FITAPRETA: Cozinha do Paço

Integrado no monumental Paço do Morgado de Oliveira, cujas vetustas fundações remontam ao século XIV, estamos no coração do empreendimento Fita Preta, em Graça do Divor, no concelho de Évora, mesmo ao lado da moderna adega que António Maçanita construiu de raiz e onde vinifica os seus vinhos alentejanos.

A bem dizer, não estamos perante um restaurante alentejano no sentido convencional do termo, já que o lugar onde se servem as refeições se divide por cinco espaços muito diferentes entre si (nós ficámos na belíssima tribuna da Capela). A cozinha que nos é proposta pelo Chef Afonso Dantas tem do Alentejo a inspiração e alguns dos produtos que servem de base às composições, mas os processos e técnicas refinadas levam a refeição pelos caminhos inesperados de um ambicioso fine dining. É verdade que do princípio ao fim temos o vinho, sempre o vinho, como elemento condutor e agregador dos vários momentos que compõem o repasto. Aqui, são as criações do Chef que procuram responder aos nem sempre fáceis desafios que os vinhos lhe apresentam.

Guiados pela mão e explicações do competente sommelier Francisco Cunha, tivemos o primeiro snack, peixe do rio sobre uma base de bolacha de grão de bico com o espumante Fita Preta. Já a Tinta Carvalha 2020 serviu de sustento ao segundo snack, ovas de lúcio perca em que o peixe marinou em borras de Alicante Bouschet e a combinação se revelou ousada. O Fina Flor Arinto non millésimé, estranhíssimo, fermentado naturalmente, extra-seco, uma aproximação à Solera bateu-se com o torricado de aviado com pasta de cogumelos. Igualmente desafiante, o Vinho da Corda dos Profetas 2021, de Porto Santo, lidou com um coscorão de borrego, tomate e ovo, uma composição feliz e cheia de sabor. Muito interessante, até pelo aproveitamento de uma matéria prima pouco valorizada, o tártaro de lagostim do rio, cenoura fermentada, tudo envolvido por uma bisque do mesmo lagostim que, claramente, ganhou ao Fita Preta rosé que o acompanhou.

Deslumbrante na apresentação e não desmerecendo no sabor, a enguia fumada com creme de pinhão e escabeche de ervas, que mediu meças com o Arinto dos Açores Canada do Monte 2021 e constitui, na minha opinião, a melhor conjugação do dia. Quem esperaria tanto mar em pleno Alentejo? Outro peixe, um belo pregado, no caso, cozido no ponto perfeito, com funcho e óleo de folhas de figueira casou com o branco Morgado de Oliveira NM, de Arinto, que passou 15 meses em carvalho e me conquistou pela excelente acidez e final longo. Mais clássica, a combinação do tinto Chão dos Eremitas Os Profetas 2020, com a pequena troncha de lombinho e cachaço de porco ibérico com puré de tupinambo que revelou um excelente apuro da técnica do Chef. Uma pré-sobremesa com base em pera fermentada e uma sobremesa de sabores cítricos com creme de mel, laranja, toranja e açafrão completaram a refeição.

Não faltam arrojo, criatividade e apuro técnico a esta Cozinha do Paço. Se são estas as propostas que o viajante espera encontrar e valoriza quando mergulha numa experiência de enoturismo no Alentejo, o tempo o dirá.

fitapreta

Cozinha do Paço

FitaPreta Vinhos, Nossa Senhora da Graça do Divor, 7000-016 Évora

Almoço e jantar, de terça-feira a sábado das 12h00 às 14h00 e às 19h00

Tel.: 915880095; adega@fitapreta.com

Menus de degustação de 135€ (5 vinhos, 6 momentos) a 255€ (9 momentos, 7 vinhos)

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