A Sala Ogival, em Lisboa, foi palco de uma prova de vinhos do produtor ucraniano Beykush Winery promovida pela ViniPortugal. O evento contou com a presença de Eugene Shneyderis, fundador deste projecto familiar localizado na costa do Mar Negro, na região de Mykolaiv, e que teve o início em 2010. As vinhas situam-se na estreita faixa de terra entre o mar e o estuário do rio Berezansky. Cruzando o estudo de solos e de dados climáticos, a escolha recaiu em 17 variedades, entre estrangeiras, tradicionais e autóctones, distribuídas pelos 14 hectares da propriedade.
A prova começou com um rosé da gama de entrada, Artania 2024, feito de Pinot Grigio com 5% de Pinot Noir, muito fresco e agradável, mostrando, primeiro, o lado terroso e vegetal e, depois, uma leve fruta vermelha. Faz lembrar um vinho branco leve e suave, com acidez viva, mas não cortante. Seguiu-se a gama de vinhos monovarietais, da qual provámos três referências. O Alvarinho 2023 (ou Albariño, no sinónimo espanhol), aromático, não expansivo, mas preciso, com notas de flor de laranjeira, jasmim, alperce e tangerina. Textura macia e acidez fina. Embora sem estágio em barrica, revelou uma nota de especiaria doce. O Chardonnay Reserve 2022, com barrica, que se mostrou afinado no aroma, com pimenta branca, maçã e pera, pedra, ervas amargas e toranja. Focado, sério e austero, com muita pimenta branca e noz-moscada. O Pinotage 2024 apresentou cor rubi pouco concentrada e aromas terrosos, com notas de sangue, couro e tomilho. Encorpado, mas fluido, com tanino bastante macio.
As últimas duas referências integram a gama de “vinhos históricos” que evocam a memória regional. O Loca Deserta 2021, que significa “terra deserta” em latim, remete às estepes e paisagens selvagens do Norte do Mar Negro, onde está situada a propriedade. É um lote complexo de Merlot, Cabernet Sauvignon, Tempranillo, Rubin (variedade búlgara originada pelo cruzamento de Syrah e Nebbiolo), Malbec e Pinot Noir, podendo variar consoante o ano. O vinho revelou um conjunto diverso de aromas, desde groselha preta e beterraba até notas terrosas e de carvão; tanino com garra, mas sem perder o polimento. O nome do último vinho é Kara Kermen 2021. Refere-se a um “forte preto” que existiu, em tempos, neste território. O estilo é inspirado no Amarone, feito a partir de uvas colhidas e deixadas a secar lentamente antes da vinificação, concentrando aromas e estrutura. As duas castas utilizadas, porém, nada têm a ver com Itália. Tratam-se da espanhola Tempranillo e da georgiana Saperavi, muito popular na Ucrânia. Como seria de esperar, o vinho é potente e encorpado.
Eugene tem um distribuidor no Reino Unido e os vinhos já chegam a vários mercados europeus. Em Portugal, ainda não estão disponíveis, mas quem sabe se esta prova não será a primeira de muitas. V.Z.

