Teixuga, de betão à vista

Nova adega, novos vinhos, novos caminhos. A Caminhos Cruzados está no Dão com a promessa de que a região não se esgota em si mesma, com Lígia Santos aos comandos. Só faltava uma adega à altura…

 

TEXTO Mariana Lopes NOTAS DE PROVA Luís Lopes FOTOS Ricardo Palma Veiga

A Caminhos Cruzados vinificou a primeira vez em 2012 e lançou-se ao mercado com a marca Titular. De regresso à Nelas do avô Coelho dos Santos, as duas gerações mais recentes da família saíram do Porto com vontade de fazer vinho no Dão, e fundar uma empresa de cara fresca, moderna. Paulo, empresário industrial de têxteis, e Lígia, advogada, pai e filha juntos numa actividade que esta viria a assumir a tempo inteiro como CEO. Em 2014, com a chegada dos tarimbados enólogos Carlos Magalhães e Manuel Vieira e com o inevitável crescimento do negócio, foi tempo de investir. A Quinta da Teixuga e os seus trinta hectares, quinze de vinha, já eram explorados pela Caminhos Cruzados desde o ano anterior. Com algumas parcelas de cerca de 50 anos de idade, a propriedade de Vilar Seco foi escolhida para cenário de um projecto de dois milhões de euros com arquitectura de Nuno Pinto Cardoso. Agora, a nova adega está pronta e já recebeu as uvas de 2017. O edifício, de linha super-moderna e a expor o betão ao mundo, é composto por dois blocos que se cruzam sobre um arco (a lembrar o logótipo da empresa) e está perfeitamente integrado no ambiente, sem qualquer efeito postiço. As parcelas de vinha que o rodeiam parecem recebê-lo com carinho, fazendo a cama ao piso assente numa espécie de “lombo de bacalhau”, mais alto no centro e descendente nas laterais.

Porque o Novo Dão não é só vinhos diferentes. É consciente na estética e também na sustentabilidade, factor presente na construção – a adega, de baixa manutenção, tem um reservatório no seu núcleo que recolhe a água da chuva para tratamento e reutilização. Mas o conceito de modernidade não fica por aqui: a estrutura não tem pilares, foi construída com o mesmo método das pontes, em suspensão. No seu interior, encontra-mos uma perfeita harmonia entre o belo e o funcional, com a particularidade de o caminho entre as salas ser quase labiríntico, com micro-divisões nos entretantos e uma vista privilegiada para as vinhas.

Durante a visita, Paulo Santos confessou: “Vou afastar-me de vez e a Lígia vai passar a gerir tudo.” E continuou: “Ela mereceu essa responsabilidade e tem conhecimentos nesta área, que eu não tenho.” Quando ouvimos a jovem produtora a receber-nos na sua nova adega e a explicar o percurso da Caminhos Cruzados, foi fácil perceber o seu papel na região. “Bem-vindos à nossa casa, uma casa informal e moderna.” Lígia representa a rebeldia do sector, o desprendimento dos poderes instituídos e das amarras sociais e políticas que muitas vezes o toldam. Uma lufada de ar fresco no Dão.

Nesta apresentação provámos duas novidades, Caminhos Cruzados Family Edition branco 2015 e tinto 2014. Dois vinhos para comemorar a nova fase da família e da empresa, exclusivamente em tamanho magnum. A base do tinto é Touriga Nacional, com Jaen, Alfrocheiro e Tinta Roriz. Referindo-se ao branco, de Encruzado, Bical, Cerceal-Branco e Malvasia Fina, Manuel Vieira brincou: “Gosto muito de deixar brancos a estagiar à conta do patrão…” Todos nos rimos e a lareira fez-nos companhia até ao regresso a casa.

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