Editorial Novembro: O Douro, por quem o fez

Editorial da edição nrº 91 (Novembro 2024)

A Grande Prova de tintos do Douro que publicamos nesta edição, levou-me a pesquisar os resultados das provas similares que esta equipa de provadores realiza com periodicidade anual desde há quase três décadas. O resultado foi um autêntico mergulho na história do Douro pela mão dos seus principais protagonistas.
Os alicerces do Douro moderno começaram a ser construídos na vindima de 1990 através do tinto Duas Quintas, (o Reserva nasceu em 1991), seguido do Quinta da Gaivosa em 1992, Quinta do Crasto em 1994, Vale D. Maria em 1996, Quinta da Leda em 1997. Quando a estas se juntaram, em 1999, três outras marcas de topo – Batuta, Quinta do Vallado e Quinta do Vale Meão – o “Douro além do Porto” ficou lançado.

Comecei, precisamente, pela prova realizada em novembro de 1999. Naturalmente, as marcas nascidas nessa vindima estavam ainda fora da equação. Mas resulta curioso verificar que os tintos melhor classificados nesse embate espelham ainda um mix entre o Douro do “antes” e do “depois”: Barca Velha 1991 (quando o Barca Velha ainda se “atrevia” nestas provas comparativas), Confradeiro 1994 e Quinta do Côtto Grande Escolha 1995, de um lado; Vinha do Fojo 1996, Quinta da Gaivosa 1995 e Duas Quintas Reserva 1994, do outro. Interessante também constatar o tempo de estágio a que os melhores vinhos, mesmo os das marcas “novas”, eram submetidos antes de chegarem ao mercado. Progressivamente, esse ónus iria passar para o consumidor.
Nos vencedores de 2003 assistimos já ao surgir de uma constelação e ao esmorecer de algumas das estrelas antigas: Batuta 1999, Chryseia 2001, Quinta do Vale Meão 1999, Quinta da Leda 1999, Quinta do Vallado Reserva 1999, Duas Quintas Reserva 1999 e Quinta da Gaivosa 1999. Nas provas de 2004 e 2005 juntaram-se a estes, outros campeões: Lavradores de Feitoria Grande Escolha 2001, Quinta do Crasto Maria Teresa 2001, Pintas 2003, Poeira 2003, Quinta de la Rosa Reserva 2003.

Ao longo dos anos seguintes, diversas marcas se intrometeram no topo das classificações: Quinta das Tecedeiras, Quinta de Macedos, Quinta do Infantado, Ázeo, Quinta da Gricha, Passadouro, Quinta dos Frades Vinhas Velhas, Conceito, Kopke Vinhas Velhas, Quinta da Casa Amarela Grande Reserva, Maritávora Reserva, Quinta de S. José Reserva, CV, Quinta da Touriga-Chã, Quinta do Noval, Quinta do Monte Xisto, Carvalhas, Duorum Reserva, Xisto, Quinta da Manoella Vinhas Velhas. Algumas, nunca mais abandonaram os lugares cimeiros.

A prova de 2014 tinha um título sugestivo – “Rumo à elegância” – assinalando uma tendência que ainda hoje se mantém. O espaço limitado nesta página obriga-me, a contragosto, a saltar mais uns anos, para 2020, o ano do covid-19. Movidos pela conjuntura, estabelecemos um limite de preço (€30) à prova anual. As casas emblemáticas impuseram-se: Monte Meão Vinha dos Novos 2017, Vallado Reserva 2017, Pintas Character 2017 e Quinta do Crasto Vinhas Velhas 2017. E termino esta breve viagem com as provas de 2022 e 2023, e com o advento dos vinhos de parcela, vários deles a inscrever o seu nome entre os vencedores: Vallado Vinha da Granja 2018, Quinta da Boavista Vinha do Oratório 2018, Quinta Nova Centenária 2019, Quinta Vale D. Maria Vinha do Rio 2020, Pala Pinta 2020 (dos irmãos Maçanita), Quinta da Romaneira Carrapata 2021, Quinta de São Luiz Vinha Rumilã 2018.

Esta é, muitíssimo resumida, a história do Douro moderno, região de vinhos grandiosos nascidos numa viticultura de montanha, de baixas produções e elevado custo. Apontar como solução para a crise fazer vinhos para destilar e aguardentar o Porto, e assim competir com regiões destiladoras que produzem 25 toneladas por hectare e fazem vinhos que para mais nada servem, não é apenas estúpido. É também um atestado de incompetência e um desrespeito pelo Douro e pelas suas gentes. (LL)

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