O projecto tem gerações de tradição familiar por trás, mas a sua afirmação na era moderna só agora está a cumprir a sua primeira década de vida. Da região do Tejo chegam-nos vinhos que não querem ser iguais aos outros. E uma gama nova destinada ao mercado interno.
TEXTO Luís Francisco
NOTAS DE PROVA Valéria Zeferino
FOTOS Cortesia do produtor
A Quinta do Arrobe tem um percurso muito próprio e algumas singularidades. Para começar, o projecto arrancou com uma aposta assumida em castas estrangeiras e só agora aponta baterias às variedades portuguesas. O foco quase exclusivo nos mercados internacionais explica as opções iniciais, o trabalho mais intenso na frente interna justifica o lançamento de uma nova gama. Os vinhos Mensagem foram apresentados no início de Junho e serão distribuídos apenas em Portugal.
Num jantar que decorreu nas instalações da Garrafeira Wine Man, de Bruno Antunes (o distribuidor dos restantes vinhos da casa na região de Lisboa e que terá o exclusivo nacional desta nova gama), foram dados a provar os Mensagem branco (2017) e tinto (2015), bem como o Mensagem Reserva tinto (2014). Antes da mesa, tinham passado pelos copos o Mensagem espumante e ainda uma amostra de cuba de uma “brincadeira”: um branco de uvas tintas, no caso, Trincadeira. A estes juntaram-se alguns dos vinhos com a chancela Quinto Elemento, que alberga os topos de gama da casa: o Arinto Reserva 2015 e o Syrah Reserva 2013. Há ainda o Quinto Elemento Cabernet, que na sua edição 2013 é o vinho mais caro deste produtor.
São vinhos ambiciosos e que não pretendem competir no “campeonato” das grandes superfícies, como explica Alexandre Gaspar, líder deste projecto familiar sediado na Várzea de Baixo, Casével, Santarém: “Fazemos cerca de 200.000 garrafas por ano, mas não queremos massificar. A nossa filosofia é produzir vinhos de nicho.” A exportação representa actualmente cerca de 50 por cento do mercado dos vinhos da casa, uma percentagem que tem baixado, não por diminuição da procura, mas sim pelo crescimento na frente interna nos anos mais recentes.
O bisavô de Alexandre (e também de Maria Gaspar, sua irmã e enóloga da casa, juntamente com Mário Andrade) plantou as primeiras vinhas ainda no século XIX, mas só mais de 100 anos depois o projecto entrou na sua era moderna e se abalançou na criação de uma marca própria para engarrafamento. E começou de forma peculiar: apostou em castas estrangeiras. “A nossa mãe é francesa e isso é sempre uma influência. Mas o que achámos é que, fazendo vinhos com castas internacionais, poderíamos mais facilmente demonstrar a nossa qualidade além-fronteiras.”
A primeira fase do projecto, em 2007, incluiu, portanto, plantar vinhas novas com Cabernet Sauvignon, Syrah e Touriga Nacional. Em 2009 seguiram-se Arinto, Trincadeira, Merlot, Pinot Grigio, Sauvignon Blanc, Verdelho, Moscatel… Para a segunda fase, a ideia é apostar em castas tradicionais portuguesas – o alvo imediato é a Preto Martinho, “mas há falta de material”, queixa-se Alexandre Gaspar. No futuro, a terceira fase ambiciona criar um enoturismo e conciliar essa actividade com a produção de vinho.
As vinhas, trabalhadas em modo de produção biológico, ainda que sem certificação, situam-se em dois locais distintos: 16 hectares junto à adega, em Casével, e outros 10 na zona de Tomar – estas são vinhas velhas, de 60/70 anos de idade, na sua maioria de Castelão (80%), o resto Fernão Pires. Estranhamente, para quem está habituado a associar os conceitos “vinhas velhas” e “qualidade superior”, o Castelão tem sido usado como base dos vinhos das gamas média e de entrada… Outra especificidade deste produtor, mas que pode conhecer desenvolvimentos nos próximos tempos: “Temos um Castelão guardado há dois anos para ver o que dá. Mais uns dois ou três anos e poderá eventualmente sair como Grande Reserva.” Ficamos à espera.
Edição Nº15, Julho 2018