Os retratos da vindima

Legenda da foto: Domingos e Tiago Alves de Sousa

Na CARMIM, em Reguengos, Tiago Garcia e Rui Veladas confiam na longevidade dos tintos de 2025

+ Uvas extremamente sãs, com óptimo estado sanitário. Brancas vindimadas mais cedo, com bela acidez e equilíbrio, resultando em vinhos citrinos, frutados e delicados. Nas uvas tintas, destaque para as castas mais tradicionais, como Aragonez, Trincadeira e Alicante Bouschet, com muito boa maturação fenólica, concentração e taninos de qualidade, condições ideais para potenciar o estágio dos vinhos nas barricas.

As elevadas temperaturas na primeira semana de Agosto e a elevada humidade noturna das semanas seguintes resultaram em maturações menos homogéneas para algumas castas, como a Touriga Nacional e a Touriga Franca, dando origem a alguns vinhos menos equilibrados.

 

Vindima
Tiago Garcia e Rui Veladas

Na Cooperativa Agrícola de Pegões, a experiência e conhecimento de Jaime Quendera são determinantes

+ Muita chuva entre Janeiro e Maio, deixando os solos bem nutridos e permitindo um ciclo vegetativo equilibrado, praticamente até às vindimas. Uvas de excelente qualidade em todos os aspectos enológicos: bom fruto significa bom vinho. Vindima em condições secas, possibilitando colheita faseada, sem stress e sem o risco de podridões ou outros problemas que habitualmente surgem com a chuva nesta fase.

Menos 25% de uvas face à média dos últimos cinco anos. As chuvas abundantes causaram a ocorrência de míldio nas vinhas menos cuidadas, originando alguma perda da matéria-prima. Este cenário foi agravado pela fraca nascença, inferior ao habitual, e ainda por episódios de escaldão no final de Julho e início de Agosto, coincidentes com a onda de calor que afectou Portugal durante mais de 20 dias.

Vindima
Jaime Quendera

 

Em Valle Pradinhos, um ícone de Trás-os-Montes, Rui Cunha faz vinhos desde 1997

+ Início da vindima, a 1 de Setembro, com a Tinta Roriz para rosé, antes da Gewürztraminer, algo inédito em 27 anos! Maior quantidade de uvas brancas que em 2024. Nas castas tintas, bagos mais pequenos (em média menos 10% do peso de 200 bagos quando comparado com 2024), o que originou vinhos tintos com muito boa cor e uma belíssima estrutura.

Menor produção nas castas tintas, com menos cerca 15% face a 2024. Maior percentagem de uvas-passas, o que obrigou a uma menor velocidade do tapete de escolha, para permitir uma selecção da uva em condições. Número elevado de mão de obra estrangeira, implicando menor velocidade no corte e necessidade de explicação diária sobre o que não vindimar (netas).

 

Vindima
Rui Cunha

 

Director de enologia do grupo Bacalhôa, Francisco Antunes seguiu a vindima em várias regiões

+ No Douro, a excelente maturação, a qualidade dos taninos, a intensidade aromática e estrutura da Touriga Nacional. Em Setúbal, as maturações faseadas, com bela acidez e concentração, e destaque para Chardonnay, Fernão Pires, Merlot e Cabernet. No Alentejo, brancos exuberantes e frescos, e tintos poderosos de Alicante Bouschet. Na Bairrada, óptimas bases de espumante a partir de 11 de Agosto e tempo seco, que permitiu esperar pela Baga até final de Setembro, para excelentes tintos de guarda.

Florações complicadas e menor produção no Douro e na Merlot da Bairrada. Vaga de calor, com alguma desidratação em certas castas tintas do Douro e Setúbal, e maturação precoce da Cabernet no Alentejo. Quebra de produção na Moscatel de Setúbal, devido ao escaldão. No Alentejo, forte chuvada com granizo, na primeira semana de Agosto, afectou alguns talhões virados a norte.

 

A casta Alicante Bouschet é estruturante na Reynolds Wine Growers e nos tintos criados por Nelson Martins

+ Boa maturação fenólica, com bela acidez e teores alcoólicos moderados, originando vinhos elegantes, frescos e de taninos maduros. Nos brancos, destaca-se a fresca exuberância citrina da Arinto. Nos tintos, a elegância da Trincadeira e a fruta e intensidade da Syrah. A chuva de 7 de Setembro e a descida das temperaturas proporcionaram à Alicante Bouschet uma das melhores maturações dos últimos anos, assegurando tintos de notável estrutura e longevidade.

A vinha registou uma baixa frutificação devido à recuperação da tempestade de granizo ocorrida em 2024. O final de Julho e o início de Agosto, com temperaturas máximas acima dos 40º C e médias acima dos 30º C, prejudicaram o bom enchimento do bago, resultando numa perda de 40% da produção esperada.

 

Vindima
David Guimaraens

 

David Guimaraens, da Fladgate Partnership, está contente com os vinhos, mas zangado com os responsáveis durienses

+ A qualidade geral dos vinhos do Porto tintos. Considerando as temperaturas altas do verão e a ausência total de chuva a partir de Maio, produziram-se, ainda assim, vinhos fortificados, com uma intensidade de cor tremenda, mas mantendo uma exuberância aromática frutada, que lhes confere bastante elegância e os torna muito atractivos.

A falência económica dos viticultores durienses de média dimensão, que se dedicam à produção e comercialização de uvas. A incompetência colectiva do sector, desde as associações de comerciantes e produtores aos órgãos governativos do Douro. A conivência, que beneficia alguns e permite que a mesma videira possa, enganosamente, manifestar duas Denominações de Origem na mesma colheita.

 

Na Quinta das Bágeiras, Frederico e Mário Sérgio Nuno estão seguros de que 2025 será ano memorável de tintos

+ Apesar de estar abaixo de um ano médio, a produção foi significativamente superior a 2024. Vindima sem chuva, com maturação plena, originando uvas sãs, equilibradas e de excelente qualidade. As condições climatéricas proporcionaram às uvas tintas, e em especial à Baga, um desempenho extraordinário. Tudo indica que será uma das melhores colheitas de tintos da última década.

Ano desafiante no controlo do míldio, devido às chuvas persistentes até final de Maio. Pouca chuva e temperaturas muito elevadas em Julho e Agosto, conduzindo a vindima precoce nas castas brancas. Algumas castas brancas com acidez menor do que o habitual na região, ainda que a consistência de outras castas tenha equilibrado os lotes.

Jorge Serôdio Borges e Sandra Tavares da Silva fizeram da Wine & Soul uma referência no Douro

+ Excelente maturação fenólica, após o arrefecimento das noites a partir da segunda semana de Setembro. Maturações suaves, vinhos extremamente frescos e com excelente equilíbrio. Vinhas velhas em perfeita harmonia, mostrando a sua resiliência e aptidão para superarem anos desafiantes. Vinhos muito surpreendentes, vibrantes, com frescura e elegância.

Primavera com elevada precipitação e grande pressão fúngica, o que levou a uma ligeira quebra de produção, principalmente associada ao míldio. Quebra de produção acentuada pelas três vagas de calor em Junho, Julho e Agosto. Em Agosto, tivemos 10 dias consecutivos acima dos 40º C, o que, no caso das vinhas mais novas, foi muito impactante em termos de produção.

 

As vinhas velhas da serra de São Mamede são um tesouro para Tiago Correia e Diogo Vieira, da Altas Quintas

+ Disponibilidade hídrica nos solos, com as chuvas da Primavera e início do Verão. Apesar do calor de Julho e Agosto, não houve escaldão acentuado. Início da vindima a meio de Agosto, com uvas brancas de excelente equilíbrio ácido. Alicante Bouschet mais precoce que o habitual, com excelente maturação fenólica e frescura impressionante. Castelão obteve maturação fenólica com teores de álcool perto dos 12%.

O Verão começou mais tarde, no entanto com temperaturas médias mais altas e amplitudes diárias menores. Algumas castas tintas tiveram dificuldade na maturação, apenas desbloqueada após as chuvas que ocorreram no início de Setembro.

Vindima
Tiago Correia e Diogo Vieira

 

A vindima sem chuva deu a Paulo Nunes as condições ideais para tomar decisões atempadas

+ 2025 foi um dos raros anos em que o clima de Setembro e Outubro permitiu a decisão de vindima não condicionada pelas chuvas típicas do equinócio, especialmente gravosas em regiões como a Bairrada e o Dão. O tempo seco em Setembro e Outubro possibilitou sanidade inequívoca da uva e vindima orientada pela qualidade polifenólica. Excelente equilíbrio entre acidez e açúcares, esperando-se grandes vinhos.

Chuvas intensas até Abril provocaram quebras de produção significativas, com problemas na floração que levaram a vingamento menos positivo. O calor intenso de Julho e Agosto provocou algum stress hídrico, especialmente em vinhas mais novas e de exposição solar mais intensa. Alguma atipicidade no ciclo natural de maturação, levando o local a ser mais importante do que a casta na decisão de vindima.

 

Vindima
Paulo Nunes

 

Na Quinta da Gaivosa, Domingos e Tiago Alves de Sousa fazem balanço muito positivo

+ Reservas de água acumuladas fizeram face ao calor estival, com o calendário vitícola a recuperar consideravelmente. Uma das vindimas mais serenas de sempre, sem qualquer condicionamento, aguardando o momento de cada vinha. DOC Douro equilibrados, frescos, sólidos, com imensa qualidade e longevidade. Breve pico de calor na segunda quinzena de Setembro, que trouxe a concentração e intensidade para os vinhos do Porto.

Nascença em contra-ciclo face à bem mais abundante colheita anterior, quebra acentuada por primavera extremamente chuvosa, com impacto na floração, elevada pressão fitossanitária e algum atraso nas etapas iniciais do ciclo vegetativo. A quantidade ressentiu-se, com produção 17% abaixo da média dos últimos 5 anos e 29% abaixo de 2024.

(Artigo publicado na edição de Novembro de 2025)

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