QUINTA DO GRADIL: O encanto da aristocracia num mar de verde

A menos de uma hora de Lisboa e numa paisagem dominada pela silhueta da serra de Montejunto, a Quinta do Gradil alindou-se e criou condições para se tornar um destino de referência do enoturismo. História, sofisticação, envolvente natural, oferta variada e grandes vinhos compõem um “cocktail” irresistível.

TEXTO Luís Francisco
FOTOS Ricardo Gomez

O processo tem muitas semelhanças com o que vai acontecendo um pouco por todo o país vínico: começa-se por investir nas vinhas, depois vem a adega e, com a consolidação do projecto, abrem-se horizontes. Na Quinta do Gradil, as últimas duas décadas foram de enorme crescimento na produção e no volume de negócios; agora aposta-se forte no enoturismo. Mas o que distingue este produtor da zona do Cadaval, região de Lisboa, de outros com trajecto semelhante é o peso do passado. Há séculos que a quinta está aqui. E nela, a par dos ares frescos da serra de Montejunto, respira-se a atmosfera da fidalguia.
Os primeiros registos da existência neste local de uma quinta vêm do século XV: a 14 de Fevereiro de 1492 (mais de cinco anos antes de Vasco da Gama partir para a Índia!), um documento régio de D. João II registava a doação da jurisdição e rendas do Concelho do Cadaval e da Quinta do Gradil a D. Martinho de Noronha. A propriedade esteve depois nas mãos da casa de Bragança e no século XIX entrou para os domínios do Marquês de Pombal, quando o que viria a ser o sexto da linhagem, António de Carvalho Daun e Lorena, casou com Maria do Carmo Romeiro da Fonseca, proprietária e figura decisiva na história da quinta. Sampaio de Oliveira tornou-se dono do Gradil a partir de meados do século XX e em 1999 entrou em cena a família Vieira.
A era moderna iniciou-se com a reconversão total das vinhas e o investimento na adega, fundamentais para a afirmação de um projecto que, hoje, “vale” 20 milhões de garrafas/ano, sob a chancela Parras Wines, que produz vinhos em várias regiões do país. Para além dos 120 hectares do Gradil, a empresa adquiriu recentemente a Herdade da Candeeira, no Redondo, Alentejo, onde está a alargar a área de vinha; e gere os 20 hectares das Gaeiras, em Óbidos. Ao todo, já são mais de 300 hectares em produção, a que se junta um elevado número de produtores referenciados e apoiados pelos técnicos da Parras, que fornecem uvas para as diversas referências da casa: Quinta do Gradil, Castelo do Sulco e Mula Velha.
Para quem chega à quinta, a impressão visual mais forte era dada pela presença maciça dos enormes depósitos de alumínio nas traseiras da adega, já a meia-encosta. Só depois ganhava protagonismo a silhueta elegante dos edifícios fronteiros, uma linha amarela emergindo do verde das vinhas que se estendem na várzea que separa a quinta da estrada nacional 115. Mas agora, apesar de haver ainda mais (e maiores) depósitos, a paisagem ganhou um novo foco. Porque o edifício do palácio (construído em 1854) foi recuperado e isso devolveu o protagonismo à faceta mais aristocrática do complexo.

Saímos da estrada, passamos uma pequena ponte e estamos rodeados de vinhas. À nossa frente, uma rampa aponta ao terreiro central, rodeado pelos volumes da adega (à direita de quem chega) e do palacete, flanqueado pela capela devotada a Santa Rita de Cássia (à esquerda). Até há pouco tempo, este equilíbrio estava refém do aspecto degradado dos edifícios mais nobres. Agora, tudo faz outro sentido. A fachada de portadas verticais, encimada por pequenos blocos que fazem lembrar ameias de castelo, e o corpo central onde se distingue o escudo da casa devolveram à Quinta do Gradil o seu encanto aristocrático.
Lá dentro, um enorme e multifuncional salão para eventos, cozinha e outros espaços mais pequenos oferecem condições para a realização de eventos de grande dimensão. Mas há mais: nas traseiras, um pátio quadrangular onde podem ser montadas estruturas provisórias proporciona uma experiência mais intimista. É o Pátio Maria do Carmo, a mulher responsável por muitas das grandes infra-estruturas da quinta e que gostava de se recolher neste recanto para contemplar o seu jardim – agora, é uma vinha, que se estende ao longo do vale até às primeiras ondulações das colinas defronte.
O salão grande é o Salão dos Marqueses; o terreiro central é o Pátio das Conversas – um topónimo bem explicado pela existência de muitas “namoradeiras”, ou bancos de conversas, ao longo do muro que delimita o espaço (e há placas que explicam a origem dos nomes). No centro, um tanque com água, à volta as construções que albergam agora a loja (na antiga sala de costura da senhora da casa), o restaurante (era uma destilaria – ainda lá estão dois grandes alambiques em cobre), a adega. Aproveitar o que havia e encontrar novas funcionalidades é uma política sempre presente nas opções da equipa do Gradil.
A loja funciona há cinco anos e meio e foi aqui que começou a aposta no enoturismo. Hoje é um espaço funcional e elegante, onde, para além dos vinhos da casa, podemos encontrar produtos como o azeite, compotas, chocolates ou ervas para temperos e infusões. Pequenas provas podem ser feitas neste recanto, usando a mesa feita a partir de uma barrica. Mas já há planos para alargar o espaço. Aqui não faltam objectivos: o moinho situado na encosta das traseiras vai ser recuperado para palco de provas; o mesmo para a torre-cisterna, também na parte de trás do edifício e que fornece um belo miradouro sobre a paisagem circundante, dominada pela silhueta do maciço de Montejunto (666 metros de altitude), que se afirma logo do outro lado da estrada nacional.

Serão investimentos pequenos, se comparados com o esforço feito para recuperar o edifício do palácio e a capela. As novas instalações, apresentadas este mês, custaram 1,2 milhões de euros, a que se juntarão, num futuro próximo, outros 500 mil para transformar a cave do edifício numa sala de barricas, com recepção, sala multiusos e enoteca. Tudo isto tem de ser bem equilibrado com a gestão corrente da empresa, lembra Luís Vieira, o líder da Quinta do Gradil, ainda mais numa altura em que a empresa investiu sete milhões de euros nas novas vinhas no Alentejo e está em vias de construir uma adega na região (para três milhões de litros) por outros 3,5 milhões…
Mas regressemos ao enoturismo, que os números ficam nos gabinetes de gestão. Depois da loja, a Quinta do Gradil começou a “piscar o olho” aos visitantes comemorando todas as datas especiais com dias abertos, fornecendo o pretexto para as pessoas conhecerem a propriedade. Nasceram assim programas como o BTT nas Vinhas (para comemorar o Dia Mundial da Bicicleta), mas outros não precisaram de data especial para se tornarem sucessos instantâneos – acontece, por exemplo, com o Wine Trail Run, que no ano passado juntou 400 participantes no percurso traçado ao longo da impressionante envolvente natural da quinta.
Há três anos e meio, o restaurante, que estava concessionado, passou a ser gerido directamente pela equipa de enoturismo do Gradil, que definiu o objectivo de criar uma unidade onde a cozinha andasse de braço dado com os vinhos. Com o chef Daniel Sequeira ao leme na cozinha, o restaurante funciona todos os dias menos à terça-feira, com lotação para 30 pessoas (ou 60, aproveitando o espaço da entrada, para grupos maiores). O menu do chef custa 70 euros por pessoa e inclui cinco pratos, com vinhos a acompanhar e o “extra” da aguardente XO da casa a encerrar a função.
O que não existe no Gradil é alvo de parcerias, para que nada falte no “cardápio” enoturístico de quem visita a quinta. É nesse sentido que foram feitas parcerias com uma unidade de alojamento nas redondezas, ou com o moinho situado ali em frente, na encosta do maciço do Montejunto, onde se faz pão como antigamente, utilizando duas estirpes de trigo quase extintas e que vêm da Maçussa, onde são cultivados por Adolfo Henriques, mais conhecido pelos seus imperdíveis queijos Chèvre artesanais.

O resto está tudo aqui ou na paisagem em redor. Provas de vinhos, visitas às instalações (palácio, adega, vinhas), passeio de charrete, piqueniques, programas de vindimas (na época das colheitas – um lagar em granito é usado para a pisa a pé), circuitos temáticos (Quinta, uma caminhada de cinco a sete quilómetros pela propriedade, onde até podemos apreciar um troço de aqueduto; Montejunto, para conhecer a pé os encantos e mistérios da maior montanha do Oeste; Moinhos, para conhecer a história do pão da região e ver como se vivia a vida de moleiro; Óbidos, com todo o património histórico e visita à Casa das Gaeiras, um palacete belíssimo com vinhas velhas que já foram um dos ícones da região de Lisboa).
Finalmente, os eventos, o ponto forte da aposta enoturística do Gradil nesta fase do projecto. Actualmente, os responsáveis da casa registam uma média de 20 a 30 visitantes diários, mas esses números deverão rapidamente ser ultrapassados com a “entrada ao serviço” dos novos espaços. A parceria com a Imppacto, uma empresa de catering especializada em grandes eventos, aponta a um mercado (casamentos, eventos de empresa) que não deixará de se sentir seduzido pela atmosfera simultaneamente bucólica e aristocrática da quinta, que agora tem capacidade para acolher grupos que podem ir das 200 às 600 pessoas.
Num cenário de “lotação esgotada” – e com todos os espaços a funcionarem em pleno – mais de 1.200 pessoas podem passar um belo dia na Quinta do Gradil. Em simultâneo e quase sem darem pela presença dos outros grupos. Falta só criar um parque de estacionamento à altura destas ambições. É já a seguir.
A 20 quilómetros do mar e enquadrada pela beleza robusta da serra de Montejunto, a Quinta do Gradil é hoje um diamante amarelo que brilha num mar de verde. Os vinhos são excelentes, o atendimento profissional, mas sempre personalizado, e a atmosfera perfeita para saborear um dia no campo beneficiando das mordomias modernas. Fica a escassos minutos da A8. E a menos de uma hora de Lisboa.

QUINTA DO GRADIL
Estrada Nacional 115, Vilar, Cadaval
Tel: 262 770 000; 917 791 974 (Enoturismo e eventos); 914 909 216 (Restaurante)
Mail: info@quintadogradil.pt; enoturismo@quintadogradil.pt
Web: www.quintadogradil.wine.pt
GPS: 39º 12′ 16.30” N | 09º 06′ 55.06” W
A quinta está aberta todos os dias, com visitas às 11h30 e às 15h30 todos os dias excepto domingo (apenas às 11h30). Solicita-se marcação antecipada, mas não há restrições ao número de participantes. A visita simples (palácio, adega e vinhas) custa 5 euros por pessoa e os programas de prova começam nos 9 euros por pessoa e vão até aos 25 euros, conforme a gama e o número de vinhos a servir. A loja funciona todos os dias, entre as 10 e as 18 horas de segunda a sábado, das 10 às 16h ao domingo. O restaurante abre portas para almoços todos os dias excepto terças e para jantares à sexta e ao sábado ou para grupos a partir de 12 pessoas mediante reserva e marcação antecipada.

Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 1,5
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 3
Ligação à cultura (máx. 3): 3
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2

AVALIAÇÃO GLOBAL: 18,5

Edição nº26, Junho 2019

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