Editorial: Rosa

rosa, rosae
rosae, rosarum
rosae, rosis
rosam, rosas
rosa, rosae
rosa, rosis

 

Editorial da edição nrº 75 (Agosto 2023)

Parece impossível, mas passado tanto tempo desde o antigo sétimo ano dos liceus, a primeira das cinco declinações latinas que tanto me custaram aprender ainda surge, fresca, na minha cabeça sempre que se falam de rosas ou, já agora, de rosés. A inutilidade da coisa sempre me surpreendeu. Porque diabo continuo a guardar no cérebro espaço para isto? Mas, provavelmente, estarei a ser injusto com o meu esforçado professor de latim. A verdade é que os rudimentos da língua morta que me ficaram na memória tiveram algum préstimo ao longo da vida, ajudando a mais facilmente navegar pelos vocabulários de outras línguas, sobretudo as de origem latina, mas não só. No caso concreto, serviu-me também para introduzir o assunto dos vinhos com a cor das rosas, ou melhor, a cor que é suposto as rosas terem. Vinhos esses que são tema de capa desta edição de agosto da Grandes Escolhas.

Tão complexas e diversas são as declinações latinas quanto o mundo dos rosés. Tanta coisa mudou em tão pouco tempo. “No princípio era o Mateus”, parafraseando o versículo bíblico. Exaltado no estrangeiro, vilipendiado em Portugal, acusado de ser “vinho de senhoras” (curioso “insulto” este…) ou, pior ainda, nem ser vinho. Certo é que o velhinho Mateus continua a dar cartas e, acreditem, na sua versão “dry” bate muitíssimos rosés bem mais caros e engalanados.

Mas os rosés são, como acima disse, um mundo. Há-os de todas as tonalidades, intensidades, qualidades, castas, origens, teores de álcool ou açúcar. E a diversidade estende-se também ao nível de ambição. Nos últimos cinco ou seis anos são cada vez mais os rosés portugueses que se instalam, não nas competições distritais, mas na liga dos campeões. Entre os 52 rosés que Valéria Zeferino provou para esta edição, cerca de metade custa mais de €15. E muitos estão bem acima dos €20. E o melhor de tudo? Valem bem o que se paga por eles!

Já tive algumas vezes oportunidade de provar, com amigos estrangeiros que fazem da escrita de vinhos profissão, alguns dos melhores rosés nacionais ao lado de nomes grandes da Provence, incluindo a marca preferida de Uma Thurman (e os gostos da gloriosa Uma merecem toda a minha atenção). E cada uma dessas vezes eu, que em nada sou adepto do “nacional é bom”, constatei com imenso gozo a coça que os franceses levaram.

Há quem diga e escreva que o rosé é um tinto que quer ser branco ou um branco que quer ser tinto, não conseguindo nunca fazer tudo o que um tinto ou branco fazem. Permitam-me discordar com veemência. Um rosé de topo não é um mero substituto para os dias de calor. Quando é grande, é grande, tal como um branco ou um tinto. Apenas, num aspecto deixo o benefício da dúvida. Sempre acreditei que um vinho para ser grande necessita passar a prova do tempo. Acontece que o histórico de Portugal em rosés de topo é recente. Mas ainda assim, tenho em casa rosés de que gosto, com quatro ou cinco anos de idade, e que se mostram melhores do que nunca. Vamos deixá-los estar e conversamos depois.

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