Tapada de Coelheiros: A paixão pela planície

Foi de repente. Como todas as paixões à primeira vista. Entre ver e comprar pouco tempo mediou. Depois de muito viajar, este casal de brasileiros decidiu que não precisava de procurar mais. E ficou. Há assim vida nova nos Coelheiros. Com Luís Patrão no comando técnico, a Tapada vai renovar-se sem perder a identidade.

 

TEXTO João Paulo Martins FOTOS Ricardo Palma Veiga

NUMA extensa área de 800 hectares cabe quase tudo, mas nos Coelheiros há uma atractiva diversidade que cativou os actuais donos logo na primeira visita que fizeram, em 2015. Gabriela Accioli, de ascendência italiana, e Alberto Weisser, com antepassados suíços e alemães, queriam mudar-se para a Europa e Portugal sempre tinha sido uma hipótese. Mas foi quando começaram a viajar pelo interior que perceberam que havia muito mais do que Lisboa e Algarve para conhecer. E foi assim que souberam de um monte que estava à venda na zona de Igrejinha, Arraiolos, e resolveram visitar. Coelheiros era perto e da visita nasceu a atracção.

Viram e gostaram, sobretudo da diversidade e do potencial dos Coelheiros. A maior parte da propriedade está em montado de sobro e por lá se passeiam veados e gamos – cerca de 130 – e 700 ovelhas. Existem também 40ha de nogueiras, um sonho concretizado da anterior proprietária Leonilde e, claro, 50ha de vinhas. Foi esta variedade e dimensão que tornaram a decisão de aquisição mais fácil. Depois de muito viajarem, de terem vivido muitos anos em Nova Iorque, Alberto e Gabriela resolveram que precisavam de um poiso, de um local que fosse ao mesmo tempo tranquilo mas não demasiado longe da grande cidade e do aeroporto, uma vez que Alberto ainda tem de viajar com alguma frequência. “Aqui é o local onde já durmo mais noites, é assim que eu conto. E irá ser cada vez mais no futuro.”

As paixões eram várias, a do vinho é comum, ele tem uma fixação quase obsessiva por queijos e Gabriela confessa mesmo: “Sonho com comida, sou louca por gastronomia.” Melhor se compreende assim a “química” que se estabeleceu entre eles e a herdade. A produção biológica e a apicultura são projectos a curto prazo. E Gabriela, com os conhecimentos que tem no mundo da cozinha, irá animar os Coelheiros com convidados, workshops e o que mais adiante se verá.

Renovação em marcha
O interesse pelo vinho encontrou também aqui razões de sobra para a compra. Sempre são 50 hectares de vinha, o que já é uma dimensão bem interessante. Destes, 30 estão em produção, 10 foram arrancados, sobretudo por razões de doenças de lenho, e outros 10 foram já plantados de novo. Foi feita a zonagem da vinha e identificadas quatro zonas distintas, sempre num solo de base granítica mas com variações que agora são levadas em conta nas novas plantações.

As primeiras vinhas foram aqui plantadas em 1982 (antes disso apenas havia pecuária e cereais) por Joaquim Silveira, então proprietário, e António Saramago, enólogo e responsável pelos vinhos até à entrada de Luís Patrão. Luís veio do Esporão, onde trabalhou com David Baverstock, e comanda agora os destinos técnicos da herdade, com o conselho de António Saramago, que assegura: “O futuro tem de ser assegurado e por isso a contratação do Luís é muito positiva.” Continua amigo da casa e é visita sempre bem recebida. Os coelhos, que deram nome à propriedade, eram criados para depois serem largados na propriedade para caça, mas foram abatidos após uma terrível febre hemorrágica que os dizimou. A criação não foi retomada.

Emblemática na propriedade é a vinha de Cabernet Sauvignon, cujos garfos vieram de Margaux, e que ocupa actualmente 4 dos 8ha daquela casta. Chegarão até aos 10ha de Cabernet. Na vinha existe também Alicante Bouschet, Petit Verdot, Trincadeira, Aragonez, Merlot e, mais recentemente, Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Miúda. Já nos brancos vai haver mudanças: o Chardonnay foi arrancado e a última colheita foi o de 2016. “Não creio que seja uma casta interessante para este solo e clima”, diz Luís Patrão. Arinto e Roupeiro são as castas clássicas mas agora têm também Antão Vaz e Verdelho.

O portefólio vai sofrer grandes mudanças. Vão acabar quase todas as marcas, ficando apenas as clássicas, Tapada de Coelheiros (normal e garrafeira), uma segunda marca Coelheiros e vinhos com nome de vinha – o primeiro será o Vinha do Taco. O Garrafeira passará a ter mais estágio em cave e o 2012 só deverá sair em 2019.

Na adega íamos gelando na câmara de fermentação de vinhos brancos em cascos de 500 litros. A filosofia passa pela utilização cada vez maior de barricas usadas, procurando obter vinhos mais frescos e menos marcados pelo carvalho. Falando em quantidade, Coelheiros passará a representar 150.000 a 200.000 garrafas, em vez das 400.000 que tinha antes (com muito vinho adquirido fora). Na cave de estágio de tintos, além das barricas de 500 litros há também tonéis (foudres) austríacos da marca Schneckenleitner. Os vinhos tintos terão assim 6 meses de estágio em barrica e um em tonel. A vindima deste ano foi, como em todo o lado, muito precoce: começaram a 16 de Agosto e terminaram a 28; no ano passado começaram a 28 de Agosto e terminaram a 22 de Setembro. Coisas do clima.

Ao balcão do Botequim
Conheci os actuais donos dos Coelheiros por acaso. Eu estava em Évora em 2015 a fazer as provas para o meu guia de vinhos de 2016 e fui almoçar a um dos meus locais preferidos, o Botequim da Mouraria. Muito difícil de arranjar lugar já que apenas tem balcão e são uns 8 lugares disponíveis. O facto é que naquele dia consegui. Na ponta do balcão estava um casal de brasileiros. Como é muito fácil haver conversas cruzadas entre todos os convivas, logo o senhor da casa informou quem eu era e a conversa pegou. “Oi cara, que te parecem as vinícolas por aqui? Nós gostamos de visitar, tem alguma sugestão?” Não lembro já o que referi, mas foram eles que avançaram: os Coelheiros valerá a pena a visita? Sim, claro, terei respondido, disse que conhecia bem, que já tinha visitado, que era uma propriedade já com uma história para contar. Gostaram do que ouviram mas, em boa verdade, não teria sido necessário o meu conselho porque, soube no dia seguinte, tinham fechado a compra de Coelheiros no dia do nosso encontro. É claro que o segredo é a alma do negócio mas esta história estava bem viva na memória dos dois que, logo que me viram, lembraram que já nos conhecíamos do Botequim. Só em Évora.

Vinhos degustados
A prova que fizemos durante a visita não foi muito extensa em virtude do encurtamento do portefólio. A marca Coelheiros em branco tem agora 3.000 garrafas mas no futuro próximo passarão a ser entre 8.000 e 10.000. Cerca de 70% do mosto fermenta em inox e o restante em barrica nova. No futuro aponta-se para o uso da barrica usada de 500 litros e apenas 10 a 20% de barrica nova. Fermenta em câmara frigorífica. No Tapada de Coelheiros branco há a pretensão de o ter 8 meses em barrica e um ano em garrafa. Assim, o da colheita de 2017 apenas irá para o mercado em 2019. O de 2016 foi totalmente fermentado em barrica nova de 500 litros. O Chardonnay 2016 é editado pela última vez, também ele totalmente fermentado em barrica nova.

Nos tintos temos um Coelheiros com 12 meses de estágio em barrica usada. A produção é de 10.000 garrafas mas a pretensão é chegar às 50.000. Os tintos provêm todos de vinhas de sequeiro mas no futuro haverá uma Touriga Nacional regada (já plantada). No tinto Tapada de Coelheiros temos Cabernet Sauvignon e 40% de Alicante Bouschet, com uma produção de 35.000 garrafas. Do Vinha do Taco estão em estágio os 2012, 14 e 16. Produção limitada a 3.600 garrafas. Esta chegada tardia ao mercado é intencional. O Garrafeira será lançado apenas em 2019. A distribuição em Portugal está entregue à Heritage Wines e no Brasil é assegurada pela Mistral.

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