Aida Augusto nasceu em Trás-os-Montes, em 1972. O panorama sociopolítico de então pesou na decisão dos pais rumarem para Paris, em França, com quem foi viver ainda na infância, já depois de ter partilhado uma parte desta fase com os avós, ainda em Portugal. Mais tarde cursou e concluiu o curso de Ciências Humanas, mas quis o destino que entrasse na famosa queijaria Quatrehommes, localizada na capital francesa, para se candidatar ao lugar de funcionária, papel desempenhado por cerca de sete anos.
Obter conhecimento aprofundado sobre esta matéria foi imperativo. A inesgotável curiosidade levou Aida Augusto a iniciar a formação nesta área numa escola especializada, que dista 400 quilómetros de Paris, onde ia todas as semanas. Foram quatro anos focados nos estudos intensivos sobre as diferentes regiões relacionadas com a produção de queijo, trabalho esse inteiramente ligado à geografia e à orografia de um país. “O território é que define o produto final”, daí que o queijo tenha “a mesma evidência do vinho”, compara. Os restantes quatro anos basearam-se na passagem à prática.
“É uma área apaixonante”, confessa Aida Augusto, mestre queijeira, profissão centrada no domínio do percurso entre a selecção do leite utilizado na transformação em queijo, processo de produção seguido pela cura, “indispensável para desenvolver todo o potencial do queijo, ou seja, para despertar aromas e sabores do produto”, explica. Afinal, trata-se de um “produto vivo” quando produzido a partir de leite cru. Portanto, os procedimentos que permitem a passagem do líquido para o sólido são cruciais, bem como o tempo que necessita de ser investido na cura. “Até à degustação, o queijo é um produto vivo”, sublinha. Nesta fase, “é importante dar a conhecer a diversidade de queijos”, ou seja, a relação com o consumidor torna-se fundamental, o que só se torna possível lojas especializadas.
A falta de sensibilização a respeito da produção de queijos e a quase inexistente especialização nesta área são dois factores apontados por Aida Augusto, os quais urge suprimir, no sentido de se fazer um produto diferente e de qualidade. Com o propósito de fazer o levantamento da pastorícia e dos queijos produzidos no território, a mestre queijeira deu início, há mais de uma década, ao projecto “Segredos do Território”, o qual quer estender por Portugal, de lés a lés, país a que regressou em fevereiro deste ano de 2025. “Temos de criar uma rede de curadores e apostar na formação, porque o corte, o serviço, precisa de pessoas especializadas”, argumenta.
Com o intuito de desvendar os “Segredos do Território”, no dia 20 de Setembro, ao Nobre Gosto, evento organizado pela revista Grandes Escolhas e que teve lugar no Palácio e Jardins do Marquês de Pombal, em Oeiras, Aida Augusto apresentou duas tábuas de queijos. A primeira era constituída por dois requeijões distintos – um fresco e um outro entre três a quatro semanas de cura – feitos a partir de leite de cabra, da Ortodoxo, queijaria localizada em Azeitão, e um queijo de cabra com quatro semanas de cura, “com um formato diferentes dos anteriores, mas a mesma receita”, da Casa Pratas, no Cartaxo. Para este trio, foi eleito um Adega Casal da Manteiga branco, produzido na vizinha Adega Casal da Manteiga, situada na Quinta de Cima, em Oeiras.
Já a segunda tábua continha um quarteto de queijos, cuja harmonização coube ao Villa Oeiras 15 Anos Superior, o Vinho de Carcavelos produzido na mesma adega e o anfitrião deste evento. “Trouxe um queijo curado amanteigado Monte da Vinha, do Vimieiro, Arraiolos, com seis semanas de cura, que vendi muito na queijaria de Paris”, revela Aida Augusto, um queijo de vaca alemão, com três, quatro quilos, curado e com pétalas de flores selvagens, de nome Tomme, “que nós, em França, chamamos de ‘Tomme aux fleurs’”. Dos Países Baixo, a mestre queijeira trouxe um Gouda, “com 30 meses de cura e uma massa super cristalizada” e, da Galiza, apresentou um queijo azul de leite de vaca do Casal Airas Moniz, “com uma intensidade extraordinária”, avança.
Partilhar conhecimento e dar azo a acções de sensibilização são, para já, um trabalho a continuar, mas “a ideia é abrir uma loja”.