Cortesia da seca prolongada (e ventosa) que o país tem estado a viver, estas foram as vindimas mais precoces de que há memória. Num repente, todos tiveram de acudir às uvas que amadureciam de supetão nas vinhas de Portugal. Veja o porquê de tamanha precocidade e um primeiro prognóstico da qualidade do ano de 2017.
TEXTO João Afonso e António Falcão FOTOS Anabela Trindade
ORLANDO Ribeiro, talvez o mais conhecido geógrafo português, escreveu que “não há geração em Portugal que não afirme que o clima está mudado”. Esta afirmação decorre, obviamente, da enorme inconstância e variabilidade deste nosso dito clima mediterrânico.
O ano de 2017, pelos seus excessos, é mais um daqueles que nos leva a dizer que “o clima mudou”. E ainda que alguns recordes de temperatura tenham sido batidos e que 6 dos 10 Verões mais quentes desde 1931 (segundo o IPMA) tenham acontecido após o ano 2000, nada nos garante ainda, com toda a certeza, que estejamos em plenas “alterações climáticas”.
Como referia Carlos Campolargo, “temos a memória curta, este ano é igual a muitos outros, só que já ninguém se lembra”. António Magalhães, da Fladgate Partnership, toca na mesma tecla – “A nossa geração está a viver a sua vindima mais precoce, mas o vale do Douro já viveu muitas como esta.”
É de facto a vindima mais precoce que está nas nossas memórias e o gatilho da precocidade foi a Primavera, porque o Inverno, apesar de seco, foi normal em termos de temperatura e proporcionou um abrolhamento perfeitamente atempado. Na Primavera tudo começou “a bombar”.
O segredo esteve na Primavera: seca e ventosa
António Magalhães, referindo-se apenas aos dados meteorológicos do Pinhão (coração do vale do Douro), sublinha que “a chave climática do ano vitícola foi precisamente o mês de Abril”: “Desde 1970 que nenhum mês de Abril foi simultaneamente tão seco e tão quente como o deste ano.” Mas podemos ir mais longe ao observar o quadro do IPMA das Primaveras portuguesas desde 1931. Tivemos, até este ano, 18 Primaveras mais secas do que 2017 e entre elas estão os míticos anos de 1945, 55 e 77, e apenas duas mais quentes, as de 1997 e 2011 (mais dois excelentes anos vitícolas).
A partir da Primavera foi sempre andar para à frente e com vento pelas costas – palavras do mesmo António Magalhães. A palavra ‘vento’ não é aqui usada apenas como figura de estilo: o vento foi (e é) outra das constantes do clima de 2017 e, somado à pouca pluviosidade, complica ainda mais a vida às plantas. No final de Maio, 70% do território estava em seca moderada e as uvas já bastante adiantadas.
Um Junho abrasador
O Verão chegou em modo “turbo”. O terceiro Junho mais quente desde 1931, com uma onda de calor de 18 dias. Nos dias 17 e 18 foram batidos os recordes de temperatura máxima em quase todo o território.
Na primeira semana de Julho o ‘pintor’ (fase da videira quando os bagos tintos adquirem a sua cor escura) estava concluído no Douro e no Alentejo e nos Verdes na última de semana de Junho. Todos sabiam que estavam entre 21 a 30 dias adiantados relativamente a 2016. Mas a temperatura não parou de “bombar”. Verão muito quente (o 6º mais quente desde 2000 e o 9º desde 1931; desde 1931 que seis dos 10 Verões mais quentes ocorreram depois de 2000) e extremamente seco (3º mais seco desde 2000 e o 7º mais seco desde 1931).
O valor médio da temperatura máxima foi o 3º mais alto desde 1931 (+2,59ºC.). Nos dias 20 e 21 de Agosto muitas estações meteorológicas subiram bem acima dos 40ºC., mais um rude golpe às uvas, que já estavam em processo de desidratação desde a segunda semana de Agosto. Todos aguardavam precocidade, mas esta foi ainda maior do que a maioria esperava. Regresso de férias (para quem estava de férias) à pressa. Preparação acelerada de material de vinificação e as vindimas de 2017 começaram um pouco à pressa por todo lado e, mais um facto inédito, praticamente ao mesmo tempo em todas as regiões; ou seja, com preliminares em Julho, e em pleno, em Agosto. Alguma chuva (não generalizada) no Norte do país no final deste mês (em particular nos dias 28 e 29) veio trazer algum equilíbrio às zonas onde caiu e amaciar finalmente o braseiro solar e o espectro de seca severa que singrava em todo um território, cansado de calor e de incessantes fogos florestais, que chegaram a ameaçar muitas áreas vitícolas e as próprias adegas um pouco por todo o centro e norte do país.
Diversidade foi uma ajuda
Mas num país tão diversificado e tão adequado à produção de uva e de vinho, existem sempre motivos para regozijo. A diversidade varietal também nos ajuda muito e tudo o que é casta de ciclo longo usufrui claramente de anos quentes. De salientar mais um facto algo inédito, a boa prestação da precoce Tinta Roriz, que tem surpreendido vários enólogos. Parece que afinal a casta gosta de amadurecer depressa e não lentamente, como rezam as teorias da qualidade.
Falámos com vários enólogos e produtores e CVRs das principais regiões do país, para auscultar os destaques de um primeiro prognóstico do ano que, apesar dos excessos, e à semelhança dele mesmo, poderá (e certamente vai) produzir, vinhos fora de série. Claro que nestas situações as respostas à pergunta – “que tal corre a vindima?” – tende a omitir as partes menos boas, mas sentimos que, efectivamente, esta vindima, à semelhança de tantas outras secas e quentes, poderá produzir vinhos de muito elevada qualidade.
E em jeito de resumo do que vão ler a seguir podemos afirmar que este é o ano da “vinha”. Ou seja, tudo o que é vinha que conseguiu reunir alguma água para alimentar os seus frutos deu origem a mostos e vinhos fantásticos; pelo contrário, tudo o que é vinha que entrou em stress hídrico e térmico (e não serão assim tão poucas), ou não amadureceu, ou desidratou excessivamente as suas uvas, deu origem a mostos deficitários, a necessitar de mais ou menos correcções.
De seguida vamos dar um périplo a todo o país e ver como correu esta vindima, região a região.
Seca dominou vindima de 2017
O apanhado geral está feito mas convém olhar aos pormenores. Região a região – e muitas vezes dentro da mesma região – as maturações da uva e as vindimas não foram todas iguais. Comecemos pelo norte….
FOTOS Ricardo Palma Veiga
VINHO VERDE
Produção em 2016: 736.000 hl
Nesta região consultámos dois técnicos que abarcam quase todo o Minho. Um deles foi António Sousa, enólogo consultor em diversas casas e por isso com uma visão alargada. António confirmou-nos que a vindima foi extremamente precoce, “ainda mais do que em 2011: “Começou a 21 de Agosto, um mês antes do habitual!” Isto porque, em meados de Agosto, o grau provável de muita uva andava entre os 13% e os 14%. Resultado: as castas mais aromáticas, como o Loureiro e Alvarinho, podem ter perdido algum “nervo” de aroma; castas como Avesso e Azal, que gostam de calor, “só ganharam com esta vindima”. Outro facto curioso: este foi “um ano das vinhas ribeirinhas [mais humidade no solo], mais equilibradas que todas as outras; normalmente é ao contrário”. Ainda assim, António Sousa não hesita: apesar do calor, a acidez não caiu muito e, de um modo geral, a vindima deu vinhos equilibrados. Melhor ainda, a produção deverá ser um pouco maior do que em 2016.
António Luís Cerdeira é outro técnico com muita experiência, embora com mais-valias óbvias nas zonas do Alvarinho (Monção e Melgaço). Produtor da marca Soalheiro, este enólogo teve este ano uma grande surpresa: “Andei a fugir da sobrematuração das uvas, algo que nunca me aconteceu.” Mas nada de grave para quem sabe: “Como os teores de acidez estavam perfeitos, foi só controlar o teor alcoólico”, disse-nos Luís Cerdeira. Por outro lado, as uvas das vinhas de altitude (mais frescas) compensaram as vinhas mais baixas, com mais álcool provável. Finalmente, as uvas mostraram-se muito sãs – nada de podridão – e a “vindima foi calma, sem as chuvas habituais”. Prognóstico final deste técnico: “Vamos ter mais e melhor Alvarinho.”
Manuel Pinheiro, presidente da CVR dos Vinhos Verdes, calcula que, em termos de quantidade, 2017 verá a produção subir acima dos 15% face ao ano passado. E, com base em testemunhos que foi coligindo, acredita que “estamos perante uma produção de excelente qualidade”.
DOURO
Produção em 2016: 1.471.000 hl
Viajamos mais para leste e fomos falar com quatro técnicos de grande experiência no Douro. Todos evidenciaram o ano seco e quente e a precocidade da vindima, que terá prejudicado algumas castas de ciclo mais curto. Aparentemente com a excepção da Tinta Roriz, como nos referiu António Magalhães (viticólogo da Fladgate Partnership). As castas Tinto Cão, Tinta Francisca e Touriga Franca, de maturação tardia, terão tido um ano muito bom no geral. E não choveu na vindima, claro…
O seu colega David Guimaraens (enólogo) realçou outro pormenor: “As melhores uvas este ano vieram das vinhas de meia encosta.” E não hesita quando diz que “exposição e altitude das vinhas fizeram a diferença entre o sucesso e o insucesso”. Luís Sottomayor, enólogo da Sogrape Vinhos, acrescentou três pormenores desta vindima tão atípica: “O bago pequeno, a pouca produção e a perfeita sanidade das uvas.”
Charles Symington, director de produção da Symington Family Estates, com 27 quintas em todas as sub-regiões do Douro, lamenta “a perda de alguma uva com a desidratação”. A Touriga Nacional, por exemplo, “não aguentou bem o stress e teve de ser vindimada mais cedo”. O ano teve algum excesso de álcool, considerou o técnico e Luís Sottomayor parece concordar: “Vindimámos um Viosinho a 650 metros de altitude (a 21 de Agosto) com 17 graus! Foi para Vinho do Porto.” O grau alcoólico elevado do vinho acabou por ser benéfico para o grande licoroso do Douro. E aqui há unanimidade entre os técnicos: foi um belo ano para Vinho do Porto. De tal maneira que António Magalhães afirma que “são estes anos que evidenciam a sensatez de produzir generosos neste vale do Douro”.
Para tintos e brancos, também não houve desilusão. Sottomayor fala em “tintos muito perfumados, com excelente cor e bons taninos”. E acrescenta: “Será um ano mais elegante do que robusto.” Charles Symington mostrou um optimismo cauteloso: “Pouca produção (apenas um pouco melhor do que o magro 2016) e qualidade bem acima da média.” Finalmente, David Guimaraens usa outras palavras: “2017 nem será um 2003, nem um 2009, nem um 2011, mas terá certamente a sua própria personalidade.”
Sabia que…
Seis dos 10 Verões mais quentes desde 1931 aconteceram após o ano 2000
BEIRAS
Produção em 2016: 218.000 hl
Logo abaixo do Douro, a Beira Interior não escapou à seca que assolou o país. Quem tinha rega, conseguiu equilibrar as videiras. Quem não tinha, sofreu mais um pouco. Luís Leocádio, da Quinta do Cardo, não hesitou em regar no Verão, mas só nas castas tintas. Foi em cheio. Luís confessou-nos que foi um excepcional ano para os tintos, com vinhos “muito estruturados, bons taninos, boa acidez e cor”. Este ano tudo amadureceu bem, incluindo a Touriga Franca.
As brancas, de videiras já idosas, aguentaram a falta de rega (não existe), mas as uvas terão perdido alguma frescura. E perderam produção, em especial na Síria (cerca de 30%). Nada de grave, contudo, porque a maturação foi “perfeita”, com bagos e cachos pequenos a darem brancos muito aromáticos. A vindima começou mais de um mês antes do ano passado!
O técnico Rodolfo Queirós, da CVR local, deu-nos um panorama mais geral: “Os produtores andam sempre a fugir da chuva e do ‘ai Jesus que não há grau nem cor’. Este ano foi o inverso.” A vindima foi seca e por isso a uva estava “muito sã, com bago pequeno”. Bago pequeno equivale a concentração. Felizmente, a qualidade foi “bem acima da média”. Tudo rosas? Nem por isso: terá havido “menos 25% de produção do que em 2016”.
DÃO
Produção em 2016: 312.000 hl
No Dão, o panorama não foi muito diferente da Beira Interior. Apesar de contar já com umas dezenas de vindimas por todo o Dão, o enólogo e produtor João Paulo Gouveia ficou surpreendido este ano com a precocidade: “Nunca vindimei Encruzado e Malvasia a 24 de Agosto.” Mas, considera o técnico, “é incomparavelmente melhor vindimar mais cedo e maduro do que debaixo de chuva e com uva pouco madura e algum podre” [quadro não raro numa das regiões mais pluviosas do país]. Nas vinhas adultas e bem localizadas, notou muito bom equilíbrio entre a copa e uvas. Ou seja, “não há uva a mais nem a menos”. E a qualidade das uvas? João P. Gouveia encontrou “alguma passa e um pouco menos de acidez do que é habitual, mas uva muito sã e bem madura”. O resultado foram “fermentações fáceis e completas, com brancos gulosos e tintos muito limpos e bem definidos”.
A nível de região, o presidente da CVR do Dão, Arlindo Cunha, disse-nos que 2017 viu uma produção dentro da média e uma vindima com a classificação “muito boa”: não houve chuva as uvas estavam sãs. Arlindo Cunha referiu ainda “algum stress hídrico e térmico”, que terá exigido “algumas correcções”, mas considera que “os vinhos não vão certamente desiludir, bem antes pelo contrário”.
BAIRRADA
Produção em 2016: 259.000 hl
O produtor Carlos Campolargo não ficou surpreendido com o ano, a nível climático: “É igual a muitos outros e já comecei a vindima mais cedo do que este ano.” Mário Sérgio Alves Nuno, da Quinta das Bágeiras, teve uma experiência diferente: “Nunca tinha vindimado em Agosto.” As vindimas ainda decorriam, mas ambos os produtores estavam muito satisfeitos; as uvas estavam sãs, embora tivessem notado alguma desidratação. Nada de grave, contudo. Campolargo disse-nos que “para já o ano está muito positivo e nada há a salientar de estranho ou bizarro”. Mário Sérgio acrescenta: “Se tudo correr como até agora, este vai ser um daqueles anos para recordar com saudade.”
José Pedro Soares, Presidente da CVR da Bairrada, também não tem dúvidas sobre a boa qualidade do ano, especialmente nos brancos. A região deverá agradecer também ter tido mais 18% de produção relativamente ao ano passado.
LISBOA
Produção em 2016: 1.020.000 hl
Uma das regiões que mais vinho produz (atrás do Douro e Alentejo), Lisboa tem motivos para regozijo. Pelo menos a julgar pelas opiniões de José Luis Oliveira e Silva (proprietário da Casa Santos Lima) e do enólogo António Ventura. O primeiro não hesita em classificar esta vindima acima da do ano passado, “que já tinha corrido bem”. Alguma chuva antes da vindima aliviou algum desequilíbrio inicial e as uvas mostraram-se “muito sãs, dando vinhos muito aromáticos, cheios de cor; os brancos muito atraentes”. “Não há qualquer razão de queixa”, referiu o gestor. Uma surpresa: uma Touriga Franca com 16% de álcool provável: “Coisa nunca vista.”
António Ventura ainda estava em vindima quando nos falou e notou muita heterogeneidade de maturação. Os tintos tiveram que esperar. Quanto aos brancos já na adega, Ventura manifestou-se “muito contente”: “Frescos, cheios de genica e com bom grau.”
Vasco d’Avillez, presidente da CVR de Lisboa, não hesita em dizer que foi “a melhor vindima deste século”, embora não em quantidade (igual à do ano passado). O líder da CVR fala sobretudo da qualidade: a humidade atlântica ajudou a ‘regar’ as vinhas em ano de seca e levou-as ao “equilíbrio óptimo”. A opinião unânime dos produtores da região, segundo Vasco d’Avillez, continha uma só palavra: ‘fantástico’. Um grande ano para Lisboa, portanto.
Sabia que…
As vindimas de 2017 terão sido das mais precoces nas últimas décadas
TEJO
Produção em 2016: 584.000 hl
Além de Lisboa, António Ventura é ainda consultor na enorme Adega de Almeirim e outros projectos na região. Em Almeirim, a vindima começou com os brancos no início de Agosto e em meados de Setembro estava a terminar os tintos. Esta é uma zona forte em brancos e ainda bem, porque se mostraram “fantásticos”, a precisar de menos correcções na acidez do que no ano passado. Quanto aos tintos, Ventura apenas referiu que um “feedback muito positivo”. A produção está muito próxima da do ano passado.
João Silvestre, director na CVR do Tejo, deu-nos a sua opinião já com as vindimas praticamente terminadas. A vindima foi “curta e por isso muito intensa”, porque as maturações estavam a avançar em grande força e os produtores tiveram que acelerar a colheita. Este ano as vindimas começaram em finais de Julho (!), algo muito raro de acontecer. No capítulo da qualidade, grandes notícias: boas maturações, mesmo com alguns graus alcoólicos elevados, mas felizmente sem perdas de acidez. Ou seja, vinhos equilibrados no geral. Por isso, João Silvestre não hesita em falar de um 2017 a roçar o “excelente”. E a quantidade? A CVR estima um acréscimo de 10% face ao ano passado. No geral, portanto, um ano para festejar, até porque uma parte do negócio da produção ribatejana está no vinho a granel e os preços prometem ser melhores do que em anos anteriores…
PENÍNSULA DE SETÚBAL
Produção em 2016: 483.000 hl
As areias da região, com água disponível no subsolo, terão ajudado as videiras a equilibrar o calor e a seca. Ainda assim, as vindimas começaram um pouco mais cedo do que o normal, uma ou duas semanas, segundo o presidente da CVR local, Henrique Soares. E o resultado foi bom. Ou mesmo muito bom. Segundo Domingos Soares Franco (da José Maria da Fonseca), 2017 “está a morder os calcanhares de 2011”. Os graus prováveis estão um pouco altos, mas os vinhos têm uma acidez, uma frescura e uma limpeza raras. Bom ainda, Domingos considera que “as castas estão todas perfeitamente definidas nos vinhos que fazem”.
O enólogo Jaime Quendera (consultor em várias casas da região) considera que “a vindima está a correr muito melhor do que alguma vez se pensou”. Mas, apesar da sua já longa experiência, teve surpresas este ano: “Vinhas de Castelão com produções muito elevadas e com 16% de álcool! Nunca aconteceu nem pensei que fosse possível”, remata. Voltamos a Henrique Soares, que calcula que a produção da região poderá ser 5 a 10% acima da de 2016. Excelentes notícias, portanto.
Sabia que…
Ao contrário do que é habitual, as vindimas começaram praticamente ao mesmo tempo em todas as regiões
ALENTEJO
Produção em 2016: 1.118.000 hl
Dir-se-ia que o Alentejo terá sido a região mais afectada pela seca. E assim foi. Mas, recorde-se, há vários anos que muitos viticultores usam rega nas suas vinhas. E se quase sempre é necessário regar, este ano foi crucial. O Verão não foi excessivo nas temperaturas, o que também ajudou. E talvez por isso Pedro Baptista (director de produção da Fundação Eugénio de Almeida) tenha considerado que a maior surpresa foi verificar a maturação fenólica (aromas e sabores) ao mesmo tempo que a maturação em açúcares e o equilíbrio dos ácidos. A quebra de produção (cerca de 30%) também terá ajudado no bom equilíbrio, conseguindo-se também uma muito boa extracção de taninos. Mesmo o Aragonez conseguiu a maturação completa, “temporã e com acidez perfeita”.
António Ventura, que também tem consultorias no Alentejo, apontou o principal problema do ano: graus alcoólicos potenciais muito altos: “Foi necessário misturar vinhas” para fazer lotes mais equilibrados. E se tivesse de destacar uma casta, “seria a Trincadeira, com graus altos, mas muito corpo e frescura”: “É um ano de Trincadeira. O Alicante Bouschet também não fica muito atrás”.
Francisco Mata, dirigente da ATEVA, é o técnico que chefia uma vasta equipa de consultores de viticultura na maior região do país. Segundo ele, o ano foi dominado pelos calores anormais de Junho e pela seca prolongada, que fez reduzir substancialmente o teor de humidade no solo. Quem tinha rega disponível (e água) conseguiu alimentar as videiras. Quem não tinha, viu os bagos diminuir de tamanho e perder peso. Em termos de qualidade, isto até pode ser benéfico, mas tem consequências a nível de produção, que poderá ter baixado acima dos 10% face à média da região. O estado sanitário das uvas estava “excelente” e Francisco Mata não tem dúvidas de que “vamos ter garantidamente grandes vinhos de 2017”.
Epílogo
Na altura em que escrevemos este texto, decorriam as últimas vindimas por esse país fora. Sempre sem chuva (ou quase) a atrapalhar ou calores excessivos a desidratarem as uvas. Por isso não será difícil concluir que esta foi uma vindima para recordar, não só pela precocidade, mas fundamentalmente pela simultaneidade de maturação em todo país. Pode ser que seja também de recordar pela grande qualidade de vinhos produzidos, mas esse vaticínio não está ainda ao nosso alcance. Temos de esperar pelos vinhos…