Anselmo Mendes, everywhere

“A minha vida não é fazer vinho, é experimentar”, disse-nos Anselmo Mendes, imediatamente antes de nos dar a provar 26 vinhos. Passados trinta anos de carreira na enologia e na viticultura, foi na cidade do Porto que percorremos as experiências engarrafadas.

 

TEXTO Mariana Lopes NOTAS DE PROVA Luís Lopes FOTOS Anabela Trindade

DA região berço e de outras mais, uns que já se encontram no mercado, outros que ainda não e alguns que nunca chegarão a sair do ventre, ensaios para perceber melhor a ciência e a constante mutação dos factores, foram os desafios à mesa. Desde 1987 que Anselmo é cientista. Foi nesse ano que o engenheiro agrónomo começou, em Monção, na adega artesanal dos seus pais, a ensaiar a fermentação de Alvarinho em madeira com diferentes origens, tostas e tamanhos, e foram dez anos disso. Na altura tinha 24 anos e, com a ajuda da sua bolsa de estudo de 60 contos, comprou duas barricas para o efeito. Hoje, continua exactamente com o mesmo espírito estudioso e aberto, sem preconceitos, e o seu rigor técnico é directamente proporcional à sua criatividade no vinho.

Começámos com uma vertical de Muros de Melgaço (Alvarinho), desde a colheita de 2011 até à de 2016, uma das novidades da noite. Foi o primeiro vinho de Anselmo, estreado em 1998, e o seu “mais afinado”, que teve mais oportunidades de aprimorar por ter tido mais vindimas. A fermentação e o estágio deste vinho são feitos em madeira e sobre a totalidade das borras.

Depois veio a prova dos ensaios de Alvarinho em diferentes terroirs. “Sempre me fascinou a expressão da terra no vinho”, ouvimos de Anselmo que, em 2015, começou a estudar 25 parcelas, de Melgaço a Valença. O objectivo foi observar as influências de diferentes origens de solo, textura, altitude e outros. Pudemos verificar a grande diversidade da região nas seis amostras que provámos. Prova número três: o ensaio sobre a curtimenta. Conhecido por fazer curtimenta (parcial ou total) em muitos dos seus brancos, Anselmo trouxe-nos quatro Alvarinho feitos com este método, entre eles o Anselmo Mendes Tempo 2015. Este vinho mostra a técnica bastante aperfeiçoada, em que a curtimenta foi máxima, mas metade feita com os cachos inteiros e o restante com os mesmos desengaçados e esmagados.

De seguida, “As voltas do Alvarinho”, com o vinho Alvarinho 2 2 1. Duas regiões, dois enólogos, um vinho. Feito em parceria com Diogo Lopes, da Adega Mãe, os dois fundiram duas expressões distintas da casta, com origem em vinhas de Monção e de Lisboa e fermentada em madeira usada. O resultado foi um vinho primoroso e elegante, mas muito firme, já provado na edição de Junho da VINHO Grandes Escolhas com 18 pontos.

O vinho que veio por esta altura surgiu por causa de pêssegos. Algures na Beira Interior, Anselmo ajudou um produtor do fruto a reavivar o pomar e reparou que no mesmo terreno havia três hectares de vinha muito velha, quase abandonada. Comprou as uvas dessas videiras e delas nasceu o Anselmo Mendes Beira Interior 2014, um monocasta Síria que lançou agora para o mercado.

Foi então que viajámos até aos Açores, em mais uma parceria Anselmo-Diogo, com origem na Adega Cooperativa de Biscoitos (de que agora tomam conta), na Ilha Terceira. O Magma 2015 e o Muros de Magma 2015 são dois Verdelho com plena expressão da influência atlântica, sobretudo da componente salina, um autêntico espelho do terroir. Belos vinhos, já provados, igualmente, na edição de Junho desta revista.

A sétima prova foi de Alvarelhão, uma casta “responsável pelo sucesso dos tintos de Monção desde o século XIV”. Desde 2000 que Anselmo Mendes estuda a casta, que deu origem aos vinhos que apreciámos: o espumante Muros Antigos 2009, o tinto Pardusco 2015, o Pardusco Private Selection 2012 e o Alvarelhão 2016, um blanc de noirs ainda em estágio. Uma das características desta uva é conferir cor muito leve aos tintos, o que torna os vinhos visualmente diferentes.

Finalmente, os projectos do Dão e do Douro. Da primeira região, o Quinta de Silvares 2015, oriundo de uma vinha com mais de 30 anos, por ele recuperada com as típicas Touriga Nacional, Alfrocheiro, Tinta Roriz e Jaen. Um tinto com a fruta das Tourigas muito exuberante, e a leveza e frescura do Alfrocheiro e do Jaen. Do Douro, o Anselmo Mendes Não Convencional 2012. Este vinho irrepetível vai buscar o seu nome à escolha das castas, escolhidas cepa a cepa numa vinha quase centenária. A opção recaiu em todas menos as habituais durienses: Tinta Carvalha, Tinta da Barca, Rufete, Tinta Francisca, Alicante Bouschet e Cornifesto, entre outras. O álcool mais baixo (12,5%) do que o habitual na região ajuda a reforçar o perfil “não convencional”.

A vinha da Quinta da Torre, com 35 hectares de Alvarinho, é o investimento maior de Anselmo Mendes.

O mundo de Anselmo Mendes extravasa assim em muito a sua região de origem (chega até ao Brasil, onde faz vinho na Serra Catarinense) mas é em Monção e Melgaço que está o centro de tudo. E também o grande investimento da sua vida profissional. A Quinta da Torre, adquirida há menos de um ano, já tem 35 hectares de Alvarinho e chegará aos 45 em 2018, tornando este produtor/ investigador/enólogo no maior viticultor individual desta nobre variedade.

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