Do Mundo para o Douro, do Douro para a Beira Interior. O percurso de Rui Roboredo Madeira é internacional, tecnológico e inovador. Mas também tem um lado clássico, e esse está na Beyra, com os “Vinhos de Altitude”.
TEXTO Mariana Lopes
FOTOS Anabela Trindade
Desde o estágio na espanhola Codorníu ao título italiano de Provador Profissional de Azeites, passando pela consultadoria enológica da Perdomini na Argentina e na África do Sul e acabando no Douro, com a fundação de uma empresa de inovações na área da enologia (Wine Tech Solutions), pelo meio. Rui Madeira passou de lançar os primeiros vinhos e azeites da quinta da família no Douro Superior, Casa Agrícola Roboredo Madeira (CARM), a criar a sua empresa de projectos pessoais, actualmente com nome Rui Roboredo Madeira – Vinhos do Vale do Douro (vinhos Castello D’Alba e Quinta da Pedra Escrita), e a encetar a aventura Beyra, tudo num período de 12 anos.
Foi em 2011 que começou a reconstruir uma adega na Vermiosa, em Figueira de Castelo Rodrigo, onde em 1987 fez a sua primeira vindima, edifício que deu corpo ao novo empreendimento vitivinícola. É certo que até aí estava exclusivamente focado no Douro, mas o “bichinho”, que sempre teve, dos vinhos de altitude, levou-o a aceitar a oportunidade que surgiu na Beira Interior. Assim, a cerca de 750 metros de altitude, plantou dez hectares de vinha, seis de uvas brancas (Alvarinho, Fonte Cal e Moscatel) e quatro de castas tintas (Jaen e Pinot Noir), e a essas videiras pode chamar suas, enquanto mantém mais cem hectares em regime contratual. Os solos, de natureza granítica e xistosa, têm na sua constituição laivos de quartzo, o que, segundo Rui Madeira, origina “melhor insolação devido à reflexão da luz solar pelo quartzo, o que favorece as maturações”.
O seu objectivo com os vinhos Beyra é bastante díspar do trabalho que faz no Douro. Se os seus vinhos durienses são mais modernos, na Beira Interior procura fazer o mais clássico possível: “Tentar reflectir no vinho aquilo que é a região em absoluto”, diz Rui Madeira. “A Fonte Cal é a minha preferida para fazer brancos mais ambiciosos”, contou o enólogo, explicando também que a eleita para os melhores tintos é a Tinta Roriz. Os vinhos tintos, fermentados em betão, estagiam em barricas de carvalho e os brancos, que começaram por incluir madeira no processo, são agora “unoaked”.
Em 2017, a produção total do universo Beyra foi de 350 mil garrafas (no Douro, mais de um milhão e meio) e “o objectivo é chegar a meio milhão”, adiantou Madeira. Desse número, 40% é exportado, com os Estados Unidos a representarem o mercado número um.
Vinhos novos, saberes antigos
As primeiras sete novidades de 2018 já estão no mercado. O Beyra branco 2017, de partes iguais de Síria e Fonte Cal, junta-se ao Beyra tinto 2016, feito maioritariamente de Tinta Roriz e 25% de Jaen, para formar a frente de entrada. Também há rosé, mas à data da prova ainda não estava pronto para ser lançado. Depois, os Beyra Reserva branco e tinto de 2016, sendo que o primeiro tem na sua origem vinhas velhas de Fonte Cal, Síria e Rabo de Ovelha, e o segundo nasce de 80% de Tinta Roriz e Jaen com estágio de oito meses em barricas novas de carvalho francês e americano. Uma atractiva curiosidade é o Beyra Altitude Riesling 2016. São 6300 garrafas de um branco diferente, com leve doçura, que estagia em garrafa cinco meses.
O Beyra Grande Reserva tinto 2015 é coisa séria, de Tinta Roriz e Touriga Nacional, estagiando um terço em barricas novas, outro terço em madeira de dois anos de idade e o resto de três anos, durante doze meses. Nas cubas de betão faz a maceração, é sujeito à “delestage”, técnica clássica que consiste em extrair os componentes fenólicos gentilmente através da oxigenação, para reduzir a concentração de taninos e aumentar a de ésteres, elemento chave para um carácter frutado.
Finalmente, o vinho Rui Roboredo Madeira tinto 2015 que, palavras do enólogo, “é um vinho das melhores colheitas da Beira Interior, em que a altitude em anos quentes permite combinar frescura e acidez com grande concentração”. Tem Tinta Roriz (90%) e Touriga Nacional e estagia durante três anos, dois em barricas francesas e americanas e um em garrafa. Com apenas 3929 garrafas, é um vinho bem ao estilo “Rioja clássico”, em que a madeira nova está bem presente e a elegância ainda mais…