Durante quatro dias traçou-se um novo rumo para quem busca a melhor e mais completa experiência vínica do país. Entre 27 e 30 de Outubro, todos os caminhos foram dar ao Parque das Nações, em Lisboa, onde o pavilhão 4 da FIL recebeu a primeira edição da Grandes Escolhas – Vinhos & Sabores. Centenas de produtores e milhares de visitantes num espaço nobre e desafogado. Só podia ser um sucesso.
TEXTO Luís Francisco FOTOS Ricardo Palma Veiga e João Cutileiro
O vinho sempre foi, e continuará a ser, o protagonista de qualquer feira do sector, mas na edição inaugural da Grandes Escolhas – Vinho e Sabores o cenário ganhou uma relevância muito especial. A opção pela FIL revelou-se perfeita para acolher quem queria mostrar os seus vinhos e para receber em grande os muitos milhares que compareceram para os provar.
Em mais de 6.000 metros quadrados de exposição, mais de 230 stands albergavam para cima de 350 produtores e havia ainda espaço para bancadas de sabores, expositores de acessórios, zona de restauração (na verdade, duas, com o pátio de street food no exterior do pavilhão), salas de provas, mini-auditório… E corredores largos, espaçosos, onde se podia circular à vontade e conversar confortavelmente, sem ser aos gritos, com os produtores presentes à volta dos seus vinhos. E é esse conforto, essa valorização da experiência, que deve medir o sucesso de uma feira de vinhos, muito mais do que a contabilização cega das entradas.
Expositores e público elogiam espaço
Entre os produtores ouvidos pela VINHO Grandes Escolhas, era unânime a opinião de que o espaço da FIL se adequa na perfeição a um evento com estas características. José Perdigão, da Quinta do Perdigão, estava feliz por ter sido atendida a sua já velha “reinvindicação”: “Já não era sem tempo. Sempre disse que uma feira de vinhos tinha de ser feita num sítio destes, com condições. Dá outra dignidade ao evento. E, depois, os acessos e transportes são excelentes. Eu, por exemplo, vou ter aqui o meu importador de Inglaterra, que vem de Londres de manhã e regressa no mesmo dia.”
Lígia Santos, da Caminhos Cruzados, também elogiou o espaço, mas deixou uma sugestão: “Penso que deviam investir mais na gastronomia. Fazem falta sabores diferentes, nomeadamente de street food. A parte do vinho está perfeita, temos de puxar mais pelos sabores.”
Ali perto, Gil Regueiro, da Quinta da Casa Amarela, só via vantagens no espaço da FIL, recordando outras feiras, noutros locais. E enumerava-as: “A temperatura ambiente é muito melhor para os vinhos; a insonorização permite que se converse normalmente; e os cheiros da zona de restauração não se fazem sentir no resto da feira.”
A tónica de Tiago Correia, dos vinhos Villa Oeiras, entrava por outro caminho, embora igualmente em tons elogiosos. Depois de considerar que a primeira edição da Grandes Escolhas – Vinho e Sabores foi “uma aposta ganha”, num “bom espaço, onde toda a gente anda à vontade”, o enólogo dos vinhos de Carcavelos tocava num ponto que andava igualmente na boca de muita gente: “Nota-se que as pessoas são muito interessadas, é um público conhecedor, estimulante para quem está deste lado do balcão.”
Olhos nos olhos
Do outro lado, entre os visitantes, também se notava o agrado pelo ambiente e envolvência da feira. Três jovens – Bárbara Quarteira, Inês Pombo e Inês Costa – destacam vários aspectos positivos. “O espaço é agradável”, comenta Bárbara; “O pavilhão é excelente, não se pode pedir mais”, avaliava a primeira Inês; “Em termos de vinhos, a oferta é boa, variada”, sintetizava a segunda. Única crítica, para mais de quem costuma frequentar eventos similares: “Não há espaço para fumadores!” Mas havia, na zona de street food… “Ai é? Ainda não fomos até ao fim do pavilhão…”
Uma geração acima, Eduardo Remondes e Paula Ribeiro até são visitantes habituais de adegas e garrafeiras, mas esta é a primeira vez que estão num grande evento de vinhos. Foram avisados pela filha e decidiram-se pela visita à FIL. Quando o repórter os abordou, já tinham comprado algumas garrafas e estavam praticamente no fim de uma tarde “muito agradável”. “Superou as nossas expectativas”, atiram em jeito de despedida, assim como quem promete voltar para o ano.
Aníbal Nunes e Maria Ferreira já são veteranos. Na idade e na experiência vínica. Costumam ir a feiras e nesta, em particular, apreciam a “variedade de vinhos e o número elevado de produtores”. Aníbal brinca: “É muito vinho e pouca comida… temos de ir com calma!” Mais a sério, explicam que este é um evento “óptimo para quem gosta de vinho”. Porquê? “Porque o local é bom e bem situado; e porque assim não temos de ir visitar os produtores para conhecermos os seus vinhos, eles estão todos aqui. E isto é bom para os produtores e para os consumidores.”
Durante três dias, foi isso mesmo, uma ocasião privilegiada para colocar frente a frente, olhos nos olhos, quem faz o vinho e as pessoas que o compram e apreciam. Na sexta, sábado e domingo, a feira esteve aberta ao público em geral, seguindo-se uma segunda-feira dedicada aos profissionais do sector das bebidas e da restauração. O vinho é convívio, mas é também negócio. E por isso também foi importante, no derradeiro dia da feira, a presença de uma delegação de importadores e jornalistas suíços, a par da realização de um workshop sobre o mercado da Suíça, que encerra grande potencial para exportação.
Longe destas questões de deve e haver, os largos milhares de pessoas que passaram pela FIL nos derradeiros dias de Outubro tiveram oportunidade de conhecer centenas de produtores de todas as regiões portuguesas e alguns estrangeiros, milhares de vinhos disponíveis para prova. Paralelamente, um programa de provas especiais (ver texto nestas páginas) cativou os mais interessados, enquanto no pequeno auditório foi possível acompanhar três momentos de showcooking (o primeiro a cargo de António Galapito, o segundo com Vincent Farges e Inácio Loureiro, o terceiro pela mão de Diogo Rocha) e sete mini-provas comentadas, dirigidas pelos membros do painel de provadores da revista VINHO Grandes Escolhas.
Missão cumprida com sucesso
Momentos de proximidade e, até, alguma cumplicidade, com quem sabe do que fala e que podem ser a antecâmara de muitos dos presentes para um patamar superior da sua relação com o vinho e a gastronomia. Uma ideia bem resumida por Nuno de Oliveira Garcia durante a sua intervenção nestas sessões, baptizadas “Prove Connosco”: “Ali dentro, naquelas salas, há uns maluquinhos do vinho que se juntam para as provas comentadas. Esta é uma mini-prova. Para daqui a dois ou três anos vocês estarem nas outras…” Porque uma feira de vinhos – como quase tudo na vida, afinal – só faz sentido se dela sairmos pessoas melhores e mais informadas.”