CASA DA RÉSSA: O espelho de Folgosa do Douro

Porquê no Douro? Pela “vinha com aquela beleza, o quadro que nos proporciona”. A justificação é dada por Alexandre Dias, o empresário que, após o regresso a terras lusas, a pouco e pouco, foi investindo na região demarcada mais antiga do mundo, mais concretamente na margem sul do rio que lhe empresta o nome, pois a Casa da Réssa está localizada na Folgosa do Douro, no concelho de Armamar, distrito de Viseu, na sub-região do Baixo Corgo.

É um projeto recente, iniciado em 2019, com a aquisição da Vinha das Lages, de três hectares, um prelúdio de uma história que, agora, reúne “40 hectares de terra, entre olival, mato e 25 hectares de vinha. É casa que abriga todas aquelas parcelas que consegui juntar”. Uma manta de retalhos constituída por mais de 50 parcelas, de diferentes tamanhos e formatos, e pela Quinta da Médica comprada na totalidade.

A admiração pelo trabalho de enologia de Paulo Nunes determinou a escolha por parte de Alexandre Dias para a Casa da Réssa. “Filho deste território do Baixo-Corgo”, nas palavras do empresário, Paulo Nunes sente-se em casa neste projeto vitivinícola, ou não fosse a Vinha das Lages avistada da casa dos pais. “Conheço este emaranhado de vinhas, de parcelas, com vertentes voltadas a nascente, a norte, a nascente e a sul”, descreve, acrescentando a riqueza de um património vinhateiro coassociado com vinhas mais recentes. A localização estende-se entre os 170 e os 700 metros de altitude, com solos de xisto, mais abaixo, e a transição para granito, mas acima na orografia.

Casa da Réssa
Alexandre Dias, proprietário da Casa da Réssa

 

A Casa da Réssa é um projeto iniciado em 2019, em Folgosa do Douro. Reúne “40 hectares de terra, entre olival, mato e 25 hectares de vinha. É casa que abriga todas aquelas parcelas que consegui juntar”

 

Vinhos de parcela

O objetivo deste projeto “é isolar cada vez mais as parcelas, para fazer vinhos de parcela”, declara Paulo Nunes, com o propósito de evidenciar a diversidade do Douro. Com a silhueta paisagística desta região como ponto de partida para a explicação, o enólogo expõe as diferenças evidentes entre as cotas, com o Vale do Douro predominantemente xistoso e sem ventilação, dando origem a mais calor e humidade; e o planalto, denominado Monte Raso, caracterizado pelos solos de granito e as noites frias. Logo, as uvas vindimadas nas cotas mais baixas apresentam uma componente mais quente, de maior extração, enquanto as que são colhidas mais acima resultam em vinhos com uma componente mais fresca e uma acidez mais marcante.

Estas diferenças querem-se vincadas nos vinhos da Casa da Réssa. “Quisemos desconstruir um paradigma que o Douro vive, o qual vem de uma era de globalização, em que houve a necessidade de criar um padrão dos vinhos do Douro. Acho que fazer vinhos do Douro, no meu entender, não é a mesma coisa que fazer vinhos do Porto. Deveria haver duas regiões demarcadas”, defende Paulo Nunes, explicando que a produção de vinhos DOC Douro difere da produção de Vinho do Porto.

Além das vinificações feitas por parcela, o enólogo enaltece o trabalho efetuado na escolha das barricas, no sentido de “reunir o máximo de tanoarias que há, com diferentes queimas, diferentes tostas e diferente grão. Não temos duas barricas iguais da mesma tanoaria”. Este trabalho de precisão deve-se à abertura de Alexandre Dias, para quem o objetivo é “criar vinhos que sejam o espelho da essência daquele território (…) de fruta pura e alma rústica”. Talvez seja este o motivo pelo qual foi eleito o nome Casa da Réssa, “palavra do Douro e do Minho, que significa réstia de sol”.

A seleção de barricas baseia-se em queimas, tostas e grãos diferentes. “Não temos duas barricas iguais da mesma tanoaria”, afirma o enólogo Paulo Nunes

 

Património duriense

As vinhas antigas da Casa da Réssa são um legado de enorme importância para Paulo Nunes, o qual está nas mãos de João Costa, enólogo responsável pela adega e quem zela por todo o trabalho de campo. Dão corpo a um trio DOC Douro. Para comprovar tamanha dedicação a este legado, a equipa de enologia escolheu uvas “de um conjunto alargado de castas”, segundo Paulo Nunes, como Fernão Pires, Viosinho, Verdelho, Malvasia Fina, Malvasia Rei, colhidas em vinhas velhas localizadas em altitude, para fazer o Casa da Réssa Reserva branco 2022.
Embora a Touriga Nacional, a Touriga Franca e a Tinta Barroca constem na matriz do Casa da Réssa Reserva tinto 2021, este vinho também é feito a partir de uvas colhidas em vinhas velhas. Já o Casa da Réssa Grande Reserva tinto 2021 se traduz num field blend de vinhas velhas localizadas entre os 400 e os 500 metros de altitude. Para reforçar o carácter desta referência vínica, Paulo Nunes incluiu o engaço na equação, porque “dá-me mais camadas, texturas, ângulos, que me agradam particularmente” e submeteu o vinho a estágio apenas em barricas de madeira.

Mas o portefólio da Casa da Réssa não fica por aqui. Há um Porto Vintage 2023 e um Porto Colheita branco 2022. Sobre este último, o enólogo principal destaca o facto de ser “uma oportunidade para chegar a outros mercados”, uma vez que se trata de um tipo de vinho com mais acidez e mais equilíbrio, a somar ao prestígio atribuído ao Vinho do Porto. Ambas as referências são feitas a partir de uvas próprias e a ideia é, de acordo com Paulo Nunes, “trabalhar os vinhos do Porto com indicação de idade”.

(Artigo publicado na edição de Novembro de 2025)

 

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