Não é fácil um produtor tradicional suplantar-se e tornar-se um produtor moderno e cheio de novidades. Em poucos anos foi isso que a Quinta da Pacheca conseguiu alcançar. Sem renegar um passado consistente, e sem alienar uma marca que é um símbolo de qualidade, a Quinta da Pacheca está hoje melhor do que nunca.
TEXTO Nuno de Oliveira Garcia FOTOS Cortesia do produtor
NUM primeiro olhar, pouca coisa mudou… Mantêm-se José Serpa Pimentel no pelouro comercial e Maria Serpa Pimentel na área da enologia. Todavia, mal os vinhos caem nos copos, há um mar de diferenças em relação ao passado recente. Novos vinhos, muitos vinhos novos, brancos e rosés como antes nunca tínhamos provado e tintos muito aprumados, ambiciosos mesmo, de grande categoria.
A Quinta da Pacheca é uma marca sólida da região duriense. Bem próxima da Régua, do outro lado da margem, é uma propriedade de prestígio com 57 hectares sitos não muito longe da fronteira entre o Baixo e o Cima Corgo, com referências desde 1738. Há alguns anos, esteve na liderança da primeira vaga do turismo na região, com a alienação de terrenos para o então Aquapura (Vale de Abraão) e com a inauguração de um pequeno hotel de charme na propriedade (The Wine House Hotel) que nunca teve o sucesso que merecia. Os primeiros passos estavam, contudo, lançados com a mais nova geração da família Serpa Pimentel aos comandos de todo o projeto, e os vinhos – então essencialmente tintos, dada a localização a baixa altitude e num terroir quente – não desapontavam. Um feliz golpe de asa viria, contudo, a surgir um pouco depois, com o investimento realizado pelos empresários Maria do Céu Goncalves e Paulo Pereira. Podemos mesmo afirmar que esse acontecimento mudou para melhor quase tudo no projeto, mantendo-se muita da moldura e do capital humano já existente. O hotel melhorou o seu já óptimo nível, e passou a ter mais visibilidade, e os vinhos também viram a qualidade a aumentar.
A verdade é que a Quinta da Pacheca deixou de ser autossuficiente, e isso fez com que se procurassem novas vinhas e quintas, inclusivamente em pleno Cima Corgo (junto ao rio Pinhão) e mesmo do Douro Superior (muito próximo de Foz Côa). Esta nova política permitiu não só ir buscar uvas brancas a cotas altas junto a Sabrosa (como sucede com tantos outros produtores), como utilizar uvas tintas de terroirs muito diferentes, inclusivamente do Douro Superior. Não que isso seja uma novidade, pois essa é a opção – e a razão do sucesso – de vários dos melhores viticultores da região (em DOC e em Portos, diga- se). E, assim, os vinhos Quinta da Pacheca passaram a ter apenas a marca Pacheca (o que, ademais, facilita nos mercados internacionais), e a qualidade dos néctares aumentou e muito!
Não há dúvida de que ser um produtor duriense permite ir buscar o que melhor faz a região, e que não faz sentido estar-se circunscrito aos limites de uma quinta. Basta pensar que são raríssimos (menos de meia dúzia, com a Quinta da Gaivosa e a Quinta do Vallado à cabeça) os casos de uma única propriedade na região capaz de fazer, simultaneamente, grandes brancos e tintos. Em suma: vida longa para a nova vida da Quinta da Pacheca é o que desejamos!