Esporão: As novas “cartas” a jogo

Prova Grande, ou seja, dia de provas com o Esporão. Nas magníficas instalações do Salão Nobre do Instituto Superior de Agronomia, muitas linhas de mesas equipadas com copos, o staff do Esporão azafama-se nas últimas preparações. O responsável máximo da empresa, João Roquette começa a sessão salientando que o seu pessoal lhe pediu para repetir uma coisa que tem tido de afirmar todos os dias: “o Esporão não está à venda.” Com isto esclarecido, podemos começar.
João anuncia uma parceria de 30 anos com o ISA, com a renovação de um armazém dentro do campus, onde abrirá um restaurante, escritórios para sediar o Esporão, e ainda um museu. A ideia é manter uma maior proximidade com os centros de investigação com os quais o Esporão vai mantendo colaborações. Depois do almoço visitámos as obras, e o sítio promete, com espaço amplo e arquitectura de traça elegante, antiga.

Base agrícola
Roquette apresentou o Esporão como uma empresa de base agrícola, e diferenciada por isso: mais focada no produto do que no mercado. “O sonho é mais importante do que as tendências.” Um desses sonhos foi a conversão para agricultura biológica, em 2007. Como marca multi-produto e multi-região, o Esporão já não é uma empresa de vinho que faz azeite, é uma marca de vinho e azeite, a tal base agrícola. Também aqui em contracorrente, por usar uma base de olivais antigos, com menor produção do que os modernos olivais intensivos e super-intensivos, que esgotam os terrenos em poucos anos.
Desde o arranque, em 1973, o Esporão alargou a sua influência, com aquisição e reunião de parcelas na propriedade original de Reguengos de Monsaraz, e também as aquisições da Quinta do Ameal, perto de Ponte de Lima, e da Quinta dos Murças, perto de Peso da Régua. Desde 1997 que a propriedade está aberta aos visitantes, com os seus vários motivos de interesse enológico, mas também importantes vestígios arqueológicos e um restaurante premiado com uma estrela e uma estrela verde Michelin.

A prova do tempo
No dia da Prova Grande, veio o chefe de cozinha, Carlos Teixeira, dar-nos uma amostra da sua cozinha inspirada e apoiada na terra e suas épocas. Provámos novos vinhos e algumas raridades da biblioteca, que mostraram como os vinhos aguentam e agradecem a prova do tempo. Depois voltámos a provar esses vinhos à mesa, para mostrar como eles são realmente desenhados para serem bebidos, não apenas provados.
Para além do trabalho, houve o convívio com os enólogos das várias regiões, que já antes tinham apresentado cada um dos respectivos terroirs. A enologia é agora liderada por José Luís Moreira da Silva, com Lourenço Charters como responsável pelos vinhos do Esporão, enquanto Mafalda Magalhães faz os vinhos do Ameal e dos Murças. O Esporão lança, ainda nesta altura, uma nova linha de pequenas vinificações experimentais, chamadas Fio da Navalha, onde os enólogos podem livremente ousar coisas novas. Há um excelente Ameal “Pote”, estagiado em pequenos potes de barro, um alentejano “No Campo”, feito por Teresa Gaspar com 104 castas brancas do campo ampelográfico, um Douro “Curtido”, feito por Lourenço Charters com Verdelho de Penajoia, e um minhoto “Primário”, feito por Lourenço Charters com as castas Paço do Curutelo e Padeiro de Basto. Neste caldo de cultura, que o público pode adquirir nas lojas de enoturismo do Esporão, e de onde possivelmente sairão novos vinhos, sairão certamente novas aprendizagens.

(Artigo publicado na edição de Agosto de 2024)

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