A Costa Boal Family Estates é uma empresa produtora de vinhos nas regiões do Douro, Trás-os-Montes e, desde 2020, em Estremoz, no Alentejo. A tradição da vinha e do vinho na família de António Boal, 45 anos, o seu fundador, remonta a 1857 e tem origem numa das aldeias da região duriense, Cabêda, no planalto de Alijó. Com foco nas vinhas e apoiada numa equipa coesa, a Costa Boal tem apostado na valorização do seu património vitivinícola para construir um projeto de vinhos consistente e de qualidade. Os seus autores são o próprio António Boal, e Paulo Nunes, enólogo há muito tempo ligado a este projecto.
O património vitícola e de terroirs da Costa Boal permite-lhe produzir uma diversidade de estilos de vinhos cuja qualidade e distinção lhe tem permitido crescer e solidificar o seu posicionamento nos mercados onde está presente. E não vai parar por aqui, já que António Boal está sempre a pensar em novos investimentos, feito com base numa procura de novos terroirs, onde existam, de preferência, vinhas velhas, a partir dos quais possa produzir, e oferecer ao mercado, vinhos distintos.
A Herdade dos Cardeais fica numa zona mais fresca do Alentejo e os seus solos têm origem numa faixa de transição entre xistos e os mármores de Estremoz
Oportunidade no Alentejo
António Boal, 45 anos, é também natural de Cabêda. Desde muito novo, acompanhou o pai nos trabalhos agrícolas da família, ajudando a fazer a vindima, as podas, os tratamentos e até a plantação de vinha. Com o falecimento do progenitor, tinha então 19 anos, tomou nos braços o negócio herdado, depois de já ter adquirido algum conhecimento no curso técnico de Gestão Agrícola da Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Rodo, na Régua. Mais tarde fez também o curso de Engenharia Alimentar no Instituto Piaget, em Mirandela.
Aos 24 anos começou a desenhar os primeiros vinhos para o mercado regional. Mais tarde, aventurou-se no mercado nacional e depois na exportação, sempre com muita atenção a cada passo dado, e vontade de adquirir conhecimento que lhe permitisse ir mais longe. Foi esse que o fez decidir crescer investindo noutras regiões para além da sua de origem, o Douro.
Já foi com o actual sistema de distribuição, baseado em distribuidores regionais em Portugal e distribuidores locais nos mercados externos onde está presente, já montado, que avançou, primeiro para Trás-os-Montes e, mais recentemente, para o Alentejo.
Comprou a Herdade dos Cardeais após alguns anos à procura de oportunidade de investimento na região. “Mas tudo o que me aparecia eram sempre projectos demasiado grandes, com mais de 70 hectares de vinha, o que exigiria uma estrutura enorme e a construção de uma força de vendas muito grande, o que não era o meu objectivo”, conta António Boal. Até que surgiu a oportunidade de comprar a Herdade dos Cardeais, que foi adquirida em 2020.
Nessa altura tinha 10 hectares de vinha, uma adega e um stock de vinhos de 140 mil litros. Para além disso, o encepamento era composto por vinhas com cerca de 20 anos das castas tintas Aragonez, Syrah, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot e Alicante Bouschet e brancas Antão Vaz, Roupeiro e Arinto, este plantado em 2014, o que agradou ao enólogo da empresa, Paulo Nunes, já que havia o potencial para produzir os vinhos mais frescos que pretendia fazer no Alentejo.
“O objectivo da nossa empresa, desde o início, é fazer pequenos volumes com valor acrescentado, e foi por isso que comprámos a Herdade dos Cardeais, pois fica numa zona mais fresca do Alentejo e os seus solos têm origem numa faixa de transição entre xistos e os mármores de Estremoz”, explicou o proprietário da Costa Boal Family Estates durante o evento de lançamento.
Vinhos com assinatura
Foi a partir do que havia em stock que foram lançadas as primeiras referências da Quinta dos Cardeais, da colheita de 2019, em 2023. Mas os dois tintos de 2020, um Reserva e um Grande Reserva, e os dois brancos apresentados à imprensa, e ao mercado, foram totalmente produzidos pela equipa da casa.
“A grande diferença entre os vinhos da colheita de 2019 e os que estamos a lançar agora é que foram pensados na vinha”, o que implicou que “o maneio e a condução das plantas foram readaptados para produzir os vinhos que pretendemos”, explicou Paulo Nunes no almoço de lançamento das novas colheitas, que decorreu no restaurante Plano, em Lisboa. Ou seja, houve redução da carga de cachos por planta, e diminuição do volume de rega, o que deu origem a uma produção significativamente menor e contribuiu, com a “enologia minimalista” usada na adega, para que os vinhos “expressem toda a identidade da região”.
Um vinho é sempre melhor com uma boa história por detrás. E se esta não existir, “nós acabamos por ser mais um dos muitos que estão no mercado”, o que tornaria o negócio da sua empresa mais difícil de gerir e António Boal não quer. Foi, por isso, que só avançou para o Alentejo nesta década. “Se fosse apenas uma marca, engarrafava e até podia fazer o melhor vinho do mundo, mas não tinha a história, a adega, a terra, as castas, o perfil que idealizamos”, defende. Em 2025 lançou os primeiros vinhos das colheitas de 2021 em diante da Quinta dos Cardeais, “produzidos com a nossa viticultura e enologia”, salienta.
A filosofia do projecto da Costa Boal Family Estates é fazer vinhos a partir de pequenas quintas, com 10 a 12 hectares de vinha até agora, com controlo total da produção nas regiões onde está activa, “para não depender de terceiros”, onde tem, em cada uma delas, uma adega. “Esta forma de estar e agir no negócio é mais dispendiosa, mas permite-nos adquirir um conhecimento essencial para fazer vinhos diferenciados, cujas características variam com as condições de cada ano”, explica. Mas é preciso vendê-los e António Boal já sabe, hoje, a melhor forma de o fazer.
Um negócio de amizades
“O negócio do vinho passa pela proximidade”, pelo estabelecimento de amizades, explica, salientando que foi isso que lhe aconteceu muitas vezes ao longo do tempo. “Hoje tenho clientes que foram, primeiro, amigos”, revela dizendo que não basta chegar a um restaurante, apresentar um vinho e deixar a garrafa.
“Sem um relacionamento estabelecido não se vende vinho, porque é um negócio que tem, como base, relacionamentos e amizades que o tornam sustentável”, pelo menos nas empresas de pequena e média dimensão, que não têm grandes equipas de vendas com acesso a toda a rede de clientes. “É, por isso, que quando vou a qualquer parte do país, faço questão de visitar sempre vários clientes, os restaurantes que conheço, para cumprimentar as pessoas, saber como está a correr a venda de vinhos e o que precisam de nós. É parte essencial dos projectos”, defende.
António começou por ser agricultor e, depois, produtor de vinho. Mas isto não basta para gerir um negócio onde é essencial saber comunicar, vender e cobrar e garantir a sustentabilidade económica de forma duradoura. As bases para isso foram-lhe comunicadas pelo pai através de uma frase que este lhe dizia muitas vezes: juntar dinheiro custa, mas gastar é rápido. “No fundo, o que tenho feito é usar essa frase sábia colocando-a em prática, mantendo uma racionalização de custos que nos tem permitido aumentar o nosso património cada vez mais, e acrescentar valor nos produtos que colocamos no mercado”, explica o proprietário da Costa Boal Family Estates. “E não vamos ficar por aqui, já que projectamos avançar para mais regiões”.
Hoje a Costa Boal está presente em três regiões, Douro, Trás-os-Montes e Alentejo, a partir das quais engarrafa cerca de 400 mil garrafas de vinho. Neste momento é uma empresa estável, que já está a apostar no enoturismo, projecto que deverá arrancar com base numa quinta de 1932, que fica em Favaios. Nela vai ser desenvolvido um hotel e um restaurante. Mas não vai ficar por aqui, porque prepara-se para entrar noutras sub-regiões em breve. No ano passado adquiriu mais 10 hectares de vinha velha em Trás-os-Montes, o que faz, da Costa Boal Family Estates, um dos principais produtores com vinhas velhas nesta região. “Tanto eu, como o enólogo e o responsável de viticultura gostamos de desafios e o nosso limite é o céu”, diz ainda António Boal.
As regiões e quintas da Costa Boal
Douro
No berço duriense da Costa Boal, na aldeia de Cabêda, está instalada a antiga adega da família, datada de 1857. Mantém os lagares tradicionais de granito, nos quais se faz ainda a pisa a pé as uvas. É a casa onde repousam, entre outros, os Vinhos do Porto velhos e muitos velhos da Costa Boal, que aqui produz as referências Costa Boal e Flor do Côa.
Nesta região, a Costa Boal possui a Quinta dos Tojais (Cabêda, Alijó), Quinta do Sobredo (Vilar de Maçada, Alijó), Quinta Vale de Mouro (Vila Nova de Foz Côa), Quinta da Pia (Porrais, Murça) e a recém adquirida Quinta de Arufe, em Favaios, onde se vai desenvolver o primeiro projecto da marca na área do enoturismo. A empresa produz também azeite a partir de oliveiras centenárias das variedades Madural, Verdeal e Cobrançosa nesta região.
Trás-os-Montes
É das vinhas velhas da Quinta dos Távoras, em Mirandela, uma das propriedades da Costa Boal na região transmontana, que são colhidas as uvas para os vinhos Flor do Tua, Quinta dos Távoras e Palácio dos Távoras. A Costa Boal detém nesta região uma vinha histórica centenária, em Miranda do Douro, nas arribas do rio, mesmo junto à fonteira com Espanha.
A aquisição de mais 10 hectares de uma vinha velha, com mais de 67 anos, fez crescer a área explorada pela empresa para os 22 hectares, reforçando o seu posicionamento como produtor de vinhos de vinhas velhas.
Alentejo
A Costa Boal Family Estates chegou em 2020 ao concelho de Estremoz, sub-região do Alentejo, uma propriedade com 10 hectares de vinha, com a compra da Quinta dos Cardeais. É a partir dela que são produzidas as gamas Quinta dos Cardeais e Monte dos Cardeais. Em 2025 foram lançados os primeiros vinhos.
(Artigo publicado na edição de Julho de 2025)