O Concurso Vinhos de Portugal terminou a sua 5 ª edição. Este ano bateu-se o recorde de inscrições e, fundamentalmente, um muito importante grupo de líderes de opinião estrangeiros teve mais uma vez a oportunidade de aprofundar os conhecimentos sobre os vinhos nacionais.
TEXTO António Falcão FOTOS Ricardo Palma Veiga
MAIS uma edição, mais um sucesso. A equipa da ViniPortugal conseguiu puxar mais um coelho da cartola e as difíceis metas para 2017 foram cumpridas. De facto, estiveram 1.373 vinhos em avaliação no salão do CNEMA, em Santarém, a maior participação de sempre. A diferença para o ano passado e não foi abismal, mas, convenhamos, reunir este conjunto não é nada fácil. E torna esta competição no maior concurso do mundo só com vinhos portugueses. Foi também por isso que Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal, se mostrava satisfeito: “O caminho para a afirmação de Portugal como o próximo ‘hotspot’ do panorama internacional do vinho passa por uma aposta clara em ter um produto de qualidade, diferenciado e competitivo. É esse o caminho que procuramos trilhar e que vamos continuar a fazê-lo, desenvolvendo iniciativas como esta que promovem uma imagem positiva do vinho português junto de influenciadores e decisores do mercado internacional”.
5 dias de provas, 110 provadores
A mecânica do concurso foi idêntica à dos outros anos: todos os vinhos foram avaliados durante 3 dias por 13 mesas de 6 provadores cada. Os melhores vinhos foram depois a uma finalíssima, realizada em Évora. Os vencedores foram conhecidos na gala de entrega de prémios, que se realizou à noite na Pousada Convento de Arraiolos e que contou com o Secretário de Estado da Agricultura e Alimentação, Luís Medeiros Vieira.No total participaram cerca de 110 provadores.
Mais de três dezenas de estrangeiros passaram pelo concurso, entre wine critics e/ou wine educators e sommeliers. Os presidentes do júri eram constituídos por enólogos portugueses com comprovada experiência e histórico. Todas as provas eram cegas e nos jurados estava presente uma boa parte dos técnicos de vinhos de qualidade deste país. Para eles, esta é também uma excelente oportunidade de entrarem em contacto com outros aromas e sabores e sempre uma oportunidade para acumular experiências e conhecimentos. Paulo Nunes dizia-nos exactamente isso: “acho que o grande salto de qualidade em Portugal aconteceu depois da crise (2008 e anos seguintes), quando os produtores portugueses tiveram de ir lá para fora, absorvendo conhecimentos e enfrentando a concorrência de todo o mundo. Tivemos de abrir os olhos…” Curiosamente, dois dias depois destas declarações em Santarém, Paulo subia ao palco em Arraiolos para receber o maior galardão do concurso. É ele o enólogo do Villa Oliveira Touriga Nacional de 2011 (da Casa da Passarella), um vinho nascido e criado no sopé da Serra da Estrela e que venceu dois dos sete maiores prémios: o Melhor Vinho do Ano e o Melhor Varietal tinto.
Os grandes vencedores
Os restantes cinco grandes prémios do Concurso Vinhos de Portugal foram distribuídos pelas regiões do Douro, Vinho Verde, Porto e Bairrada. O Quinta dos Carvalhais Reserva 2012 (Sogrape Vinhos) conquistou o título de Melhor Vinho branco de lote. O ‘Melhor Vinho tinto de lote’ coube ao Quinta do Crasto Vinhas Velhas Douro Reserva 2014. Nos Licorosos, a palma foi para o Kopke Porto Colheita 1967 (da Sogevinus), enquanto nos espumantes venceu o Quinta do Ortigão Cuvée 2012, da Bairrada. O prémio de Melhor Varietal branco foi para a região dos Vinhos Verdes, com o Muros Antigos Loureiro 2016 (da Anselmo Mendes Vinhos).
No total foram atribuídas 341 medalhas, das quais 30 na categoria Grande Ouro, 121 de Ouro e 190 de Prata. O Alentejo, anfitrião da edição 2017 da finalíssima do Concurso Vinhos de Portugal e da cerimónia da entrega de prémios, foi a região que recebeu mais medalhas Grande Ouro do júri (9). Os resultados completos podem ser consultados no site da ViniPortugal (concursovinhosdeportugal.pt/premiados). Recorde-se que os vinhos com as Medalhas Grande Ouro e Ouro terão presença garantida em eventos internacionais de excelência a realizar em 2017 como a ProWine Shanghai, a Vinexpo Bordéus, a Campus Hamburgo e as Provas de Zurique, Chicago, Nova Iorque e Luanda.
Estrangeiros valorizam o carácter regional
O concurso em si é só uma parte do percurso dos provadores estrangeiros. Tal como em anos anteriores, a ViniPortugal realizou três provas especiais – ou masterclasses – com vinhos seleccionados para cada uma das ocasiões. A escolha foi realizada por peritos da revista VINHO Grandes Escolhas. Uma delas foi conduzida por Nuno Oliveira Garcia, sobre castas brancas portuguesas. João Paulo Martins falou sobre as castas tintas e João Afonso abordou o tema “Vinhos de terroir”.
Todas as três provas foram ocasiões únicas para um volumoso painel de críticos estrangeiros ter acesso ao que de melhor e único se faz em Portugal. O leque de nacionalidades presentes no concurso é vasto e de grande nível, abrangendo quase todo os continentes. Mas nem todos tinham a mesma experiência sobre os vinhos nacionais. Não será o caso do alemão Axel Probst, que veio por quatro vezes a este concurso. Axel elogiou a organização, mas notou que “vários dos vinhos de topo de Portugal não se apresentaram neste concurso”. Ainda assim, este especialista disse-nos que “a qualidade tem evoluído muito positivamente”.
A norueguesa Cathinca Dege é, ao mesmo tempo, sommelier, wine writer e wine educator. Gostou da diversidade e da qualidade, só isso foi importante para ela. Foi a primeira vez neste concurso, mas não em Portugal, mas considera que conhecia pouco dos vinhos lusos. Cathinca descobriu muita consistência nos vinhos mas deixa uma recomendação aos produtores: “não caiam na tentação de fazer vinhos de perfil internacional; usem as vossas castas e deixem o terroir falar”.
O canadiano Tom Curry trabalha em Taiwan na educação de vinhos da população enófila. Conhece pouco do vinho português, confessou, mas gostou do que provou. “Alguns vinhos eram espantosos, mágicos. Especialmente os brancos, que me impressionaram muito”. Quanto aos tintos, prefere um estilo mais contido e criticou alguns vinhos que tinha acabado de provar, considerando-os “demasiado exuberantes”. Mas acrescenta: “Este é um problema de muitos outros países”. Para Tom, “os melhores vinhos não são os mais poderosos e exuberantes mas os mais elegantes, mais equilibrados, com mais finesse; bigger is not allways better”, conclui. Tom acredita assim que os consumidores se estão a afastar dos vinhos excessivos e poderosos e acha que Portugal deve seguir o caminho dos vinhos elegantes, vinhos que ele chama de “inteligentes, genuínos, que expressam o local onde nasceram”.
O chileno Patricio Tapia, conhecido jornalista e crítico de vinhos (Wine & Spirits e Decanter) está parcialmente de acordo. Em Santarém pela segunda vez (primeira em 2011), desta vez notou “menos enologia nos vinhos”. Acha, portanto, que os enólogos “deixaram falar melhor o sentido do local onde os vinhos nasceram”. E acrescenta: “Posso ser polémico mas não me interessam muito as 250 castas portuguesas; interessa-me, sobretudo, o respeito que têm por elas, como as interpretam. Provei Antão Vaz maravilhosos, do Dão também, de Colares, da Bairrada…”. Anda assim, Patrício ficou mais impressionado com os tintos: “por vezes emocionam-me”.
Até 2018
Para o ano, a ViniPortugal mantém expectativas de aumentar ainda mais o número de inscrições de amostras na competição. E em Maio de 2018 outro grupo de líderes de opinião estrangeiros passará por cá, provando mais vinhos e visitando explorações portuguesas, levando de volta um maior conhecimento da realidade vínica nacional a todo o mundo. A notoriedade promove as vendas e, num mercado mundial, os produtores portugueses precisam de ambas…