, as chamadas “castas tradicionais regionais” incluíam Tourigo, Tinta Pinheira, Tinta Carvalha, Baga de Louro, Alvarelhão e Bastardo. E, apenas por curiosidade, nos brancos (e no mesmo livro) a Encruzado nem é referida, mas sim Dona Branca, Arinto, Barcelo, Fernão Pires e Cerceal. Mudam-se os tempos…

Na Enciclopédia dos Vinhos Portugueses (Ed. Chaves Ferreira) e no volume dedicado ao Dão, o autor, Virgílio Loureiro, já tem outra atitude em relação à casta Alfrocheiro, reconhecendo que não é casta muito antiga na região e que terá sido introduzida nas replantações pós-filoxera. Pelo destaque que lhe dá percebemos que se tornou uma variedade muito acarinhada e de grande importância nas novas plantações que o Dão conheceu a partir dos anos 90 quando despertaram um conjunto de produtores-engarrafadores que puseram a Alfrocheiro no mapa regional. Falamos da Quinta dos Roques, Carvalhais, Pellada, Casa de Santar, entre outros que surgiram então na região. Não foram, assim, precisos muito anos para que esta variedade passasse a integrar o quarteto-maravilha dos encepamentos do Dão. Tudo isso sem prejuízo de continuarem a ser muito plantadas a Jaen, a Baga e também, ainda que em muito menor proporção, a Tinto Cão e mesmo a Alvarelhão, casta que conhece actualmente algum impulso, em virtude de vivermos numa época em que os vinhos mais abertos de cor voltaram a ter mais aceitação junto dos consumidores.

Do Dão ao Alentejo

Esta variedade encontra-se disseminada em várias regiões portuguesas, mas é sobretudo no Dão e no Alentejo que se encontram as maiores concentrações. No Douro é praticamente ignorada e alguns enólogos desconhecem-na totalmente. Recordo-me de uma conversa que tive com Charles Symington a propósito da casta. Ele só a conheceu quando a empresa Symington adquiriu a propriedade em Portalegre e recordo-me o entusiasmo que mostrou pelas qualidades que a Alfrocheiro apresentava naquela zona alentejana; para ele uma total surpresa. Também Paulo Laureano a usa na Vidigueira e lhe reconhece os méritos: “é exigente no solo (melhor no xisto negro) e requer equilíbrio na produção porque pode ter tendência a ser muito produtiva originando vinhos descorados; requer vindima rápida porque tem uma janela de 3 ou 4 dias para ser apanhada no ponto óptimo; gera vinhos elegantes, com foco em fruta azul de qualidade, de excelente acidez e que pode funcionar muito bem em lote”, destacando Laureano a ligação com a Trincadeira, Aragonez e Alicante Bouschet. Também Luis Cabral de Almeida, enólogo na Herdade do Peso (Sogrape) lhe nota as virtudes: “já tivemos um varietal de Alfrocheiro mas agora não temos (mas vamos voltar a plantar); é muito exigente na viticultura porque pode apodrecer com facilidade mas gera vinhos com uma fruta muito elegante que até pode lembrar a Pinot Noir”. Curiosamente esta característica tornou-se muito evidente no vinho da Quinta da Pellada que provámos.

Alfrocheiro casta mistério
No Alentejo, António Maçanita é um fã de Alfrocheiro.

Já no Dão, há muito anos que ela é trabalhada por Manuel Vieira, em tempos na Quinta dos Carvalhais e actualmente na empresa Caminhos Cruzados. Sobre a casta disse-nos, que “na vinha exige muitos cuidados: é atreita à podridão pelo formato fechado do cacho que incha com a chuva e rebenta. É preciso muito controle na produção porque tende a produzir mais do que é possível para se fazer um bom vinho. Por isso, é preciso bom trabalho na condução da cepa e na monda precoce que deixe os cachos bem arejados evitando o encavalitamento”. E na adega, gosta muito da acidez da Alfrocheiro, “é muito viva e dá alegria ao lote. É uma casta que precisa de algum tempo, os aromas não se mostram logo, é ao fim de um ano que eles se tornam mais evidentes”, refere.

A casta tem sido objecto de estudo no âmbito da PORVID que mantém um campo de clones em Pegões. António Graça, investigador da vinha e uma das caras daquela associação, confessou-nos que “é uma casta com pouca diversidade, o que indicia uma origem recente em termos evolucionários (mesmo assim podemos estar a falar de vários séculos) e ADN de tipo ibérico (clorotipo A). Sabemos que um dos progenitores é o Savagnin Blanc, o outro é ainda desconhecido (podem já não existir exemplares). Mas também sabemos que é um Don Juan das vinhas, tendo profusa descendência de ambos os lados da fronteira: em Portugal, Camarate Tinto, Carrega Tinto, Casculho, Castelão, Casteloa, Castelã, Concieira, Cornifesto, Douradinha, Jampal, Malvarisco, Malvasia Fina, Malvasia Preta, Moreto, Parreira Matias e Trincadeira das Pratas. E em Espanha (onde é conhecido pelo sinónimo Bruñal): Allaren, Mencia e Mouratón”. A PORVID tem conservados 237 genótipos (conjunto da informação genética de uma planta ou clone) da casta. Segundo dados que a PORVID conseguiu apurar, em 2019 existiam cerca de 1 200 hectares plantados com esta casta.

Na prova que fizemos foi notório que o Dão é a zona onde mais varietais de Alfrocheiro existem; em tempos também houve em Lisboa e, no Tejo, a Quinta da Lagoalva produz igualmente vinhos de referência desta casta.

Na nossa prova, foi evidente que há alguns traços comuns, em todas as regiões: os vinhos são elegantes e estão, também por isso, em linha com a actual moda de tintos menos concentrados, mais finos e muito mais gastronómicos. Têm, como se pode ver, um preço médio que se pode considerar muito convidativo. E são belíssimos representantes dos tintos onde o diálogo fruta/barrica/extracção/taninos parece estar mais bem conseguido.

Não posso deixar de referir a pequena estória que era a imagem de marca de um escritor de vinhos que, infelizmente, nos deixou há alguns anos – Matos Cristóvão. Dizia ele que numa situação de aproximação tentadora a uma mulher “com Alfrocheiro é tiro e queda!” Quem somos nós para duvidar…

(Artigo publicado na edição de Abril de 2022)

Grande Prova – Brancos do Dão

Grande Prova Dão

No solar do Encruzado Imaculados a nível de qualidade e frescura, cada vez mais os brancos do Dão apresentam matizes diferenciadoras entre si. Fruto da neutralidade que a casta Encruzado apresenta nos primeiros anos em garrafa e da personalidade que ganha com o tempo, surgem estilos e perfis que vão desde a mineralidade pura até […]

No solar do Encruzado

Imaculados a nível de qualidade e frescura, cada vez mais os brancos do Dão apresentam matizes diferenciadoras entre si. Fruto da neutralidade que a casta Encruzado apresenta nos primeiros anos em garrafa e da personalidade que ganha com o tempo, surgem estilos e perfis que vão desde a mineralidade pura até fruta branca e mesmo algum exotismo. Em comum têm o elevado nível geral e preços tendencialmente cordatos.

 

Texto: Nuno de Oliveira Garcia

Notas de prova:  João Paulo Martins e Nuno de Oliveira Garcia

Nos últimos dez anos, os brancos portugueses desmistificaram quaisquer preconceitos sobre a sua enorme qualidade. Naturalmente, os vinhos à disposição dos consumidores hoje são fruto de um trabalho anterior, seja pela replantação de vinhas, ou recuperação de castas esquecidas, seja na afinação de estilos menos óbvios, como por exemplo com menos recurso a madeira nova durante o estágio. Ora, uma das regiões com melhores condições para brancos nacionais de excepção é, sem dúvida, o Dão.

Por um lado, existem razões relativamente óbvias para isso, sendo disso bom exemplo os invernos frios e uma significativa altitude das vinhas (frequentemente acima dos 350m ou mais do nível do mar), bem como solos genericamente compostos por areias graníticas, tudo condições que aportam frescura aos vinhos. Mas, por outro lado, e olhando mais em pormenor, no caso do Dão outra razão existe e chama-se… Encruzado. Com efeito, nos últimos 20 anos, a fama da uva Encruzado confunde-se com a notoriedade crescente do vinho branco do Dão. Não o dizemos pela presença da casta no encepamento que, sendo crescente, está muito longe de ser dominante, mas essencialmente pela qualidade e consistência dos vinhos finais que proporciona. Efectivamente, o Encruzado, em pouco mais de década e meia, passou de singelamente admirado pela crítica especializada para gozar de uma justa fama junto dos consumidores. Arriscamo-nos a dizer que essa associação de casta a um território aumentou o valor da região do Dão junto dos apreciadores de vinhos brancos. Prova disso é que nunca ouvimos um consumidor a dizer que não gosta de Encruzado; e convenhamos que é difícil não gostar…

A referida associação entre o Encruzado e a região do Dão não é, todavia, isenta de nuances. A primeira delas respeita, como referimos, à sua limitada presença no encepamento. Existe uma significativa mancha de vinha velha branca no Dão, mas curiosamente surge a casta Malvasia Fina como muitas vezes dominante, a par de muitas outras uvas, como seja o Cerceal-Branco, Fernão Pires, Bical, Verdelho, Barcelo, Terrantez e outras com os habituais nomes curiosos de Uva-Cão, Cachorrinho, ou Douradinha…. Com efeito, o Encruzado é minoritário nessas vinhas velhas, tendo sido trazido para o palco principal na sequência das provas organizadas por Alberto Vilhena nos anos 50 do século passado no seio do Centro de Estudos Vitivinícola do Dão, em Nelas. Para se ter uma noção, actualmente, na região, o Encruzado está longe de ultrapassar 300 hectares de mancha total, ou seja, praticamente 3 vezes menos do que a Malvasia Fina e 2 vezes menos do que a omnipresente Fernão Pires…

Ainda a respeito da casta Encruzado, mas o mesmo sucedendo com as variedades Barcelo e Uva-Cão (ambas com cada vez maior aceitação junto de produtores e enólogos), e por esta poder ser relativamente neutra (de aroma e sabor) nos primeiros meses após o engarrafamento, tem cabido às opções de vinificação e de enologia trabalhar e exaltar algumas matizes. Por isso, no painel de vinhos provados encontrámos desde registos mais minerais (pedra molhada, minerais quebrados e até notas de giz, por vezes sinal de alguns tipos de redução) que se aproximam melhor da pureza da casta, passando por frutados (um ou outro quase tropical até), e finalmente outros mais florais (quase sempre decorrente de estágio em barrica). Em todos os vinhos, contudo, encontrámos excelentes acidezes totais e uma positiva percepção de óptima longevidade. Aliás, mesmo nos vários casos em que a casta Encruzado não aparece a solo, o pendor mineral e fresco foi uma constante nos vinhos provados.

A dupla Encruzado-Malvasia Fina (esta última de carácter mais frutado e floral) continua a aparecer em vários lotes, mas cada vez mais encontramos, sobretudo nos topos de gama, a utilização apenas de Encruzado, quando muito com recurso à companhia de pequena percentagem de Bical. A ligação funciona muito bem, pois enquanto o Encruzado proporciona nervo e agradece a utilização de barrica, a casta Bical aporta maior riqueza aromática e finura em boca. No geral, os brancos do Dão melhoram muito com 5 ou mais anos em garrafa, essencialmente por desenvolverem maior complexidade aromática e comprimento de boca, sem oxidações precoces ou perda de frescura. Talvez por isso, poucos foram os vinhos de 2020 que entraram no painel em prova, sendo que um dos primeiros classificados é, inclusivamente, um blend formado com vinhos de vários anos.

Mas se o Encruzado não é uma das castas há mais tempo reconhecida, o mesmo não se pode dizer da região do Dão. Demarcada em 1908 tem o nome do rio que percorre parte da região, cruza alguns dos seus melhores terroirs (como seja Penalva do Castelo e Santa Comba Dão) e desagua no Mondego. Com solos generalizadamente graníticos, divide-se por 7 sub-regiões, desde a solarenga Silgueiros até à invernosa Serra da Estrela. Entre os dois rios encontramos Nelas e Mangualde com as respetivas manchas vínicas, a este Seia e Gouveia e na fronteira sul a região de Arganil. Trata-se de uma região na qual a vinha tem forte implementação no dia-a-dia (incluindo para produção e consumo próprio das populações), mas a mesma está, todavia, dispersa por floresta (tantas vezes de eucaliptos), por pequenas e grandes aldeias, e até por alguma indústria.

Prova branco DãoPor vezes conhecida como a ‘Borgonha de Portugal’, pela fineza de brancos e tintos, é curioso notar uma aproximação entre as castas Chardonnay e o Encruzado na medida em que ambas enriquecem com a fermentação e estágio em barrica… A região tem como inequívoco predicado a paternidade de duas das melhores variedades nacionais: o Encruzado nos brancos e a Touriga Nacional nos tintos. Aliás, a par de expressões muito residuais de Sémillon, Sauvignon Blanc, Pinot-Blanc e Pinot Noir, a região é plantada quase exclusivamente de castas nacionais, muitas delas locais. Na última década e meia tem beneficiado do surgimento de novos produtores, simultaneamente ambiciosos e conservadores das melhores práticas. Exemplos do que vimos escrevendo são os investimentos recentes na histórica Quinta da Passarella (destaque para a enorme recuperação das vinhas e do património edificado), mas também da Niepoort, e mais recentemente MOB e Taboadella (com a adega mais bonita da região, e não só…). Com esses investimentos vieram enólogos de outros pontos do país para a região, que se juntariam a uma nova fornada local. Tanto assim é que, hoje em dia no Dão, nomes como Paulo Nunes, Nuno Mira do Ó, Jorge Alves, Jorge Moreira, Jorge Serôdio Borges e Xito Olazabal, Luis Lopes, ou Mafalda Perdigão juntam-se a quem há mais tempo oficia por estas terras, caso de Nuno Cancella de Abreu, Carlos Lucas, João Paulo Gouveia, Osvaldo Amado, Paulo Narciso, Carlos Silva ou Anselmo Mendes, entre outros. Pois bem, pedimos a alguns destes profissionais que elencassem o que os surpreende positivamente nos brancos da região, e as respostas foram maioritariamente no sentido de enaltecer a gordura natural dos vinhos na prova de boca (sobretudo do Encruzado) que dispensa, por vezes, a operação de battonage. Outro feedback que obtivemos foi a capacidade de resistência à oxidação, mesmo em mostos e vinhos com menos utilização de sulfuroso. Alguns dos melhores vinhos em prova tiveram efetivamente longos estágios em barrica, sem ou com pouquíssimo sulfuroso, em borras finas, mas muitas vezes sem necessidade de battonage. Aliás, a este respeito, julgo não existir melhor forma de fechar este texto do que elogiar a capacidade única do Dão em proporcionar brancos naturalmente com perfis de vinhos de guarda, salinos e minerais, quase sempre centrados em aromas secundários e, se mantidos alguns anos em cave, deliciosas componentes terciárias. Há lá melhor coisa?

(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2022)

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Porto Tawny: Arte e conhecimento

Porto Tawny arte

Os vinhos que hoje aqui abordo são dos que mais tradição têm na região do Douro e na sua extensão, Vila Nova de Gaia. Eram estes Porto Tawny que sempre se reservavam para servir a visitas ilustres, para momentos de celebração. Hoje existem em todas as gamas, perfis e segmentos de preço, desde os mais […]

Os vinhos que hoje aqui abordo são dos que mais tradição têm na região do Douro e na sua extensão, Vila Nova de Gaia. Eram estes Porto Tawny que sempre se reservavam para servir a visitas ilustres, para momentos de celebração. Hoje existem em todas as gamas, perfis e segmentos de preço, desde os mais simples e acessíveis até aos néctares mais selectos, raros e caros. E todos passam por um minucioso processo de selecção, lotação e envelhecimento, até entrarem na garrafa.

Texto: João Paulo Martins

Fotos: DR

Sempre que se fala em Tawny e Ruby – as duas grandes famílias do vinho do Porto – vem à minha memória a frase que ouvi a Rolf, pai de Dirk Niepoort, e que conheci ainda aos comandos da empresa. Dizia ele que o Porto Vintage era o Rei e o Tawny (cuja tradução é aloirado) era o presidente da República. Não lhe sendo conhecidas inclinações monárquicas, esta frase de Rolf expressava as enormes diferenças que existem entre as duas famílias: o Vintage é uma dádiva da Natureza, uma vez que não está nas mãos do Homem comandar o clima, as chuvas, as maturações, o calor. Por isso, quando tudo corre bem temos um vintage, um presente que se aceita (ou não) mas que nos chega “caído do céu”. O tawny, ao contrário, é uma construção humana, é uma escolha, não é nada que se receba já feito, tem de ser criado. Com muitos vinhos em stock, é o enólogo (antigamente o provador) que selecciona, que decide o tempo de estágio, que elabora o lote com este ou aquele perfil.

No tawny juntam-se três artes complementares: a arte do lote, a arte da tanoaria e a arte do envelhecimento. Se recuarmos na história do Vinho do Porto encontramos um mapa muito bem definido da circulação do vinho que começava no Douro e acabava em Gaia. Os vinhos eram produzidos no Douro mas envelhecidos e estagiados em Vila Nova de Gaia onde, pela proximidade do mar, as condições de temperatura e humidade eram mais favoráveis à sua correcta evolução. Era aqui (em Gaia) que estavam os “exportadores”, era aqui que trabalhavam os “narizes” do Vinho do Porto. Lá longe, no Douro profundo, estavam os lavradores, os que faziam o vinho nos lagares e que depois vinham a Gaia no início do ano a seguir à vindima mostrar os seus vinhos e procurar comprador.

Porto Tawny arte
O Porto é um vinho com uma história e cultura sem igual.

Este quadro (quase) nada tem a ver com a actualidade. Hoje há empresas de Gaia com armazéns no Douro onde envelhecem vinhos em perfeitas condições e as relações de produtor/comprador conhecem novas fórmulas. Mas, como escrevi há uns anos, em reportagem sobre os “provadores” enquanto profissão com tendência a desaparecer, havia em Gaia técnicos competentíssimos na arte da prova que nunca tinham ido ao Douro ou feito uma vindima. Eram dois mundos separados.

Hoje vamos falar dos tawnies. Eles existem desde a gama de entrada mais acessível em termos de preço – são os tawny sem outra designação – prolongam-se pelo tawny Reserva, os vinhos com indicação de idade – 10, 20, 30, 40 e 50 anos (esta uma categoria recém-criada), os Colheita e uma outra para os vinhos muito, muito velhos. O consumidor pode dizer que são muitas categorias e que é difícil orientar-se mas, sejamos justos, tem havido uma simplificação das indicações incluídas nos rótulos. Pense-se, só como exemplo, que durante décadas os vinhos com indicação de idade não a ostentavam no rótulo e só quem soubesse percebia exactamente o que estava a beber. Exemplo: um Duque de Bragança era um tawny da Ferreira, ponto. Depois é que ficámos a saber que era um 20 anos!

O ESTILO DA CASA

Com centenas ou mesmo, frequentemente, milhares de barricas à disposição, com toneis cheios, balseiros por todo o lado, cubas de inox e cimento, a tarefa do enólogo não se revela nada fácil. É preciso conhecer o stock, mantê-lo com saúde, fazer periodicamente correcções de aguardente e ter um quadro muito minucioso onde se registam as idades dos vinhos que estão disponíveis. É com este manancial de vinhos que se constrói então o lote final que se pretende. É preciso treino, muito treino de prova, é preciso dar tempo aos vinhos para que amadureçam é preciso depois ter noção de qual é o “estilo da casa”. Não é fácil definir exactamente o que é o perfil de cada marca, mas fique-se apenas com a ideia de que, com o mesmo stock, e para um vinho de determinada idade, o provador pode optar por um estilo mais leve ou mais pesado, mais vermelho ou mais “avelhado”, mais centrado na fruta viva ou nos frutos secos, com mais acidez ou mais açúcar.

Sempre houve um estilo próprio de cada uma das grandes casas do sector do Vinho do Porto e, não deixa de ser curioso que nas fusões onde alguns grupos – Sogevinus, Sogrape, Symington, Taylor’s –congregam várias antigas empresas, há a preocupação de manter o “estilo” que cada casa tinha, que era do agrado dos importadores e que tinha consumidores fiéis. É assim que um 10 anos Kopke é diferente de um Cálem (ambos Sogevinus) ou um 30 anos Offley não é semelhante ao Sandeman (ambos Sogrape).

Para esta prova escolhemos vinhos de quase todas as categorias Tawny, de Reserva até ao 40 anos e Colheita. Neste último grupo, centrei-me em vinhos Colheita já deste século. Sabe-se que várias empresas ainda têm, por exemplo, o Colheita 1937 em casco mas entendo ser mais razoável optar por vinhos mais acessíveis e facilmente disponíveis nas lojas especializadas.

Para a elaboração de tawnies das diferentes categorias, as empresas adquirem frequentemente vinhos no mercado: nas adegas cooperativas para os vinhos de entrada de gama e em produtores particulares que têm stocks de vinhos velhos para os vinhos com mais idade.

A ARTE DO LOTE

Os tawnies correntes não são tão fáceis de fazer como se poderia imaginar. Em primeiro lugar, a cor tawny, sempre um pouco mais aloirada, é difícil de conseguir quando as castas maioritariamente plantadas na região originam vinhos de cor intensa. Vinhos demasiado vermelhos não passarão na Câmara de Provadores. Por isso, como nos lembrou Ana Rosas (Ramos Pinto) é preciso escolher logo na vindima vinhos mais ligeiros, menos macerados, que depois, em casco, oxidam mais rapidamente. São também vinhos que levam muitas correcções para poderem ter o perfil desejado. Naturalmente que na categoria Reserva é mais fácil afinar a cor, pois estamos a falar de vinhos com uma média de 7 anos o que já ajuda também a que as cores se revelem com maior evolução. Vinhos mais ligeiros são mais fáceis de conseguir no Baixo Corgo do que no Douro Superior (que gera vinhos muito carregados de cor), por exemplo, e obriga a conhecer muito bem a região para saber onde ir buscar os vinhos para cada categoria.

Nas grandes casas, estas gamas de tawnies são feitas ao longo do ano conforme os pedidos do mercado. Há um modelo-base que serve para ser replicado sempre que for preciso. Os vinhos para se enquadrarem na categoria obrigam a muitas passagens a limpo e arejamento para se acelerar a oxidação. Para afinar a cor, Carlos Alves (Sogevinus) diz-nos que só com pouca extracção na vindima e com uvas brancas e tintas misturadas é que se conseguem vinhos mais abertos de cor que envelhecem mais rapidamente.

Os tawnies 10 anos são elaborados todos os anos e, frequentemente várias vezes por ano. Dessa forma, consegue-se que estejam sempre no mercado vinhos com mais frescura, o que não aconteceria se as quantidades colocadas fossem enormes e que demorariam depois muito tempo a serem renovadas. Aqui falamos sempre de um lote de vinhos que irá, em média, dos 8 aos 12 anos. As quantidades produzidas variam muito de casa para casa, em função da maior ou menor presença e visibilidade no mercado. A Ramos Pinto produz 60 000 garrafas/ano nesta categoria. No Vallado são cerca de 20 000 litros, comercializados em garrafa de ½ litro, onde entram vinhos entre os 7 e os 13 anos. Fazem um único lote por ano. Os vinhos são parcialmente guardados em madeira mas também em inox para assim se conseguir, no lote final, um bom balanço entre estrutura e frescura. Estes vinhos têm teores variados de doçura mas não se afastam muito dos 100/120 gramas açúcar por litro. Na categoria 10 anos há também muito abastecimento fora de portas, sobretudo em cooperativas.

OS TAWNY VELHOS

Já nos tawnies mais velhos as casas são muito ciosas dos seus stocks. Também adquirem fora, mas, por exemplo, o 20 anos da Ramos Pinto não pode aumentar de volume porque como é um vinho da Quinta do Bom Retiro, a propriedade não dá para mais. Na Sogevinus é também muito clara a distinção dos stocks que se destinam às várias marcas. A Kopke, por exemplo, inclui sempre vinhos mais estruturados que depois se combinam com lotes mais elegantes para fazer o vinho no modelo final, o tal que se quer fiel à marca e ao estilo da casa.

No caso dos vinhos mais velhos, quer o Vallado quer a Ramos Pinto vão muitas vezes ao mercado comprar a lavradores vinhos muito velhos. Mas, como nos diz Francisco Ferreira, do Vallado, “é cada vez mais difícil encontrar vinhos de muita qualidade, guardados e mantidos em boas condições”. Por vezes as quantidades adquiridas são mínimas o que leva a que, na Sogevinus, sejam usados micro barris de 20 ou 30 litros para guardar estas essências. De seguida estes vinhos adquiridos na lavoura têm de ser “educados” e trabalhados para poderem entrar em lotes finais. Quanto mais velhos os tawnies, mais trabalho de “alquimia” se pede/exige ao enólogo. Há vinhos que podem entrar com 1% no lote final e fazem toda a diferença. Ana Rosas conta-nos: para fazer um lote de tawny 30 anos começa-se a trabalhar nele 3 anos antes; parte-se de uma base do vinho anteriormente no mercado, põe-se num balseiro com outros vinhos de 24 a 27 anos de idade e alguns bem mais velhos. No segundo ano passa para cascos (cerca de 10 cascos) e começa-se então a adicionar pequenas quantidades de vinhos muito velhos. No terceiro ano leva então os toques finais a conta-gotas. Numa barrica de 660 litros pode levar, por exemplo, 2,4 litros de um vinho com mais de 100 anos. “Nem se imagina a diferença que fazem essas pequenas quantidades no lote final”, diz-nos.

Os tawny 30 e 40 anos são engarrafados em quantidades muito pequenas. Mesmo empresas grandes, como a Sandeman, só engarrafam uma pipa por ano do seu 40 anos. São vinhos naturalmente caros mas que, pela enorme classe que apresentam e pelos anos de stockagem que exisgem, têm um preço muito ajustado. No caso dos brancos velhos, a palavra tawny não é aplicável por uma mera razão jurídico/burocrática: não está previsto na lei que se apelidem tawnies os brancos velhos, apenas os tintos têm direito ao designativo. Logo que se mude a lei, tudo poderá ser diferente…

Na prova que fizemos foi surpreendente a qualidade em todas as categorias (mais surpreendente nas mais baixas, naturalmente) e os consumidores ficam com um leque de escolhas muito interessante. Não ficam com obra de Deus, têm de se contentar com obra dos Homens. E que obra!

O CARÁCTER DOS COLHEITA

O Porto Colheita, diferentemente do Tawny, é um vinho elaborado a partir de uma só vindima e que passa, no mínimo, 7 anos em casco. Tem por isso um carácter muito próprio, que reflecte integralmente as características do ano em que nasceu. Recentemente, a legislação alterou-se e favoreceu muitos produtores que tinham vinhos em casa mas que não podiam declarar Colheita. Expliquemo-nos: até 2020, os lotes destinados a Colheita, e que só podiam ser comercializados após 7 anos de casco, tinham uma conta corrente própria para Colheita, onde a empresa ia dando baixa à medida que ia engarrafando. Por norma e tradição, cada empresa coloca uma certa quantidade no mercado com engarrafamentos anuais. É por esta razão que é sempre conveniente tomar em atenção a data indicada na garrafa. Se dizemos que há ainda 1937 no casco, podemos imaginar que existirão no mercado 30 ou 40 engarrafamentos diferentes do 37, feitos em anos diferentes e portanto, com diferentes idades de casco e diferentes características. Não restam dúvidas: o que foi engarrafado mais recentemente é incomparavelmente melhor do que o outro que, sendo da mesma Colheita, foi colocado na garrafa há 20 anos.

Porto Tawny art
Sem a arte manual do tanoeiro (aqui na Quinta do Noval) não haveria cascos e balseiros. E sem eles não haveria Porto.

A modificação que entretanto se operou na lei, permite que, desde que os produtores/empresas tenham vinhos de um determinado ano em conta corrente, possam engarrafar um Colheita. Deixa assim de haver uma conta específica para esta categoria o que, acredita Carlos Alves, vai fazer com que comece a surgir mais Porto Colheita no mercado.

A mais recente proposta de modificação (ainda não aprovada no Instituto do Vinho do Douro e do Porto à data da escrita deste trabalho) assenta na criação de duas novas categorias de Tawny: “50 anos” e “Very, Very Old” para tawnies com mais de 80 anos. Muito provavelmente, isso significará que os tawny 40 anos deixarão de exibir no rótulo “Over 40 years” ou “+ de 40 anos” como até aqui.

Independentemente, da categoria onde se insere, o Porto Tawny é um vinho que espelha, talvez como nenhum outro, o trabalho dos profissionais do sector, no Douro ou em Gaia, e o seu profundo conhecimento e talento. Uma arte, portanto.

Guardar e servir

Todos estes vinhos, independentemente da idade, correspondem a lotes com maior ou menor oxidação. Por essa razão estes vinhos não precisam de ser conservados deitados em nossas casas. O conselho básico é, assim, a conservação das garrafas ao alto. Nunca se deve esperar uma evidente evolução destes vinhos na garrafa. A evolução pode acontecer (nomeadamente o aparecimento daquele misterioso e difícil de definir “cheiro a garrafa”) mas o mais habitual é os vinhos perderem frescura e ficarem cansados com muitos anos de garrafa.

Todos estes vinhos são filtrados antes do engarrafamento, o que facilita o manuseamento da garrafa e não obriga a decantação prévia. No entanto há aqui dois casos a considerar: o gosto pessoal de ver um bom tawny num bonito decanter é razão mais que suficiente para se decantar o vinho; depois, caso a garrafa de tawny tenha já muitos anos (aquelas das heranças ou compradas em leilão) acabará sempre por gerar depósito no fundo da garrafa e por isso é conveniente, com muito cuidado, decantar previamente o vinho.

A indicação da data do engarrafamento que vem na garrafa é uma ajuda; deverá sempre comprar os engarrafamentos mais recentes. Mas atenção: ela só é obrigatória nos Colheita; nos outros tawnies pode, ou não, vir indicada.

A temperatura de serviço aconselhada é “ligeiramente refrescado” uma vez que a doçura e o álcool do vinho tende a torná-lo um pouco mais pesado. O melhor será colocar a garrafa no frio uma hora antes de servir. Se for para ir bebendo ao longo do serão, então um balde de água com algumas pedras de gelo será o suficiente para manter o Porto no seu ponto certo.

(Artigo publicado na edição de Janeiro 2022)

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Grande Prova – Quando Verde não é uma cor

Grande Prova Verdes

O Vinho Verde não é uma categoria de vinhos. Se antigamente o consumidor ainda tinha desculpa para fazer esta confusão, por falta de conhecimento ou de vinhos com grande impacto, hoje é imperdoável. O Vinho Verde é uma denominação de origem que coincide geograficamente com a região do Minho. E é, sem dúvida, uma grande […]

O Vinho Verde não é uma categoria de vinhos. Se antigamente o consumidor ainda tinha desculpa para fazer esta confusão, por falta de conhecimento ou de vinhos com grande impacto, hoje é imperdoável. O Vinho Verde é uma denominação de origem que coincide geograficamente com a região do Minho. E é, sem dúvida, uma grande região para vinhos brancos no nosso país.

Texto: Valéria Zeferino
Fotos: Ricardo Palma Veiga

A região dos Vinhos Verdes tem o seu perfil diferenciador marcado pelas condições climáticas vincadas e pelas castas pouco ou nada utilizadas noutras regiões do país (com excepção de Arinto). O enorme sucesso de marcas de volume como Casal Garcia, Gazela ou Gatão não podem justificar generalização, impedindo ver o potencial qualitativo e a diversidade da região. Pensar que todos os vinhos daquela zona são simples, levemente doces e gaseificados, é uma visão redutora. Os vinhos com carácter mais sério e ambicioso, sem comprometer o perfil marcadamente fresco da região, representam hoje, segundo o Presidente da Comissão Vitivinícola Regional dos Vinhos Verdes (CVRVV), Manuel Pinheiro, cerca de 20% da produção em termos quantitativos, mas elevam o padrão e a percepção da qualidade e de valor do Vinho Verde, como a expressão do seu território.

Marcos históricos

 A menção mais antiga ao Vinho Verde data de 1606, num documento passado pela Câmara do Porto. Vinho Verde foi uma das primeiras regiões a ser demarcada em 1908 e desde 1929 tem os seus contornos actuais. É uma das maiores regiões de Portugal em termos de área de produção, a seguir ao Douro e Alentejo, ocupando mais de 24 mil hectares (dados estatísticos do IVV a 31 de Julho de 2020). Em termos de produção é a quarta maior região a seguir ao Douro, Alentejo e Lisboa, produzindo 816 396 hl na campanha 2019/2020 o que corresponde a 13% de produção nacional.

Nos últimos quatro anos (sem contar com 2020) a presença no mercado nacional estava a crescer continuamente, atingindo em 2019 quase 21,5 milhões de litros o que corresponde a uma quota do mercado de quase 18%. É a segunda maior em volume a seguir ao Alentejo (com 37,6% do mercado) e em valor fica no terceiro lugar após Alentejo e Douro, ocupando 15,5% do mercado nacional, segundo a Nielsen.

O preço médio também foi crescendo nos últimos 4 anos e em 2019 ficou nos 4,86 euros por litro, ultrapassando regiões como Beiras, Beira Atlântico, Lisboa, Tejo e Península de Setúbal.

96,6% dos vinhos da região são vendidos como DOC e nesta vertente o Vinho Verde lidera no mercado nacional. Mais de 70% é vendido na distribuição, mas também tem uma presença interessante na restauração.

Ao contrário da realidade histórica, na região produz-se muito mais brancos do que tintos.  Segundo os dados estatísticos da CVRVV, em 2020, de vinhos tranquilos (DOC Vinho Verde + Regional Minho) foram produzidos quase 62,5 milhões de litros de vinho branco e apenas um pouco mais de 4 milhões de litros de vinho tinto. Nota-se uma tendência forte na produção de rosés que estão a crescer exponencialmente. Só nos últimos 10 anos o volume de produção aumentou de 1 milhão para mais de 7 milhões de litros.

Os vinhos monovarietais (DOC + Regional) de Loureiro representam uma quantidade significativa de mais de 3 750 000 de litros e de Alvarinho quase 3 150 000 de litros.

Em termos de exportação, os Vinhos Verdes estão presentes em mais de 100 países, dos quais os principais mercados são Estados Unidos, Alemanha, Brasil, Fança, Reino Unido, Polónia e Canadá. Nos últimos 5 anos a exportação subiu em volume e em valor, atingindo 31.173.338 litros e 73.805.245 euros.

Grande Prova VerdeDinâmica da região

 A região do Vinho Verde não só mudou drasticamente nos últimos anos, como está em constante mudança. É uma das regiões mais dinâmicas do país. Para isto existem vários factores, partilhados por Manuel Pinheiro. O principal é a viticultura que melhorou imenso. As formas antigas de condução, quando a vinha era alta, apoiada em tutores (árvores ou postes) e dispersa pelas bordaduras dos campos com outras culturas como o milho, a batata e a forragem para o gado, já não são praticadas. Ainda se podem encontrar vinhas de enforcado com videiras a trepar até 3-6 metros de altura, ou ramadas e latadas – que hoje representam um autêntico museu ao ar aberto. A vinha está a ser restruturada e reconvertida até 500 ha por ano, permitindo ter a matéria prima de óptima qualidade, mesmo em condições desafiantes. As castas mais utilizadas na reconversão são Loureiro, Alvarinho, Arinto e Avesso e entre castas tintas aposta-se mais no Vinhão. Outro factor decisivo tem sido a geração de novos enólogos e produtores que trouxeram uma grande ambição e conhecimento a nível de enologia.

Terceiro factor – atenção ao mercado e antecipação das tendências por parte dos produtores atentes ao feedback dos seus clientes nacionais e internacionais. Assim, em paralelo com vinhos de lote, começaram a produzir com bastante sucesso os vinhos monovarietais que mostram o carácter das castas da região. Os rosés do Vinho Verde são outro objectivo alcançado. A procura é tanta que neste momento não há vinho que chegue para a satisfazer. Segundo Manuel Pinheiro, a maior parte de vinhos produzidos na região, são brancos, representando 86-87%, mas os rosados em 2020 cresceram 32%.

O projecto mais recente promovido pela CVRVV consiste no desenvolvimento de uma estratégia de sustentabilidade que integrará os viticultores e produtores da região. Neste âmbito foi feito um acordo com a Agro.ges para efectuar um estudo de diagnóstico, com base no qual a CVRVV irá fazer acções de formação e apoio aos produtores para melhorarem a sua eficiência no uso de recursos.

Solos e climas

 A região do Vinho Verde situa-se no Noroeste de Portugal, o que se chamava antigamente entre Douro e Minho. A Oeste é naturalmente delimitada pelo oceano Atlântico, a Este confina com contrafortes de um maciço montanhoso constituído pelas Serras da Peneda, Gerês, Cabreira, Alvão, Marão, Montemuro entre outras. O rio Minho marca a sua fronteira Norte e o rio Douro a fronteira Sul. O seu relevo forma um anfiteatro exposto ao mar, recortado pelos vales e rios. Os ventos marítimos acabam por não encontrar grandes obstáculos, penetrando pelos vales orientados de Este para Oeste.

Tirando algumas excepções, quase todo o solo da região é formado pela agregação dos granitos. Em algumas partes o granito mistura-se com xisto e também há zonas de algum aluvião. Tem 9 sub-regiões, sendo Monção e Melgaço, a Nordeste a fazer fronteira com Espanha, a mais protegida da influência atlântica pelas cadeias montanhosas, com maior renome nacional e internacional, onde a casta Alvarinho goza (meritoriamente) um grande protagonismo. A sul de Monção e Melgaço fica a sub-região do Lima, dispondo-se na bacia hidrográfica do rio Lima, e está associada à casta Loureiro. A sub-região Cávado, Ave e Sousa esticam-se à volta dos rios com os mesmos nomes. A sub-região de Paiva ocupa a margem sul do rio Douro. Na parte interior fica a mais montanhosa sub-região de Basto. Mais a Sul continua a sub-região de Amarante, atravessada pelo rio Tâmega (afluente do Douro). Mais perto do Douro localiza-se a sub-região Baião – a terra da casta Avesso.

As alterações climáticas são uma realidade e já se sente o seu efeito na região. Antigamente, as geadas eram frequentes, agora acontecem cada vez menos, mas o excesso de insolação é outro problema. Com as alterações climáticas diminui a acidez e o grau sobe. O excesso de álcool não é positivo para os vinhos da região, que se têm afirmado como vinhos com uma frescura intrínseca e teor alcoólico moderado.

Nos Vinhos Verdes chove mais do que em Bordeux, mas a água é distribuída de maneira diferente. A chuva está concentrada nos meses de Outubro até Maio, chovendo muito pouco em Julho, Agosto e Setembro. As raízes normalmente não ultrapassam os 50-60 cm e nos solos bem porosos e nas encostas, a água vai logo para baixo, deixando as plantas em stress. Em certas zonas até a rega faz sentido, desde que seja feita com cuidado. Encostas franco-arenosas bem drenadas portam-se bem em anos mais chuvosos, mas quando chove pouco, é um problema. E ao contrário, nos anos muito secos o melhor resultado surge nos solos com maior capacidade de retenção de água.

Grande Prova VerdeCastas brancas de valor e personalidade

A casta mais plantada na região é Loureiro. Segundo dados estatísticos da CVRVV, lidera o top 15 de castas, ocupando mais de 4.000 ha. Foi conhecida como Loureira e mencionada pela primeira vez em 1790 em Melgaço e Vila Nova de Cerveira e só em 1875 na Ribeira do Lima, onde mais tarde encontrou a sua zona de eleição. No “Portugal Vinícola” de Cincinato da Costa, de 1900, também é chamada de Dourada e na altura já era cultivada nos concelhos de Arcos de Valdevez, Vila Nova da Cerveira, Ponte do Lima, Ponte da Barca, Melgaço, Monção, Caminha, Vila do Conde e Póvoa de Varzim.

Para além de produtividade elevada, é regular, dá muito rendimento em mosto. Gosta de solos profundos e de média fertilidade. Muito sensível ao sol e à seca, fica melhor mais perto da costa. Por isto adaptou-se bem ao vale do Lima. Sente-se bem em toda zona litoral da região.

É uma casta com elevada presença de compostos terpénicos livres (voláteis e facilmente perceptíveis) responsáveis pelos aromas florais. Os aromas característicos do Loureiro são acácia, flor de laranjeira, tília. Apresenta também aromas citrinos (lima, limão, laranja) e de folha de louro. Pode ter notas de maçã, pêssego e algum fruto tropical. De acordo com alguns estudos, apresenta a sua expressão máxima aromática depois da fermentação, mas também oferece nobreza de evolução. Anselmo Mendes considera que o Loureiro é muito mais aromático do que o Alvarinho e tem uma pureza de acidez a lembrar Riesling.

Segue-se Alvarinho, no segundo lugar, com 2.345 ha plantados. Casta ibérica por excelência, chamada de Albariño do outro lado da fronteira. Era praticamente exclusiva da sub-região Monção e Melgaço, ou seja, podia ser plantada noutras zonas da região, mas um rótulo não podia ostentar ao mesmo tempo o nome da casta Alvarinho e a denominação de origem Vinho Verde. Situação esta que muda definitivamente a partir da colheita deste ano de 2021 – o Vinho Verde Alvarinho pode ser produzido em qualquer parte da região.

Dá muito menos rendimento em mosto do que as outras castas. 65l de mosto de 100 kg de uvas (as outras castas, geralmente, dão 75l de mosto). É menos exuberante do que Loureiro, mas tem uma complexidade aromática extremamente interessante. Os seus aromas podem variar desde marmelo e pêssego, notas de fruta citrina (laranja, tangerina, toranja), fruta tropical (maracujá e por vezes, líchia). Notas florais de laranjeira de frutos secos (avelã, noz) também são comuns, podendo desenvolver nuances de mel com evolução. A sua composição aromática e perfil varia muito com a zona de plantação e abordagem enológica.

Tem uma boa acidez e bastante corpo, originando vinhos de grande longevidade. Anselmo Mendes vê o Alvarinho como uma casta que pode ser austera, mais redonda do que Loureiro.

O Arinto ocupa um pouco menos de 2.250 ha. É uma casta autóctone portuguesa, espalhada e apreciada em várias zonas do país, sendo a terceira mais plantada a nível nacional.

É popular também na região de Vinhos Verdes onde é conhecida como Pedernã, embora tenha muito menos protagonismo a nível varietal do que outras castas da região. Está bem presente em todas as sub-regiões com excepção de Monção e Melgaço, onde reina o Alvarinho.

Produz vinhos marcadamente citrinos, com notas de fruta branca (maçã e pêra) e ainda algumas notas florais a lembrar lantanas. Por vezes, pode desenvolver nuances de maracujá.

Para Anselmo Mendes é uma casta de outro mundo. Fica bem nas sub-regiões de Basto e Baião. Faz óptima parceria com Avesso, pois a acidez do Arinto é menos dura.

A Trajadura ocupa uma área com quase 980 ha. Não é das mais exigentes em termos de viticultura. Por um lado, tolera humidade no ar e no solo, por outro suporta, insolação. Adapta-se bem a qualquer tipo de poda e é bastante produtiva e regular. É utilizada sobretudo para lotes e o seu principal ponto fraco é a baixa acidez que pode levar ao desequilíbrio.

O enólogo e produtor António Sousa não vê a Trajadura numa vertente monovarietal. Se o Azal chega ao Verão com uma frescura fantástica, a Trajadura fica muito plana. Até pode ter aromas frescos, mas não tem frescura na boca. Falta-lhe alma, mas serve para “cortar” alguns Alvarinhos ou Loureiros demasiado intensos.

O Azal é plantado em quase 890 ha. É uma casta antiga mencionada desde 1790. Exclusiva da região Vinho Verde, e mesmo na região restringe-se a sub-regiões do interior, como Basto, Amarante, Baião e Sousa. É de ciclo longo, por isto precisa de solos secos e boa exposição, caso contrário não amadurece bem e fica excessivamente ácida. Anselmo Mendes aponta que é uma casta difícil na viticultura, “rebenta por todo o lado, obrigando fazer muita intervenção em verde”. Menos vista em vinhos varietais, antigamente só se usava em lotes, mas agora já se pode encontrá-la vinificada em estreme. Não tem um aroma muito intenso, mas transmite grande frescura com notas citrinas (limão) e de maçã verde.

Outra casta típica e exclusiva da região dos Vinhos Verdes é o Avesso. Presente em Amarante, Baião, Paiva e Sousa, com predominância na sub-região de Baião. Conhecida localmente como Borral, Bornal ou Borraçal branco, mas não tem sinonímias oficiais. Ocupa só 465 ha, mas é uma casta em ascensão. De viticultura difícil e de gostos contraditórios. Por um lado, tolera ambiente húmido, mas é muito sensível ao míldio, oídio e podridão cinzenta. Por outro, precisa de calor, mas facilmente apanha escaldão. António Sousa conhece viticultores que perderam 90% de produção desta casta por causa de escaldão. O sucesso e equilíbrio depende muito do sítio onde é plantada – precisa de zonas bem ventiladas, exposição a sul e alguma inclinação, terrenos secos e bem drenados. Virado para o Douro é onde se dá melhor, ali goza já um clima mais continental. Sensível a oxidação, não é uma casta intensamente aromática, fornecendo aromas de laranja, pêssego, notas amendoadas e leves florais. Precisa de algum tempo após a vinificação para potenciar os seus aromas.

É uma casta desafiante. Anselmo Mendes refere que o Avesso demonstra uma acidez quase metálica quando pouco maduro. Para António Sousa, Avesso transmite aos vinhos mais estrutura e por vezes, um toque amanteigado.

Algumas castas estrangeiras também estão presentes na região. Chardonnay e Sauvignon Blanc, por exemplo, já fazem parte dos top 15, mas são permitidas apenas para a produção de vinhos regionais.

Lotes e perfis

 Como atrás se disse, embora os varietais de Loureiro e Alvarinho, sobretudo, tenham vindo a crescer, a região dos Vinhos Verdes é feita de blends, misturas de vinhos de diferentes castas, com o objectivo de tirar o máximo partido de cada uma. A nossa Grande Prova deste mês assenta precisamente nesses blends. E estes são os principais:

Alvarinho e Trajadura – O seu casamento com Alvarinho é por conveniência, não é por amor. Quando não amadurece bem, tem muita acidez. Fernando Moura, para o Muralhas de Monção, por exemplo, usa o lote de 85% Alvarinho e 15% Trajadura. Como não é a casta mais aromática (maçã, pêra), neutraliza aromas do Alvarinho e não convém que ultrapasse 20% do lote, a menos que se procure outro estilo.

Alvarinho e Loureiro em proporções variadas, uma parceria de sucesso que alia a personalidade de duas grandes castas.

Alvarinho, Loureiro e Avesso, onde o Alvarinho confere corpo, solidez e estrutura, o Loureiro intensidade aromática e acidez e o Avesso acidez e mineralidade. A união de performance aromática das três castas traz complexidade.

O sucesso de um blend não se deve apenas à presença de Alvarinho. É como Cristiano Ronaldo, não precisa de jogar sempre para a equipa ganhar. O lote de Casa Grande Sant’Ana é de Azal, Avesso, Arinto e Alvarinho. No Singular, 45% do lote são vinhas velhas em conjunto com outras castas como Malvasia Fina, Avesso, Arinto, onde o Alvarinho está em minoria com apenas 8%. No San Joanne Terroir Mineral, o Alvarinho não entra de todo, tendo só Avesso e Loureiro e o Sem Igual é uma belíssima parceria de Azal e Arinto que resultou num vinho com muita personalidade.

A abordagem enológica varia em função da casta. A temperatura de fermentação é outro factor que pode influenciar o perfil do vinho. Para obter aromas imediatos, opta-se para conduzir fermentação alcoólica a baixas temperaturas (12-14ºC). Para potenciar aromas da casta e mais duradouros, as temperaturas preferem-se mais altas. O gás carbónico ainda é visto como um atributo de caracterização dos vinhos da região, mas há produtores que diminuem ou recusam a sua presença no vinho. Por outro lado, os vinhos são cada vez mais secos, sobretudo no mercado nacional. As operações como bâtonnage na cuba, fermentação ou eventualmente estágio em barricas também são feitas quando se procura um determinado perfil. Porque uma região não se resume apenas a um perfil de vinho. E na região dos Verdes, de enorme diversidade e potencial, os vinhos têm todas as cores, aromas e sabores.

Grande Prova Verde

(Artigo publicado na edição de Abril de 2021)

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GRANDE PROVA – Late Bottled Vintage

Late Bottled Vintage

Porto de excelência, gastos comedidos  Este é o Porto do nosso contentamento. E tem tudo para nos dar bons momentos: tem complexidade, é polivalente à mesa, tem uma excelente relação preço/prazer e ainda permite a conservação em cave para usufruto futuro. É caso para perguntar: o que querem mais?  Texto: João Paulo Martins Fotos: Ricardo […]

Porto de excelência, gastos comedidos

 Este é o Porto do nosso contentamento. E tem tudo para nos dar bons momentos: tem complexidade, é polivalente à mesa, tem uma excelente relação preço/prazer e ainda permite a conservação em cave para usufruto futuro. É caso para perguntar: o que querem mais?

 Texto: João Paulo Martins

Fotos: Ricardo Palma Veiga

 Esta é sempre uma prova que tem tanto de fácil e agradável como de difícil; fácil porque os vinhos têm uma qualidade muito elevada (como se pode ver pelas classificações), agradável porque estes são vinhos do Porto muito sedutores e atraentes, e difícil porque maioritariamente são vinhos muito parecidos entre si. Esta é também um tipo de prova em que, outro provador, outro nariz e com outra ideia sobre o que é e não é um LBV, originaria porventura algumas avaliações diferentes.

Valerá a pena explicar melhor. A dúvida, se se pode pôr a questão nestes termos, é entre dois perfis de LBV: um que tem muitos pontos de contacto com o “estilo vintage”, profundo, vigoroso e concentrado, e outro onde se sente um Porto mais redondo e amaciado pela madeira, menos complexo e mais pronto para ser bebido de imediato. Qualquer produtor pode fazer dos dois tipos, consoante o perfil da marca, e fazer um ou outro depende muito da matéria-prima e da forma como conservou o vinho durante o estágio. Se a guarda for em grandes cubas ou balseiros há uma menor oxidação e maior preservação da fruta e do vigor; estágios em pipas ou em depósitos de menores dimensões facilitam alguma oxidação e arredondamento do perfil.

A lei que regulamenta as categorias especiais do Vinho do Porto (datada de 1973) é clara: para ter direito à designação de LBV o vinho, de qualidade reconhecida, tem de ser engarrafado entre o 4º e o 6º ano após a vindima. Temos então um vinho que esteve mais tempo em casco do que o vintage – este tem de ser engarrafado entre o 2º e 3º ano – mas que tem com ele muitas similitudes: a concentração da cor, a tonalidade bem escura, quando não opaca, e o mesmo vigor aromático. Cabe então ao produtor “desenhar” o perfil de LBV de acordo com o estilo que se pretende. A verdade é que, cada vez com mais frequência, os produtores estão a fazer os engarrafamentos ao 4º ano, obtendo assim vinhos de grande expressão de fruta e muito robustos que é, dizem os enólogos com quem falámos, o que se pretende neste tipo de vinho.

Enquanto no Porto Vintage os vinhos não são intencionalmente filtrados antes do engarrafamento, nos LBV podem ser ou não, dependendo do estilo de cada marca e de cada casa. Os LBV filtrados – um dos exemplos, nesta prova, é o Graham’s  – são vinhos que já não irão ganhar depósito na garrafa, têm rolha bar-top (com tampa de plástico) e não requerem cuidados no manuseamento. São por excelência os vinhos do Porto do canal HORECA mas que também estão disponíveis no comércio tradicional. Alguns dos outros que não são filtrados trazem essa indicação no rótulo – Unfiltered – sugerindo assim que podem ganhar depósito com o tempo em garrafa. Estes, por norma, são os que melhor enfrentarão a cave. Falo aqui da cave porque estes vinhos ganham com o tempo de guarda.

Há alguns anos promovemos uma prova que procurava exemplificar o que agora afirmo e a conclusão foi bem interessante: só provámos vinhos LBV com idade entre os 10 e 15 anos e mostraram estar ainda com grande saúde. São boas indicações para os leitores.

Temos então perfis de vinhos para todos os gostos. Esta é uma categoria a ganhar cada vez mais adeptos, sobretudo nos mercados externos, para onde é canalizada a grande fatia da produção dos grandes grupos do sector. Repare-se: o grupo que integra a Taylor/Fonseca/Croft tem nos LBV um dos seus principais activos, representando cerca de 20% da facturação; produzem 1 600 000 garrafas/ano, com a Taylor’s a ter aqui uma quota importante; é de resto a marca de LBV mais vendida no mundo. A exportação absorve 95% da produção. Nos outros grandes grupos notamos também que a exportação é o destino da esmagadora maioria dos LBV’s que se produzem. O quantitativo do grupo Taylor é bem significativo porque quer a Sogevinus quer a Sogrape se situam no patamar das 200 000 garrafas/ano nas várias marcas que detêm e o grupo Symington anda pelo milhão de garrafas de LBV.

Os dados do IVDP confirmam que tem havido um crescimento do quantitativo de vinho certificado nesta categoria; é verdade que 2020 foi um ano atípico mas de 2017 a 2019 o crescimento teve algum significado e a quota do mercado interno também tem subido com consistência, situando-se nos 14% dos vinhos do Porto comercializados.

Late Bottled VintageUma história com estórias

A ideia de fazer um vinho que tivesse um estilo próximo do Vintage terá surgido no pós-guerra, quando era difícil vender vinho, o poder de compra era fraco, as exportações diminutas e o clima económico muito retraído. A aposta foi então criar um vinho que pudesse ter edição anual (ou quase) e que fosse mais competitivo em termos de preço. Ora, quando a legislação saiu, como dissemos em 1973, foi possível, dada a conta corrente que o IVDP dispunha de todos os stocks das firmas, autorizar na categoria LBV vinhos que por uma qualquer razão estivessem engarrafados e que cumprissem o requisito do “entre o 4º e o 6º ano”. É por essa razão que a Ramos Pinto tem um LBV dos anos 20, quando na altura a categoria nem sequer existia e a Burmester tem também um LBV de 1964. Aos poucos todas as casas foram percebendo que este era um negócio interessante porque não obrigava a tanto tempo de stock como os tawnies com indicação de idade e por isso havia um retorno mais célere do investimento. Hoje quase todos os produtores, grandes e pequenos, apostam nesta categoria embora, como é normal, as excepções também existam, como é o caso da marca Pintas, que não contempla a categoria LBV.

Em relação ao LBV 1964 da Burmester há uma pequena história curiosa: num curso de iniciação à prova de vinho do Porto, fiz questão de levar este LBV para as provas, um pouco para demonstrar que este não era o tipo de vinho mais aconselhável se queríamos conservar em cave por muitos anos. A minha ideia saiu furada porque, apesar de apresentar uma concentração muito ligeira e na cor ser apenas um “rosé um pouco mais carregado”, o que é certo é que, aromaticamente, estava tão bom que foi o Porto que os alunos mais apreciaram. Temos então como ideia a reter: a guarda é possível e em muitos casos desejável. Tudo com pouco investimento inicial, o que é factor a ter em linha de conta.

Neste momento existem já muitos vinhos da colheita de 2016 (os tais 4 anos a que a lei obriga) mas em prova tivemos igualmente muitos de 2015 (pode especular-se que por diminuição de vendas em 2020 e por isso os 2016 ainda não estão no mercado) e também de 2013. Segundo fonte do IVDP, destas três colheitas e até Dezembro de 2020 estão aprovados 79 rótulos para LBV. Seguramente que no final das contas este número subirá, e muito.

Late Bottled VintageOs destinos e a falta deles

Na resposta a esta pergunta temos um primeiro destinatário óbvio: o Reino Unido e, crescentemente, os Estados Unidos. Os portugueses ficam com uma quota de 14% do que se produz mas canadianos e dinamarqueses são também bons consumidores; são mercados seguros que não têm as mesmas oscilações que os mercados emergentes podem ter, como a Rússia, a China e em geral o Extremo Oriente. Os ingleses sempre tiveram uma atitude cerimoniosa com o Porto Vintage e o LBV procura dessacralizar o consumo e torná-lo mais despreocupado e possível em qualquer momento e não apenas a acompanhar o queijo Stilton.

Por cá não fazemos bem o trabalho que nos competia. A restauração não inclui por norma o Porto nos menus degustação e, mesmo que fosse um “mimo do Chefe”, tudo se teria a ganhar em oferecer um Porto no final da refeição mesmo que não tenha sido pedido e não seja incluído na conta. É uma forma barata de segurar a clientela e fazê-la voltar. Mas as empresas também pouco fazem pelo vinho e as promoções incidem sobre tawnies correntes que podem vender muito mas não acrescentam valor e não são atractivos para camadas mais jovens. Na própria região do Douro é lamentável o que se serve de Porto na restauração e como se serve. As poucas excepções não ajudam a melhorar o panorama geral que é muito desolador. Sabendo-se que um LBV se manterá de boa saúde cerca de um mês após a abertura, não há desculpas para não ser mais usado como complemento da refeição.

Que farei eu com este vinho?

É perante a prova que podemos decidir o que fazer com o vinho. Alguns dos mais vigorosos – como os que classifiquei com notas mais elevadas – podem ter uma dupla forma de consumo. A mais evidente é com o queijo seco no final da refeição. A tradição sugere o Stilton, queijo azul de leite de vaca, e os britânicos do sector do Vinho do Porto também seguem o mesmo padrão, a ver pela sobremesa que habitualmente se serve na Feitoria Inglesa, no Porto. É uma ligação feliz mas que pode ser usada em relação a outros queijos, sempre no registo de queijo seco. E se se quiser manter o queijo inglês, um bom Cheddar (não confundir com as versões baratas de supermercado de bairro) pode também ser perfeito companheiro, tal como será um queijo holandês Gouda Velho de 1000 dias de cura (Corte Inglés, Lisboa) e, claro, os nossos bons queijos secos, desde o Terrincho ao Serra muito curado. Uma proposta mais ousada – já tentada e comprovada – é a ligação destes LBV jovens e taninosos com um steak au poivre; a ligação espúria entre carne e um vinho doce pode ser ultrapassada porque a enorme quantidade de pimenta que o bife leva não facilita a ligação com qualquer outro tipo de vinho.

Num registo de sobremesas doces, a ligação pode ser feita com tartes de frutos vermelhos ou negros, gelados que sejam acompanhados de compotas de ameixas, mirtilos ou outros. E, claro, chocolate. Em qualquer caso o LBV, com a polivalência que apresenta, é sempre uma grande aposta a um preço muito interessante.

(Artigo publicado na edição de Janeiro 2021)

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Península de Setúbal – Mais tinto, por favor

Tintos Península Setúbal

Os tintos da Península de Setúbal estão cada vez melhores, não só pela qualidade absoluta que apresentam, mas porque combinam em sim dois factores que garantem sucesso nos mercados: complexidade e, em simultâneo, enorme harmonia, o que os faz apelar a um grande leque de consumidores. Texto: Mariana Lopes Fotos: Ricardo Palma Veiga  A região […]

Os tintos da Península de Setúbal estão cada vez melhores, não só pela qualidade absoluta que apresentam, mas porque combinam em sim dois factores que garantem sucesso nos mercados: complexidade e, em simultâneo, enorme harmonia, o que os faz apelar a um grande leque de consumidores.

Texto: Mariana Lopes
Fotos: Ricardo Palma Veiga

 A região da Península de Setúbal tem um nome que chama a atenção para o factor “peninsular”, mas nem só da Península é feita. De Almada e Sesimbra ao Montijo, e deste até Santiago do Cacém — passando, grosso modo, por Seixal, Barreiro, Moita, Setúbal, Alcochete, Palmela, Alcácer do Sal, Grândola e Sines — temos Indicação Geográfica Península de Setúbal, delimitando, assim, toda uma região de clima misto de influência atlântica, sub-tropical, mas com um forte cunho mediterrâneo, condicionado pelos rios Tejo, Sado, e pela Serra da Arrábida. Embora isto signifique uma extensão de terra nada pequena, com uva e vinho a serem produzidos um pouco por toda ela, há três polos que se afirmam por características climáticas e orográficas marcadamente díspares que influenciam de maneira diferente os vinhos que nascem num sítio ou no outro. Por um lado, temos a zona junto à Serra da Arrábida, de solos de maior relevo (com altitudes que variam entre os 100 e os 500 metros), predominantemente argilo-calcários, zona essa que vai desde o Cabo Espichel até aos montes de Palmela, incluindo Sesimbra e Setúbal. Origina, de modo geral, vinhos tintos com maior acidez, frescura e elegância, e menos álcool. Por outro, as famosas “areias de Palmela”, o que na verdade é uma simplificação das planícies de solos arenosos que se estendem sobretudo por este concelho e até ao limite Este do Montijo. Esta é a área com mais vinha plantada, maiores amplitudes térmicas, e onde reina a uva Castelão. Os vinhos tintos que lá nascem costumam ser mais estruturados, potentes e concentrados, pois as uvas apanham mais sol e mais calor e os solos são menos férteis, mais pobres. Apesar de muita gente ficar por aqui quando o assunto são os terroirs da Península de Setúbal, há obviamente um terceiro (sem desprezar os micro-terroirs dispersos), que vai de Tróia para Sul, até ao final de Santiago do Cacém, onde o clima é mais quente e seco, mas onde o Oceano Atlântico tem bastante influência, oferecendo frescura às noites. Aqui já se encontram algumas manchas de xisto. É certo que os dois primeiros são aquilo que podemos considerar como os terroirs mais clássicos da Península de Setúbal, albergando a maioria das também mais clássicas (ou mais antigas) empresas da região — como José Maria da Fonseca, Bacalhôa, Adega de Palmela, Adega de Pegões, Quinta do Piloto, Venâncio da Costa Lima, Horácio Simões ou SIVIPA, entre outros — mas o terceiro é também muito importante: inclui em si produtores mais pequenos, alguns relativamente recentes, a fazer um belo trabalho — falamos de Herdade da Arcebispa, Herdade da Barrosinha, Quinta Brejinho da Costa, Herdade do Cebolal, Monte da Carochinha ou Herdade do Portocarro, entre outros — e é a zona com mais espaço e potencial para brotarem novos projectos.

Tintos Península SetúbalUma região em afirmação

A área de vinha total, inscrita na Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS), está neste momento acima dos 7112 hectares e, segundo Henrique Soares, presidente da CVRPS, tem havido, nos últimos anos, um aumento da dimensão média das parcelas. Desta área de vinha, 75% é tinta, com a Castelão a representar quase metade do encepamento da região (mais de 3252 hectares), seguindo-se Syrah (473), Alicante Bouschet (309), Aragonez (289,55), Cabernet Sauvignon (258), Touriga Nacional (223), Trincadeira (163), Merlot (96), Touriga Franca (72), Moscatel Roxo (52,99), entre outras. Na última década, Syrah e Alicante Bouschet têm vindo a ser as tintas mais plantadas — provavelmente por serem uvas que permitem consistência nos factores rendimento/qualidade — bem como Moscatel Roxo, pela sua valorização. Já as Castelão, Aragonez e Trincadeira têm perdido expressão nos encepamentos, talvez por serem castas que, face a outras, não garantem tanta consistência face às variações climáticas anuais.

E se os vinhos da Península de Setúbal têm cada vez mais quota no mercado nacional (20 605 442 litros em 2020 face a 14 042 265 litros em 2016, apenas atrás do Alentejo, em volume), também é verdade que nos últimos dez anos a produção total da região aumentou em 166 278 hectolitros, dos 308 857 em 2011/12 para os 475 135 em 2020/21, com algumas oscilações pelo meio (dados de Abril de 2021, do Instituto da Vinha e do Vinho). No entanto, é bem mais impressionante o aumento da produção DO (Setúbal + Palmela) no mesmo período, tendo passado dos 86 072 hectolitros para os 207 283, incrementada sobretudo pelo crescimento da produção DO Palmela. A evolução da IG Península de Setúbal foi igualmente positiva, em 2020/21 com 228 548 hectolitros, face a 157 851 em 2011/12.

As exportações para o mercado intra-comunitário têm também registado um aumento anual, tanto em volume como em valor, fixando-se em 2020 nos 1 641 363 litros e acima dos 6 milhões de euros, com a Polónia, os Países Baixos e o Luxemburgo à cabeça da lista dos maiores importadores de vinho da Península de Setúbal. Já a exportação para países terceiros, alavancada pelo Brasil (sobretudo), Canadá e Reino Unido, foi de 4 534 976 litros em 2020, o que correspondeu a mais de 12 milhões de euros.

Vinhos que fazem sonhar

Nesta Grande Prova brilharam tintos de vários “cantos” da Península de Setúbal. À data de escrita do texto (durante a vindima) não foi fácil falar com os responsáveis pelos vinhos mais bem pontuados, mas todos acabaram por dedicar algum tempo à causa, o que muito agradecemos. António Saramago tem mais de 50 anos de enologia e é um dos maiores advogados da uva Castelão (todos os vinhos do seu portfólio a incluem), que integra em 100% o tinto António Saramago Superior. “Não é uma casta fácil de trabalhar, mas eu gosto de coisas difíceis. Para sair bem, temos de dar tudo de nós. Na minha opinião, os grandes vinhos da região serão sempre Castelão, é a nossa identidade e não podemos fugir dela!”, afirmou. Este vinho foi feito numa cuba pequena e estagiou em barrica nova, de tosta média, durante 18 meses. Depois, ficou em cuba mais 6 e, em garrafa, mais de 4 anos. Vasco Penha Garcia, coordenador de enologia da Bacalhôa, é da opinião de que se encontra o maior equilíbrio nos solos de transição franco-arenosos. E é precisamente na zona de transição das colinas da Arrábida — com forte influência do mar, maiores amplitudes térmicas durante o período de maturação e exposição Norte — que estão localizadas as vinhas da Quinta da Bacalhôa, zona que o enólogo acredita ser “capaz de produzir vinhos de Cabernet Sauvignon, e Merlot, de classe mundial”. O Quinta da Bacalhôa Cabernet Sauvignon 2016 é, na sua opinião “das melhores colheitas desta marca que existe desde 1979”. Com 10% de Merlot, foi sujeito a macerações longas, fermentativas e pós-fermentativas, e a um estágio de 13 meses em carvalho francês e de 6 em garrafa. Já o Hexagon teve a sua primeira colheita em 2000 e, segundo Domingos Soares Franco, vice-presidente e enólogo da José Maria da Fonseca, “foi um produto de experimentação de castas e da sua longevidade, que demorou 12 anos a apurar”. Domingos contou: “Quis fazer um desafio a mim próprio, um vinho com 8 castas, mas não saiu como eu queria. Deitei uma fora, Castelão, ficaram 7, e mesmo assim não deu. Deitei outra fora, o Aragonez, ficaram 6 e cheguei ao resultado pretendido. É por isso que o vinho se chama Hexagon, e não por sermos a sexta geração da família, como por vezes é interpretado. Este 2015 é já muito diferente dos primeiros, porque nós, enquanto pessoas, também vamos evoluindo com os anos. Hoje é um vinho com menos madeira, menos álcool e mais elegância, que é actualmente o meu conceito de vinhos”. O lote de Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinto Cão, Trincadeira, Syrah e Tannat — provenientes de solos arenosos e calcários, pois Domingos considera que é na mistura dos dois que está o maior equilíbrio — vinificou em lagar de inox e acabou a fermentação em barricas de carvalho, onde ficou em borras finas durante 3 meses, com bâtonnage. O estágio deu-se durante 10 meses em meias pipas novas de carvalho francês.

Já o Quinta do Monte Alegre Homenagem Grande Reserva é feito por André Santos Pereira, e revelou-se uma excelente surpresa. Também fã de Castelão — com uma queda mais recente para a Touriga Nacional, confessou o enólogo — considera que um dos factores mais importantes dos vinhos da casta é, quando muito bons, a grande capacidade de envelhecimento em garrafa. “Este vinho reflecte o nosso propósito de homenagear as vinhas velhas de Castelão que ainda persistem, muitas vezes por mera teimosia de quem as cuida e pelo afecto que se cria ao longo dos anos. É um vinho de uma vinha só, plantada pelo meu avô há cerca de 45 anos, em chão de areia e com produções baixíssimas.”, explicou. Fermentou em lagar de inox “com remontagens manuais durante quase toda a fermentação, recriando a vinificação tradicional, mas com recurso a controlo de temperatura”. Depois da maceração pós-fermentativa, terminou a maloláctica em barricas novas e nelas estagiou por 12 meses. Em garrafa, ficou 24 meses antes de sair para o mercado. Por sua vez, Jaime Quendera, enólogo consultor da Casa Ermelinda Freitas (e da Adega de Pegões), aponta a abundância de horas de sol e a proximidade ao mar como dois trunfos que fazem maravilhas pelos tintos da região, “juntamente com a tradição e ‘saber fazer’ existente na Península de Setúbal, que leva à produção de uvas de grande qualidade e, consequentemente, a vinhos de grande qualidade “. O tinto Dona Ermelinda Grande Reserva “surgiu da ideia de fazer um grande vinho, produzido apenas nos melhores anos, mas sem Castelão, para não conflituar com o outro topo de gama da casa, o Leo d’Honor, que é feito exclusivamente com esta casta”, lembrou Jaime Quendera. Assim, surgiu um lote de Touriga Nacional, Touriga Franca, Aragonez, Trincadeira, Cabernet Sauvignon e Syrah, vinificadas e estagiadas (em barrricas) separadamente. Por último, mas não em último lugar, Luís Mota Capitão, enólogo e cara actual da Herdade do Cebolal, falou-nos do Lufinha 100/10, um tinto com muita personalidade. Devido à localização da Herdade, na zona Sul da região, em Santiago do Cacém, Luís elege não só a Castelão como sua favorita, “a casta-mãe da região com provas dadas nas últimas gerações”, mas também Alicante Bouschet, que diz ser “ideal para a região da ‘Costa Alentejana’, onde encontramos uma maior diversidade de solos e climas, que favorecem as maturações fenólicas”. A vinha que dá origem a este tinto encontra-se a 9 quilómetros da praia de Porto Covo, em solos argilo-calcários e argilo-xistosos proporcionados pela “proximidade da Serra de Santiago do Cacém e da Serra do Cercal”. O nome do vinho, Lufinha 100/10, suscita curiosidade e tem uma explicação bem interessante: “Este vinho vem fazer a ponte entre passado e presente: o 100 representa o centenário do nascimento do meu avô, António Lufinha, e o 10 refere-se aos meus 10 anos de vitivinicultura. O símbolo labiríntico circular, presente no rótulo, é uma alusão à Pedra de Lufinha, testemunho neolítico encontrado na Serra do Caramulo. Associamos esta pedra à parte holística da nossa família e à filosofia do nosso trabalho agrícola”, desenvolveu o enólogo. As castas plantadas pelo avô António — Castelão, Alicante Bouschet, Aragonez e Cabernet Sauvignon — vinificaram em lagares antigos com pisa tradicional, e estagiaram durante 42 meses em barricas de carvalho francês.

Quase 30 tintos da Península de Setúbal foram aqui provados e confrontados, e, a par da tipicidade de cada um e das diferentes origens, há um denominador comum à maioria: são tintos complexos, estruturados e acima de tudo muito harmoniosos e suculentos, com o poder de nos deixar a pedir… “mais tinto, por favor”.

(Artigo publicado na edição de Outubro 2021)[/vc_column_text][vc_column_text]

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Grande Prova – Bairrada Região de brancos, yes sir!

Grande Prova Bairrada

Estrutura, personalidade, equilíbrio, enorme longevidade. São (também) estas as características dos vinhos que fazem da Bairrada uma grande região de brancos. Mas há muito mais para dizer sobre isso… TEXTO Mariana Lopes FOTOS Ricardo Palma Veiga A percepção da maioria dos consumidores é de que a Bairrada é uma região de grandes tintos — sobretudo […]

Estrutura, personalidade, equilíbrio, enorme longevidade. São (também) estas as características dos vinhos que fazem da Bairrada uma grande região de brancos. Mas há muito mais para dizer sobre isso…

TEXTO Mariana Lopes
FOTOS Ricardo Palma Veiga

A percepção da maioria dos consumidores é de que a Bairrada é uma região de grandes tintos — sobretudo Baga — e de grandes espumantes. E é, quanto a isso, nada a acrescentar. Mas os brancos… os brancos são qualquer coisa de muito especial. Embora a desvalorização dos brancos face aos tintos atravesse todo o país, quem está do lado da produção na Bairrada sabe bem que é mais difícil ou, pelo menos, mais irregular, atingir a magnificência nos tintos, mesmo tendo as uvas tintas ainda bastante mais encepamento, actualmente na ordem dos 63% (as brancas têm vindo a ganhar terreno, mas sem pressas). E isso deve-se à fragilidade e temperamento da casta Baga, que amadurece tarde e está dependente de condições de solo, exposição solar e clima quase perfeitas e muito específicas para aportar todo o seu esplendor. Já as principais uvas brancas utilizadas na Bairrada oferecem uma (con)sensualidade que é, aqui, difícil de bater.

Por ordem decrescente de encepamento, Maria Gomes, Arinto, Sauvignon Blanc, Bical e Cercial são as uvas que integram com mais frequência os brancos da Bairrada, a solo ou em lote, grupo onde ocasionalmente se insere a Viognier e a Chardonnay, esta também tradicional na região, mas muito vocacionada para espumantes. Segundo os últimos dados da Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB), Sauvignon Blanc e Arinto têm vindo a ganhar expressão — esta última, fruto da sua utilização em bases de espumante — bem como a Cercial, embora mais tranquilamente. Já a Bical tem revelado, infelizmente, um decréscimo nos vinhedos. Muito relevante para a caracterização da região é o facto de, nos anos 60 e 70, as uvas brancas terem sido quase exclusivamente plantadas na Bairrada em “field blend”, misturadas na vinha entre as tintas, acima de tudo para dar estrutura e elevar o álcool dos tintos. Isto foi, sem dúvida, um factor que influenciou largamente a interpretação da Bairrada como região tradicionalmente de tintos. Segundo Pedro Soares, presidente da CVB, vinificar as brancas em separado era, nesta altura, residual, e muitos dos vinhos brancos que se elaboravam tinham como destino a produção de espumante. “Há não muito tempo, na Bairrada, dizia-se que o branco era ‘aquele vinho que se bebe quando não há tinto’.”, lembra, e acrescenta que “por outro lado, algumas das marcas de referência de vinhos tintos do país eram precisamente de casas bairradinas, e mesmo outras, de fora da região, vinham aqui adquirir vinho a granel que engarrafavam com a sua própria marca”.

Grande Prova BairradaCom dois tipos de solo principais, argilo-calcários e franco-arenosos, verticalmente a Bairrada começa em Águeda e acaba em Coimbra, estende-se desde a linha costeira para o interior, até às serras do Buçaco e do Caramulo. Região de minifúndio, a sua dimensão média de vinha bate apenas no meio hectare, em parcelas dispersas, que vivem sob um clima atlântico temperado, com Invernos frios e chuvosos e Verões moderadamente quentes, suavizados pelos ventos vindos do mar e pelas grandes amplitudes térmicas, sendo muito frequentes as noites frescas. É uma região sem barreiras orográficas a oeste, o que estende “passadeira vermelha” à forte influência marítima, que por isso se sente em toda a região e que até a nível visual é possível de verificar: é muito característica a imagem mística (e misteriosa) das vinhas bairradinas, sobretudo na zona de Cantanhede, com um manto de nevoeiro matinal vindo do mar. Tudo isto influencia o DNA dos brancos da Bairrada e lhes dá uma personalidade altamente vincada, provando que as condições para a criação de brancos de topo estiveram sempre lá. Mas o que constituiu o pontapé de saída que nos trouxe até eles? Pedro Soares refere que “terá sido decisivo um quadro comunitário que permitiu investimentos em tecnologia, o replantio de vinhas exclusivamente para uvas brancas e, não menos importante, o nível dos recursos humanos. Algo que não correu tão bem assim para as uvas tintas, acabou por ser determinante para a qualidade das brancas e, consequentemente, para os vinhos”.

Quem sabe, sabe…

 Os 24 vinhos desta Grande Prova atestam tudo isto, e ao conversar com quem “suja as mãos” e os produz, ficamos a perceber ainda melhor de onde vem a excelência em tons de branco. Luís Pato sempre afirmou, peremptoriamente, que a Bairrada é uma região de grandes brancos. “Quando se tem uma acidez natural excelente, solos argilo-calcários e arenosos, e noites frias mesmo em Agosto, altura em que chega a haver uma diferença de 20 graus do dia para a noite…”, comenta o produtor. Pedro Guilherme Andrade, enólogo criador em nome próprio do vinho Trabuca, reforça, referindo que estes mesmos factores aliam “o poder e o volume dos vinhos à frescura natural”. Já António Braga, enólogo da Sogrape e autor do Série Ímpar Sercialinho, também aponta as amplitudes térmicas como essenciais e explica que “a componente argilo-calcária assegura um equilíbrio entre a retenção de água e a estrutura do solo” e que “estas condições promovem um ciclo de maturação longo, uma boa preservação de acidez e a construção de uma dimensão aromática ao nível das grandes regiões de vinho branco do Mundo”. Por sua vez, João Póvoa, produtor dos vinhos Kompassus (aqui com o estrondoso Private Collection 2016), indica exactamente os mesmos argumentos dos enólogos e acrescenta as manhãs bem frescas que se fazem sentir na Bairrada, especificamente na região de Cantanhede, onde estão as suas vinhas: “Cantanhede está muito perto de Coimbra, mas a temperatura é cerca de 3 graus mais baixa do que nesta cidade. Além disso, desde 2017, ano em que os incêndios destruíram a barreira de pinhal que tínhamos entre esta zona e a costa, que temos manhãs ainda mais frescas e com ainda mais nevoeiro vindo do mar”. Quanto à extraordinária capacidade que os brancos da Bairrada têm em perdurar no tempo e em envelhecer com enorme classe em garrafa — algo demonstrado pelos vinhos em prova mas, ainda de forma mais flagrante, pelos brancos com várias décadas de idade de grandes casas da Bairrada, como os das Caves S. João, por exemplo — António Braga esclarece o segredo reside na estrutura ácida e recorda que “a vinificação historicamente utilizada, uma vez sendo mais extractiva, promove uma componente fenólica que, ao longo do envelhecimento, se mostra indispensável como elemento estruturante”.

Outro denominador comum nestes vinhos, e factor altamente diferenciador, é o álcool moderado que apresentam. Frequentemente, noutras regiões mais quentes do país, obter um grau alcóolico mais baixo e maior acidez significa colher as uvas mais cedo, o que pode retirar outros componentes importantes como a estrutura e a complexidade aromática, ou seja, os melhores vinhos dessas regiões não têm necessariamente o álcool mais baixo. Na Bairrada, consegue-se o “melhor de dois mundos”, com a maior parte destes grandes brancos a ostentar números na ordem dos 12%/12,5%/13%. Todos os produtores e enólogos com quem falámos referem a maturação longa e suave, conseguida pelo binómio solo/clima, como a grande “culpada”, e Pedro Andrade desenvolve: “Na Bairrada, fazendo um bom controlo da uva na vinha, não somos surpreendidos tão facilmente como em outras regiões, onde, de um dia para o outro, o grau alcoólico provável dispara e consequentemente a acidez total baixa. Neste capítulo conseguimos naturalmente arranjar um excelente equilíbrio grau/acidez, o que faz com que os vinhos brancos da região sejam únicos nesse aspecto”. Em linguagem mais técnica, António Braga explica que, na Bairrada, “a curva de acumulação de açúcares apresenta um desfasamento com o surgimento dos precursores aromáticos e, dessa forma, consegue-se alcançar um perfil de maior expressão com um álcool potencial relativamente baixo e equilibrado”.

Grande Prova BairradaVinhos de classe mundial

Arinto e Cercial é o lote do Kompassus Private Collection branco 2016, o vinho vencedor desta Grande Prova. João Póvoa, que admite ter a Cercial como sua paixão, conta que este vinho nasce de vindima manual com escolha de cachos, desengace, e maceração na prensa de 8 a 12 horas. Depois, é feita uma leve prensagem e a Arinto faz a primeira fermentação em inox, acabando em barricas novas de 400 litros. Já a Cercial, fermenta totalmente em barrica usada. Ambos os vinhos permanecem 10 meses nas barricas e juntam-se apenas 10 dias antes do engarrafamento. O lote finaliza com estágio de 4 anos em garrafa. “Estamos cada vez mais a aumentar o formato das barricas dos brancos. Começámos com 300 litros, passámos pelos 400 e, em breve, iremos para os 600, sempre com tosta ligeira, para obter uma evolução ainda mais lenta no vinho”, adianta João Póvoa.

O Série Ímpar Sercialinho, da Sogrape (segundo mais bem classificado, ao lado do Trabuca), surgiu de um desafio que o presidente da empresa, Fernando Cunha Guedes, fez à sua equipa de enologia, pedindo-lhe que desse largas à criatividade e explorasse novos caminhos, regiões e castas, para fazer vinhos originais. “Para mim, foi o pretexto ideal para vinificar separadamente o quase extinto Sercialinho, plantado na nossa vinha de Pedralvites”, confessa António Braga. Esta casta é actualmente rara e, que se saiba, apenas a Sogrape e Luís Pato a detêm nas suas vinhas, na Bairrada. “Sercialinho, pela originalidade que representa no encepamento nacional, pareceu-me a escolha óbvia para voltar a incluir a Bairrada na ‘rota’ da Sogrape, sobretudo alavancada por um projecto altamente motivador como é a Série Ímpar. Esta é uma casta proveniente de um cruzamento feito pelo Eng. Leão Ferreira de Almeida nos anos 50. Em termos vitícolas, apresenta algumas dificuldades, como sensibilidade a doenças fúngicas e alta sensibilidade ao stress térmico. Na adega, tem uma componente aromática escondida e tensa, sobretudo enquanto vinho jovem, evoluindo mais tarde para uma complexidade difícil de igualar”, afirma o enólogo da Sogrape. O Série Ímpar Sercialinho 2017 fermentou e estagiou em barricas de 500 litros, com bâtonnage.

Pedro Andrade tem a Bical como uma das suas castas favoritas para brancos e foi essa que elegeu para criar um vinho que, segundo o próprio, tem o objectivo de recriar um branco de 1980 feito pelo seu avô, um vinho ”com bom volume de boca, uma persistência incrível e uma frescura inigualável”. O Trabuca Bical 2018 — do qual nasceram apenas 450 garrafas de 0,75cl (mais 30 Magnum) — vinifica em lagar aberto, sem desengace, com pisa a pé, e fermenta cerca de 6 dias no lagar antes de ir para depósito em inox, onde estagia durante o Inverno. Na Primavera, é trasfegado para barricas de 225 litros de carvalho francês, novas e usadas, onde fica durante 6 meses. E a parte mais original é que, depois disso, o vinho volta para o inox e lá passa mais um Inverno e Primavera, sendo engarrafado no início do Verão. O estágio em garrafa é de 12 meses. “A minha tendência é usar cada vez menos madeira nos vinhos, no entanto, todos os grandes brancos do Mundo passam em madeira. Temos de arranjar o equilíbrio necessário, para que, ao invés do que o que provamos seja adulterado pelo excesso de madeira, ela apenas confira complexidade e elegância”, expõe Pedro Andrade.

Havendo mais espaço, a vontade era falar ao pormenor sobre os 24 excelentes vinhos que aqui temos. Não sendo possível, resta dizer que quem pisa as terras bairradinas, quer seja porque lá nasceu ou porque foi para lá fazer vinho, sabe bem do que a região é capaz: brancos eternos, inesquecíveis, únicos. Nós também sabemos. Agora, só falta o Mundo saber.

(Artigo publicado na edição de Setembro 2021)

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