Marco Pierre White
Quetzal
€18,80
MARCO PIERRE WHITE é uma figura incontornável do panorama da culinária inglesa. Apesar de o nome sugerir outras origens, Marco é mesmo inglês e virou ultrafamoso exactamente por ter sido o primeiro “chef” inglês a conseguir as ambicionadas 3 estrelas Michelin. Este livro autobiográfico narra-nos o seu percurso, contado na primeira pessoa.
Sem grande preocupação estilística, sem o tom “picante” que os subtítulos da capa poderiam sugerir, é um livro de um caminho, de uma obsessão, de um “chef” que soube aprender com os mestres mas que foi também mentor de figuras muito conhecidas da nossa TV. Quem viu o MasterChef Austrália provavelmente viu Marco, com um ar tranquilo e pacificado com a culinária, ajudando os concorrentes no seu tirocínio. Mas também quem procurar no Youtube vai encontrar vídeos deliciosos em que se vê Marco na sua cozinha, com alguns jovens chefes à sua volta (quem sabe estagiários…) – e entre eles lá está Gordon Ramsey, então ainda e apenas um cozinheiro à procura do seu espaço.
O livro, em que o autor não esquece todos os grandes nomes da cozinha com quem se cruzou, aborda de resto as inicialmente boas relações com Gordon e mais tarde as péssimas, ao ponto de se recusarem a almoçar na mesma sala. Ao invés, percorre por todo o livro um permanente agradecimento a Raymond Blanc, o grande chefe francês que há décadas é figura primordial do ambiente culinário inglês e que também podemos ver nos programas do cabo, com episódios deliciosos e receitas de grande valia, ao alcance dos amadores.
Ao contrário de outros livros autobiográficos, como “A Cozinha Confidencial”, de Anthony Bourdain, por aqui não passa a mesma quantidade de droga que passava nos States, aqui não existe a relação difícil mas obrigatória com os hispânicos; por aqui tudo se faz à custa de cigarros e café, os dois grandes companheiros de Marco ao longo da sua história. A velocidade a que chegou às 3 estrelas foi também amesma com que se desfez delas, tendo abandonado a corrida. O livro é, de resto, omisso em relação ao percurso após o abandono do estrelato, quase a sugerir que “isso” fica para um segundo volume. Como história de vida é um livro bem interessante, que se lê de um rasgo e pode mesmo desanimar alguns jovens chefes que gostariam de entrar neste tipo de corrida às estrelas; por outro lado, nunca se perde a noção de que é preciso cozinhar com uma doentia obsessão pela qualidade e algumas das (poucas) receitas que são explicadas no final do livro dão-nos a noção do rigor e do pormenor que um prato pode atingir. Para um leigo fica a ideia de que esta “coisa” da cozinha, dos chefes e das estrelas, é de doidos. Pois eu acho mesmo que é…
(JPM)