Entre caçador e enólogo, João Ramos divide as suas paixões. Os vinhos tomaram-lhe a profissão e esse vício já o conseguiu passar aos dois filhos, que agora também trabalham na empresa. Tempo de festa, tempo de novos projectos. Em Estremoz e não só.
TEXTO João Paulo Martins
FOTOS Ricardo Palma Veiga
O nome de João Ramos foi omnipresente na revolução que os vinhos portugueses conheceram a partir dos anos 80 e, sobretudo, 90 do século passado. O foco inicial foi no Alentejo, como enólogo de cooperativas e de alguns produtores, como a Quinta do Carmo e Tapada do Chaves, mas logo depois ligou-se a Setúbal, Tejo e Lisboa. Eram muitas as consultorias mas o seu projecto pessoal começou a crescer, centrado em Estremoz, e a vida foi-se modificando. Manteve um “pé” fora da região, com as vinhas dos seus sogros em Foz de Arouce, o desenvolvimento de uma estrutura própria no Tejo (Falua), nos Vinhos Verdes e mais recentemente no Douro, aí em parceria com José Maria Soares Franco.
Os filhos estão agora a trabalhar com o pai e João não se cansa de afirmar que a organização interna da empresa levou uma enorme volta com a entrada da filha Filipa: novos métodos e procedimentos e nada ficou como dantes. As empresas familiares correm sempre o risco de não conseguirem passar o testemunho à geração seguinte, mas aqui não consta que tal venha a ser um problema.
O momento da visita foi aproveitado para mostrar toda a nova roupagem dos vinhos Marquês de Borba, a linha de engarrafamento que agora concentra toda a operação a nível nacional e uma cave onde antes chegaram a estar cerca de 1000 barricas e que agora terá seis lagares de mármore para pisa a pé. João Maria, filho, foi claro: “Acreditamos muito nos lagares e vamos continuar a apostar, sobretudo para algumas castas que podem beneficiar muito com esse tipo de vinificação, como o Alicante Bouschet.” Foi também apresentada uma nova gama de Marquês de Borba Vinhas Velhas, situado em termos de preço entre o normal e o Reserva. E Filipa salientou que “a antiga imagem foi muito importante para o Marquês de Borba, mas estava na hora de mudar e para isso fizemos um estudo junto de 1000 consumidores para chegar a esta nova imagem”. O tinto será provado mais tarde.
Entretanto, aquela que foi a primeira vinha de João Portugal Ramos, plantada em Estremoz em torno da casa onde ainda vive, foi agora arrancada e replantada. As novas formas de plantio e as doenças do lenho, como a esca, a isso obrigaram. Esta vai ser mais uma vinha nova, a somar às centenas de hectares que já tem sob sua responsabilidade. Um projecto de família, uma família cheia de ideias novas. E o próximo ano promete, uma vez que João Ramos se mostra muito entusiasmado com a qualidade do 2017: “É a minha segunda melhor vindima de sempre, a seguir ao 2011!” Expectativas em alta, portanto.
Edição Nº15, Julho 2018