Master of Wine. Um título, um estatuto, que abre portas no sector do vinho um pouco por todo o mundo. Mas tão, tão difícil de atingir que, até agora, todos os portugueses que o tentaram foram obrigados a desistir. O volume de horas (dias, meses, anos) de estudo, o dinheiro para comprar vinhos e viajar pelo mundo, a disponibilidade e empenho totais que quase impedem seguir em paralelo uma actividade profissional ou manter uma relação familiar, tudo isso são entraves no caminho de quem ambiciona o título outorgado pelo Institute of Masters of Wine (IMW) e que pouco mais de 400 pessoas possuem (das quais mais de 200 originários do Reino Unido, onde nasceu o conceito).
Tiago Macena está muito próximo de ser o primeiro português a alcançá-lo, após ter hoje, dia 15 de Setembro, recebido a notícia de que passou no exame prático. Conversando com ele, dá para perceber não apenas a emoção pelo feito alcançado mas também o muito que penou para aqui chegar. Tudo começou em 2012, numa master class promovida pela Symington Family Estates, onde esta empresa procurava motivar (e ajudar a financiar) os primeiros passos de um português neste percurso. ”Só nesse momento entendi com alguma clareza o que estava por detrás das famosas letras MW”, diz Tiago. Aceite como estudante no ano lectivo de 2012/2013, transitou em Junho de 2013 para o segundo ano, onde já teve acesso ao famoso “Exame”. Mas logo, em Janeiro de 2014, Tiago Macena percebeu que lhe faltava preparação e, sobretudo, “mundo”, para o nível exigido. Fez uma pausa e prosseguiu a sua actividade como enólogo, na adega de Cantanhede, com Osvaldo Amado.
Passados três anos reformulou a sua vida profissional e passou a trabalhar como enólogo consultor. Então, corria o ano de 2017, pediu a readmissão ao IMW e falou com Dirceu Vianna Junior (colaborador da Grandes Escolhas desde a sua fundação e o único Master of Wine de língua portuguesa), pedindo-lhe que fosse seu mentor e “coach” neste árduo caminho. Em Setembro de 2017 voltou assim à estaca zero, ao primeiro ano do curso. Em Junho de 2018 passou ao segundo ano e em 2019 sentou-se pela primeira vez no temido “Exame”: 3 provas práticas (12 vinhos brancos, 12 tintos e 12 vinhos doces, tranquilos, fortificados, efervescentes…) com muitas perguntas para responder em 2h15m. Tiago Macena dá os detalhes: “Este exame exige imensa experiência de prova, rapidez e clareza de discurso. Precisamos de 65% dos 300 pontos (ou seja, 195 pontos) nos 3 exames para aprovar o exame prático. Nas tardes desses dias de prova prática temos o exame teórico com 5 elementos – Viticultura, Enologia, Qualidade, Marketing/Comercial e Assuntos Contemporâneos, onde temos de responder a 13 perguntas no formato de “Essay”, mostrando conhecimento, visão global e opinião.”
Nesse primeiro exame de 2019 o sucesso foi parcial, pois Tiago passou na prova teórica, mas não na prática. “Assim, desde de 2019, tornei-me um estudante ‘practical only’, focado em exclusivo na prova prática”, diz o enólogo. Em 2020, por causa do covid-19, não houve exame, e em 2021, Tiago sentou-se pela segunda vez frente aos 36 vinhos e falhou em cumprir o exigido, o mesmo sucedendo no ano seguinte. Nunca desistiu, porém. Sempre apoiado por Dirceu Vianna Junior, que lhe trazia para Portugal vinhos de todos o mundo que provavam em conjunto, em Junho de 2023 estava de novo no IMW frente a 36 vinhos. “Desta vez desfrutei dos vinhos, entendi-os, ‘li-os’ bem, senti-me confiante de ter feito um bom trabalho”, refere Tiago. Mas só hoje chegou o mail há muito aguardado: prova superada! Ou seja, 95% do mais difícil está feito. Resta escrever e entregar o trabalho de fim de curso, o chamado “research paper”, para Tiago Macena ter, finalmente, o direito de se intitular Master of Wine. E agora, Tiago? “Agora, depois de celebrar a vitória, é tempo de voltar ao trabalho e acabar uma difícil vindima no Dão…”.