Rocim, uma questão de família

Quando a ambição se junta à dedicação plena e uma grande atenção aos detalhes, seja na viticultura, na vinificação ou na apresentação, o resultado só pode ser surpreendente e bem-sucedido.

TEXTO Valéria Zererino
Fotos Cortesia Herdade do Rocim

Catarina Vieira e o seu marido Pedro Ribeiro são ambos enólogos e gestores da Herdade do Rocim, situada na sub-região da Vidigueira, no Alentejo. Tudo acaba por ser um assunto familiar e talvez desta forma seja mais fácil tomar decisões acertadas.
O mundo vínico Português ainda se lembra do seu recente êxito – Herdade do Rocim Clay Aged – um vinho de extrema elegância e carácter, estagiado (não fermentado) em talha, quando mais novidades acabam de ser apresentadas, entre as quais um elegante espumante rosé, um peculiar branco Olho de Mocho 2017, um branco e um tinto feitos em talha e, finalmente, o Crónica #328.
Já é a terceira edição do espumante a seguir ao de 2013 e 2014. O 2015 não foi particularmente feliz e preferiram não o lançar. A Touriga Nacional que protagoniza este rosé, foi colhida no final de Julho com o intuito de preservar acidez. O dégorgement é feito após 12 meses de estágio sobre borras.
O vinho de talha branco é o resultado de um lote tipicamente alentejano com Antão Vaz, Perrum, Rabo de Ovelha e Manteúdo. E o tinto resulta de um lote igualmente tradicional, onde Moreto assume 50%, acompanhado de Tinta Grossa, Trincadeira e Aragonez. Estas uvas são provenientes de vinhas sem rega com mais 65 anos. Um pormenor interessante consiste em que as talhas utilizadas na Herdade do Rocim não são pesgadas (revestidas pez, substância à base de resina de Pinheiro e cera de abelha), o que de certa forma explica a limpeza aromática dos seus vinhos de talha. Quer branco, quer tinto estiveram sobre as massas nas talhas até ao mês de Fevereiro, quando foram engarrafados. São produzidas mais de 5.000 garrafas de cada um.
O Olho de Mocho branco reserva 2017 é feito com apenas uma casta – Antão Vaz de solos arenosos e de orientação a nascente. É uma vinha bastante ensombrada, que no calor do Alentejo ajuda a preservar a acidez. O vinho fermenta sem clarificação de mosto e a temperatura relativamente elevada (17-18˚C), depois estagia em barricas novas e de segundo ano durante 6 meses.
A Crónica # 328, foi escrita com vinho pela filha em homenagem do seu pai. José Ribeiro Vieira (1943-2012) foi um empresário de Leiria cujo objectivo na altura dos anos 70 foi contribuir para a mecanização da agricultura, que uma década mais tarde resultou numa empresa para equipamentos de obras públicas. Era uma pessoa muito ativa política e socialmente, expressando a sua posição e opinião crítica no semanário Jornal de Leiria, onde escreveu 327 crónicas, deixando a última, a 328ª, para a sua filha Catarina.
O Crónica # 328 pretende ser o melhor vinho da Herdade. As castas são típicas da região, Trincadeira e Aragonez, da vinha com 15 anos que fica nos terrenos xistosos de uma encosta de 300 metros de altitude virada a sul. Depois da fermentação com uma parte de engaço, o vinho passa dois anos em barricas novas de carvalho francês dando origem a uma edição muito limitada de apenas 1.200 garrafas

Edição Nº15, Julho 2018

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