Percebe-se, quando se transpõe a cortina, que a ideia é preservar uma certa intimidade num espaço que se pretende reservado e cuja decoração baseada nos vermelhos, madeira velha e latão, faze lembrar um vetusto clube inglês. Foi objecto de renovação recente quando mudou de mãos na viragem dos 40 anos de existência e passou a ter como proprietário Miguel Garcia, um velho cliente da casa com vasta experiência anterior no ramo da hotelaria e que nos recebe em pessoa nesta primeira visita.
Já com um flute de espumante na mão, dou comigo a pensar que é sempre bom sinal quando um cliente fiel toma conta de uma casa que se foi tornando sua com o tempo. E por isso tudo ali respeita a tradição e a memória. A começar pelos funcionários, fardados com o seu colete axadrezado e lacinho, alguns deles com dezenas de anos de casa e que são retratados como vedetas em fotos individualizadas expostas na escada de acesso ao 1º piso também ele remodelado. São eles a alma deste espaço e garantem a perenidade de um serviço profissional, atento, mas também discreto, que os clientes são muitas vezes figuras publicas e políticos vindos do parlamento ali em frente, e as suas conversas pedem recato.
Se a decoração respeita a tradição, que dizer então da ementa? Estão lá os clássicos todos que deram fama à casa, a começar pelo famoso Bife à Café de São Bento, amplamente publicitado como “o melhor de Lisboa”. Se o é ou não, teria de provar todos os outros antes de confirmar a sentença. Mas o que posso assegurar de experiência vivida que o lombo de corte alto se deixa cortar como manteiga derretida, imerso no sápido molho de natas inspirado na receita de Marrare, guloso quanto baste, com os palitos de batatas fritas crocantes. É o emblema da casa e consta que permanece inalterado há 40 anos.
Mas há outras opções, tanto nas carnes, como no bacalhau gratinado (outro clássico) e mesmo uma alternativa vegetariana que os novos tempos e tendências aconselharam a introduzir recentemente. A nós foi-nos servido como entrada uns belíssimos camarões “al ajillo” e não poderíamos ter começado melhor. O vinho da casa foi feito em parceria com a Ravasqueira e é suficientemente polivalente para casar bem com a maioria das propostas. Para fechar, os mais gulosos podem ainda tentar-se pela doçaria com propostas também elas clássicas, não sem antes limpar o palato com o sorvete de limão com vodka. Tenho para mim, no entanto, que não é só pela comida que a numerosa clientela é atraída diariamente ao Café de São Bento. A nostalgia pelo classicismo e a envolvência num ambiente que desperta memórias e saudades por um tempo que já se perdeu fazem valer os seus encantos.
Café de São Bento
Rua de São Bento 212, 1200-821 Lisboa
Telefone: 913 658 343
Horário: segunda a sexta-feira – 12h30 às 14h30 e 19h00 às 2h00; sábado e domingo – só jantar