AdegaMãe, em boa forma

O projecto deu os seus primeiros frutos em 2010, numa altura em que o mercado já dava sinais claros de saturação. Mas cedo mostrou querer singrar, fruto de uma boa estrutura financeira e de uma cuidada estrutura agrícola-enológica. Hoje, oito anos depois, a Adega Mãe já dá lucros e continua a lançar belíssimos vinhos.

 

TEXTO António Falcão NOTAS DE PROVA Valeria Zeferino e Dirceu Vianna FOTOS Cortesia Adega Mãe

FOI com indisfarçável orgulho que Bernardo Alves, o CEO da Adega Mãe, se dirigiu a uma plateia de jornalistas da especialidade, reunida na caprichada sala de provas da adega, localizada a uma boa meia dúzia de quilómetros a sul de Torres Vedras. E tem razões para isso: a empresa, com oito vindimas de existência, registou “um percurso sempre ascendente, a nível nacional e internacional, e está a atingir a maturidade”. Em 2017, a empresa superou o milhão de garrafas e superou os 2,5 milhões de euros de facturação. Melhor ainda, as finanças não só entraram em equilíbrio como já se ganha dinheiro. Isto apesar dos vultuosos investimentos efectuados, incluindo a bonita e espaçosa adega, uma das mais visitadas do país. Uma parte dos visitantes vem da restauração lisboeta e não é por acaso. A equipa comercial da Adega Mãe tem apostado no segmento da restauração da capital, convidando proprietários e equipas de sala e cozinha para visitas à adega. O intuito é sensibilizá-los para o vinho de Lisboa e, depois, passar esse sentimento aos turistas que passam pela capital. A estratégia parece ter resultado, porque o crescimento de vendas na capital foi de 30% em 2017 (cerca de 200 mil garrafas). O turismo deve ter ajudado muito ao crescimento, como nos disse Bernardo Alves: “o turista não tem preconceitos quanto às regiões e, por outro lado, gosta de provar monocastas”. A Adega Mãe tem onze, seis brancos e cinco tintos. Os brancos têm recebido uma atenção especial, até porque, diz o gestor da Adega Mãe, “a região é de excelência para este tipo de vinho”. Ainda assim, a produção actual contempla apenas 35% de brancos, contra 65% de tintos.

O maior mercado, contudo, é a exportação. Cerca de 60% das garrafas vão para o mercado externo e o Brasil é o maior cliente, recebendo tantas garrafas como Portugal inteiro. Ásia e Estados Unidos estão logo a seguir. Bernardo é um fiel apaixonado da região onde opera e vive, e acredita que o sucesso da empresa não é apenas bom para a Adega Mãe: a região de Lisboa também usufrui.

A estratégia para o futuro mais próximo é a de conseguir fazer subir o preço médio de venda, tarefa que vai ser alicerçada na constante melhoria da qualidade dos vinhos.

A opinião dos técnicos
Terminada a parte do negócio em si, foi a vez do enólogo consultor, Anselmo Mendes, falar do projecto e dos vinhos. Presente desde o início, Anselmo começou por estudar o planeamento da adega, tarefa que durou dois anos: “Foi a adega mais bem pensada onde estive”.

A enologia veio a seguir, em parceria com Diogo Lopes, enólogo residente. Esta dupla, e o resto da equipa, ainda não pararam de fazer experiências. Havia pouco ou nenhum histórico na região e por isso a equipa optou por plantar uma multiplicidade de castas. Alvarinho, Arinto e Viosinho, por exemplo, já deram provas da sua excelente adaptação ao terroir da quinta, com clima relativamente fresco e com marcada influência atlântica. Nas tintas destacou-se a Touriga Nacional e, de certa maneira, o Pinot Noir. Mas existem ainda opções em aberto, até porque Anselmo considera que “os taninos aqui são completamente diferentes [leia-se, aguerridos] e por vezes temos que os corrigir na adega”.

A experimentação não ficou só pela vinha. O branco Terroir 2014, por exemplo, estagia 12 meses em barrica de 400 litros. Mas escolher a barrica certa – o tipo de carvalho e inclusive a floresta de onde veio – levou sete anos a afinar! Enologicamente, este vinho (e outros brancos) estão a sofrer experiências de vinificação, especialmente sobre a relação entre borras finas e o oxigénio: “há ainda muito para descobrir”, salienta o técnico.

Muitas experiências e histórias correram por estas paredes e vinhas, a grande maioria de cariz feliz. O futuro deverá continuar assim e apostamos que a casa dos Alves vai continuar a brindar os enófilos com vinhos cada vez melhores.

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