RIBEIRO SANTO: Um quarto de século para celebrar

Legenda da foto: Carlos Lucas com o enólogo Bernardo Santos

Carlos Lucas, natural de Coimbra, enólogo e produtor vitivinícola, tem motivos para comemorar. A Ribeiro Santo completa 25 anos e o filho, Diogo Lucas, com a mesma idade, integra, desde este ano, a equipa desta casa pertencente à região vitivinícola do Dão. Mas o nosso anfitrião volta um pouco atrás no tempo, para explicar a origem da designação que abrange as sub-marcas da empresa, mais concretamente a 1995, ano da compra da propriedade da casa da família, a Quinta do Ribeiro Santo, situada em Oliveira do Conde, no concelho de Carregal do Sal. De acordo com as palavras do proprietário, o nome advém do copioso ribeiro, que nunca seca.

Esta quinta mantém o núcleo vinhateiro de Carlos Lucas, enquanto produtor de vinho, que, além da vinha ali existente, preparou a terra para, em 1997, plantar mais videiras, com base no rigor apreendido na juventude, em França. “A primeira colheita foi, portanto, em 2000”, da qual o enólogo detém uma dezena de garrafas de vinho feito a partir da casta Encruzado. A vinha totaliza, atualmente, dez hectares.

Ribeiro Santo

No próximo ano vão passar a ter 70 hectares de vinha. Graças à compra de 10 Hectares, em Tábua, onde vão plantar apenas a casta Encruzado.

Sobre a identidade da Ribeiro Santo, já naquela época, matéria sensível aos olhos do produtor, revela que foi criada pela empresa inglesa Amphora Design. “O primeiro rótulo da primeira colheita foi feito por esta empresa de design, hoje famosíssima no mundo”, enfatiza. Quanto ao lançamento da referência vínica, feita a partir da casta-rainha do Dão, Carlos Lucas optou por fazê-lo na The Wine Society, espaço de venda de vinhos a retalho mais antigo do Reino Unido. “Ainda hoje é nosso cliente”, acrescenta.

As colheitas sucederam-se e contribuíram para o crescimento do portefólio da Ribeiro Santo. Numa primeira fase, os tintos registam maior número de garrafas, sobre os quais Carlos Lucas destaca as colheitas de 2003 e 2005. “Mas também temos brancos e, nessa altura, só tinha Encruzado”, avança.

Novo capítulo

O ano de 2011 simbolizou o começo de uma nova era da Ribeiro Santo, com a fundação da Magnum Wines. Para além da revitalização do nome Ribeiro Santo, Carlos Lucas reforçou a aposta no portefólio da casa e materializou, em 2014, a construção de uma adega na Quinta do Ribeiro Santo. Em 2018, comprou a Quinta de Santa Maria. A propriedade, de dez hectares, situada em Cabanas de Viriato, no concelho de Carregal do Sal, próximo do rio Dão, mantém a vinha plantada, em finais dos anos 90 do século XX, pelo próprio, a qual ocupa cinco hectares.
“Em 2020, 2021, a Ribeiro Santo passou a ser uma das mais importantes da região vitivinícola e de seis hectares crescemos para 60 hectares de vinha.” De dois funcionários passou para 40 e a pequena empresa tornou-se uma média empresa. “É assim que a queremos manter, porque eu não quero ser o maior produtor de vinhos do Dão”, enfatiza o empresário, que se define como “profissional desta área a tempo inteiro”, trabalhando de corpo e alma para a Ribeiro Santo, desde 2019. “No próximo ano, passaremos a ter 70 hectares de vinha, porque compramos dez hectares, em Tábua, só para plantar Encruzado”, informa.

Entretanto, Carlos Lucas adquiriu uma propriedade com 40 hectares de vinha, em Oliveirinha, concelho de Carregal do Sal, próximo do rio Mondego, na confluência entre a IC 12 com a EN 234, a dois passos do caminho de ferro da Beira Alta e a cerca de 300 metros do apeadeiro, uma mais-valia para os clientes do futuro restaurante instalado na casa original. Segundo o empresário, o foco estará na cozinha tradicional, com o bacalhau e o cabrito a receberem o devido protagonismo.

 

Além deste espaço de restauração, este imóvel irá acolher a sede da empresa, uma loja de vinhos e tapas, com esplanada na varanda, e terá um túnel subterrâneo de acesso à nova unidade de vinificação do projeto Ribeiro Santo. De arquitetura contemporânea e desenhada em prol da eficiência energética, foi construída de raiz este ano e acaba de ser estreada nesta vindima. A referida passagem subterrânea vai facilitar a visita à sala de barricas e a dinamização da sala de provas da adega dividida, ainda, por um extenso espaço reservado às cubas e ao armazém, cuja capacidade dará resposta à produção anual de vinho da empresa. Sem esquecer os vinhos de nicho. “São muitas referências e todas elas com muito tempo de guarda”, revela Carlos Lucas.

É nesta fase que entra Diogo Lucas. Embora faça parte da equipa, o empresário esclarece que a empresa não é de cariz familiar. “Estes 25 anos traduzem a minha filosofia de vida e de trabalho, que é fazer bem feito. Desde o dia em que nasceu, o objetivo da Ribeiro Santo é ser distinta, não se massificar e não se banalizar.” Neste contexto, enaltece a importância da parte social da empresa, dando como exemplo o almoço confecionado diariamente para todos, sem descurar a qualidade de vida em Carregal do Sal.

Tudo pela região

A carreira profissional de Carlos Lucas está intrinsecamente ligada à região do Dão. Começou como enólogo na Adega Cooperativa de Nelas, em 1991. “Fazia oito milhões de litros” e foi “o primeiro enólogo a tempo inteiro numa adega cooperativa do Dão”, declara. No ano seguinte, implementou uma reforma marcante nesta instituição constituída por associados: decidiu disponibilizar um dos tegões só para a Touriga Nacional, no sentido de valorizar a casta, um tegão só para brancos e um outro para as restantes castas tintas, “onde entrava 80% das uvas”.

Encetou a visita aos produtores, que evidenciou a valorização das castas tintas em detrimento das brancas. “Ainda tenho garrafas de tintos da Adega Cooperativa [de Nelas], vinhos com trinta e pouco anos e que fazem as delícias de quem os bebe. O Dão é o que me corre nas veias”, sublinha o empresário, que faz uma leitura mais positiva a respeito deste território vitivinícola, outrora “muito massificado”, mas que, “agora, voltou a encontrar-se”, graças a “muito bons produtores, porque “uma região não se faz com um produtor. Uma região faz-se com um conjunto de produtores que regula uma qualidade média-alta. Neste momento, o Dão tem muita regularidade na qualidade do seu vinho”.

A mesma opinião é partilhada por Diogo Lucas, que assume a gestão da Magnum Wines, bem como a responsabilidade dos departamentos comercial e de comunicação dentro da empresa, sendo o elo entre a equipa de produção e os mercados: “O Dão é único em Portugal e até fora do contexto português. Muitas vezes, tendemos a classificar os territórios pela distância do Atlântico, em que os vinhos das zonas costeiras são mais frescos, com menos álcool e mais acidez, e os mais distantes são de clima continental, mais intensos. Mas, se pensarmos no Dão, o Dão é uma região que foge à norma nesse aspeto, porque tem a proteção das serras”, como a da Estrela, do Açor, Caramulo, Buçaco, de Leomil, da Lapa, de Montemuro… Para o mais recente elemento desta casa, formam uma proteção, que “acaba por mitigar o efeito do Atlântico e o efeito continental vindo de Espanha”.

Por exemplo, em Cabanas de Viriato, a Quinta de Santa Maria, inserida num planalto, com uma altitude média a rondar os 500 metros, beneficia de boa exposição solar e ventilação constante, fatores determinantes para um ciclo vegetativo positivo. “Os solos são graníticos, brancos, rochosos e pouco férteis, com presença frequente de afloramentos de quartzo, resultantes de filões quartzíticos que cruzam a zona”. A textura é rígida e “a drenagem é excelente”. Tudo junto, favorece “a produção de uvas com alta concentração fenólica e boa acidez, ainda que com baixos rendimentos”, continua. Face a este cenário, Diogo Lucas adianta que as castas tintas são as mais indicadas nesta zona. “A exposição solar e o ciclo de maturação permitem boa evolução fenólica, sem comprometer a frescura nem o equilíbrio dos vinhos.”

Nas localidades de Oliveira do Conde e Oliveirinha, onde as altitudes oscilam entre os 500 e os 650 metros, as vinhas estão plantadas, muitas vezes, em zonas “com exposições a norte, que ajudam a moderar a intensidade solar”. A amplitude térmica é mais reduzida quando comparada a Cabanas de Viriato, “a pluviosidade ronda os 700 milímetros anuais e a humidade relativa é elevada nos meses frios, embora com boa circulação de ar, o que evita excesso de pressão de doenças”, condições que contribuem para o equilíbrio entre acidez e maturação. Já os solos “são graníticos de textura franco-arenosa, com alguma profundidade e presença moderada de matéria orgânica (…). Apresentam boa drenagem, mas também alguma capacidade de retenção de água, uma mais-valia em anos mais secos. A composição revela baixos níveis de potássio disponível, o que ajuda a manter a acidez das uvas brancas”. Como tal, é, de acordo com Diogo Lucas, uma “zona especialmente indicada para castas brancas, como o Encruzado, que aqui expressa frescura, mineralidade e boa estrutura”.

Em suma, estão reunidas as condições para o enrelvamento natural e a supressão de herbicidas em qualquer uma das vinhas de Carlos Lucas.

 

A plenitude da casta-rainha

Dos vários anos dedicados ao Dão, Carlos Lucas dedicou-se a fazer um trabalho de seleção das castas, no sentido de conferir mais-valias na produção vínica do território. A variedade de uva Encruzado é representativa da identidade do Dão e eleita como protagonista no universo da Ribeiro Santo. “O meu pai também teve um trabalho importante nesta seleção, com a seleção e a divulgação da Encruzado em vinho extreme”, realça Diogo Lucas.

“Parte da minha vida enológica e da minha equipa tem sido dedicada a fazer cada vez melhores vinhos brancos, em que o Dão nunca apostou muito, porque os outros produtores dedicaram-se sempre muito aos tintos”, revela o empresário à Grandes Escolhas. A crescente aposta neste tipo de vinho reflete-se no aumento de área destinada à casta-rainha deste território vitivinícola por parte do nosso anfitrião, ou seja, Carlos Lucas reúne 17 hectares de vinha reservados à Encruzado, a qual vai passar para 27 hectares em 2026. Aliás, “metade das nossas referências são vinhos brancos”, reforça.

“Gostamos mesmo muito de vinhos brancos e de Encruzado. Vou ao restaurante e 90% dos vinhos que bebo são brancos. Para mim, a Encruzado podia ser um Premier Cru. Faço pelo Encruzado, pelo que a casta me dá. Aprendi a gostar de brancos, assim como aprendi a gostar de tintos”, expõe Carlos Lucas. Para Diogo Lucas, esta variedade de uva branca é de extrema importância no Dão. A afirmação é feita com base numa prova cega de vinhos feitos a partir de “castas históricas do Dão”. Esta missão foi realizada, há pouco tempo, no Centro de Estudos de Nelas. “Facilmente, toda a gente concordou que o vinho com maior equilíbrio, o mais prazenteiro, era, sem sombra de dúvidas, o Encruzado. É a única casta do Dão que, consistentemente, apresenta resultados de vinhos de qualidade superior. Depois também tem a ver com o lado vitícola, pois é uma casta muito resistente ao calor.”

Embora não considerem que seja ainda um problema no âmbito da Ribeiro Santo, as alterações climáticas vão ser um desafio, daí que o caminho seja apostar nas castas mais resistentes ao calor, “e o Encruzado tem essa particularidade”, remata.

 

Ribeiro Santo
Carlos Lucas e o filho, Diogo Lucas

 

Quem é Diogo Lucas

Confessa que, desde cedo, iniciou as tarefas associadas ao trabalho vitivinícola e à produção de vinho. Tendo em conta a época em que a Ribeiro Santo se consolidou ainda mais no mundo do vinho, Diogo Lucas revela que desde jovem procurou ajudar, conjugando a escola com o tempo livre, para se dedicar ao negócio do pai. No currículo, a experiência vitivinícola é muito ampla, vai do engarrafamento à rotulagem, passando pela poda e pela vindima, pela carta de trator e manuseio da empilhadora, e pelo trabalho dedicado às barricas. “As novas tinham uma risca vermelha e o meu filho lixava-as, para ficarem bonitinhas. Comprei duas ou três lixadeiras, mas tu estragaste tudo [risos]”, conta Carlos Lucas, com orgulho.

Sem descurar a importância da vinha, o gestor da empresa denota preferência pela adega, como o momento de decisão mais interessante deste universo, desde a receção da uva, “que cria expectativa” à feitura do vinho. Mas, “tentei ‘fugir’, porque não tinha a certeza se seria esta a minha vocação”. Galgou a fronteira de Portugal, para estudar uma área que nada tinha a ver com enologia, mas “não estar, em setembro, nas vindimas, fez-me uma confusão enorme”. Paralelamente, incrementou o gosto pelas provas de vinhos. “Em casa bebemos vinho de várias regiões do mundo e cultivamos muito a vontade de conhecer coisas novas.”

Nos tempos da pandemia, trabalhou, em Londres, com Lance Foyster, Master of Wine, que importa vinhos. “Foi quando percebi que queria trabalhar na área dos vinhos, enquanto produtor e, neste momento, aliado ao meu pai. Regressei de Londres com outra visão. Investi mais nos estudos.” Fez o mestrado em Gestão, na Nova SBE, em Lisboa, e, agora, dedica-se à gestão da empresa. “Gerir uma empresa é fundamental, principalmente hoje em dia, com o mercado incerto e muito dinâmico”, justifica, dizendo que está de volta a 100% à Ribeiro Santo. “Está a ser uma oportunidade de muita aprendizagem – o meu pai é o meu grande mentor – e há um investimento muito grande na futura geração. Aliás, também estou a ajudar a empresa a viver uma nova etapa”, remata.

Equipa jovem

“Faço parte de uma geração que ajudou a mudar o setor do vinho em Portugal, a qual começou um pouco antes, com João Portugal Ramos, no Alentejo. Depois, apareceram o Anselmo Mendes e o Paulo Laureano, bem como o Jorge Moreira…”, assevera Carlos Lucas, que expressa felicidade de cada vez que prova colheitas com 30 anos. “Dediquei-me, de alma e coração, ao sector do vinho. Sempre fui enólogo, nunca fiz outra coisa na vida.” Afinal, esta não era de todo uma área que estava associada à atividade da família e o melhor retorno que tem é ouvir os comentários positivos da parte dos filhos. “Na altura, não sabia se era assim tão bom, porque não havia bitola, não tive um mestre. Fui responsável por milhões de garrafas desta região e por muitas outras de outras regiões do país”, conta. E do mundo, com Montpellier, no sul de França, Piemonte, no norte de Itália, ou Priorat, na Catalunha.

Sobre o percurso profissional, que soma 34 vindimas, Carlos Lucas revela o gosto de trabalhar em equipa. “Ao contrário de muitos enólogos, que não se lhes conhece gente à volta, nunca quis trabalhar sozinho. Formei muitos jovens. Um deles é o Tiago Macena”, enólogo candidato a Master of Wine. “Esse legado, essa riqueza eu procuro passar para os jovens”, frisa Carlos Lucas, que também se assume como criativo e “essa parte criativa é o que eu quero e estou a transmitir a esta juventude”, diz, referindo-se não apenas a Diogo Lucas, mas também ao enólogo Bernardo Santos, natural de Leiria e que, desde há sete anos, trabalha com Carlos Lucas, e a Natacha Barreto, engenheira química nascida em Aveiro, responsável pela vertente da investigação relacionada com os vinhos e que, no âmbito do protocolo estabelecido entre a empresa e a instituição de ensino, faz a ponte com a Universidade de Aveiro. Sem esquecer o enólogo bairradino Carlos Rodrigues, um dos grandes alicerces da casa, e “que trabalha comigo desde sempre”. Porém, todo o trabalho na adega é assegurado pelos mais novos. “Não poderia ter escolhido melhor professor”, remata Diogo Lucas.

A prova de uma vida

Uma viagem pela história da marca Ribeiro Santo contada em vinhos. Foi isso que foi proposto a Carlos Lucas, um desafio que o produtor abraçou com entusiasmo, quase como a prova de uma vida. As garrafas vieram da sua coleção e foram abertas no momento, com todos os riscos inerentes, pois a grande maioria destes vinhos não era provada há muitos anos, ninguém sabia em que estado se encontravam. Misturámos brancos e tintos, conceitos, perfis e segmentos de preço, indo dos entrada de gama aos mais raros e ambiciosos. A viagem teve o seu início, como deve ser, pelo princípio, com um vinho de 2000, Encruzado, por sinal. E terminou com alguns vinhos já engarrafados e que só irão para o mercado daqui a alguns anos.

Enquanto as garrafas desfilavam, percebemos os vários estádios do projecto Ribeiro Santo: a busca da afirmação inicial, com vinhos vigorosos e concentrados, a barrica bem presente; a procura de novos caminhos, com referências como E.T. e Envelope; e a busca da perfeição, do rigor, com alterações de perfil nas referências mais clássicas. São 25 anos de vinhos que nos mostram muito de um projecto, de uma marca, de uma pessoa. Vamos lá, então.

Ribeiro Santo Encruzado branco 2000. Era um vinho de gama média, sem madeira (“não havia dinheiro…”), dourado na cor, amendoado no nariz, seco e austero, com perfeita acidez a segurá-lo; muito citrino e limonado. Ainda um belo vinho, com bastante alma, a entregar muito prazer (18 pontos). Ribeiro Santo Escolha branco 2007. A marca viria a dar origem, mais tarde, ao Vinha da Neve. Encruzado, com 5% de Cerceal, agora já com barrica. Sente-se a madeira fumada, num registo, muito avelanado, expressando o estilo da época. Excelente acidez, firme, salino, largo, vibrante (18). Ribeiro Santo Escolha branco 2009. A barrica está bem mais moderada do que no 2007 (já não eram novas…), num registo perfumado, floral, muito elegante, fino. Tem excelente textura e cremosidade, de final citrino, vibrante, seco, longo (18,5). Ribeiro Santo branco 2010. É o entrada de gama dos brancos, custava então 2,50 euros. Mais evoluído que os anteriores, com notas de folha de chá, mas ainda vivo, graças à boa acidez; muito interessante como branco com idade (17).

Ribeiro Santo Vinha da Neve 2014. Já da era moderna da casa, com uma nova adega. Os topos passaram a barricas de 500 litros. Jovem ainda na cor e no aroma, com fruto delicado, especiaria, barrica perfeitamente integrada. Textura cremosa, num perfil bem encorpado, mas com acidez fina e incisiva, de final citrino, vibrante, longo (18,5). Envelope branco 2016. Um branco definidor, em vários sentidos. A nova marca, posicionada acima do Vinha da Neve, pressupunha classe e singularidade, através de vinificações diferentes, nomeadamente o trabalho com borras de decantação guardadas do ano anterior. A cor é incrível, parece ter três anos e não nove. Fantástico nariz, austero, com imensa pederneira, casca de laranja e limão, erva do campo, flores silvestres. Boca finíssima (a barrica não se sente) fresca, elegante, cremosa; um branco fantástico (19).

Ribeiro Santo Grande Escolha branco 2019. A diferença para o Vinha da Neve é que este pretende ser um “Garrafeira do Dão”, com muito tempo de barrica (incluindo carvalho americano, ao estilo Rioja) e garrafa. Encruzado, com 5% de Cerceal, tem imensa especiaria proveniente da barrica, mas esta não se sobrepõe, deixando surgir a fruta citrina, num vinho profundo e rico, com notas de manteiga cortadas por toque salino (18,5). Ribeiro Santo Encruzado Dourado branco 2020. O primeiro desta referência, um Encruzado com curtimenta completa. Tem menos cor do que seria de esperar de um curtimenta, imenso brilho no aroma, pederneira, casca de uva, citrinos de limão e toranja. Seco, sério, com amargos de casca e algum tanino, enorme garra, um branco incisivo, tremendo, com muito para crescer na garrafa (19).

Ribeiro Santo Grande Escolha branco 2023. Muito menos barrica (e menos textura…) do que o 2019, reflectindo o ar do tempo, e sem carvalho americano. Elegante, muito citrino, sério e afinado, um belo vinho branco, com alma do Dão, mas muito jovem ainda (está em estágio), precisa de tempo para crescer (18). Ribeiro Santo Encruzado branco 2024. O Encruzado “de entrada” (são 85 mil garrafas!) é um vinho muito bonito, com uma certa austeridade típica da casta, citrino, boa fruta de laranja e lima, um toque fumado de madeira quanto baste, tudo no sítio, uma verdadeira referência nesta categoria (17).

Ribeiro Santo tinto 2003. O vinho mais simples da marca. Mais de duas décadas depois, mostra o passar do tempo, com evolução notória no aroma, mas ainda com alma na boca, com taninos suaves, acidez equilibrada, mato e caruma (16). Ribeiro Santo Escolha 2005. Na época ainda não tinha madeira, o que terá, talvez, contribuído para a excelente cor que mostra, ainda com fruta no aroma e tanino bem presente na boca. Muito curioso, num perfil pouco comum para aqueles anos, com bastante garra, bela acidez, vibrante, sólido, longo; grande surpresa (18). Ribeiro Santo Grande Escolha 2008. Mais ambicioso, mas bem mais cansado do que o 2005, com evolução notória, toque amargo na boca, muito seco de taninos, em queda. Outra garrafa poderá estar diferente (15,5).

Ribeiro Santo Vinha da Neve tinto 2009. O primeiro Vinha da Neve. Grande nariz, exótico, flores silvestres, fruto negro, menta. Muita estrutura e densidade, bastante extração, representando bem a época; um tinto que se mastiga (18). Ribeiro Santo Grande Escolha tinto 2011. Um ano marcante para Carlos Lucas, com a criação da Magnum Wines. Um tinto “ao estilo de Rioja clássico”, com muita barrica e garrafa. Escuro ainda na cor, imenso no nariz, profundo e rico, fumados e especiaria. Notável textura de boca, num perfil carnudo, mas com bastante frescura, fantástica acidez a equilibrar tudo. Tremendamente jovem, para crescer em garrafa. Claramente, um vinho de afirmação pessoal (19,5). Ribeiro Santo tinto 2012. Na altura, custava 2,50 euros, mas vê-se que era bem mais ambicioso do que isso (a marca precisava de ganhar notoriedade). Muito limpo, ainda com fruto, amora, groselha, muito boa textura, sumarento, com nota de cacau amargo, grande surpresa (17).

Ribeiro Santo E.T. tinto 2013. O primeiro E.T., feito de Touriga e Encruzado, foi um vinho disruptivo, a marcar o início dos produtos diferenciadores na casa. Algo aberto de cor, está contido de aroma, muito elegante, muito delicado, num registo sofisticado, polido, ainda cheio de fruto, com imensa frescura e persistência (18,5). Ribeiro Santo Carlos Lucas/Carlos Rodrigues tinto 2015. Um vinho de reconhecimento ao trabalho “na sombra” de Carlos Rodrigues, está cheio de cor, com aromas complexos de fruto maduro, terra, húmus, cogumelos. Muita textura, muito corpo e densidade, mas muita frescura também, sólido, profundo, vibrante, sério, imensa garra e tensão. Muito jovem ainda, grande vinho (19).

Ribeiro Santo Touriga Nacional tinto 2017. Muito boa cor, madeira em primeiro plano, a fruta madura mais escondida, um curioso lado mentolado. Na boca, sente-se mais o lado de fruta madura, num perfil extraído e concentrado, mas com boa acidez a dar equilíbrio. Firme e seguro, um “Tourigão” (17,5). Ribeiro Santo Envelope tinto 2018. Os tintos Envelope começam a fermentar com engaço e, a meio da fermentação, saem das massas, acabando em barrica. Algo aberto de cor, muito elegante e frutado, framboesa e bagos silvestres, alguns fumados e especiarias. Tem volume e cremosidade, associada a tanino muito fino e discreto. Notável frescura de boca, sofisticado, longo, distinto. Imenso sabor, mas com leveza. (19).

Ribeiro Santo Vinha da Neve tinto 2019. Ainda se pode encontrar em algumas lojas. Bem escuro na cor, como é típico da marca, barrica e fruta de grande qualidade no aroma, imensa garra na boca, potente sem ser bruto, texturado e concentrado, mas ao mesmo tempo muito elegante, preciso, com um lado quase citrino que lhe confere imensa frescura e persistência. Um grande vinho, jovem ainda, a pedir tempo (19).

Ribeiro Santo Grande Escolha tinto 2020. Barrica, tosta, fumo, especiaria, muita riqueza de aroma e sabor, intenso, profundo, sempre com a acidez a equilibrar tudo. Largo, denso, opulento, rico, para durar (18). Ribeiro Santo Vinha da Neve tinto 2021. Menos barrica do que o 2019, mais evidência de fruta, groselha e framboesa, bagas vermelhas, um leve floral, mais elegante e menos potente do que o habitual. Apimentado, muito harmonioso, com tudo no sítio, muita especiaria, precisa de esperar uns anos (18,5). Ribeiro Santo Reserva tinto 2022. Custa entre sete e oito euros e mostra-se bem sumarento, com tostados de madeira bem integrados, taninos polidos, bastante equilibrado, saboroso, largo, muito bem feito (16,5).

Ribeiro Santo Vinha da Neve tinto 2023. Ainda em estágio, há ano e meio em garrafa. Mais Touriga do que o habitual, consuma a viragem iniciada com o 2019, para um estilo mais elegante, mais fino, mais fruta e menos barrica. Excelente fruta silvestre, imensa precisão, notável textura, discreta barrica, mas de superior categoria, mato e caruma, perfeita definição. Um tinto belíssimo que o tempo dirá onde vai chegar (19).

(Artigo publicado na edição de Outubro de 2025)

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