AXA MILLÉSIMES: Pichon Baron e Suduiraut, esplendor bordalês

Quando se fala da AXA Millésimes em Portugal, a memória recai quase inevitavelmente sobre a reputada Quinta do Noval, um nome de peso no Douro. Alguns lembrar-se-ão também da Quinta do Passadouro. Porém, esta divisão da seguradora francesa está na origem de um portefólio internacional de propriedades vitivinícolas históricas, adquiridas numa altura menos favorável, revitalizadas e elevadas novamente à excelência.

Nesse conjunto cintilam dois nomes maiores de Bordéus: Château Pichon Baron e Château Suduiraut, ambos presentes na famosa Classificação de 1855. Aos vinhos destas duas propriedades foi dedicada a masterclasse organizada pela Vinitrust e conduzida por Ana Carvalho, embaixadora global da AXA Millésimes.

Pichon Baron, a majestade de Pauillac

Quem percorre a Estrada D2, ao longo do Médoc, conhecida como “Route des Châteaux”, dificilmente passa sem reparar no Château Pichon Baron. Trata-se de um castelo de arquitectura renascentista francesa do século XIX, com duas torres e pináculos simétricos. A sua silhueta, digna de um conto de fadas e reflectida num lago artificial em frente, faz dele um dos postais mais reconhecíveis e fotografados da região.

Fundado no final do século XVII por Jacques de Pichon, barão de Longueville, o château permaneceu nas mãos da família por mais de duzentos anos. Em 1850, uma partilha familiar deu origem ao Château Pichon Baron tal como o conhecemos hoje, erguido por Raoul de Pichon, herdeiro da casa. À sua frente, do outro lado da estrada, fica o Château Pichon Longueville Comtesse de Lalande que outrora pertencia à mesma família.

O século XX trouxe as inevitáveis oscilações da fortuna. Foi em 1987 que a história ganhou novo impulso: a aquisição pela AXA Millésimes marcou o renascimento da propriedade. O Director Técnico Jean-René Matignon, que entrou praticamente na mesma altura, conduziu a transição com sabedoria até 2022, ano em que passou o testemunho a Pierre Montégut, também responsável pela enologia no Château Suduiraut.

Os 75 hectares de vinha, que é uma dimensão média para a região, representam o encepamento clássico de Pauillac com 66% de Cabernet Sauvignon, 27% de Merlot, 5% de Cabernet Franc e 1% de Petit Verdot, sendo que as últimas duas variedades nunca entram no Grand Vin. No passado utilizavam Petit Verdot e Cabernet Franc, mas hoje não, pois “o Cabernet Franc tem manias e o Petit Verdot confere rusticidade ao vinho”. Ainda têm cerca de 1% Semillon, o resultado da selecção massal “importada” do Château Suduiraut, do qual fazem um vinho branco seco. A idade média das videiras ronda os 35 anos, fruto de uma política de replantação anual de cerca de 1% de encepamento.

A vindima é feita manualmente e de forma muito selectiva, ao contrário de um período menos feliz da propriedade, quando a uva era colhida à máquina. A fermentação ocorre separadamente, por parcelas e castas, para isso contam com depósitos de variadíssimas dimensões.

Nos anos 1990, o Grand Vin superava as 300 mil garrafas. Hoje, em busca quase obsessiva pela qualidade, esse número foi reduzido para metade através dos critérios da selecção mais exigentes. Les Griffons de Pichon Baron, criado em 2012, junta-se ao já conhecido Les Tourelles de Longueville, como segundo vinho, mas com perfis distintos. O primeiro espelha a seriedade tânica do Grand Vin; o segundo, mais dominado pelo Merlot, revela-se pronto mais cedo. O uso de barrica nova no Grand Vin corresponde a 80% e é mais moderada nos restantes.

 Château Suduiraut, a doçura repensada

A história de Château Suduiraut começou em 1580, por meio do casamento entre Nicole d’Allard e Léonard de Suduiraut. Os jardins do château, desenhados por André Le Nôtre, o mesmo de Versailles, ainda hoje testemunham grande ambição estética. Ao longo dos séculos, o Château Suduiraut foi passando de mão em mão, até mudou de nome durante algum tempo. A propriedade encontrou novo fôlego, quando foi adquirida, em 1992, pela AXA Millésimes.

Sob a direção técnica de Pierre Montégut, a casa soube adaptar-se à nova realidade: o Sauternes doce, outrora símbolo de luxo e longevidade, nas últimas décadas ia perdendo o terreno na mente do consumidor. O caminho foi claro — manter o grande vinho em doce, mas abrir espaço para a frescura dos brancos secos, também mais económicos em termos de produção e menos dependentes das condições climatéricas. Estes, não podendo levar o nome de Sauternes por imposição legal, surgem sob o rótulo genérico de Bordeaux Blanc Sec. Uma injustiça, talvez, mas uma realidade, por enquanto.

O primeiro branco seco, S de Suduiraut, foi lançado em 2004. Rebaptizado como Lions de Suduiraut, em 2021, assumiu outra ambição. É um blend de Sémillon, Sauvignon Blanc e Sauvignon Gris (casta que Pierre Montégut aprecia bastante por ser menos aromática do que o Sauvignon Blanc e conferir mais corpo), feito com maceração pelicular e fermentação parcial em barrica. A produção ronda as 70 mil garrafas.

Num patamar acima surge o Château Suduiraut Vieilles Vignes, com primeira colheita em 2020, feito a partir das vinhas mais velhas (45 anos) de Sémillon e Sauvignon Blanc. Sujeito a uma prensagem longa, extraindo alguns polifenóis, com fermentação e estágio em barrica (12% nova) de 9 meses.

No capítulo doce, o Château Suduiraut 2010 que provámos tinha 90% Sémillon e 10% Sauvignon Blanc. Em anos recentes, optaram por fazer o vinho exclusivamente com Sémillon, numa afirmação de identidade. A colheita, em várias passagens entre setembro e novembro, antecede um estágio de 20 meses, com 50% de barrica nova.

(Artigo publicado na edição de Outubro de 2025)

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