Quinta das Chaquedas: Lote 5, do sonho à realidade

Legenda da foto: Francisco e Ana embarcaram num sonho comum e compraram, em 1991, a Quinta da Cascalheira, no vale do Rio Torto, com cerca de oito hectares.

Quantos apreciadores de vinhos, mais ou menos exigentes com as suas escolhas, é que nunca pararam para pensar, nem que fosse apenas por um breve momento, na produção e comercialização do próprio vinho? Em boa verdade, quase todos já devem ter sonhados com uma vida mais próxima da natureza, desenvolvida a um ritmo mais lento, capaz de nos fazer apreciar os prazeres verdadeiramente simples da observação da floração ou do processo de coloração dos bagos das uvas, já para não mencionar o momento de autêntica celebração familiar proporcionado pela vindima.

Estas reflexões, verdadeiramente romanceadas do mundo do vinho, esbarram na fria e inquieta realidade dos compromissos diários e dos objetivos anuais que nos fazem esquecer ou adiar para um amanhã, que tarde ou nunca chegará. Resta respirar fundo, suster a respiração e mergulhar na férrea agenda da vida real.
Ainda assim, de vez em quando, há quem persiga o sonho e comute uma existência bem estabelecida e melhor remunerada pela devoradora incerteza do lançamento de um projeto vínico de raiz, capaz de revitalizar uma antiga vontade familiar. Foi exatamente o que aconteceu a Ana Castro, que desenvolvia uma sólida carreira na área da advocacia em Vila Nova de Gaia e ao marido Francisco Narciso, coronel do exército português.

Assim, no ano de 1999, Ana e Francisco embarcaram num sonho comum e compraram a Quinta da Cascalheira, no vale do Rio Torto, com cerca de oito hectares. “Foi o primeiro passo do culminar da vontade familiar de estarmos juntos: marido, mulher e filhos”, referiu Ana Castro no evento de apresentação dos seus vinhos.
A propriedade tinha a particularidade de integrar uma vinha pré-filoxérica denominada Tiroliro, a que se juntou, mais tarde, uma outra designada Ferradura. Eram pouco produtivas e careciam de um acompanhamento especial e continuado. Assim, dois anos depois, Ana Castro e a filha, com cinco anos, mudaram-se de armas e bagagens para a Quinta, para melhor acompanhar os trabalhos aí desenvolvidos.

 

A criação das Chaquedas

Pouco tempo depois, em 2003, fortaleceram o sonho ao comprarem uma nova propriedade em Santa Marta de Penaguião, renomeada Quinta das Chaquedas “em honra ao meu avô, que detinha uma propriedade homónima na histórica praia da Madalena, em Vila Nova de Gaia”, contou Ana Castro.
No decurso dos três anos seguintes o casal reuniu finalmente os cinco elementos familiares e, com ânimo renovado, reconstruiram a casa principal e edificaram uma adega e um espaço para desenvolver enoturismo.

Tal como centenas de famílias na multicentenária região do Douro, as primeiras produções foram vendidas a outras marcas mais sonantes. Neste caso particular foi celebrado um contrato com a Taylor’s “prevendo o acompanhamento na viticultura por um trio de luxo constituído por António Magalhães, David Guimarães e Carlos Rodrigues, que ainda hoje nos acompanham”, disse Ana Castro.Com passar dos anos, o projeto familiar sonhou dar mais um passo, “o lançamento de vinhos de nicho com uma marca própria e imagem distinta”. Assim, o projeto vínico familiar cunhou a marca Chaquedas, em 2010, e lançou no mercado o primeiro vinho tinto, ao qual se juntaram outras referências nos anos subsequentes.
No entanto, como salientou Ana Castro, “o mercado não acolhia facilmente o nome Chaquedas e tivemos de criar, em 2016, uma nova marca capaz de reunir os valores e imagem da família. E assim surgiu o nome Lote 5, que significa a união de uma família de cinco elementos”.
Nesta nova fase do projeto, a família realizou uma aposta ainda mais forte. Manteve o trio de viticultura e juntou o trabalho de Miguel Freitas que, nas palavras de Ana Castro “desenvolveu um trabalho de imagem muito criativo e identificador da família”. Contratou ainda a consultoria do enólogo Jorge Alves, com vasta experiência em projetos durienses.

Nos anos subsequentes, a família ampliou a área de plantação com a compra de 24 hectares dispersos pelo Vale do Rio Torto e outras localizações na sub-região do Cima Corgo, o que permitiu o alargamento do portefólio, com o aparecimento de novas referências, incluindo vinhos tintos, brancos e um rosé. No entanto, como referiu Ana Castro “esta expansão teve sempre a ideia de fazer vinhos de nicho bem feitos e muito acima da média”.
Este projeto familiar, desenvolvido na região do Douro, mostra bem que ainda há lugar para concretizar o velho sonho de produtor de vinhos de qualidade, desde que este esteja num local autêntico, com vinhas únicas e intervenientes relevantes.

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2025)

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