A hora do Douro

Nunca houve um momento melhor para apreciar os vinhos do Douro. A região está em alta, ao nível da qualidade e da notoriedade, e nem sequer é preciso pagar por aí além para ter acesso a uma muito boa garrafa. Pelo menos por enquanto…

 

TEXTO Dirceu Vianna Junior MW FOTOS Ricardo Palma Veiga

NAS ruínas de um bar em Pompeia foram encontradas inscrições numa parede indicando que o vinho de Falerno, na época feito nas encostas cerca da fronteira entre Lazio e Campania, custava quatro vezes mais do que os outros vinhos locais. Podemos fazer comparações entre esse famoso vinho da antiguidade e um Premier Grand Cru Classé da região de Bordéus ou alguns dos Borgonhas exclusivos de hoje, como o Domaine Romanée-Conti. Esses vinhos possuem várias coisas em comum, visto que, cada um em sua época, se destacaram pela sua grande reputação, preço elevado e elevada procura. A notoriedade do vinho de Falerno foi reforçada quando foi servido num banquete em homenagem a Júlio César, já no ano 60 aC.

Em Portugal, os vinhos do Douro sempre ocuparam um lugar de distinção e historicamente comandaram preços mais elevados. Já no século XVI, os vinhos do Douro eram vendidos por 5 reis por quartilho (medida da época equivalente a cerca de meio litro), em comparação com os 3 reis por quartilho cobrados por vinhos da região do Minho.

Mais recentemente, os vinhos do Douro têm recebido atenção crescente de críticos e publicações de vários cantos do globo, especialmente dos Estados Unidos. Em 2014, três vinhos do Douro ocuparam os quatro melhores lugares na lista dos 100 melhores vinhos do ano publicada pela conceituada revista “Wine Spectator”. Com certeza, a notícia deve ter surpreendido muitos americanos. Mais recentemente, o Barca Velha 2008 recebeu uma pontuação máxima da publicação “Wine Enthusiast”. Esta é uma excelente notícia não apenas para o Douro mas para todas as regiões, dando foco aos vinhos nacionais, ajudando a construir a imagem de Portugal no exterior e beneficiando o país como um todo.

Em comparação direta com algumas das melhores regiões da França, o Douro é tão grandioso quanto Bordéus, tão misterioso e complexo quanto a Borgonha e tão bonito, se
não mais, do que a Alsácia. No entanto, ainda falta a capacidade de comunicação e marketing, juntamente com a confiança e sabedoria de como construir marcas, que possuem os produtores da região de Champanhe.

Não há dúvida de que é preciso tempo para que uma região vitivinícola realmente se afirme. Temos de estar conscientes de que a venda direta de Vinho do Porto da propriedade para clientes internacionais, sem passar pelo entreposto de Vila Nova de Gaia, só foi permitida quando Portugal se juntou à União Europeia, há pouco mais de três décadas. Compreensivelmente, pode haver ainda um pouco de insegurança por parte de alguns produtores, mas não deveria haver razão para isso.

A verdade é que uma energia positiva paira sobre o vale. A experiência de produtores mais velhos mistura-se com a ambição, criatividade e talento dos produtores mais jovens e, consequentemente, a qualidade nunca foi tão elevada. Além de um grupo de profissionais de excelente nível, o apreciador internacional deve perceber que o Douro possui um dos melhores ‘terroirs’ do mundo.

Embora ‘terroir’ seja uma palavra francesa, o conceito inclui todos os aspectos físicos de um vinhedo e, portanto, o termo pode ser aplicado em qualquer outro lugar. Se os produtores da Borgonha falam sobre diferentes nuances que Pinot Noir e Chardonnay manifestam num vinho devido a exposições distintas ou ao tipo de solo especifico, os produtores do Douro devem não apenas reconhecer mas gritar e espalhar aos quatro ventos, para que todo o mundo ouça, as combinações de microclimas, geologias, altitudes, exposições e variedades locais presentes nos vinhedos das maravilhosas encostas do rio Douro e seus afluentes. Com este recurso excepcional em mãos, há apenas um caminho a seguir e esse caminho é em busca de excelência.

Valorizar a região e a marca
Como qualquer outra atividade comercial, os produtores de vinho precisam de procurar um retorno de capital adequado para o seu investimento. Uma região como o Douro não deve pensar em concorrer em preço contra países como o Chile, Argentina e a maioria das regiões espanholas e italianas, por exemplo. A economia de escala, devido ao tamanho das propriedades, rendimento por hectare, topografia e consequentemente os custos de operação, não está a favor da grande maioria dos produtores da região. Lutar contra o preço com o objetivo de fazer alguns centavos por garrafa, simplesmente não é uma opção viável para aqueles que estão no sector com uma visão de longo prazo com intuito de avançar, reinvestir e ter um modelo de negócio corretamente estruturado. Dada a natureza física e os aspectos socio-económicos da região, o foco deve ser em alta qualidade e os viticultores, produtores e suas equipas de trabalho merecem ser recompensados justamente.

Além da busca pela qualidade, os produtores precisam de investir tempo e recursos em aspectos ligados à comunicação e construção de sua marca. Marchese Mario Incisa della
Rocchetta, da Tenuta San Guido, responsável pela criação do famoso super- toscano Sassicaia, certa vez compartilhou a sua sabedoria afirmando que metade do preço do vinho que ele vende está relacionado com a qualidade do líquido dentro da garrafa. A outra metade tem a ver com a história por trás do rótulo, a emoção e a inspiração que incita na mente dos seus clientes.

O Douro ocupa um lugar de distinção entre as regiões vitivinícolas portuguesas e com razão

Na minha opinião, apenas uma minoria dos produtores portugueses é capaz de contar uma história convincente sobre sua propriedade, tornar a sua marca memorável ou criar uma experiência única na mente do consumidor. O grupo de produtores entitulado ‘Douro Boys’ faz um bom trabalho, ajudando elevar o estatuto da região. Algumas das grandes casas de Vinho do Porto possuem equipas de marketing competentes, capazes de comunicar com eficácia, e também contribuem expandindo a reputação da região. Isto deve ser apreciado e admirado por todos os produtores durienses. Este grupo não está apenas construindo sua própria marca, mas fortalecendo a região como um todo, da mesma forma que Robert Mondavi fez para o Napa Valley na década de 60, Cloudy Bay fez para a Nova Zelândia nos anos 80 e Eduardo Chadwick fez para o Chile nos últimos tempos.

O Douro ocupa um lugar de distinção entre as regiões vitivinícolas portuguesas e com razão. Os vinhos geralmente possuem preços mais elevados e, na maioria dos casos, merecidamente. Como consumidor, lembro-me do privilégio poder desfrutar regularmente dos melhores vinhos da região de Bordéus e de vinhos exclusivos da Borgonha com amigos há alguns anos. Essas oportunidades diminuíram para pouquíssimas vezes ao longo do ano. Estes vinhos são simplesmente muito caros para a maioria dos consumidores, a menos que se seja um multimilionário.

Em comparação, grande parte dos vinhos do Douro ainda estão acessíveis para a maioria das pessoas que apreciam qualidade e não se importam de pagar até 15 euros por uma garrafa, pelo menos para celebrar uma ocasião especial. A hora de beber e desfrutar dos vinhos do Douro é agora. A qualidade nunca foi melhor e os preços da maioria dos vinhos ainda estão ao alcance da grande parte dos consumidores.

Como um profissional auxiliando empresas em várias partes do mundo, ou como um consumidor quotidiano, algo que me dá grande satisfação é descobrir vinhos que oferecem ótima relação entre custo e benefício e poder compartilhar as minhas descobertas. Alguns dos vinhos que selecionei para este artigo representam excelentes compras.

Enquanto os produtores tomam providências necessárias para refinar as suas habilidades na parte de comunicação, marketing e construção de marca, o que inevitavelmente levará a um aumento do conhecimento do consumidor e maior procura, os consumidores que apreciam vinhos do Douro devem aproveitar.

À medida que o conhecimento se espalhar e apreciadores de outras partes do mundo descobrirem o incrível custo e benefício oferecidos por estes vinhos, a tendência será que os preços venham a aumentar. Acredito que a hora de apreciar esses tintos de excelente relação qualidade-preço é agora. Nunca houve um momento melhor para apreciar os vinhos do Douro.

Vinhos recomendados
Pó de Poeira (Douro tinto 2015)
Jorge Moreira
17,5 valores
PVP € 14

Casa Ferreirinha Callabrigaa (Douro tinto 2014)
Sogrape
17,5 valores
PVP € 13,50

Castelo d’Alba Limited Edition (Douro tinto 2013)
Rui Madeira
17,5 valores
PVP € 15,95

Manoella (Douro tinto 2015)
Wine & Soul
17 valores
PVP € 12,95

Quinta do Portal (Douro Reserva tinto  2014)
Quinta do Portal
17 valores
PVP € 14,50

Crasto Superior (Douro tinto 2014)
Quinta do Crasto
17 valores
PVP € 14,90

Post Scriptum de Chryseia (Douro tinto 2014)
Prats+Symington
17 valores
PVP € 14

Vallado Quinta do Orgal (Douro tinto 2015)
Quinta do Vallado
17 valores
PVP € 14

Meandro do Vale Meão (Douro tinto 2015)
F. Olazabal & Filhos
16,5 valores
PVP € 11

Quinta do Ataíde (Douro tinto 2014)
Symington Family Estates
16,5 valores
PVP € 12,90

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