Já escrevemos, noutras vezes, quanto histórica é a Casa da Passarella. Descrevemos o seu passado resplendor e refletimos a propósito da sua importância na região do Dão. Com efeito, instaladas no sopé da montanha e a muitas centenas de metros de altitude, as vinhas centenárias da Casa da Passarella são, desde há muitos, o berço de vinhos que refletem um património genético ímpar, construído ao longo de vários séculos.
Ora a nova e atual fase desta casa clássica acarreta consigo, talvez, o perfil mais ambicioso de sempre, sendo disso bom exemplo o restauro do casario, a recuperação e reestruturação das muitas vinhas existentes e a extensa gama de vinhos, todos de qualidade inabalável. Sim, o nível geral dos vinhos é excelente de forma transversal, mas verdade seja dita, que os brancos foram os primeiros a destacar-se no mercado. Efetivamente, perante um conjunto cada vez maior de consumidores ávidos por brancos estruturados, mas frescos e minerais, o enólogo Paulo Nunes cedo ofereceu, a partir da Passarella, um leque de vinhos inigualável, com entradas de gama de qualidade inaudita e topos de gama inesquecíveis. Consciente da fama crescente dos seus vinhos brancos, a Casa da Passarella desceu a Lisboa munida com as mais ambiciosas novidades em matéria de tintos, como que a pretender comprovar que, também estes, os tintos, portanto, merecem destaque e atenção cuidada.
Quanto a nós, nunca duvidámos disso, e sempre tivemos por mais do que um tinto da Passarella uma especial devoção. Mas, mesmo assim, não perdemos a oportunidade de provar e comprovar os melhores tintos da casa uma vez mais, agora nas novas colheitas.
Primeiro lado a lado, e depois maridados com as excelentes criações gastronómicas do Chef Rui Silvestre no restaurante Fifty Seconds em Lisboa, foi um evento único. Os cinco tintos apresentados assinalam o regresso das versões tintas de duas gamas, a saber: a marca Villa Oliveira, a primeira a ser criada, há mais de 130 anos, e um dos best-sellers do produtor, e a marca O Fugitivo, centrada no lançamento de vinhos que são projetos especiais, tendencialmente disruptivos e irrepetíveis.
O enólogo Paulo Nunes cedo ofereceu, a partir da Passarella, um leque de vinhos inigualável
Frescura excelsa
Mas vejamos, mais em pormenor, as novas colheitas e comecemos pelos três novos Villa Oliveira. O Vinha das Pedras Altas nasce de uma vinha com mais de 90 anos, onde constam várias castas autóctones (Baga, Alfrocheiro, Touriga Nacional e Alvarelhão, entre outras) todas elas colhidas à mão. Após uma fermentação espontânea em cuba de cimento com maceração pré e pós-fermentativa, seguiu-se um total de 36 meses de estágio em tonel de madeira de 30 hl, permitindo a estabilização natural deste vinho, excluindo a necessidade de filtração. A edição de 2017 está perfeita na conjugação de fruta encarnada com frescura excelsa. O Villa Oliveira Vinha Centenária Pai D’Aviz também é sujeito ao mesmo protocolo de vinificação e estágio, mas provém de outra vinha, um pouco mais velha até (e, portanto, centenária), igualmente com muitas castas misturadas (Baga, Jaen, Tinta Amarela, Tinta Pinheira, entre outras). Aqui a colheita a lançar é 2018, e o nível é estratosférico! Outro vinho que regressa é um dos mais conhecidos do produtor, o Villa Oliveira Touriga Nacional, desta feita também de 2018. Temos aqui um autêntico clássico, de perfil encorpado, com madeira presente, mas sempre fresco e elegante.
Mas nesta apresentação, os Villa Oliveira não surgiram sozinhos e fizeram-se acompanhar por duas novas colheitas de uma coleção mais irreverente: O Fugitivo Pinot Noir, a revelar que o Dão, em anos frescos como 2021, consegue produzir Pinot Noir delicado e distinto, não sendo de estranhar que a casta seja utilizada na Casa da Passarella há mais de um século. Por outro lado, O Fugitivo Espumante Baga que, em 2018, se apresenta a um nível mais alto do que antecipávamos, um espumante que resulta da recuperação dos ensaios sobre espumantização, realizados nos anos 1930 e 1940, fazendo-se usufruto do método clássico e da Baga. Novidades frescas, novidades a não perder!
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2025)