Após alguns anos passados a redesenhar a empresa, a Van Zellers & Co ressurge com uma nova identidade de marca e objectivos bem traçados. Hoje, o conceito e os vinhos apresentados ao mercado confirmam o que esta família sabe fazer melhor: reinventar-se, com classe.
Texto: Mariana Lopes Notas de Prova: Mariana Lopes e Luís Lopes Fotos: Van Zellers & Co
Cristiano, Joana, Francisca, pais e filha. Os van Zellers que hoje detêm a empresa com o nome da família, com um legado de séculos a correr no sangue. Reinventada, a Van Zellers & Co traz-nos vinhos que já conhecemos — como os CV ou os VZ — e outros que são novidade, todos com nova imagem: elegante, a ligar a classe do passado ao minimalismo do presente.
Há 400 anos que a família van Zeller está ligada ao Douro e ao vinho do Porto, tendo chegado a Portugal em 1620, vinda da Holanda, e fixando-se no Porto como comerciante de vinho. Fundando (oficialmente) a empresa Van Zellers & Co em 1780, esta família já era, em 1811, uma das mais importantes exportadoras de vinho do Porto, exportando, nesta altura, mais de mil pipas por ano. Em meados do século XIX, a Van Zellers & Co foi vendida, e os van Zellers continuaram o negócio através de outras duas empresas, a Quinta de Roriz e Quinta do Noval, tendo feito, sobretudo nesta última, um trabalho preponderante ao nível da vinha e dos vinhos, fundamental para o reconhecimento que esta marca hoje tem. Luiz Vasconcelos Porto, bisavô de Cristiano van Zeller, foi a figura principal desta revolução do Noval, e foi ele quem, no início da década de 30, comprou “de volta” a Van Zeller’s & Co. Aqui deu-se um período de fusão entre as duas empresas e marcas, mas, por volta de 1988, Cristiano (14ª geração da família neste negócio) resolveu, juntamente com outros familiares, tornar a Van Zeller’s & Co independente do resto. Mais tarde, depois da venda da Quinta do Noval à Axa Millésimes, João van Zeller, primo de Cristiano, recupera a Van Zellers & Co e esta “adormece” durante uns anos, enquanto Cristiano van Zeller se dedica a outras importantes marcas do Douro (como Quinta do Crasto e Vallado) e cria outra, hoje uma das mais emblemáticas da região, em 1996: Quinta Vale D. Maria, após a compra desta à família da sua mulher Joana. O que é certo é que, em 2007, João van Zeller decide oferecer as marcas VZ e Van Zellers ao primo Cristiano como presente de Natal. E é aqui que, na verdade, começa a primeira fase de reconstrução de uma marca e empresa. Cristiano acrescenta o vinho CV Curriculum Vitae (que produzia desde 2003 sob a chancela Vale D. Maria) ao portefólio da Van Zellers & Co e inicia, a partir desse ano a aquisição de Porto a granel, baseando-se no profundo conhecimento que tem do Douro e dos produtores tradicionais que, geração após geração, fazem o chamado “vinho fino” para vender às casas exportadoras de Gaia.
Em 2013, a sua filha mais velha, Francisca van Zeller, integra o Marketing e as vendas da Van Zeller’s & Co, começa a ganhar “mundo” e, em simultâneo, tira o curso de Enologia e Viticultura.
A partir de 2017, já depois de ceder a participação da Quinta Vale D. Maria à Aveleda e de ter deixado de trabalhar com esta, Cristiano reforçou grandemente as compras de vinho do Porto, no sentido de acumular um stock apreciável de Porto velho de alta qualidade. E, juntamente com Joana e Francisca, passa ter tempo para se dedicar de alma e coração à sua querida empresa familiar, que re-apresenta ao mercado em 2020. O resultado está aqui, nos Douro e Porto Tawny provados, mas também numa impressionante colecção de Porto Colheita de 1976 a 1934. São vinhos que quase igualam a personalidade de Cristiano van Zeller: têm uma leveza e, ao mesmo tempo, uma complexidade únicas. Tivemos acesso a eles… mas não queremos contar já.
Van Zellers, hoje
As vinhos da Van Zeller’s & Co estão agora “arrumados” de uma forma mais intuitiva e original: “Crafted by Hand” (criados pelo Homem), são os blends de vários locais/vinhas/castas, onde se inserem os Tawny 10, 20, 30 e 40 Anos, e os VZ branco e tinto; “Crafted by Nature” (pela Natureza), aqueles em que uma vinha e o seu terroir são os únicos “autores” do vinho, como acontece no CV branco e tinto, e nos Van Zellers & Co LBV e Vintage; e “Crafted by Time”, criados pelo Tempo, onde é este que define o perfil, como os Porto Colheita antigos e o tinto Van Zellers & Co 15 Gerações. Francisca Van Zeller, contou-nos como surgiu todo o conceito. “Durante o desenvolvimento da marca, que foi feito em conjunto com Matilde Barroso, amiga e especialista em branding, ficou claro que o que queremos é oferecer vinhos que criam experiências memoráveis, quase como se fosse uma viagem. Isto é feito, primeiro, pela qualidade dos vinhos e, em seguida, pelas histórias e experiências que criamos à volta deles”. Entre parcerias com marcas fortes e premium, como Boutique dos Relógios Plus, uma comunicação mais familiar e diferenciada nas redes sociais, Francisca quer criar uma orla “fresca, jovem e desempoeirada”, à volta do core da Van Zeller’s & Co, que são vinhos de qualidade superior, “com engarrafamentos muito limitados”.
(Artigo publicado na edição de Agosto de 2022)
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