Poseidon: o vinho da Volta

É da sabedoria popular que o vinho que sobrava das viagens dos antigos bacalhoeiros tinha um sabor distinto do original. Hoje, o duriense Poseidon vem confirmar isso mesmo: o “vinho da volta”, volta diferente. E bom, por sinal…

 

TEXTO Mariana Lopes FOTOS Ricardo Palma Veiga

O Poseidon tinto 2014 é já a segunda edição deste vinho baptizado em homenagem ao Deus grego dos mares e à memória marítima portuguesa, e o local do lançamento não poderia ter sido mais apropriado. Trata-se do navio-museu Santo André, um bacalhoeiro de arrasto lateral “aposentado” que se encontra atracado na Gafanha da Nazaré, em Ílhavo, e que foi construído em 1948 na Holanda, por encomenda da Empresa de Pesca de Aveiro. Foi no seu porão de seca de bacalhau, abaixo do nível da água da ria de Aveiro, que provámos a novidade.

Fruto de uma parceria entre a empresa Lua Cheia em Vinhas Velhas e o Clube de Oficiais da Marinha Mercante, o vinho Andreza Grande Reserva 2014 embarcou, em Janeiro, no bacalhoeiro Coimbra rumo aos Grandes Bancos da Terra Nova, no Canadá, e, depois de 72 dias de ondas de 13 metros e ventos de 140 km/h, voltou com outro perfil e outro nome. Com mais seis meses de estágio em terra, o novo Poseidon tem Touriga Nacional, Touriga Franca e Sousão e, segundo o enólogo Francisco Baptista, “o objectivo foi pegar num vinho com taninos fortes para que o tempo em alto-mar amaciasse esses mesmos taninos”. “Está mais aveludado e bem integrado com a barrica”, afirma.

Tiago Silva, o jovem capitão do navio Coimbra, contou uma estória engraçada: “Na primeira viagem, a pesca começou por correr muito mal. Durante muitos dias não havia peixe e decidimos optar pelo último recurso, oferecer uma garrafa ao Deus Poseidon. Provámos o vinho e deitámos um pouco ao mar. O que é certo é que a situação mudou totalmente de figura e a pesca passou a correr tão bem que voltámos mais cedo do que o costume!”. E continuou, relatando pelo meio de risos: “Na segunda viagem, não estivemos com meias medidas. A primeira coisa que fizemos foi oferecer a garrafa ao Poseidon e, além de não termos tido qualquer problema com a pesca, voltámos mais cedo outra vez…”

Não fosse já a história especial, cada garrafa de Poseidon tinto 2014 traz anexado um certificado assinado pelo Clube de Oficiais da Marinha Mercante. Há quem diga que encostar o ouvido à garrafa permite ouvir o mar… Será verdade? Provavelmente não, mas o vinho vale muito a pena.

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