Cork Supply anuncia técnica que aniquila TCA em rolhas naturais

TEXTO Mariana Lopes
FOTOS Cork Supply

A capacidade de fornecer rolhas naturais totalmente livres de TCA (tricloroanisol, o composto químico que oferece o conhecido gosto ou aroma a “rolha” nos vinhos) já era uma realidade, mas apenas por métodos, humanos ou electrónicos, de despistagem rolha a rolha. Agora, a Cork Supply — empresa portuguesa produtora de rolhas — afirma ter atingido algo há muito esperado: o InnoCork Circuit, uma tecnologia inovadora que, industrialmente, aniquila 99.85% do TCA presente em rolhas naturais, e de quaisquer outros aromas “estranhos” que possam contaminar os vinhos. Jochen Michalski (na foto), presidente e fundador da Cork Supply em 1981, e a equipa de Investigação e Desenvolvimento da empresa, liderada por Ana Cristina Lopes Cardoso, juntaram esforços e um investimento de cerca de um milhão e meio de euros para chegar ao que classificam como “um sistema eficaz em conferir neutralidade sensorial total, sem qualquer custo extra para o cliente”. Aplicável a todos os “modelos” e qualidades de rolha do portfólio da Cork Supply, o InnoCork Circuit é um processo de duas fases.

A primeira, denomina-se Pure Cork e representa a novidade absoluta, em que as rolhas no estado natural são aquecidas, durante 24 horas, a 85ºC, com uma destilação a vapor que remove todos os aromas indesejáveis, incluindo TCA. A segunda, de nome InnoCork (processo lançado em 2003), é a fase em que as rolhas, são novamente aquecidas num ciclo de uma hora, a 65ºC e destiladas a vapor e com etanol, removendo assim qualquer partícula residual. “Com esta segunda fase do processo, que já tínhamos, poderíamos eliminar totalmente o TCA, mas teríamos de intensificá-la e a rolha ficaria destruída. A primeira fase é que é a novidade, e a totalidade do processo permite chegar aos objectivos mantendo a integridade da rolha natural”, explicou, à Grandes Escolhas, Jochen Michalski. Na verdade, a Cork Supply — que em 2019 cresceu 14% em volume — já tinha criado em 2011 um método de despistagem com o nome DS100, em que cada rolha é analisada e testada para TCA, por pessoas com órgãos olfactivos hipersensíveis, ou, no caso do DS100+, por um programa informático também altamente sensível. Mas este é um processo caro, para o fabricante e para o cliente, e mais moroso, feito pós-produção da rolha. Mesmo assim, cerca de 30 milhões de rolhas passaram por este processo, só este ano. Jochen Michalski confessa: “Há muitos anos que tentávamos encontrar um processo industrial, e não rolha a rolha, que eliminasse sobretudo o TCA, e que fosse também sustentável, algo que é uma grande preocupação da nossa empresa. Foi muito desafiante.” Ana Cristina Cardoso reforçou o desafio, dizendo que “a maioria dos defeitos do vinho mede-se em gramas ou miligramas, mas, no TCA, a medida é quase um milhão de vezes inferior ao miligrama”. “É uma gota em trinta piscinas olímpicas”, complementou Jochen. Assim, estudaram vários tipos de tecnologia, até chegar a esta. Neste momento, o DS100 funciona como complemento opcional, para o cliente que quiser ir mais além dos 99,85% garantidos pelo InnoCork Circuit, feito após este e com custo extra.

Mas, estando a Cork Supply a divulgar a “receita” para um mundo livre desta “pedra no sapato” dos produtores de vinho (e dos consumidores) que tem sido o TCA, isso significa que qualquer empresa ou entidade poderá reproduzir o processo? Ana Cristina afirmou que não. “Mais do que ter a tecnologia, é preciso saber utilizá-la. O nosso princípio na Cork Supply é que todas as boas práticas de fabrico contam para o resultado, não só a tecnologia, mas tudo desde a floresta até à entrega da rolha”. A directora de Investigação e Desenvolvimento referia-se à intensa monitorização dos sobreiros, elevada cooperação com empresas parceiras, e selecção meticulosa das árvores. Da floresta são retiradas inúmeras amostras que são analisadas antes da cortiça chegar à unidade de produção. “Além disso,”, alertou Jochen, “conduzimos anualmente mais de meio milhão de testes e inspecções a rolhas, bem mais do que a média do resto do sector”. Das 550 pessoas que laboram no grupo, 18% pertencem à área de investigação e controlo de processo. “Há muito mais técnicas e pormenores, no InnoCork Circuit, que não são revelados…”, concluiu o presidente da Cork Supply. Jochen Michalski mantém o suspense, e nós esperamos começar a dizer adeus ao maldito cheiro a rolha.

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