A Colecção da Família da Quinta do Piloto

É uma quinta com grandes pergaminhos, quase tantos como os da família Cardoso, há quatro gerações a produzir vinho na região da Península de Setúbal. A actual geração explora cerca de 230 hectares de vinha, já engarrafa há vários anos, mas só uma pequena parte das uvas é dirigida à marca Quinta do Piloto.

 

TEXTO António Falcão NOTAS DE PROVA Nuno Oliveira Garcia FOTOS Ricardo Palma Veiga

A quinta está localizada na periferia de Palmela, mesmo junto à rotunda que marca a saída para a Quinta do Anjo. Estamos em plena região da Península de setúbal, portanto. A orografia é em encosta, por vezes ingrime (chamam ao sítio Serra do Louro), mas a implantação dos edifícios está muito bem conseguida, com uma magnífica vista para a planície que vai dar a Lisboa, perfeitamente visível a uns bons 25 quilómetros de distância. O generoso pátio proporciona esta vista e muito mais. E foi por isso o local escolhido por Filipe Cardoso, o gestor da Quinta do Piloto, para fazer a apresentação das suas principais novidades vínicas. Uma mesa corrida, debaixo de uma frondosa árvore, foi o cenário eleito.

Filipe começou por falar da vinha: a maioria está na planície, em terrenos típicos de areia. São 3 herdades, uma das quais (Fonte da Barreira) com vinhas velhas de 40 a 70 anos com as castas tradicionais da região (Castelão, Fernão Pires, e o Moscatel de Setúbal e Moscatel Roxo). Ao lado da quinta, alguma vinha, em solos argilo-calcários, que conferem mais leveza e frescura aos vinhos que as areias. A idade das vinhas é, como a maioria, ainda relativamente jovem. Quem gere a vinha é Humberto Cardoso, pai de Filipe, engenheiro agrónomo de formação.

Esta dupla tem assim bem mais de um milhar de toneladas de uva para escolher, de um grande conjunto de castas, nacionais e internacionais. O melhor vai para a Quinta do Piloto, onde é vinificada na adega da própria quinta. Estranhamente, pouco inox existe. Em vez disso, predominam as adegas argelinas, em cimento pintado. Este sistema de fermentação tem aqui décadas largas de idade e usa uma forma de vinificação fora do normal, remontando as massas de forma automática (com a pressão da fermentação) e sem necessidade de energia. Muito amigo do ambiente, portanto. Um contra, contudo, é a dificuldade em controlar a temperatura de fermentação. Filipe Cardoso reserva este sistema para os tintos de Castelão, casta que afirma se dar “muito bem” com o sistema. E ainda bem, porque uma parte generosa do encepamento é de facto Castelão… Esta é, aliás, a casta do coração de Filipe: “Gostava de revitalizar a grandeza do Castelão”, disse-nos o enólogo.

Brancos e outras castas tintas vão para outra adega, também próxima. Filipe assegura que tudo é feito da maneira mais normal possível, sem recurso a grandes operações enológicas.

Apontar para cima
A marca nasceu em 2008 mas o primeiro vinho saiu em 2013: tratou-se do branco Piloto Collection Roxo de 2012, o único não-generoso até à data da casta Moscatel Roxo. O vinho teve muito sucesso, que garantiu a saída das outras colheitas seguintes. A gama Piloto Collection está apenas destinada a varietais, mas a casa criou Reservas branco e tinto (agora com a marca Quinta do Piloto) e, agora, a Colecção da Família, os novos topos de gama. Foram eles, aliás, as estrelas da festa. Especialmente dois Moscatéis muito raros. Tão raros, aliás, que apenas se fazem 25 garrafas por ano de cada: um Moscatel de Setúbal e um Moscatel Roxo. Os vinhos de base têm largas décadas de idade e são originários de barricas reservadas à família, que seriam ‘refrescados’ anualmente com mais moscatéis. Esses atestos terminaram em 2002. A raridade destes néctares trouxe consigo preços elevados: 650 e 900 euros para o Setúbal e Roxo, respectivamente, em garrafas de meio litro. Vinhos sublimes, está bom de ver, que temos aqui oportunidade de provar em primeira mão. Mais acessíveis ao comum dos mortais estão os outros dois da ‘família’: o branco de 2014 e o tinto de 2013. O primeiro, com Arinto e Antão Vaz fermentados em madeira nova, com perfil suave e sedutor. O tinto usa predominantemente Castelão de vinhas com cerca de 60 anos e mostrou-se em grande forma, constituindo a grande surpresa da prova. Este vinho tem estrutura para aguentar 24 meses de barrica e nunca sai para o mercado com menos de 10 meses em garrafa. Um grande tinto, sem dúvida.

Filipe Cardoso e o seu pai vão trilhando o seu caminho, de forma segura mas determinada. Os vinhos vão demonstrando esta evolução, no sentido positivo. E certamente muitas e boas surpresas virão ainda desta equipa nos próximos anos.

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