Edição nº11, Março 2018
Prémios Grandes Escolhas
Sala e almas cheias, corações e copos ao alto. O jantar de entrega dos Prémios Grandes Escolhas, na sua edição inaugural, foi uma jornada de extraordinário convívio e emoções fortes. Acima de tudo, brilharam os vinhos e a gastronomia – e as pessoas que a eles dedicam as suas vidas.
TEXTO Luís Francisco
FOTOS João Cutileiro e Ricardo Palma Veiga
Imaginar um jantar que termina com toda a gente em pé até pode parecer estranho, mas foi exactamente o que aconteceu na noite de 16 de Fevereiro, no pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa. A primeira gala dos Prémios Grandes Escolhas, que reuniu mais de 900 pessoas, encerrou com o momento mais emocional da noite: a entrega do Prémio Senhor do Vinho a Salvador Guedes. Limitado por uma doença degenerativa, o homem que liderou a Sogrape nas últimas décadas subiu ao palco em cadeira de rodas e foi recebido com uma estrondosa ovação que não deixou mais ninguém sentado na sala.
A homenagem, justa e sentida, dos seus pares no mundo do vinho mereceu de Salvador Guedes uma comovente mensagem de agradecimento, escrita pelo próprio e lida em palco pelo seu irmão Fernando. Nela, para além de agradecer a distinção e recordar o percurso de uma vida, ficou bem claro que Salvador não se rende à doença: não foi um “adeus”; foi um “até sempre”. E essa acaba por ser, no fundo, a ideia forte da gala e a filosofia destes prémios. Para o ano há mais. Há sempre mais. O vinho assim o exige. O gigantesco salão do renovado pavilhão Carlos Lopes acabou por ser pequeno para a enorme família do vinho. Mais de 900 pessoas juntaram-se para saudar os melhores do ano, rever caras conhecidas e desfrutar de uma refeição especial. Serviço extraordinário (mais de 100 pessoas envolvidas), comida de grande nível e vinhos fantásticos ajudaram a criar o ambiente festivo que a ocasião justificava. E, claro, ao longo da noite foram-se sucedendo os momentos para mais tarde recordar, ao sabor das emoções dos premiados e das reacções da plateia.
A cerimónia, conduzida por Luís Lopes e João Geirinhas, respectivamente directores editorial e da área de negócio da Grandes Escolhas, chamou ao palco os produtores dos vinhos eleitos para o “top 30” do ano de 2017 e os galardoados com os 20 prémios especiais. Nos ecrãs gigantes do salão iam desfilando os 250 vinhos eleitos pelo painel de provadores da revista como Melhores de Portugal, uma galeria de notáveis representando todas as regiões do país – e que os convivas puderam apreciar à mesa, uma vez que a esmagadora maioria dos vinhos servidos ao jantar integravam esta lista.
Se a subida de Salvador Guedes ao palco foi o ponto alto da noite, outros, muitos outros, também merecem registo. Pela carga emocional, incontornável quando recordamos um grande companheiro de trabalho e um homem bom, como David Lopes Ramos, destacou-se igualmente o Prémio Gastronomia com o seu nome, entregue a Edgardo Pacheco, jornalista, gastrónomo e crítico de vinhos, que de imediato recordou uma conversa tida com o saudoso David à volta do aparentemente irresistível tema das meloas açorianas…
Palavras e emoções
Outro orador apaixonado é Mário Sérgio Alves Nuno, da Quinta das Bágeiras, este ano distinguido com o prémio Singularidade. Mas, desta vez, o vigneron da Bairrada foi comedido nas palavras, não deixando de lançar, no entanto, um apelo: que todos se unam e trabalhem juntos para promover e valorizar a imagem do nosso vinho. Palavras que valem tanto para a Bairrada como para o todo nacional.
Se alguns dos premiados mantiveram a compostura e alinharam discursos de agradecimento objectivos e coerentes, outros ficaram claramente reféns das emoções e acabaram por ser, na sua genuína falta de palavras, a imagem evidente de como estes prémios calam bem fundo a quem dá o seu melhor pelos vinhos e pela gastronomia. A uns e a outros, a assistência saudou com aplausos e manifestações de júbilo, também elas umas mais eloquentes do que as outras. Destaque, entre as primeiras, para o enfático “Júnior, és o maior!” que saudou a subida ao palco de José Branco, o filho, para receber o prémio de melhor Loja Gourmet para a Manteigaria Silva. O pai não esteve presente e – pior ainda – já estava a dormir quando o filho lhe ligou para dar a notícia… Ficou a boa nova reservada para a manhã seguinte.
Os prémios distribuíram-se por várias regiões. Nos Vinhos Verdes, destaque para a A&D Wines, Produtor Revelação; a Beira Interior recebeu, através da sua CVR, o prémio Organização Vitivinícola; Lisboa foi representada pela Casa Santos Lima, prémio Empresa; o Alentejo juntou à distinção de Produtor (Herdade do Rocim) a de Viticultura (Herdade do Esporão); do Douro subiram ao palco representantes da Adega Cooperativa de Favaios (Adega Cooperativa) e das Caves Messias (Empresa Generosos); a Bacalhôa Vinhos de Portugal arrecadou o prémio Enoturismo.
Sempre aguardados com grande expectativa são os prémios dedicados à enologia. Ana Rosas (Ramos Pinto) foi distinguida no sector dos Generosos e Paulo Nunes (Casa da Passarella, Quinta da Bica, Casa de Saima, entre outros) subiu ao palco para receber o prémio de Enólogo do ano.
No sector da gastronomia e turismo, prémio Restaurante para o Ferrugem, em Famalicão; prémio Restaurante Cozinha Tradicional Portuguesa para a Mercearia Gadanha, em Estremoz; prémio Garrafeira para a Empor Spirits & Wine, Lisboa; prémio Wine Bar para o Bar do Binho, Sintra; e prémio Loja Gourmet para a Manteigaria Silva. Teresa Gomes foi a Sommelier do ano e a Murganheira distinguiu-se como a Melhor Campanha Publicitária.
Vinhos de sonho
Antes destes prémios, entregues pelos respectivos patrocinadores e apresentados pelos elementos da redacção da revista, tinham subido ao palco, a convite dos membros do painel de provas da VINHO Grandes Escolhas, os responsáveis pelos vinhos escolhidos para o Top 30 de 2017. Uma lista que integrava dois espumantes (Murganheira Távora-Varosa Chardonnay 2008 e Vértice Douro Gouveio 2008), um Alvarinho Monção e Melgaço (Anselmo Mendes Parcela Única Alvarinho 2015), oito representantes do Douro e Porto (Grandjó Reg. Duriense Late Harvest branco 2013, Passadouro Douro Touriga Nacional tinto 2014, Poeira 44 barricas Douro tinto 2014, Quinta da Boavista Vinha do Ujo Douro tinto 2014, Quinta da Leda Douro tinto 2015, Quinta do Monte Xisto Douro tinto 2015, Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo Douro Grande Reserva tinto 2015, Burmester Tordiz Porto 40 Years Old, Graham’s The Stone Terraces Porto Vintage 2015 e Messias Porto Colheita 1967).
O Dão brilhou com quatro vinhos (Quinta da Pellada Primus Dão branco 2015, Quinta dos Carvalhais Branco Especial Dão branco, Teixuga Dão branco 2013 e Varanda da Serra Dão branco 2014), a Bairrada colocou três na lista (Kompassus Private Colection Bairrada branco 2014, Quinta das Bágeiras Pai Abel Bairrada tinto 2011 e Sidónio de Sousa Bairrada Garrafeira tinto 2011), a Beira Interior teve um representante (Quinta dos Termos Talhão da Serra Beira Interior Rufete Reserva tinto 2014), o Tejo outro (1836 Do Tejo Grande Reserva tinto 2015) e Lisboa mais um (Adega Mãe Terroir Reg. Lisboa branco 2014).
O Alentejo foi a segunda região mais representada no Top 30, com cinco vinhos (Esporão Private Selection Alentejo Garrafeira tinto 2012, Herdade do Rocim Clay Aged Alentejo tinto 2015, Júlio B. Bastos Reg. Alentejano Alicante Bouschet Grande Reserva tinto 2014, Mouchão tonel 3-4 Alentejo tinto 2011 e Pêra-Manca Alentejo tinto 2013), enquanto a Península de Setúbal colocava dois vinhos na lista (Palácio da Bacalhôa Reg. Península de Setúbal tinto 2014 e Bastardinho de Azeitão Vinho Licoroso 40 anos). Ao todo, 16 tintos, oito brancos, três Porto, dois espumantes e um licoroso. Um belo mosaico do que de superlativo se faz por esse país fora. E razões mais do que suficientes para renovar a nossa paixão pelo vinho.