Mirabilis: Nascidos no Douro, feitos com Mundo

Dez anos antes destes vinhos serem feitos, em 2011, nasciam os primeiros Mirabilis, fruto do “sonho de criar um branco fora de série e um tinto disruptivo para o Mundo”, relembra Luísa Amorim, “um Douro que não se prendesse aos muros da Quinta Nova ou exclusivamente à tradição da região, num perfil mais internacional”.

Em Maio, no Depozito, espaço de artesanato tradicional e contemporâneo em Lisboa, foram lançadas as edições de 2021, que surgem hoje com mais maturidade do que as antecessoras, por várias razões: o branco sai com mais tempo de estágio, e o tinto com um perfil aprimorado na elegância e selecção ainda mais minuciosa das barricas. Luísa Amorim dá-nos uma perspectiva bastante humana do processo de criação: “Quando somos muito novos, achamos que o mundo vai acabar amanhã, que temos de pôr as coisas cá fora rapidamente para provar o que valemos. Hoje, estamos noutra fase da vida, com mais maturidade e sabedoria, com ainda mais certeza do que queremos. Ao mesmo tempo, temos de ser muito conscientes e certeiros, fazer os vinhos com cuidado, porque hoje as exigências do mercado são outras, e Portugal cresceu em qualidade”.
Para Ana Mota, responsável de viticultura da Quinta Nova, 2021 foi um ano difícil para a vinha, mas, por outro lado, tendo perícia para ultrapassar as dificuldades, acabou por ser, como diz a própria, “uma dádiva”. “Foi um ano vitícola bastante chuvoso, com temperaturas amenas, e por causa disto os fungos deram-nos muito trabalho, mas conseguimos, com cuidado, trazer boas uvas para adega. Foi preciso estarmos muito atentos à vinha. Na vindima, tivemos de ter muita paciência, por causa da chuva”, descortina Ana Mota. Quanto ao Mirabilis branco, Ana Mota revela, contente, “cada vez mais, temos os nossos viticultores parceiros, das uvas brancas, a querer continuar com o nosso projecto, o que nos dá estabilidade. Além disso, da colheita de 2022 teremos mais algumas garrafinhas do branco, porque conseguimos mais 1,3 hectares de uma vinha muito velha, com características para Mirabilis”.

A complementar a perspectiva da viticultura, Jorge Alves, director de enologia, também considera que 2021 foi um ano de excelência: “Foi magnífico por vários motivos, trouxe-nos vinhos brancos mais minerais, intensos e com uma acidez bastante cintilante. A vindima foi um pouco mais tardia, o que não tem mal nenhum, excepto a parte das borboletas no estômago com medo dos apodrecimentos, até porque as uvas tiveram tempo extra de maturação, o que é importante para a combinação final. Foi também um ano em que os equipamentos deram um jeito enorme, mesas de triagem e tapetes de escolha ajudaram-nos a criar estes vinhos de enorme pureza aromática e gustativa”, afirma o enólogo.

 

O Mirabilis branco 2021 tem origem em vinhas velhas de altitude, muito ricas em Gouveio e com algum Viosinho, entre outras castas. Fermenta e estagia em barricas de carvalho francês e húngaro de 300 litros, 80% das quais, novas, com bâtonnage quinzenal. “O estágio de um ano em garrafa adiciona-lhe textura”, acrescenta Jorge Alves. Já o Mirabilis tinto 2021 tem a sua génese numa vinha a 10 metros da adega da propriedade da família Amorim, e traduz-se num lote de Tinta Amarela, em grande percentagem, com vinha centenária. Vinificado sem engaço, estagia 12 meses em barrica nova de carvalho francês e 5 meses em garrafa. “Este é o vinho mais ‘afrancesado’ da Quinta Nova, muito vegetal, mentolado, texturado. Provavelmente, é o nosso tinto com mais tensão e nervo, que fica mais no final de boca e envelhece de forma muito subtil. É um projecto lindíssimo”, confessa o enólogo.

A equipa da Quinta Nova aproveitou, ainda, o momento de lançamento destes vinhos para anunciar algumas novidades ao nível da vinha e da adega. Além de novas plantações com castas mais adaptadas às alterações climáticas, e de ajustes na geometria da vinha para maior adaptação a máquinas, uma experiência inovadora com o objectivo de combater a seca que se tem verificado no Douro: “Não fossemos nós produtores de cortiça… fizemos, nas vinhas centenárias, uma descava profunda e estamos a colocar aí uma quantidade muito significativa de granulado de cortiça. A cortiça é isolante térmica, e consegue reter água e humidade no solo durante mais tempo. Com a água da chuva, incha e faz um efeito tampão, retendo a humidade”, avança Ana Mota. Luísa Amorim, por sua vez, levantou o pano ao projecto da nova adega, que se encontra já numa fase bastante avançada. “Apenas ficaram as paredes, não restou uma peça interior nem um pavimento. Tudo isto para virmos a ter ainda melhores vinhos”, garante a administradora. A vindima de 2023 já será feita nesta nova adega.

(Artigo publicado na edição de Junho de 2023)

SIGA-NOS NO INSTAGRAM
SIGA-NOS NO FACEBOOK
SIGA-NOS NO LINKEDIN
APP GRANDES ESCOLHAS
SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER
Fique a par de todas as novidades sobre vinhos, eventos, promoções e muito mais.