Kabuki: Um restaurante japonês com sotaque português

Já tinha lá ido algumas vezes, sempre em contexto profissional e a impressão geral foi  de franco agrado, tanto pelas propostas gastronómicas como pelo serviço de vinhos exemplar. É um daqueles sítios que guardamos na nossa bucket list para visitar mais tarde e com calma. Notícias recentes tinham anunciando a saída quase simultânea do chefe Paulo Alves e do sommelier Filipe Wang e fizeram-me hesitar. Será que… Por isso, foi com um misto de curiosidade e de dúvida metódica que aceitei o convite para visitar, de novo, o belo espaço que se acolhe naquelas que foram as Galerias Ritz, de saudosas memórias. E ainda bem que o fiz. Recebeu-me Vitor Jardim, director do restaurante desde a sua abertura, e, afinal, a garantia de continuidade do conceito e do padrão da qualidade.

A minha visita começou no bar, que também serve alguns petiscos e fica no piso intermédio dos três que compõem o espaço, onde, com mestria e criatividade, o barista Telmo Santos tem vindo a desenvolver novos cocktails (com e sem álcool),  dos quais tive a oportunidade de provar dois. Comum a todos eles é a base das bebidas japonesas, a que este profissional acrescenta sabores e aromas frutados e plenos de frescura. Fiquei fã, devo confessar. Depois desta introdução descemos para a sala de jantar, um espaço cativante e acolhedor dominado por uma barra para oito comensais, por detrás da qual um impressivo mural origina um contraste entre a exuberância das cores e as linhas sóbrias da restante decoração. Naquela noite fui informado que o novo chefe, Sebastião Coutinho, não estava, o que, por um lado, me privou de o conhecer e de trocar algumas impressões com ele mas, por outro, me ajudou a tirar a prova dos nove.

Observar um restaurante estrelado sem o chefe executivo presente é, muitas vezes, a receita certa para uma refeição decepcionante. Não foi de todo o caso e isso afinal só abona em favor de uma equipa competente e bem lubrificada. O menu Kabuki que experimentei  (125€ com seis momentos) começa de uma forma misteriosa com a apresentação de uma bento box, uma caixa negra lacada, aberta à frente do cliente, que contém seis aperitivos tão sugestivos à vista como deliciosos. Seguiu-se salmonete e algas, irrepreensível de frescura e delicadeza, para continuarmos com um Akami Caviar, em que o atum foi tratado à sua mais alta expressão. A influência portuguesa foi bem visível no “À Bulhão Pato”, o prato seguinte, onde o lírio,  as amêijoas e o molho se casaram de forma harmoniosa. O prato seguinte, barriga de atum, ovas e raspa de atum foi, para mim, o menos conseguido. Mas isso não desilustrou uma refeição que, no seu conjunto, esteve em grande nível. O serviço de vinhos, agora da responsabilidade do sommelier Miguel Ribeiro, apresentou propostas acertadas de harmonização, que passaram por um espumante de Monção e Melgaço, um branco Donzelinho do Douro, um Riesling da Alsácia e um saké servido a preceito. Está bem e recomenda-se o “novo” Kabuki que, com Sebastião Coutinho, levou a influência mediterrânea a um toque mais português.

Kabuki

 

Kabuki

Morada: Rua Castilho 77 B – Lisboa

Tel.: 212 491 683 / 935 010 535

Experience (1º piso) – Só almoços, de terça a sexta-feira das 12:30 às 15:00 horas

Bar Kikibari  (Piso intermédio) – Terça a sexta das 12:30 às 00:00 horas

Sala Principal (Piso de baixo) – Só jantares, de terça a sábado das 19:30 às 00:00 horas

 

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