A família Montenegro decidiu enveredar há poucos anos pelo sonho de produzir o seu próprio vinho, na sua região de origem, o Dão. Com o andar do tempo, a equipa montada para andar com o projecto São Matias começa a mostrar a justeza do trabalho já realizado…
TEXTO António Falcão NOTAS DE PROVA Valéria Zeferino FOTOS Ricardo Palma Veiga
HÁ menos de uma década, António Montenegro, um dos oito filhos do advogado portuense António Montenegro, saía da Sogevinus, onde geria a área comercial e era responsável por cerca de 16 milhões de euros de facturação! Com nome firmado no mercado, António recebe convites de grandes produtores, mas decide, em conjunto com os irmãos, enveredar por um projecto familiar. Localização: Tourais, concelho de Seia, onde a família possui a sua casa de família. Sem vinha na altura (já foi negócio de família, mas já não era), António Montenegro (júnior) decide alugar uma vinha bem pertinho, com cerca de 11 hectares e idade entre 20 a 25 anos. A primeira colheita consubstanciou-se no tinto de 2012. O primeiro branco data de 2014.
Na equipa, António junta-se com José Manso, técnico de viticultura, e o enólogo Francisco Gonçalves. Ambos trabalharam com ele na Sogevinus: José era o director de viticultura; Francisco dirigia os vinhos DOC da Sogevinus (marcas Kopke, por exemplo).
Possuindo terras na zona, a família Montenegro decidiu plantar a sua primeira vinha própria, nos arredores de Tourais. Aconteceu o ano passado. Para dar espaço às vides, algumas oliveiras tiveram de ser transplantadas para ali próximo, mas, azar dos azares, foram apanhadas e eliminadas pelo violento fogo de Outubro. Alguma vinha nova também sofreu, mas António Montenegro não sabe se as videiras afectadas vão sobreviver. Mesmo no pior dos cenários, a casa conta com os restantes 3 hectares para o futuro.
Aqui estamos no Dão, na sub-região da Serra da Estrela e no sopé da serra mais alta de Portugal continental. O clima é o mais propício a vinhos com elevada acidez natural e tintos com taninos bem evidentes. São por isso vinhos que pedem o seu tempo de garrafa para mostrarem o seu melhor, e não estamos apenas a falar do Encruzado. Se tiver que os beber já, abra as garrafas com umas boas horas de antecedência.
Entretanto, António Montenegro disse-nos que o negócio vai correndo sobre rodas, com a colaboração do resto da família, que vai fazendo o seu ‘charme’ junto da restauração portuense (e não só). A exportação está também a avançar e hoje os vinhos de São Matias estão em mais mercados do que nunca. Se assim continuar, a família Montenegro pondera ampliar a área de vinha, seja em plantações próprias, seja através de novos arrendamentos de longa duração.