No ano que marca a sua 60ª vindima, um símbolo do Dão reinventa-se e moderniza-se. O Grão Vasco está diferente, por dentro e por fora da garrafa. Mas mantém a sua identidade e reforça a ligação à Quinta dos Carvalhais.
TEXTO Luís Francisco NOTAS DE PROVA Luís Lopes FOTOS Cortesia do produtor
A primeira edição do Grão Vasco foi lançada em 1958, o ano em que a Sogrape adquiriu a Sociedade Vinícola do Super Dão. Nesta longa história de seis décadas, há algumas datas incontornáveis, como a aquisição da Quinta dos Carvalhais em 1988. Mas 2017 assinala também uma transformação estrutural na marca: o Grão Vasco é, a partir da colheita 2016, um vinho diferente, numa garrafa diferente, com um novo rótulo e um preço corrigido para cima.
As mudanças mais visíveis, claro, estão do lado de fora da garrafa, de estilo borgonhês e linhas que estabelecem uma ligação mais próxima com a Quinta dos Carvalhais, cujo nome passa a constar no rótulo. A figura de S. Pedro pintada por Vasco Fernandes, conhecido como Grão Vasco, continua lá, mas agora com menor protagonismo, sobre um fundo bordeaux (no caso do tinto) ou verde tropa (no branco).
E a alusão a Carvalhais no rótulo tem uma explicação óbvia: pela primeira vez, uvas desta propriedade icónica entram nos lotes de Grão Vasco, um vinho que, não sendo líder de vendas na região, é, curiosamente, a marca que os consumidores mais associam ao Dão. E essa responsabilidade é assumida pela Sogrape, que aponta para a “conquista de novos consumidores”, mas reforçando a qualidade e “mantendo os valores da tradição”, explica o administrador João Gomes da Silva.
O branco (400.000 garrafas) é um lote de Encruzado, Bical, Malvasia Fina e Gouveio, num registo fresco e aromático; o tinto (900.000) tem Tinta Roriz, Touriga Nacional, Alfrocheiro e Jaen, com enfoque na frescura e na fruta vermelha. São vinhos jovens (não há madeira envolvida) e fáceis de gostar, modernos, bem definidos e com enologia cuidada. Os preços reflectem este posicionamento, subindo da barreira dos três euros para um preço recomendado de venda ao público de 3,49€.
Aproveitando a oportunidade, António Braga (responsável pela enologia no Dão) e Beatriz Cabral de Almeida (enóloga residente de Carvalhais), conduziram os presentes por uma mini-vertical de Grão Vasco, com três brancos e outros tantos tintos, onde ficou bem evidente a mudança enológica proporcionada pela aquisição da Quinta dos Carvalhais, com um branco de 1992 e um tinto de 2006 a mostrarem um perfil mais elegante e moderno do que os seus “irmãos” mais velhos. Ficaram na memória a harmonia do branco 1981 e a excelência do tinto 1977. Talvez daqui a 40 anos alguém use adjectivos semelhantes para qualificar as colheitas de 2016…