Dalva também é nome de aguardente

dalva aguardente

A C. da Silva é uma empresa de Vinho do Porto que hoje integra o grupo Granvinhos. A fundação remonta a 1933, quando Clemente da Silva regressou do Brasil e fundou a empresa, beneficiando dos stocks de uma outra, velha e entretanto extinta empresa de Porto, a Corrêa Ribeiro & Filhos, com carácter familiar e […]

A C. da Silva é uma empresa de Vinho do Porto que hoje integra o grupo Granvinhos. A fundação remonta a 1933, quando Clemente da Silva regressou do Brasil e fundou a empresa, beneficiando dos stocks de uma outra, velha e entretanto extinta empresa de Porto, a Corrêa Ribeiro & Filhos, com carácter familiar e ligada à sua mulher, cuja origem remontava a 1862. Foi possível, assim, criar os stocks para se arrancar com o negócio.
A marca Dalva, que resulta da contracção de “da Silva”, foi então criada e tornou-se o nome emblemático da casa. A empresa C. da Silva, inicialmente apenas ligada ao Vinho do Porto, expandiu os negócios para os cinco continentes, onde ainda hoje marca presença, com grande foco na distribuição. Tal como outras empresas do Douro, chegou também a ter marcas no Dão, ainda que não fosse lá produtora.
Desde a fundação da casa que o negócio de brandy se estendeu a zonas tão longínquas como Nova Zelândia e Austrália. Marcas como Dalva, C. da Silva, Saint Clair ou The Douro Fathers eram famosas, e o Dalva Brandy Extra Special circulava, via importador americano, entre as tropas daquele país durante a segunda guerra mundial.
Tradição também das empresas de Porto eram as aguardentes que envelheciam em cascos de Vinho do Porto. Tinham acesso fácil à aguardente e os cascos não faltavam. O negócio, no entanto, decresceu muito nas últimas décadas.
Hoje bebem-se menos espirituosos, mas estes renasceram recentemente sob a forma de produtos de grande prestígio, com preço condicente com a vetusta idade que muitos têm. Foi assim que várias casas voltaram a interessar-se pelo negócio, colocando, no mercado, espirituosos com 30 e mais anos – como é o caso deste – com uma enorme qualidade e preço equilibrado, sobretudo se comparado com os das suas congéneres de Cognac com a mesma idade.
Fazer uma boa aguardente velha é uma arte. É feita de paciência e tempo, enquanto se espera que o longo estágio em casco faça a sua parte, harmonizando tudo e conferindo complexidade, aquilo que mais se aprecia. Cascos de diferente capacidade, loteamento de aguardentes de idades diversas e lento desdobramento são tarefas que exigem bom nariz e acompanhamento permanente. Deste lote engarrafaram-se 1000 garrafas em 2021 e o stock existente permitirá novos lançamentos nas próximas décadas. Além do mercado interno, a C. da Silva tem, como principais destinos de espirituosos, a Coreia do Sul, França e Bélgica.

(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2024)

Márcio Lopes: Finos aromas do Norte

márcio Lopes

Os tempos em que tinha dificuldade em encontrar fornecedores de uva já lá vão. Mais longe ainda está a época em que, vivendo no Porto e estudando na universidade, fugia para o campo, mais propriamente para o Vale do Sousa, para ir ter com familiares próximos nesse território não muito distante, de onde hoje produz […]

Os tempos em que tinha dificuldade em encontrar fornecedores de uva já lá vão. Mais longe ainda está a época em que, vivendo no Porto e estudando na universidade, fugia para o campo, mais propriamente para o Vale do Sousa, para ir ter com familiares próximos nesse território não muito distante, de onde hoje produz alguns brancos.
Actualmente, Márcio Lopes controla e recebe uva de mais de cinco dezenas de viticultores, divididos nas duas regiões em que mais labora, a dos Vinhos Verdes e a do Douro (mantém ainda um pequeno projecto na ribeira Sacra, em Espanha). São 50 viticultores e 200 parcelas diferentes de vinha, muita dela velha, uma das suas paixões, entre brancas e tintas.
No total, falamos de 250 mil garrafas, o que já é obra! Para alguns, Márcio está sobretudo ligado aos brancos e, em especial, ao Vinho Verde, o que se explica por aí ter estagiado inicialmente. Mas o encanto pelos tintos também foi começou cedo, inclusivamente pelo vinho do Porto, dado que se lembra de, bem jovem, ter tido muitas vezes contacto com este néctar em dias de festas familiares.
Depois de um começo com vindimas em Melgaço, e de uma experiência na Austrália, Márcio Lopes instalou-se em nome próprio e apresentou várias marcas suas, precisamente dos Vinhos Verdes e do Douro. Já lá vão quase 15 anos e mais de duas dezenas de referências, entre tintos e brancos (e claretes), de pet nat até Porto Vintage.

Márcio Lopes

Vinhos imperdíveis
A vida passa num instante, como é sabido, e a operação de Márcio entrou, assim, em velocidade de cruzeiro, etapa determinante para qualquer projecto que se quer rentável, mantendo autenticidade e carácter e, pelo meio, fazendo novos lançamentos que mantêm a chama do consumidor bem acesa. Tudo isto mostrou Márcio Lopes em visita recente à capital, onde deu a conhecer vinhos do segmento premium e ultra-premium das colheitas 2021 e 2022 (e um de 2020), todos de muito curta tiragem e, por isso, bastante exclusivos.
Por mais que muita água (ou deveria escrever vinho) já tenha passado pela ponte da vida de Márcio, algumas coisas praticamente não mudaram: a sua modéstia, o tom sério com que fala e evita descrever os seus vinhos, mas sobretudo a dificuldade em largar o Norte, o seu pedaço do nosso País. Até por isso, estar com ele numa das poucas vezes em que vem a Lisboa é uma oportunidade a não perder! Foi o caso, tanto mais que provámos uma novidade absoluta, na forma de um belíssimo exercício de enologia a partir, ora bem, da casta Alvarinho e da sub-região Monção e Melgaço, de nome Viagem ao Princípio do Mundo.
Quanto aos novos lançamentos de marcas que já conhecemos, provámos os Pequenos Rebentos Vinhas Velhas (que já leva sete edições desde o respectivo surgimento) e o Permitido (que tem um irmão, o Proibido, com várias declinações em diferentes vinhas) e ainda a edição de 2021 do incrível Pequenos Rebentos Selvagem, um 100% Azal que, mais uma vez, resulta de uma vinha em sistema “de enforcado” (em que a vinha cresce pelas árvores e junto a muros, atingindo vários metros em altura), com quase 90 anos em Amarante. Vinhos imperdíveis…

(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2024)

GRANDE PROVA TINTOS DE SYRAH

Grande Prova Syrah

Independentemente dos mitos que rodeiam a sua origem, o pedigree da Syrah é francês. Os estudos genéticos apontam para o Norte do Ródano como o berço da casta. É filha de uma variedade tinta Dureza (pai) e de uma branca Mondeuse Blanche (mãe). Na sua melhor expressão, os vinhos de Syrah são densos, ricos, plenos […]

Independentemente dos mitos que rodeiam a sua origem, o pedigree da Syrah é francês. Os estudos genéticos apontam para o Norte do Ródano como o berço da casta. É filha de uma variedade tinta Dureza (pai) e de uma branca Mondeuse Blanche (mãe).
Na sua melhor expressão, os vinhos de Syrah são densos, ricos, plenos na fruta e texturados em boca, com o corte perfeito de acidez, que equilibra a sua força. É uma casta naturalmente complexa. Para além de saber brilhar sozinha, é uma grande parceira nos lotes, onde contribui com estrutura, taninos e complexidade.
Poucas castas podem gabar-se de uma amplitude aromática tão grande. A sua impressão digital inclui especiaria pujante a lembrar pimenta preta, conferida pelo sesquiterpeno rotundona, um intenso composto aromático. A fruta varia de framboesa e cereja para amora e mirtilo. Pode apresentar notas florais, mentol, eucalipto, folha de chá. Nuances como grafite e algum alcatrão trazem uma dimensão extra. Os precursores tiólicos que a casta tem, por vezes traduzem-se nos aromas de carne fumada. O couro surge frequentemente com a evolução em garrafa.

Retrospectiva

A Syrah teve uma vida longa fora das luzes da ribalta. Nos finais do século XVIII e início do século XIX, os vinhos Syrah de Hermitage entravam nos lotes dos châteaux de Bordéus para mitigar a falta de corpo e estrutura. Estes vinhos chamavam-se “Bordeaux Hermitagé” e eram bastante apreciados na altura (até existe um certo revivalismo nos tempos actuais).
A Syrah chegou à Austrália em 1832, levada por James Busby, considerado o pai da viticultura australiana, que trouxe garfos do Vale do Ródano. E o sucesso também não foi imediato. Durante muitas décadas a casta foi usada para produzir vinhos de mesa baratos, fortificados e mais tarde espumantes (Sparkling Shiraz). A Penfolds mudou este paradigma a partir dos meados do século passado, quando criou o Grange, oferecendo, ao mercado, poderosos e encorpados vinhos que trouxeram a fama aos Shiraz australianos. Mas foi preciso chegar aos anos 80 para assistir ao boom da Shiraz, quando Barossa Valley se tornou uma moda, primeiro em Inglaterra e depois na Europa. Ao mesmo tempo, Robert Parker atribuiu 100 pontos a alguns vinhos de Côte-Rotie e Hermitage; e a crítica especializada começou a dar atenção a casta.
Até o final do século XX, a variedade era cultivada principalmente no Vale do Ródano e na Austrália. Hoje, das castas tintas destinadas exclusivamente à produção de vinho, a Syrah é a quarta mais plantada a nível mundial, a seguir a Cabernet Sauvignon, Merlot e Tempranillo, ocupando uma área de 190 000 ha. É também uma grande viajante, uma das três castas mais espalhadas pelos diferentes cantos do mundo a seguir a Chardonnay e Merlot, estando presente em 31 países (OIV 2017).
Os países com maior presença de Syrah são a França com 64 000 ha, Austrália com 40 000 ha (onde é o líder absoluto em termos de plantação, ocupando quase 27%), Espanha com 20 000 ha (na viragem do século nem chegava a 100 ha), Argentina com 13 000 (em 1991 tinha apenas 608 ha) e África do Sul com 11 000 ha (em 1991 tinha 707 ha). Nos Estados Unidos também está bem presente, sobretudo nos estados de Califórnia, Washington e Oregon.

Amplitude estilística

Os dois nomes principais – Syrah e Shiraz – identificam dois polos estilísticos. O nome Syrah, normalmente associa-se à sua origem em Côte-Rotie e Hermitage, à expressão da casta num clima mais moderado e consequentemente ao estilo mais leve e apimentado, com nuances de fruta vermelha. Sob o nome Shiraz entende-se a performance da casta na sua segunda casa, a Austrália, associada a um clima quente que origina vinhos encorpados e musculados, com fruta preta e notas achocolatadas, por vezes com um toque de eucalipto. Mas quando os produtores australianos das zonas mais frescas, como, por exemplo, Victoria e Canberra, querem comunicar os vinhos ao estilo do Ródano, nos rótulos consta Syrah e não Shiraz. E esta lógica é seguida por produtores em muitos países. Em Portugal adaptou-se o nome Syrah, sem qualquer apelo ao estilo do vinho.
Entre estes dois extremos existe toda a diversidade de estilos que a casta é capaz de exprimir em função das condições de cultivo, das práticas culturais na vinha e das abordagens enológicas.

Syrah em Portugal – chegou, viu e… ficou

É a casta estrangeira com a carreira ascendente mais rápida em Portugal. Ainda no final do século passado a sua presença era insignificante e o conhecimento sobre ela por parte dos produtores e consumidores era próximo do zero. Antes de 1980 existiam apenas 10,82 ha de Syrah no encepamento nacional, e na década seguinte 309 ha. Em 2014 a Syrah já aparece no top 10 de castas mais plantadas em Portugal, ultrapassando muitas variedades nacionais. Hoje a prima donna ocupa uma área de 6 441 ha, o que corresponde a 3% de total das plantações. No top 10 das castas tintas em Portugal só há duas castas estrangeiras, mas se o Alicante Bouschet tem uma história secular no nosso país, a Syrah claramente chegou, viu e ficou.
O Alentejo lidera nas plantações de Syrah com 2 307 ha, que actualmente é a 4ª casta mais plantada na região. Já começa a ser difícil encontrar um produtor no Alentejo que não tenha Syrah. A casta entrou na região “incognitamente” pela mão dos proprietários da Cortes de Cima, com a primeira colheita a decorrer em 1998, e tornou-se num grande clássico.
Lisboa é a segunda região no país com maior presença de Syrah, registando 2 126 ha. A Quinta do Monte d’Oiro apostou na Syrah nos anos 90 e praticamente especializou-se nesta casta. O primeiro monovarietal foi o Reserva Syrah de 1997.
A região do Tejo também teve um papel importante na história da Syrah em Portugal e hoje conta com 707 ha. A Quinta da Lagoalva de Cima foi a primeira a plantá-la nos anos 90 do século passado.
O Douro tem uma relação com Syrah mais qualitativa do que quantitativa. Não há grandes plantações desta variedade, mas os poucos vinhos varietais existentes no mercado são de grande qualidade. A Denominação de Origem não permite a utilização da casta. Por isto os vinhos de Syrah são certificados como regionais, o que, na realidade, não tem impacto na apreciação do consumidor.
Na Península de Setúbal, a Syrah é a segunda casta mais plantada (538 ha) depois do Castelão. A marcha gloriosa da casta francesa faz-se sentir noutras regiões, embora numa escala mais pequena.

 

Curiosidades sobre Syrah

  • As vinhas mais antigas de Syrah na Austrália ainda existem, maioritariamente em Barossa Valley. A Langmeil Winery tem uma parcela de 1,4 ha com videiras de Shiraz plantadas em 1843.
  • Petite Sirah não é o sinónimo de Syrah, é uma outra casta francesa que também responde pelo nome Durif, que surgiu atravez do cruzamento natural entre Syrah e Peloursin.
  • O Dia Internacional de Syrah é 16 de Fevereiro. Estão a tempo de o festejar com um copo de Syrah na mão!

 

Porque Syrah?

Porque é, sem dúvida, uma grande casta de muitos méritos comprovados. Em muitos casos também há uma razão ou gosto pessoal.
O enólogo e produtor Rui Reguinga inspirou-se nos vinhos de Côtes du Rhône e, em 2001, plantou Syrah, Grenache, Mourvèdre e Viognier em solos com calhau rolado da Charneca de Almeirim. Estas uvas dão origem a um vinho único, tributo ao seu pai que toda a vida foi vitivinicultor.
Na Quinta do Noval, por influência do seu Director Geral, Christian Seely, foram plantadas várias castas francesas em 2003 – Cabernet Sauvignon, Mourvèdre, Petit Verdot e Syrah –, das quais as duas primeiras não passaram no casting. Syrah, ao contrário, adaptou-se facilmente ao clima quente e seco da região. O sucesso levou-o a repetir a experiência, plantando em 2007 Syrah na Quinta da Romaneira, um projecto pessoal de Christian Seely.
O enólogo da Quinta do Crasto, Manuel Lobo, conta que quando começaram o projecto no Douro Superior em 2002, a grande área da Quinta da Cabreira permitiu algumas plantações experimentais para testar várias castas. Nas provas cegas das microvinificações, Syrah dava sempre uma prova boa e consistente. Avançaram para a produção comercial e a primeira colheita, de 2013, já mostrou ser uma aposta ganha.
Amílcar Salgado, da Quinta de Arcossó, em Trás-os-Montes, plantou Syrah por acaso há 21 anos. Estava a fazer a enxertia no local e, por lapso, encomendou menos garfos de Touriga Franca do que tinha porta-enxertos. No momento não havia mais e aceitou os da Syrah, ficando com 2000 videiras. Nunca se arrependeu.
O proprietário da Quinta dos Termos, na Beira Interior, João Carvalho, na década dos 90 passava muito tempo em França por causa dos negócios dos têxteis, onde teve oportunidade de provar muitos vinhos feitos de Syrah. Gostou tanto que, em 2002, plantou a casta na sua quinta. Da colheita de 2006 saiu o primeiro Syrah em extreme, embora sem aparecer no rótulo, disfarçado como “Reserva do Patrão”.
Jorge Rosa Santos, um dos irmãos enólogos, responsável pela produção da família, conta que começaram a plantar Syrah em 2004. Têm duas parcelas. Uma no solo xistoso da Serra D’Ossa, que produz vinhos mais concentrados, musculados e tânicos, com aromas a lembrar carne. Outra em solos argilo-calcários esbranquiçados, que dá vinhos mais químicos, com notas de alcatrão e menos fruta. O lote das duas deu um belíssimo vinho, complexo, fino, extremamente equilibrado e cheio de carácter da casta no seu melhor.

Grande Prova SyrahComportamento na vinha

A Syrah prefere clima quente, mas não gosta de calor em demasia. É uma casta vigorosa, produtiva e bastante resistente a doenças. Floresce tarde, evitando, desta forma, possíveis geadas primaveris. Amadurece relativamente cedo, acelerando a maturação depois do pintor, o que deixa uma janela de oportunidade algo reduzida. Todos os enólogos e produtores contactados concordaram que o momento de vindima para Syrah é absolutamente crucial, se não querem apanhá-la “jammy”.
Syrah é uma casta com comportamento anisohídrico, como a Touriga Nacional, ou seja, em condições de falta de água, aguenta algum tempo sem fechar os estomas, continuando a sua actividade fotossintética. Mas se o stress hídrico se prolongar no tempo, podemos ter “uvas em passa e taninos verdes” – refere Manuel Lobo. Entretanto, “excesso de humidade no solo, como por exemplo, na zona de Campo, é uma tragédia” – afirma Rui Reguinga.
Amílcar Salgado partilha a sua experiência de 20 anos com Syrah: “Casta excelente. O porte erecto facilita a condução e todo o trabalho na vinha. Muito homogénea na produção, não precisa de correcções, mesmo em anos quentes. Gradua bastante sem perder o equilíbrio. A Touriga Franca, por exemplo, perde acidez mais rápido.”
Mas não há bela sem senão. A casta é susceptível a uma doença de etiologia complexa e ainda não totalmente explicada – declínio da Syrah, que foi observado pela primeira vez no sul de França. Basicamente é uma morte prematura da planta. Amílcar Salgado observou este fenómeno nas suas vinhas, onde as videiras com 13-15 anos, vigorosas e aparentemente boas, de repente começam a enfraquecer, as folhas entram em senescência prematuramente, as varas não atempam devidamente. Mas tarde as plantas acabam por morrer e têm de ser substituídas. Rui Reguinga referiu o mesmo problema, devido ao qual já perdeu cerca de 15-20% das cepas.

 

A impressão digital da Syrah inclui especiaria a lembrar pimenta preta, conferida pelo sesquiterpeno rotundona.

 

Comportamento na adega

A Syrah não é só amiga do viticultor, é também uma grande aliada do enólogo, adaptando-se a diversas abordagens na adega. Até vinificada em talha se porta lindamente, como tivemos oportunidade de confirmar numa prova da Sovibor, no Alentejo.
Carlos Agrellos, da Quinta do Noval e da Romaneira, prefere não fazer grande maceração a frio e extrair só o necessário. Jorge Rosa Santos gosta de fermentações longas, a 24-25˚C – porque assim tem mais tempo para tomar boas decisões e todas as fracções da prensagem entram no lote – e do tanino mais “grippy”. Rui Reguinga e Graça Gonçalves, enóloga na Quinta do Monte d’Oiro, fazem macerações prolongadas. Na opinião de Amílcar Salgado, a Syrah permite uma boa extração de cor sem muito trabalho e não tem taninos agrestes.
A Syrah responde muito bem ao estágio em madeira, mas “é preciso ter alguma contenção de tosta nas barricas – a casta sozinha tem aromas bem definidos e apimentados” – explica Manuel Lobo. Por isto utiliza apenas 30-35% de barricas novas, sendo maioritárias as barricas de segunda e terceira utilização. Carlos Agrellos tem uma abordagem semelhante na Quinta do Noval e na Quinta da Romaneira, utilizando barricas novas, de segunda e terceira utilização.
As percentagens de barrica nova variam no lote final. Por exemplo, o Syrah do Apontador (Romaneira) aguenta mais 10-15% de barrica nova do que o Syrah da Quinta do Noval. Jorge Rosa Santos cada vez gosta mais de madeiras de maior volume e estagia o vinho 24 meses em toneis de 3.000 L com 30 anos.
Como a Syrah é uma casta com tendência para redução, abordámos este assunto com os enólogos. Carlos Agrellos vai arejando o mosto se for necessário. Graça Gonçalves controla por perto a quantidade de azoto assimilável no mosto, cuja falta pode originar redução durante a fermentação. Se for preciso também fazem arejamento ou introduzem oxigénio na cuba. Rui Reguinga e Amílcar Salgado fermentam em lagar, o que permite mais oxigenação e mais superfície de contacto com as massas. Jorge Rosa Santos não tem medo de reduções, mas sim das oxidações, explicando que “há sempre solução para redução”. Nos brancos é mais definitiva do que nos tintos, onde normalmente é resolvida com o estágio em madeira.
Por vezes, a companhia minoritária da casta branca Viognier, em co-fermentação, dá um brilho extra à Syrah. É uma prática usada em Côte Rotie para estabilizar a cor. Assim, o Quinta Monte d’Oiro Reserva tem 4% de Viognier e o Quinta do Crasto Superior tem 3%. Manuel Lobo vê o contributo deste tempero mais na textura e não tanto na fixação da cor ou no aroma.
O Tributo, de Rui Reguinga, para além da Viognier, tem Grenache e Mourvèdre. A Syrah, com 80-85%, dependendo do ano, domina, mas acaba por adquirir uma complexidade adicional.

 

Por vezes, a companhia minoritária da casta branca Viognier, em co-fermentação, dá um brilho extra à Syrah.

 

Que será, Syrah!

Será que a casta forasteira faz sentido em Portugal ao lado de tantas variedades nacionais de grande qualidade? Não assume demasiado protagonismo no palco vitivinícola português? Não desvirtua a identidade dos vinhos nacionais?
É óbvio que não é com Syrah que nos afirmamos no mercado internacional. Mas será que isto é impeditivo de produzirmos alguns vinhos marcantes desta casta?
Parece-me que nos últimos 20-30 anos a Syrah deixou de ser uma simples moda, encontrou o seu lugar em terras lusas, encaixou a sua personalidade nos nossos terroirs e cabe-nos a nós, ter um bom senso no seu emprego. Os resultados, esses, não deixam margem para dúvidas…

(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2024)

HOWARD’S FOLLY: A arte de saber sonhar… E fazer

Howard’s Folly

Há coisas que começam assim. Com uma conversa, uma troca de ideias, um desafio. Foi talvez desta forma que se iniciou o projecto Howard’s Folly do enólogo David Baverstock e de Howard Bilton, presidente do The Sovereign Group, uma das maiores consultoras financeiras privadas do mundo, com presença em 20 países, e da fundação Sovereign […]

Há coisas que começam assim. Com uma conversa, uma troca de ideias, um desafio. Foi talvez desta forma que se iniciou o projecto Howard’s Folly do enólogo David Baverstock e de Howard Bilton, presidente do The Sovereign Group, uma das maiores consultoras financeiras privadas do mundo, com presença em 20 países, e da fundação Sovereign Art, que apoia crianças desfavorecidas em diversos países.

Os dois já se conheciam há alguns anos quando decidiram produzir vinhos juntos no Alentejo. Nem tudo foi fácil nos primeiros tempos, porque eram vinificados em adegas emprestadas, quando David ainda estava focado na produção de vinhos do Esporão, onde esteve durante 30 anos. E foi só 12 anos após o lançamento dos primeiros vinhos, em 2017, com a construção da adega em Estremoz, que a produção de vinhos da empresa começou a ser mais bem controlada e as suas características e qualidade passaram a ter o perfil desejado pelo enólogo.

Um australiano em Portugal

David Baverstock nasceu na Austrália há 68 anos e é, para além de co-fundador, o enólogo chefe da Howard’s Folly. Cresceu perto da cidade de Adelaide, em Barossa Valley, uma das principais regiões vitivinícolas do seu país, o que lhe fez ganhar o gosto pelo vinho e o conduziu à formação em enologia na School of Agriculture, Food & Wine da universidade de Adelaide. “Nessa época, a década de 1970, quase ninguém conhecia os vinhos australianos, que apenas começaram a ganhar notoriedade na seguinte”, conta. Acrescenta que, por isso, muita da matéria que lhe foi dada abordava os vinhos europeus, o que lhe fez crescer o apetite por conhecer o continente, que visitou logo a seguir a terminar o curso.

O primeiro emprego como enólogo levou-o à Saltram Wines. David Baverstock, que chegou logo após a aquisição, diz que a sua primeira experiência foi essencial para o resto da sua vida profissional, porque lhe permitiu fazer um pouco de tudo, desde os vinhos da casta Riesling de Eden Valley, aos Syrah de Barossa Valley e Cabernet Sauvignon de Coonawarra, num trabalho que incluía a produção de “Sherry” e “Porto”. “Foi uma experiência fantástica, também por ter decorrido numa adega que transformava 10 mil toneladas de uvas todos os anos”, conta.
Voltou para Portugal em 1982, por razões familiares. Esteve primeiro nas Caves Aliança, durante seis meses, depois foi para a Croft, mais dois anos, e em seguida para o Grupo Symington, onde esteve mais oito. Nessa altura fazia apenas vinho do Porto.

 

Howard’s Folly

 

Vinhos no Alentejo

Mas como sentia saudades de fazer outro tipo de vinhos, foi criando pequenos lotes na casa onde trabalhava, que eram apreciados pela família proprietária que, no entanto, nunca se interessou por avançar para a produção de vinhos não fortificados. Estava-se na década de 80 do século passado, muitos anos antes da mediatização dos vinhos do Douro e do crescimento da sua produção. Foi só a partir de 1991, quando Sophia Bergqvist assumiu os destinos da Quinta de la Rosa e quis começar a fazer vinhos de mesa, é que David Baverstock iniciou o seu primeiro projecto de vinhos não fortificados na região. “Foi ela que convenceu o Peter Symington a deixar-me fazê-los”, conta o enólogo.
No ano seguinte, José Roquette contactou-o e pediu-lhe para fazer uma visita ao Esporão. O projecto já estava lançado, mas não a decorrer como o seu fundador queria. “Passei um dia lá e adorei, porque era uma iniciativa incrível em qualquer parte do mundo, com imenso potencial para ter sucesso, que não estava a correr bem na altura, porque o projecto arrancou antes de ser criado o seu modelo de negócio”, conta David Baverstock que, como se sabe, aceitou o desafio.

E foi com o seu trabalho e de toda a equipa, onde salienta a ajuda de enólogos como Luis Duarte, Luis Patrão, Sandra Alves e outros, e das pessoas das aéreas comerciais e de marketing, que o Esporão conseguiu o sucesso e o tem mantido até aos dias de hoje. Após 30 anos, e já com o sentimento de dever cumprido e trabalho feito, com 66 anos, decidiu reformar-se e trabalhar um pouco menos, para dedicar mais tempo à família.

Os primeiros passos

David Baverstock já se tinha cruzado pela primeira vez com Howard Bilton, financeiro inglês que tinha a sua actividade sedeada em Hong Kong, há alguns anos, quando decidiram iniciar o projecto Howard’s Folly, ou seja a Loucura do Howard, designação criada pelo seu sócio maioritário, talvez por ser uma área sobre a qual tinha pouco conhecimento na altura.

Os primeiros vinhos, da colheita de 2005, foram feitos na adega da Azamor Wines. Outros se seguiram, e o trabalho foi decorrendo colheita a colheita, sempre com a dificuldade acrescida de ter de ser feito na casa dos outros. Os vinhos eram engarrafados quando tinham qualidade suficiente, ou vendidos para outros quando isso não acontecia. Até que, em 2017, Howard Bilton e David Baverstock tomaram a decisão de levar o projecto mais a sério. Primeiro, com o aluguer, por 20 anos, de uma vinha de sete hectares de uvas tintas da região de Portalegre, que dá origem aos vinhos com o estilo elegante e fresco que o enólogo procurava. Encontrada com o apoio de Ian Richardson, dono da Herdade do Mouchão, está plantada, em talhões, com as castas Syrah, Trincadeira, Alicante Bouschet, Aragonez e Touriga Nacional. “Para mim, a adega poderia ser em qualquer lado, mas era fundamental aproveitar a altitude”, afirma David Baverstock, salientando que isso era essencial, não só para produzir o tipo de vinhos que queria, mas também porque acredita que localização da vinha a uma altitude superior atenua os efeitos do aquecimento global. Fica na zona de transição entre o Baixo Alentejo e o Alto, e produz vinhos com maior maturação, que “constituem uma boa base para fazer as referências da marca Sonhador e os reserva”. Mas não era suficiente para o perfil de vinho desejado e, por isso, foi necessário encontrar vinhas situadas mais acima, a altitudes superiores, que pertencem a pequenos produtores. Segundo David Baverstock, as uvas produzidas em altitude trazem, aos vinhos, “maior concentração, frescura, complexidade e intensidade”.

Vinhas plantadas em altitude

São atualmente 10 hectares, que foram selecionados por Cristina Francisquinho, profissional de viticultura com muitos anos de trabalho e conhecimento. É, hoje, a responsável pelas vinhas da Howard’s Folly e dos seus fornecedores, que perfazem um total de 17 hectares.

A escolha de Estremoz como localização para a adega teve a ver essencialmente com a procura turística desta cidade, já que as vendas à porta são sempre importantes para qualquer empresa de vinhos. Foi construída em 2018, num antigo edifício que tinha sido ocupado por um grémio no tempo de Salazar. Mais tarde foi aberto o restaurante, que fechou uma semana depois por causa da epidemia causada pelo Covid-19. “Agora está a estabilizar e a ganhar nome como uma das grandes referências da gastronomia de Estremoz”, salienta David Baverstock, que divide a vida de trabalho entre a Howard’s Folly e a Ravasqueira, onde entrou há dois anos como consultor, após sair do Esporão.
Hoje a empresa de Howard Bilton e David Baverstock produz entre 60 e 70 mil litros de vinho por ano. Mas foi só após a construção da adega é que o segundo sentiu que tinha condições para produzir brancos e rosés, e vinhos tintos de guarda produzidos em pequenos volumes. Hoje, “além da qualidade da matéria prima, dispomos de todos os equipamentos necessários e todas as condições para a produção de grandes vinhos”, defende o enólogo.

 

O que é um grande vinho para David Baverstock?

“Tem de ter equilíbrio, frescura, ou seja, uma boa acidez e ser longo de boca. Quando jovem tem de ter potencial para durar muitos anos, o que não significa que seja taninoso, mas sim equilibrado. Irá proporcionar grande prazer a quem os bebe, no mínimo com cinco anos e, no máximo 10, porque gosto de sentir nos vinhos os aromas de fruta e não apenas as notas terciárias.”

 

O ciclo produtivo

É Cristina Francisquinho que controla todo o ciclo de produtivo no campo. Com o aproximar da vindima, David Baverstock e Pedro Furriel, o enólogo residente da empresa começam a ir também às vinhas para ver como tudo está a evoluir. São feitas as provas de uvas e as análises necessárias para a marcação da data de vindima para cada casta da vinha da empresa, já que isso é mais difícil de fazer com as vinhas velhas dos fornecedores de uva. Como estão a maior altitude, a sua colheita inicia-se sempre depois de terminada a da vinha própria. “Mesmo a maturação das castas brancas é sempre posterior à das nossas tintas”, diz o enólogo. Pelo único lagar da adega passam as uvas da casta Syrah e as destinadas a produzir o tinto Cristina, o topo de gama da empresa da empresa, “porque a remontagem e maceração é mais intensa, tal como a extração”, explica o enólogo.

Como surgiu o Sonhador

Depois de fechado o ciclo com a construção da adega, David Baverstock fez-se ao caminho para começar a vender os seus vinhos lá fora. Nas primeiras deslocações ao Brasil e Estados Unidos, percebeu que o nome Howard’s Folly era difícil de pronunciar no primeiro país e não fazia sentido para um vinho português no segundo, por ser em inglês. “Como me aconselharam que criasse um nome latino, pensei que era interessante adaptar o de um vinho da casta Viognier que um amigo meu faz na Austrália, que se chama The Dreamer, ou Sonhador, como marca”. E assim o fez, “porque sonhar também faz parte do nosso trabalho e é um bom nome para os nossos vinhos”. E foi assim que foi criada a marca, que registou logo. As suas vendas representam 60 mil das 80 mil garrafas produzidas por ano na empresa, entre brancos rosés e tintos, enquanto nome Howard’s Folly é a marca dos vinhos reserva e monocastas. “É muito mais fácil de implantar uma marca de nome Sonhador do que Howard’s Folly, que se destina sempre a vinhos que são colocados no mercado com volumes mais pequenos”, explica o enólogo.

Cerca de 50% das vendas ocorrem em Portugal, enquanto o resto vai para o Brasil, Reino Unido e Suíça. Os Estados Unidos ainda se mantêm como um sonho por realizar de David Baverstock, que está convicto de que é preciso continuar a tentar apesar de ser difícil de abrir portas, e que as vendas para este país vão acabar por ocorrer no futuro. “Quando isso acontecer, o projecto ficará estabilizado”, diz.

(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2024)

AZORES WINE COMPANY: Entre mar e vulcão

Azores Wine Company

Como dizem os nossos vizinhos espanhóis, “primero, lo primero”, ou seja, importa começar pelo início, ainda que a história já tenha sido narrada algumas vezes. Em pleno século XV, e como era habitual um pouco por todos os territórios descobertos, também os primeiros povoadores dos Açores começaram a plantar vinha, sobretudo no Pico, nas brechas […]

Como dizem os nossos vizinhos espanhóis, “primero, lo primero”, ou seja, importa começar pelo início, ainda que a história já tenha sido narrada algumas vezes. Em pleno século XV, e como era habitual um pouco por todos os territórios descobertos, também os primeiros povoadores dos Açores começaram a plantar vinha, sobretudo no Pico, nas brechas entre rocha lávica (tecnicamente quase não há solo), muitas vezes com alguma terra trazida da ilha do Faial. A vinha era, depois, protegida dos ventos salinos do oceano por pequenos muros formando currais.
A ilha do Pico, que se imagina ter chegado a quase 15 000 hectares de vinha, sofreu intensamente com a filoxera e depois com outras doenças e ataques, de tal forma que a produção ficou limitada a pouco mais de uma centena de hectares e, à excepção da Adega Cooperativa local, a um estatuto quase familiar, com algumas castas (caso do Terrantez) à beira da extinção.

Em 2007, António Maçanita, jovem enólogo e produtor vindo do continente, mas com mais do que uma costela açoriana, conhece o economista Filipe Rocha numa formação de comida e vinhos na Escola de Formação Turística e Hoteleira, sita em Ponta Delgada, onde este último era docente e dirigente. Pouco depois, António aceita o encargo de um estudo sobre a casta Terrantez do Pico, como acima referido, à beira da extinção, associando-se aos Serviços de Desenvolvimento Agrário de S. Miguel. Por volta da mesma altura, António conhece Paulo Machado, um dos maiores pilares da vitivinicultura açoriana, produtor da marca Insula Vinus, prestando ainda assistência técnica a outros projectos insulares. Depois de muitas conversas (e, estamos certos, ainda mais tertúlias vínicas nas famosas “adegas” existentes nas várias ilhas dos Açores), os três – António, Filipe e Paulo – fundam, em 2014, a Azores Wine Company (AWC), não sem que António tenha sido, no ano anterior, convidado por Paulo para produzir um Arinto dos Açores, precisamente no Pico.

Azores Wine Company

Para António Maçanita e Filipe Rocha, fundadores e proprietários da AWC, o esforço e o investimento são sempre maiores do que o projectado no Pico, mas os vinhos também são sempre melhores.

António, que já tinha tentado plantar uma vinha anos antes nos Açores, e ensaiado algumas vinificações, ficou impressionado com o resultado obtido! E assim começou a aventura…. Ora, se podemos afirmar que os três protagonistas mencionados tinham formação sólida nas respetivas áreas, dúvidas também não existem que o enredo e o contexto contribuíram para a realização e sucesso da obra.
Em primeiro lugar, dez anos antes, a classificação da paisagem da cultura da vinha do Pico como Património Mundial tinha colocado a ilha-montanha nas bocas do mundo, tendo-se duplicado, numa década, a sua área de vinha para uns ainda pouco significativos 250 hectares. Depois, a nível internacional começou a desenvolver-se um interesse por vinhos de ilhas e mesmo até por vinhos de ilhas vulcânicas, da Sicília a Santorini, passando pelas Canárias ou pela Ilha Norte da Nova Zelândia. Os vinhos dos Açores, e do Pico em especial, tinham encontrado o seu momento de nova ascensão, séculos depois de terem agraciado fama pela Europa e EUA. Os dados estavam lançados…

De São Mateus à Criação Velha
As melhores expectativas seriam, contudo, superadas. Ainda antes de se sonhar com a adega-hotel que actualmente é um polo criativo de enologia no Pico, a AWC lança-se em busca do essencial: vinhas e uvas. Enquanto adquiriam uvas a produtores locais no Pico, ficaram responsáveis por 30 hectares em São Mateus, no sul da ilha. Ora 30 hectares no Pico não são 30 hectares de planície pronta a plantar. O trabalho de desbaste do mato cerrado e reconstrução dos currais foi tarefa hercúlea, envolvendo mais de 30 homens durante meses. Volvida uma década, António e Filipe (Paulo Machado saiu, entretanto, da sociedade) ainda têm bem presente essa aventura, apelidada ao tempo pela generalidade dos picarotos como impossível (chamavam-lhe “a vinha dos malucos”). A verdade é que o esforço foi maior do que o inicialmente projectado, mas essa, dizem ambos, é a regra no Pico. “O esforço e o investimento é sempre maior do que o projectado, mas os vinhos também são sempre melhores do que pensámos que seriam”, confessam.

Hoje é com notório orgulho que ambos olham para esta vinha como um marcador do tempo: o primeiro grande desafio superado no Pico! Sucede que António e Filipe não são apologistas de “esperar para ver” e a história, os estudos e as (muitas) provas dos vinhos que iam fazendo apontaram rapidamente para um lugar especial a partir do qual pudessem fazer mais vinho. Esse lugar foi – e é – a Criação Velha, precisamente a paisagem que contribuiu para a classificação da Unesco. Fica na parte oeste da ilha e não muito distante da Madalena. É aqui onde as vinhas mais velhas, centenárias mesmo, se podem ainda encontrar, estendidas até a meros metros ao mar (do outro lado do canal está a ilha do Faial) e com maior exposição solar, uma vez que são os terrenos que mais distam da montanha que atrai, diariamente, as nuvens. Primeiro, com vinhas na zona da Canada do Monte e, depois, mais perto do mar, a AWC compreendeu a importância do Lajido da Criação Velha e seria daqui que os seus melhores vinhos seriam, e ainda são, produzidos. Mas lá iremos… Para a história fica o registo que, logo em 2014, a AWC produziu cerca de 10 000 garrafas. Alguns anos volvidos, e com mais de 125 hectares totalmente recuperados, esse valor subiu para uma média de 50.000-60.000 garrafas por ano.

Os vinhos
António Maçanita chegou as Açores com vários anos de rodagem do Alentejo (o seu projecto com maior dimensão é a Fita Preta, próximo de Évora), para não falar dos estágios em França e EUA, e dos vinhos que produz noutras regiões nacionais. E chegou com dois propósitos bens claros e que ficam evidentes perante o extenso portefólio da AWC: por um lado, conhecer e recuperar castas antigas (lá está o estudo inicial sobre a Terrantez do Pico) e, por outro lado, fazer o melhor vinho possível naquele terroir tão particular, que, segundo António, é um dos mais vocacionados para produzir os melhores brancos do país. O caminho para o primeiro desígnio passou pelo estudo e investigação das origens das castas, algo a que Maçanita se dedica continuamente e do qual fala com grande entusiasmo. Já para o segundo propósito, o percurso seria outro.

Como não existe uma história engarrafada dos vinhos tranquilos do Pico – os vinhos do Pico eram tendencialmente licorosos –, António começou a fazer o que mais gosta: testes e experiências, na forma de vinificações, por vezes mini-vinificações. Uma vez que a AWC foi engarrafando todas essas experiências, e colocando no mercado várias delas, podemos mesmo dizer que os consumidores ficaram com o privilégio de ir conhecendo, vindima a vindima, o percurso vitícola e enológico seguido. A eleição desta ou aquela vinha para vinificar em separado, colher mais tarde ou mais cedo, recorrer, ou não, a leveduras indígenas, efectuar estágio em borras ou sem borras, utilizar primeiras ou segundas prensas e espumantizar alguns vinhos bases, sem esquecer os licorosos que deram fama à ilha… enfim, tudo isso, e mais, foi testado ao longo dos anos e deu lugar a marcas distintas de vinhos, quase todos já esgotados.

Os vinhos e as marcas foram-se sucedendo, sempre privilegiando as castas Arinto, Verdelho e Terrantez em múltiplas declinações: foi o Arinto dos Açores, em versão sur lies ou em versão solera, vinhos de mais do que uma ilha e de mais do que uma colheita, mas também os vinhos de zonas e vinhas, caso do Canada do Monte, depois a Vinha Centenária, mais recentemente o Vinha dos Utras e a novidade última com o excelente Vinha dos Aards. Insistimos na tese: o portefólio extenso da AWC reflete essa busca pelo vinho perfeito, da viticultura à enologia, e esse é dos maiores legados que a empresa nos deixa. Para o futuro, fruto da experiência acumulada, é expectável que a gama se reduza e consolide.

Azores Wine Company

 

Parte do sucesso do enoturismo desta casa deve-se ao emprenho da sua responsável, Judith Martin

 

 

A adega e as novas vinhas
A parte final de toda essa experiência já foi possível numa nova adega, que começou a ser idealizada e construída em 2018 e inaugurada no primeiro semestre de 2021. Adega não… Falamos de um edifício que dispõe de alguns quartos cuidadosamente decorados e de um restaurante panorâmico que elevou o nível gastronómico da ilha (o sucesso do enoturismo deve-se muito também à sua responsável, Judith Martin), cuja adega propriamente dita é utilizada por outros produtores locais. Dizer, assim, que esse edifício é apenas uma adega é, como vimos, redutor. É, isso sim, um dínamo para a região, atraindo turistas da natureza, gourmets arreigados, e amantes do vinho, produtores e consumidores. A adega tem as melhores condições da região e uma capacidade para 250 mil litros. Por ora, e como acima já se referiu, a média anual de vinificação para as marcas da AWC cinge-se a valores entre 1/4 a 1/5 dessa capacidade. Já houve anos, como 2018 e 2019, em que a produção foi muito superior, mas, ainda assim, muito abaixo da produção média do continente. Com efeito, a experiência demonstra que os volumes anuais de uva nos Açores raramente são constantes, tanto em quantidade como no próprio estado sanitário, existindo anos mais molhados que outros. Mas não se pense que isso é mau, pois acarreta diversidade nos perfis. Enquanto os anos mais secos dão origem a mostos mais limpos, com fruta mais viva e directa, os anos mais molhados – anos clássicos nos Açores – contribuem com mostos com mais cor e aromas mais complexos de oxidação.

À volta da adega existem 50 hectares de vinha, às quais se soma a de São Mateus de que já falámos e onde tudo começou, e ainda várias parcelas no Lajido da Criação Velha. Mas, uma vez mais, António e Filipe não ficaram parados e procuraram um novo local para desbastar. Encontraram-no numa fajã criada pela erupção de 1562 na Baía de Canas, entre a vila de S. Roque e a Prainha, na zona norte da ilha. O que agora é uma vinha com três anos, era tudo mato, num total de 40 hectares, onde se plantou sobretudo vinhas tintas, caso do Bastardo, Rufete, Castelão e Saborinho, todas castas com alguma ligação a outras castas presentes nos Açores. António e Filipe dizem que, neste local, a vinha está plantada num chão sem matéria orgânica, pelo que o desafio é enorme, mais a mais tendo em consideração que a associação de tintos à ilha do Pico é menor do que a de brancos.

 

 

 

 

Provas e mais provas
Um dia com António Maçanita é sinónimo de provar dezenas de vinhos, e outras tantas amostras retiradas diretamente de barricas e cubas (aqui quase todas horizontais). Tivemos o privilégio de provar todas as colheitas de quase todas as referências da AWC, um verdadeiro festim de vinhos brancos, frescos, ácidos e maravilhosamente salinos! Mais um outro tinto (muito bom o raro Saborinho, sobretudo na colheita de 2015), aberto na cor e elegante na prova, e alguns licorosos de grande nível. Fizemos o percurso que acima identificámos como aquele que António atravessou até chegar aos seus melhores vinhos. Provar o Vinha dos Aards e o Vinha dos Utras, os dois topos de gama, é sentir que houve um caminho anterior, que continua com os vinhos Canada do Monte e o Vinha Centenária, igualmente soberbos. São todos belíssimos, com carácter açoriano, com os primeiros a serem quase sublimes. Muitas provas depois, ficámos com a certeza de que do Pico, e da AWC, saem alguns dos melhores brancos de Portugal.

(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2024)

Artemis: Do Dão para o Algarve e Douro

artemis

António Vicente Marques é um advogado e empresário, com uma carreira de sucesso e escritórios em Angola, Portugal e Moçambique. Criado pelo avô e avó em Carregal do Sal, no Dão, a nostalgia da sua infância e o seu amor à Natureza levou-o a regressar a casa, depois de uma vida cheia de experiências em […]

António Vicente Marques é um advogado e empresário, com uma carreira de sucesso e escritórios em Angola, Portugal e Moçambique. Criado pelo avô e avó em Carregal do Sal, no Dão, a nostalgia da sua infância e o seu amor à Natureza levou-o a regressar a casa, depois de uma vida cheia de experiências em diversos países e continentes.

Investiu pacientemente na compra e junção de propriedades, para finalmente lançar em 2017 os seus vinhos do Dão. A empresa chama-se Artemis, mas a marca Dom Vicente é uma homenagem ao avô, tal como os novos Douro se chamam Dona Amélia, para homenagear a avó. Previamente tinha comprado propriedades no Algarve, em Luz de Tavira, onde desde logo a proximidade do mar, a menos de 1km, o levou a plantar, em 2017, castas adequadas à produção de espumante: Baga, Arinto, Síria e Encruzado.

artemis

 

Os primeiros vinhos algarvios são de 2019. Em 2020 fez os primeiros vinhos do Douro, de uvas compradas. Entretanto António comprou já uma quinta no Douro, em Nagoselo, junto a São João da Pesqueira, são 4,5ha de vinhas. A adega foi construída em 2023, e esta vindima já foi feita na nova adega. A vinha tem Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinta Roriz e Tinta Barroca, mas esta vai ser reconvertida em Sousão.

As uvas do tinto de 2020 provêm da mesma zona, assegurando desde o princípio a identidade do vinho. Foi numa tarde chuvosa que o experiente enólogo António Narciso se juntou a António Vicente Marques no interessante e pitoresco restaurante Graça 77, em Lisboa, para junto com uma comida sensata e saborosa se provarem os novos vinhos da Artemis. A gama da Artemis é vasta, e mais novidades devem chegar em breve.

 

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2024)

 

Quinta do Pessegueiro: Do Douro para o mundo

Pessegueiro

À mesa do restaurante esperavam-nos Célia Varela — a directora-geral que deixou o ensino para se dedicar em exclusivo a este projecto desde a sua fundação — António Beleza, o director comercial (um profissional com uma vasta experiência na comercialização de vinhos, que integrou a equipa em 2013) e, por fim, o enólogo João Cabral […]

À mesa do restaurante esperavam-nos Célia Varela — a directora-geral que deixou o ensino para se dedicar em exclusivo a este projecto desde a sua fundação — António Beleza, o director comercial (um profissional com uma vasta experiência na comercialização de vinhos, que integrou a equipa em 2013) e, por fim, o enólogo João Cabral Nicolau de Almeida, sobejamente conhecido no Douro, descendente de uma vasta e renomada linha de enólogos que marcaram a história da região.
Os semblantes abertos, descontraídos e quase radiantes prometiam boas notícias e melhores novidades. Numa mão traziam uma boa notícia, a Quinta do Pessegueiro deverá voltar a encerrar o ano de 2023 com um volume de negócios na ordem de um milhão de euros. Muito embora o actual contexto económico internacional ter provocado, como referiu António Beleza, “um pouco de recessão de consumo, sobretudo no que respeita aos vinhos de preço mais elevado”. Para 2024, o responsável comercial estimou um crescimento entre 10 e 15%, face ao corrente ano, despoletado, entre outros factores, pela solidificação da marca nos diferentes mercados, a entrada em novos países e pelo lançamento das novas referências vínicas. O objectivo passará pelo alavancamento das exportações e levar o nome da Quinta do Pessegueiro, situada em Ervedosa do Douro, a diversos países do mundo.
Com estas notícias estava dado o mote para a apresentação de quatro novos vinhos com que esperam atingir os objectivos. Um deles, o Quinta do Pessegueiro branco 2022 mostra aptidão gastronómica combinando facilmente com qualquer refeição, desde os pratos mais simples aos mais compostos.

Pessegueiro
A segunda novidade apresentada foi o Quinta do Pessegueiro Grande Reserva Tinto 2019. Trata-se de um vinho muito especial, cheio de carácter duriense capaz de mostrar bem, no plano internacional, a sua identidade. Oxalá assim o entendam.
Uma outra notícia divulgada em primeira mão estava ligada à monocasta Tinta Roriz, do ano de 2021, e produzido a partir de uma vinha com cerca de 45 anos, com exposição a poente, a 300 metros de altitude. Nas palavras do enólogo, este vinho tratou-se de “uma conquista porque há muito que a Quinta do Pessegueiro almejava produzir uma das castas mais conhecidas e plantadas na Península Ibérica, mas que exige um trato muito especial para se conseguir um vinho distinto”.
Por fim, provámos vinho do Porto Quinta do Pessegueiro LBV datado de 2018, um interessante exemplar que envelheceu durante 4 anos antes de ser engarrafado e apresentou muitas notas de frutos vermelhos e aromas de bosque.
No total, serão disponibilizadas cerca de 1000 garrafas do Tinta Roriz 2021 para o mercado, enquanto o Quinta do Pessegueiro tinto 2019 terá uma produção de 16 mil garrafas. Do Quinta do Pessegueiro branco 2022 serão produzidas 1200 garradas, e do Porto LBV 2018 terá serão postas à venda pouco mais de 4000 garrafas.

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2024)

Alves de Sousa: MEMÓRIAS Os capítulos de uma história perfeita

Alves de Sousa

Domingos Alves de Sousa, nos anos 80, esteve destinado a outras façanhas na sua área de formação académica, a Engenharia Civil. Quis a boa fortuna que os astros se tenham conciliado para o levar para a vitivinicultura, onde implementou, após emancipação do negócio que levava a família a vender uva às grandes casas durienses, uma […]

Domingos Alves de Sousa, nos anos 80, esteve destinado a outras façanhas na sua área de formação académica, a Engenharia Civil. Quis a boa fortuna que os astros se tenham conciliado para o levar para a vitivinicultura, onde implementou, após emancipação do negócio que levava a família a vender uva às grandes casas durienses, uma forma de olhar sobre o Douro como região apta a criar vinhos tranquilos de enorme qualidade e potencial de notoriedade que os colocasse ao nível dos vinhos do Porto. O chamamento da terra e o rigor técnico, tornaram-no um dos mais notáveis e reputados produtores nacionais, um dos nomes maiores do vinho português.
Abandonando a actividade profissional em 1987, aceitou o legado de vinhas no Baixo Corgo, que herdou da família, prestando juramento eterno à nobre arte de criar vinhos referenciais, lançando as bases para um novo paradigma duriense de dar ao mundo vinhos tranquilos plenos de personalidade, reflexo de uma região onde a viticultura é heroica. O Cima Corgo é adoptado mais tarde, através da aquisição da Quinta da Oliveirinha à irmã e cunhado. A partir daqui, estavam reunidos todos os predicados para completar a obra.

Alves de Sousa
Desde o prefácio, iniciado em 1991 com o lançamento do primeiro vinho, muitos foram os capítulos escritos nestes trinta anos, todos eles de notório sucesso. E já lá vão 30 anos!
Para celebrar a última das três décadas dedicadas ao vinho, Domingos Alves de Sousa, cuja caminhada segura é agora acompanhada pelos seus dois filhos, Tiago, que assume de forma plena a enologia, e Patrícia, a responsável financeira por manter as contas em dia, lança agora a segunda edição do “Memórias” Alves de Sousa, uma compilação vínica onde se condensaram num único vinho os testemunhos de 10 anos dos seus maiores tributos. Uma década onde cada vinho conta um capítulo de vinhas (Gaivosa, Abandonado, Lordelo, Vale da Raposa, Caldas e Oliveirinha) e dos vinhos que delas brotaram.
O “Memórias conta-se em 7 capítulos de sentido cronologicamente decrescente. O seu I Capítulo nasce do Quinta da Gaivosa, Vinha do Lordelo 2019, a mais velha vinha da Gaivosa, onde 30 castas autóctones, plantadas em conjunto, pintam um quadro sublime e raro, que estabelece um diálogo entre os solos, a vinha e o clima, potenciado por uma vinificação onde se destacam castas à beira da extinção e o estágio de 22 meses em barricas de carvalho francês, metade novas e metade usadas de segundo ano.
Há um II Capítulo que se mostra como dedicatória à Tinto Cão, casta autóctone duriense, capaz de se afirmar em vinhos de perfil elegante, cor mais aberta, mas profundamente autênticos. Vale da Raposa Tinto Cão 2018 é uma página de um percurso do campo experimental nesta vinha para o estudo das castas, concebido em 1999, onde a Tinto Cão assumiu, desde início, um papel de destaque.

A terceira parte, faz-nos subir ao Cima Corgo, onde o Vinha Franca 2017 da Quinta da Oliveirinha, se expressa, dando predominância à Touriga Franca, polvilhada por breves apontamentos das demais castas autóctones. Foram necessários dez exaustivos anos de estudo para uma total compreensão dos solos e vinhas, nesta que era a primeira incursão de Alves de Sousa no Cima Corgo. Com um perfil de um Douro mais clássico, e quente, este retalho do “Memórias”, exala a vertente floral e a suculência da fruta, com um toque de pimenta preta.
Para o IV Capítulo ficou destinado um ano improvável, 2016, que, mostrando amplitudes térmicas elevadas, conseguiu alcançar uma elegância notável no Quinta da Gaivosa Vinha do Lordelo 2016. Aqui, o destaque foi potenciado pela Tinta Amarela, outra das castas que esteve em risco de extinção e, actualmente, volta a surgir, conferindo elevada frescura e autenticidade ao lote.
O Quinta da Gaivosa 2015, encerra o V Capítulo, trazendo a expressividade da origem de tudo, onde as vinhas pré-centenárias observam o Marão e a floresta desenha nos vinhos um carácter inimitável e terroso.

Alves de Sousa
O testemunho da resiliência, surge no “Memórias” contado pelo Abandonado 2013, um vinho impossível, nascido de vinhas cujas raízes venceram a dureza xistosa, onde nenhuma outra vegetação resiste, apenas a vinha velha que apruma a personalidade do Douro.
O derradeiro Capítulo ficou reservado para o Alves de Sousa Reserva Pessoal, encerrando com o magnífico ano de 2011 os sete passos das Memórias de uma década de afirmação nacional e internacional, onde a marca Alves de Sousa é, hoje, garantia de valor maior e seguro do Douro.
“Memórias” Alves de Sousa, mais que um vinho, é um manifesto de uma carreira ao longo da qual nos foram ofertados alguns dos melhores vinhos portugueses. “Memórias”, une as partes para criar um vinho majestoso.

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2024)