O “Château” de Azeitão

Os recentes lançamentos dos Quinta da Bacalhôa e Palácio da Bacalhôa de 2014 mantêm o elevadíssimo padrão de qualidade das colheitas anteriores e reafirmam o seu estatuto de referências absolutas entre os “lotes bordaleses” produzidos em Portugal.

 

TEXTO Luís Lopes FOTOS Ricardo Palma Veiga

O primeiro tinto Quinta da Bacalhôa, oriundo de uma vinha de Cabernet e Merlot plantada em 1974 nesta história propriedade de Azeitão, nasceu na vindima de 1979. Essa primeira produção foi vendida, basicamente, entre amigos de António Francisco Avillez, criador e mentor da então chamada João Pires/J. P. Vinhos. Foi com a colheita seguinte, de 1980, que o Quinta da Bacalhôa começou a ganhar um prestígio que se solidificaria nos anos vindouros.

A quinta, propriamente dita, não é uma propriedade qualquer. Classificada como monumento nacional em 1910, é considerada a mais bela quinta da primeira metade do século XV ainda existente em Portugal e pertence à Fundação Berardo. Integrando um magnífico palácio, a Quinta da Bacalhôa é uma antiga propriedade da Casa Real Portuguesa, tendo pertencido ao príncipe João, filho do Rei D. João I. Dessa época, chegaram até aos nossos dias os edifícios, os muros com torreões de cúpulas aos gomos e também o grande tanque situado no jardim.

A propriedade passou mais tarde para os herdeiros de D. Afonso de Albuquerque e em 1936 o Palácio da Bacalhôa foi comprado e restaurado pela norte-americana Orlena Scoville, cujo neto Thomas resolveu em 1970 dar-lhe o “toque” bordalês através da plantação de uma vinha com as castas daquela região francesa. Para atingir esse objectivo, o vizinho visionário António Francisco Avillez constituiu o parceiro ideal. As uvas eram produzidas pelos Scoville, com acompanhamento da J.P. Vinhos (hoje Bacalhôa Vinhos), e vendidas a esta empresa, onde o enólogo australiano Peter Bright se encarregava de as transformar no mais emblemático “lote bordalês” feito em Portugal.

O Quinta da Bacalhôa era um vinho completamente revolucionário no panorama nacional. Desde o início que o vinho utilizava barricas novas (primeiro, uma mistura de barricas de castanho e carvalho português e francês; a partir de meados dos anos 80, exclusivamente carvalho francês importado e transformado em barricas na tanoaria da empresa) o que era bastante invulgar para a época. Mais invulgar ainda era a forma de comercialização, exclusivamente em primor e em leilão. Lembro-me bem de assistir a alguns desses leilões e registar o afã com que distribuidores, lojas de vinhos e restaurantes se “combatiam” para levar o maior número de caixas possível do famoso Bacalhôa.

Desde então sucederam-se 36 colheitas de Quinta da Bacalhôa, a maior parte das quais já sob orientação da enóloga Filipa Tomaz da Costa, que sucedeu a Peter Bright. Para além da sua qualidade intrínseca, o Quinta da Bacalhôa é um vinho com notável capacidade de envelhecimento, como diversas provas verticais feitas nos últimos anos têm confirmado. Essas qualidades são exponenciadas no Palácio da Bacalhôa, o topo de gama da casa, que nasceu na vindima de 2000, e foi produzido nas colheitas de 2001, 2003, 2004, 2005, 2007, 2008, 2009, 2013 e 2014.

Enquanto o Quinta da Bacalhôa é feito quase exclusivamente com Cabernet Sauvignon (o 2014 tem 90%) com um pouco de Merlot, o Palácio da Bacalhôa tem as castas bordalesas mais distribuídas, com predominância de Cabernet (cerca de 60%) complementado com Merlot e deixando ainda espaço para 3 ou 4% de Petit Verdot. Um e outro são do melhor que se faz entre nós neste perfil de vinho e constituem um belíssimo exemplo de “lote bordalês” em qualquer parte do mundo.

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