Barão de Vilar: Porto, Douro e algo mais

Legenda da foto: Fernando e Álvaro van Zeller

O nosso encontro começou no Pocinho. À porta de um enorme armazém, que de bonito não tem nada, estão centenas de meias barricas, todas vazias. Isto é para Porto? Indagamos, mas Álvaro van Zeller, o nosso guia e anfitrião, responde: é e não é! Como assim? Insistimos. A explicação vem logo: “este é dos bons negócios que temos na empresa; recebemos barricas (normalmente 200 por mês) vazias que serviram a vinho tranquilo e depois de cheias com água e tratadas com metabissulfito, são, depois de lavadas, avinhadas com Vinho do Porto pelo tempo que o cliente quiser: 3, 5, 6 e 12 meses. O cliente neste caso são empresas de bourbon americano, o whiskey que, desta forma, ganha um plus em virtude de a barrica ter estado avinhada com Porto. Mais tempo, mais caro. O negócio torna-se muito interessante porque o Porto, uma vez esvaziadas as barricas, fica em cubas de inox e volta a ser usado nas próximas que chegarem.

Como lembra Álvaro, “apenas fazemos prestação de serviços, vêm cá pô-las e buscá-las, o negócio que depois fazem com elas já não é connosco”. A dimensão enorme do armazém climatizado comporta, para já, 1500 destas barricas e poderá atingir as 2000 quando se alargar a instalação, algo já previsto.

barão de vilar

 

Os irmãos Fernando e Álvaro van Zeller têm uma longa experiência no negócio Douro e Porto

 

 

Aqui descansam também muitos tonéis e balseiros de vinho do Porto. Ao todo estamos a falar de 2,2 milhões de litros Porto de todas as categorias, ou seja, a maioria do stock que, no total atinge os 3 milhões de litros de fortificado, dos quais um milhão de vinhos velhos e Colheita datados. A estes números acrescem 2 milhões de litros de vinhos Douro. A empresa tem apenas tem 24 ha de vinhas próprias, adquirindo uvas em mais 280 hectares de várias zonas do Douro.
As vinhas próprias estendem-se desde a Quinta do Castro do Saião (que faz marca própria e vende vinho à Barão de Vilar, até vinhas no vale da Vilariça (Quinta do Tombo). A Quinta de Zom, em Freixo de Espada à Cinta, com 22 ha de vinhas, não pertence à empresa: fornece uvas e cede o nome. Existe a intenção de “puxar” pelo Saião, criando mais marcas, eventualmente com nomes de vinhas da quinta.
Para vinificar os DOC Douro a empresa criou desde 2008 uma adega em Santa Comba da Vilariça onde conta com Mafalda Machado como enóloga residente. E, para conseguir espaço para tudo armazenar, a Barão de Vilar ainda dispõe da adega de Romarigo (Régua), com capacidade de armazenagem de 6 milhões de litros e um centro de engarrafamento em Vila Nova de Gaia.

A Barão de Vilar passa agora a fazer parte deste grupo Van Zeller Wine Collection (e tem mesmo um terceiro sócio apenas a ela ligado). No conjunto a empresa aposta muito forte nos mercados externos e, assim, temos que o mercado interno apenas corresponde a 10% da facturação.
Tudo começou, devagarinho, quando a família van Zeller vendeu a Quinta do Noval à AXA Millésimes e quando os irmãos herdaram algum vinho do Porto da família. A partir daí, sobretudo com o impulso empreendedor de Fernando e as qualidades de Álvaro como enólogo, a empresa cresceu tremendamente e tudo aponta para que o crescimento vá prosseguir. A Van Zeller Wine Collection vai continuar a marcar pontos no Douro.

MUITAS COLHEITAS E MARCAS

As provas decorreram na adega da Vilariça e a equipa técnica (com Mafalda Machado) aproveitou a ocasião pare revisitar colheitas mais antigas de algumas marcas. O portefólio é de tal maneira amplo que seria impossível fazer aqui uma prova da totalidade dos vinhos. Dos que provámos, aqui ficam algumas notas e impressões.
A prova estendeu-se pelas várias marcas do grupo. Começámos com a colecção de vinhos Kaputt, uma marca nascida ocasionalmente, quando foi preciso encontrar nome para um vinho que reunia lotes de várias colheitas; começou por ter edição em branco, de que deixamos aqui a nota da 2ª edição. A primeira teve engarrafamento em 2016 e fizeram-se, na altura, 2645 garrafas. Provado agora mostrou que continua numa forma excelente, leve aroma de pólvora, até com notas longínquas a lembrar Sauternes. Dá muito prazer a beber e, curiosamente, num patamar ligeiramente acima da 2ª edição. Poderá custar agora €70. Todos os anos tentam o Kaputt quer no branco quer no Orange. Estão a deixar brancos de reserva para ver o que acontece. Provam duas vezes por ano para ver como estão a evoluir. É assim expectável que novas edições surjam no futuro.

A marca Zom não corresponde a vinhas da quinta de Zom. Para já é um nome apenas e estende-se por três patamares de vinhos: os Colecção (topo de gama), Grande Reserva e Reserva, Garrafeira e genéricos. Nesta gama fizemos uma prova extensa, tendo ficado de fora o branco Reserva e o rosé. O Reserva tinto (15000 garrafas/ano) e o Grande Reserva já foram provados em várias edições pela Grandes Escolhas; é o caso do Grande Reserva 2017 que, provado agora, se mostrou muito bem, ainda cheio de pequenas nuances aromáticas de muita qualidade. O preço de mercado rondará agora os €30. Provámos a 1ª edição do Garrafeira mas, dizem-nos, será para continuar em próximos anos. Os tintos Zom Colecção – apresentados numa garrafa de formato original desenhada em conjunto com Martin Berasategui – só terão edição em anos considerados de muito nível, com produções entre 3500 e 5000 garrafas. Além dos dois aqui notados provámos também o Zom Colecção 2009 que mostrou estar agora no zénite, no seu melhor momento de prova, com todos os elementos a darem muito boa conta de si. O registo é de elegância mas a dar-nos sinais de que tem ainda argumentos para continuar em cave.
A gama Reserva é bem mais acessível em termos de preço, com uma qualidade assinalável. Foi um pouco para mostrar esse aspecto que provámos duas edições mais antigas que nos confirmam a aptidão destes vinhos para a vida em cave.

A gama dos vinhos do Porto da empresa estende-se por várias marcas (a mais conhecida será a Barão de Vilar), umas destinadas sobretudo aos mercados externos – como é o caso da Feuerheerd’s, marca adquirida à família Barros – outras mais vocacionadas para uma forte presença no mercado interno, como a Maynard’s e uma, mais discreta, onde estão incluídos alguns dos topos de gama, com a marca Palmer, apenas destinada ao canal HORECA. O que houver de melhor sairá com a marca Palmer, quer Colheita, quer Vintage. A Maynard’s, ainda que dos mesmos anos, vai continuar a ter vinhos do Porto mas de lotes diferentes, de outro patamar em termos de preço.

 

Os melhores lotes vão para umas marcas, as segundas linhas para outras. O portefólio da empresa é um puzzle que não será fácil de gerir.

 

A Van Zeller Wine Collection dispõe de stocks para todas as gamas de Porto e as várias marcas de vinho do Porto incluem também praticamente todas as categorias, que vão dos vinhos de entrada de gama até aos Vintage e Colheitas que se prolongam até aos anos 40 do século passado. Os melhores lotes vão para umas marcas, as segundas linhas para outras. Ao ver o portefólio da empresa conseguimos perceber que se trata de um puzzle que não será fácil de gerir. Com a excepção da Feurheerd’s, todas as outras marcas, incluindo a Barão de Vilar, correspondem a antepassados dos van Zeller, ligados ao negócio do Vinho do Porto. Os lotes de vinhos do Porto mais antigos correspondem a compras feitas na Casa do Douro que dispõe de um enorme acervo de vinhos velhos e onde, com frequência, as empresas do sector adquirem vinhos mas que, como nos referiu Álvaro van Zeller “são vinhos que precisam depois de ser educados em cave, desde retirar cobre, corrigir a aguardente e a acidez, nomeadamente a volátil, que por vezes vem em níveis muito baixos e isso exige estágio em barricas não atestadas para forçar a oxidação e fazer subir a volátil”. No entanto sublinhou que, mais do que vendedores de Porto a terceiros, são sobretudo compradores, uma vez que têm necessidade de grande stock para todas as marcas.

No caso do Porto Vintage, diz-nos Álvaro “enviamos sempre amostras para aprovação mas nem sempre comercializamos. O 2012 está em venda agora mas, por exemplo, anda não lançámos o 14 ou o 15; mas o 16 e 17 já foram editados; os vintages de 2018, 19 e 20 estão engarrafados e logo se vê. Se não comercializarmos, podemos abrir as garrafas, pede-se ao IVDP para desclassificar o vinho e é integrado na conta corrente do ano”.

(Artigo publicado na edição de Dezembro de 2023)

SIGA-NOS NO INSTAGRAM
SIGA-NOS NO FACEBOOK
SIGA-NOS NO LINKEDIN
APP GRANDES ESCOLHAS
SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER
Fique a par de todas as novidades sobre vinhos, eventos, promoções e muito mais.