O local onde decorreu o evento não poderia ser mais aprazível, o 1638 Restaurant & Wine Bar By Nacho Manzano, o bar de vinhos e restaurante de cozinha de autor do novo hotel Tivoli Kopke, em Gaia, que abre oficialmente em Maio. A vista sobre o rio Douro e a zona velha do Porto, enquadrada pelas paredes dos antigos armazéns de vinhos do Porto agora transformados para albergar os quartos deste cinco estrelas, é imperdível, e acrescentou um pouco de sedução ao evento de apresentação das novas colheitas da Quinta da Boavista, da Sogevinus. Decorreu na companhia de uma refeição criada por Nacho Manzano, consultor gastronómico do hotel e chefe de cozinha asturiano que recebeu, no ano passado, a sua terceira estrela Michelin na Casa Marcial, o restaurante que fundou na casa da sua família em 1993.
Texturas, aromas e sabores
Durante o repasto, feito de pratos compostos por dois a quatro elementos cozinhados na perfeição, sentiu-se que tudo o que o que criou, e apresentou na mesa, foi certamente desenhado para a companhia dos vinhos da Quinta da Boavista servidos, pela forma como as suas texturas, aromas e sabores se foram equilibrando ao longo do repasto, o que nem sempre tem acontecido em apresentações similares onde vou.
Gostei sobretudo da aparente simplicidade e da qualidade dos ingredientes e temperos dos pratos, tudo muito bem conjugado para potenciar os seus aromas e sabores e a ligação aos vinhos. Evidência, em particular, para o Lagostim com beurre blanc e pinhões, a que o suco das cabeças acrescentou uma ligação praticamente perfeita com o Quinta da Boavista Vinho do Levante 2022, o branco lançado nesse dia. Também para o Polvo braseado com puré de abóbora e molho de amêijoas, na só pela textura e sabor do polvo, que estava inexcedível, mas também pela forma como o conjunto de um prato aparentemente simples, se harmonizou com o vinho selecionado, o Boavista Reserva 2021, um tinto com estrutura, fruta e um toque de madeira. A estes juntaram-se um monovarietal de Alicante Bouschet, um vinho cheio de personalidade acrescentado à linha de monovarietais desta casa, para além dos dois ícones, o Vinha do Oratório e o Vinha do Ujo, todos da colheita de 2021, ou seja, de um ano de verão seco. Segundo Ricardo Macedo, o enólogo dos vinhos Douro da casa, a vindima da primeira, uma vinha velha cujas castas principais, entre 56 variedades, são a Touriga Franca, a Tinta Pinheira e o Rufete, é feita patamar a patamar, o que implica que sejam “feitas 14 fermentações desta vinha, para se identificar os melhores vinhos que ela produz” em cada ano.
Plantada em patamares horizontais pré-filoxéricos, suportados por pequenos muros de xisto, a Vinha do Ujo fica entre os 180-210 metros de altitude, um pouco mais longe do rio que a do Oratório, e inclui 26 castas. A sua vindima é manual, e a fermentação das uvas decorre em barricas de madeira francesa de 500 e 600 litros. Após um período de maceração, o vinho resultante continua o seu estágio durante pelo menos 16 meses em barricas de 225 litros de carvalho francês antes de ser engarrafado.
Vinha muito velha
Jean-Claude Berrouet, um grande defensor da expressão dos terroirs e enólogo do Château Pétrus durante mais de 40 anos, é o consultor da Quinta da Boavista desde 2013, e está sempre presente nas principais decisões enológicas. A propriedade tem actualmente 80 hectares, dos quais 36 ha de vinha, uma parte significativa da qual de vinha velha dos períodos de antes e do pós-filoxera. Reconhecida desde a primeira demarcação da região vinícola do Douro, datada de 1756, a propriedade está também assinalada nas plantas de Joseph James Forrester, o Barão de Forrester, do século XIX. Depois da sua morte foi comprada pelo Barão de Viamonte, seu herdeiro. No século seguinte, esteve nas mãos de vários proprietários, até ser adquirida, em 2020, pelo Grupo Sogevinus.
(Artigo publicado na edição de Abril de 2025)