O regresso à Quinta de Pancas

Tenho na memória os monovarietais tintos da Quinta de Pancas da década de 90 ou, já no novo milénio, o Chardonnay & Arinto, um bálsamo entre os brancos com barrica da então região Estremadura (hoje Lisboa). Depois de alguma indefinição, a propriedade mais conhecida de Alenquer volta a apresentar uma gama completa de vinhos, com uma qualidade irrepreensível.

 

TEXTO Nuno de Oliveira Garcia FOTOS Ricardo Palma Veiga

COMECEMOS pelo mais importante, ou seja, pelos vinhos; nunca, até hoje, a Quinta de Pancas nos tinha presenteado com uma gama tão vasta, ambiciosa e cheia de qualidade. Vejamos: as entradas de gama – Pancas e Quinta de Pancas, branco e tinto – são irresistíveis no perfil sério e gastronómico, e também no preço; os Reserva – branco e tinto, também – mostram-se consistentes e seguem a linha de seriedade dos irmãos mais acessíveis, permitindo ainda a guarda em garrafa por alguns anos; e o tinto Grande Reserva 2013, que será lançado até ao final deste ano, é um dos melhores tintos já provados da casa, com muitos anos pela frente e um polimento nunca antes vistos.

E temos ainda os novos monovarietais que estão para sair – Syrah, Merlot, Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon, mas também Vital, Arinto e Chardonnay – que, provados agora, fazem já jus à fama dos Special Selection tintos da década de 90, com a vantagem de terem um perfil mais sofisticado e moderno. O estreme Vital é uma grande novidade na gama Reserva, e vale a pena prová-lo não apenas por ser dos poucos varietais da casta existentes
no mercado, mas também pelo seu lado de fruta exótica, quase terpénica, irresistível junto de pratos orientais picantes. Na mesma gama, o Chardonnay entra diretamente para os melhores do país, com enorme tensão, à qual se soma a complexidade habitual num vinho em que metade das barricas fizeram fermentação malolática (responsável pelo aumento de volume e de untuosidade do vinho). Nos tintos, e como já realçamos, o destaque segue por inteiro para o Grande Reserva que, na colheita de 2013, consegue superar largamente os bons registos das duas colheitas anteriores. Importa destacar ainda o regresso em grande estilo do monovarietal Cabernet Sauvignon, talvez o tinto mais famoso da propriedade, cuja versão em prova – na colheita de 2015, e ainda em estágio de garrafa – mostrou-se absolutamente soberba.

O principal responsável desta mudança é Frederico Gomes, um dos valores mais seguros da enologia nacional, que, por já trazer consigo a experiência de quase duas décadas de vindimas, tem um olhar simultaneamente tranquilo e confiante. Frederico é, atualmente, o responsável máximo da enologia da Quinta de Pancas em Lisboa (sendo Gilberto Marques o enólogo-residente, bem como na Quinta do Cardo, Beira Interior, com Luís Leocádio como enólogo residente), supervisiona tambémos trabalhos na Quinta da Fronteira (Douro Superior) e na Herdade da Farizoa (Borba, Alentejo), e ainda de mais um par de propriedades; é caso para dizer: imagine-se os quilómetros que faz por mês.

Apesar de tudo, Frederico tem um low-profile desconcertante, bem patente quando o confrontámos com as reformas que conseguiu levar a cabo nas várias propriedades espalhadas pelo país, e em relação às quais nos afirmou que se limitou a fazer o que lhe era pedido. E o que lhe foi pedido? Melhorar todas as quintas – na vinha, na adega, e nos vinhos –, o que implicou também alterar dezenas de procedimentos no processo de vinificação, ajudar na redefinição das novas gamas das várias quintas (com os bons resultados, bem visíveis, por exemplo, na Quinta do Cardo), e fazer voltar a brilhar uma das jóias da coroa – a Quinta de Pancas.

E o seu maior desafio, aquele onde depositou todos os seus esforços, confidencia-nos com um brilho nos olhos, foi precisamente o facelift empregue nesta histórica propriedade fundada em 1498 a menos de 50 quilómetros a noroeste de Lisboa. E não é caso para menos. Vejamos uma amostra da lista dos trabalhos realizados: fez-se a transição de algumas vinhas para biológico; analisou-se todas as barricas existentes, uma a uma de forma a combater o brett (contaminação que pode acarretar aromas desagradáveis nos vinhos) detetado na adega; e redefiniram-se os parâmetros de viticultura de cada um dos 50ha de vinha para ficarem adequados aos diferentes posicionamentos dos vinhos na gama (privilegiando, assim, as melhores videiras em relação às quais todos os cuidados são dedicados privilegiando produções muito baixas). Tudo isto num momento e contexto em que eram muitas as alterações, e até conturbações, no seio do grupo empresarial do qual a propriedade faz parte. É obra, dizemos nós!

Pois bem, da Quinta de Pancas espera-se agora o melhor; mais novidades vínicas em todas as gamas para saciar um público com saudades da marca lisboeta, bem como o lançamento de vinhos capazes de projetar a excelência de algumas das vinhas da propriedade, com destaque evidente para o Cabernet Sauvignon. E não estranhe o leitor pugnar-se aqui pela aposta nesta casta francesa em terras lusas, pois tenho para mim (e Frederico Gomes concorda, com um sorriso modesto) que a Quinta de Pancas é uma das raras propriedades em Portugal apta a produzir vinhos na linha dos Super-Tuscanos italianos, ou seja, aliando as castas francesas (e, em especial, as de Bordéus, como é o caso do Cabernet Sauvignon que domina o encepamento da quinta) a solos e climas do sul da Europa. É provar para comprovar!

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