TEXTO: Luís Lopes
Vítima de doença prolongada, faleceu dia 11 de abril, aos 79 anos de idade, o enólogo Rui Moura Alves, por cujas mãos passaram algumas das mais notáveis marcas da Bairrada. Como muitos da sua geração, Rui Alves iniciou a sua vida profissional não pela academia, mas pela prática, desenvolvendo ao longo dos anos um saber de experiência feito.
Nascido em Sangalhos, começou a trabalhar muito jovem nas caves bairradinas, aí aprendendo o ofício. Na segunda metade dos anos 80, e através do seu laboratório de análises, Soanálise, foi o principal impulsionador de um movimento que autonomizou diversos produtores tradicionais, que até aí vendiam os seus vinhos a granel às caves locais. Nasceram assim, muito pelo seu incentivo e acompanhamento, algumas marcas “de quinta” que se tornaram referências na região e no país, precursores do chamado “Bairrada clássico”, caracterizado pelos lagares, tonéis de madeira usada, filtrações mínimas ou inexistentes e estágios prolongados em garrafa. Casa de Saima, Quinta das Bágeiras, Sidónio de Sousa ou Quinta de Baixo assumiram-se então como os mais legítimos representantes do estilo.
Apesar de algumas breves incursões pelas regiões dos Vinhos Verdes e do Douro, manteve sempre o foco profissional na Bairrada e chegou a dirigir a enologia de casas de maior dimensão, nomeadamente Caves Valdarcos e Caves São João.
Paralelamente, afirmou-se como produtor artesanal de vinagre, lançando no mercado o vinagre “Moura Alves”, de acidificação natural, envelhecido uma década em madeira, referência absoluta neste tipo de produto.
A produção de espumantes foi talvez a sua grande paixão, tendo a partir dos anos 80 assumido que todos os espumantes com o seu cunho seriam “bruto zero”, antecipando a tendência “brut nature” que hoje faz escola em diversos produtores. Anteviu, igualmente, o sucesso nacional e mundial deste tipo de vinho: “o espumante é a bebida do futuro”, dizia muitas vezes, na época. O tempo viria a dar-lhe razão.